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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.4 MAPA DO SISTEMA SOCIOTÉCNICO DE GESTÃO DE RSU

O propósito de analisar o sistema de resíduos sólidos como uma rede sociotécnica foi mostrar como ela foi construída e como são os alcances dos seus efeitos. Avançando este raciocínio e identificar o que se apresenta como social é parcialmente técnico e o que parece ser técnico é parcialmente social. Contudo, as relações entre as organizações e negociações dos atores podem mudar em função dos avanços tecnológicos ou mudanças sociais, e podem sofrer influência ambiental, política, econômica e cultural no âmbito local, regional, estadual e/ou nacional, alterando uma tomada de decisão ou tornando-se um obstáculo para um determinado recurso ou processo.

A leitura dos pressupostos teóricos e a opção pela teoria das arenas de negociação, o que elas representam, a visão e inserção do ator(es) e a rede sociotécnica, permitiram uma compreensão e uma leitura do contexto do significado das relações de poder e das hierarquias na gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos no Espírito Santo. Além da compreensão e o entendimento das relações, ainda foi possível ter a percepção das mobilizações dentro do sistema de resíduos sólidos, vistas do angulo do pesquisador e o entendimento agora mais claro das formas de participação de cada ator dentro da temática estudada, dos dispositivos técnicos utilizados, dos insumos e produtos gerados.

Um adequado gerenciamento de resíduos sólidos potencializa e facilita a existência de um sistema sociotécnico de gestão de RSU em equilíbrio com seus subsistemas técnico, social, do projeto de trabalho e ambiental – entradas e produtos. Com base nos dados da análise dos TCA 01 de 2013, a Figura 28 apresenta os subsistemas do sistema sociotécnico de RSU, focando os resíduos recicláveis e reutilizáveis do estado, e a Figura 29, o Mapa Sociotécnico do sistema de resíduos sólidos recicláveis.

Figura 28 - Subsistemas técnico, social, do projeto de trabalho e ambiental, suas entradas e seus produtos Subsistema Ambiente Subsistema Social Subsistema Técnico - Viabilidade Social; - Viabilidade Administrativa; - Dimensão Social; - Hierarquias; - Interações; - Viabilidade Operacional; - Viabilidade Técnica; - Otimização de Recursos; - Apropriação de Recursos; - Decisão Técnica; - Inovação; - Recursos Subutilizados; - Adequações de Tecnologias; - Previsões de Impacto; - Soluções Técnicas; - Recursos Utilizados; - Autoridades Legislativas; - Autoridades Judiciárias; - Funcionários Públicos; - Consultores; - Representantes de Mídia; - Integrantes de movimentos sociais;

- Integrantes de IES, pesquisa, extensão;

- Integrantes de associações, agências, institutos, sindicatos

municipais e sindicatos estaduais; - Usuários de Serviço de limpeza

pública; - Prestadores de Serviço de limpeza pública; - Fabricantes; - Intermediários da Reciclagem; - Empreendedor da Reciclagem; - Comerciantes; - Empresários; - Catadores; - Ordenação; - Fiscalização; - Manipulação; - Transformação; - Sensibilização; - Negociação; - Gestão; - Participação; - Contribuição; - Adequação; - Comercialização; - Regulamentação; Subsistema do Projeto de Trabalho - Renda;

- Enfoque nas decisões; - Enfoque nos eixos críticos; - Estrutura - Processos - Padrão de Organização - Evolução - Universalização; - Emprego; - Geração; - Sociedade; - Poder;

- Administração Pública local; - Preservação;

- Bom serviço de Limpeza; - Racionalidade Ambiental; - Cultura; - Regras; - Crenças; - Valores; - Visão da Sustentabilidade; - Ruptura das Concepções;

SISTEMA DE RESÍDUOS

Figura 29 - Mapa Sociotécnico do sistema resíduos sólidos recicláveis

LEGENDA:

O eixo x onde estão os componentes dessa engrenagem, da esquerda para a direita: poder (arena política e econômica), sociedade (arena social e cultural) e geração (arena ambiental, tecnológica e econômica). O eixo y onde representando de baixo para cima, os subsistemas do sistema de resíduos sólidos (coleta, transporte, transbordo, tratamento e disposição final).

Os atores:

A. o legislativo, executivo e judiciário;

B. as prefeituras e órgãos municipais ambientais e de saúde;

C. os gestores públicos responsáveis pelos serviços de RSU, governos estaduais e companhias de saneamento, concessionárias de serviços de RSU, operadores de aterros privados;

D. a população, comércio, indústria, ONGs e Instituições de Ensino, Pesquisa e Extensão; E. os catadores individuais, de rua ou situados nas áreas de descarte;

F. os catadores formais; G. as OCMRs;

H. os sucateiros;

No mapa sociotécnico, é nítido a fraca interação entre os atores e a falta de uma organização com metas para obtenção de um objetivo comum. A Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, deveria compreender: a integração de todos os protagonistas no sistema municipal de resíduos sólidos; a integração de todos os elementos da cadeia dos resíduos sólidos; a integração dos aspectos técnicos, ambientais, sociais, institucionais e políticos para assegurar a sustentabilidade do sistema; e a relação da problemática dos resíduos sólidos com outros sistemas urbanos, tais como drenagem de águas pluviais, esgotamento sanitário, recursos hídricos e abastecimento de água, saúde pública, etc..

Em suma, pode-se resumir que, de modo geral, a gestão de RSU no estado não está atendendo a PNRS, por ainda ser feita de forma setorizada, e não dentro de um contexto sistêmico, sociotécnico, sem um Plano Integrado, e sem clareza quanto à eficiência das ações. Não se sabe exatamente quanto se gera, quanto e como se coleta, quanto e como se trata e quanto, como e onde os resíduos são descartados. São necessárias ações para envolver os vários atores, reduzir e medir o consumo e o descarte de materiais, aumentar o reaproveitamento e estabelecer indicadores para acompanhamento da eficiência do sistema de gestão. Para tanto, é necessário que os responsáveis façam o Plano de gestão, mas nem isto está sendo feito na maioria dos municípios.

Assumiu-se que dada às múltiplas dimensões do sistema sociotécnico de gestão de RSU, e à falta de informação e de integração entre os atores, os gestores têm dificuldade de entender o sistema, propor um plano consistente que atenda as metas de redução, coleta, processamento e disposição de resíduos e, portanto, atender aos objetivos da PNRS. Espera-se que a interação e ajuda mútua entre os atores funcione como aprendizado e, portanto, uma forma de qualificação de pessoal. Sob o ponto de vista da sociotecnia, a flexibilidade, a autonomia, a motivação, o trabalho em grupo e responsabilidade coletiva são essenciais para o sucesso do trabalho (EASON, 2014), pois os atores podem se adaptar e inovar frente as demandas de produção e turbulências das várias dimensões (política, social, cultural, econômica, ambiental e tecnológica) e do meio externo, sendo coautores e corresponsáveis da organização do trabalho que está sempre se modificando. A elaboração do Plano de RSU sob a abordagem sociotécnica pretende viabilizar que os atores, suas habilidades e capacidades de adaptação e aprendizagem elaborarem soluções, reajustem-nas frente a novos desafios, percebam as necessidades de produção e mobilizem suas capacidades de adaptação para reajustar o sistema.

O Plano deve caracterizar os atores, suas responsabilidades, e o fluxo de informações, que devem ser registradas e compartilhadas entre os atores, para que ele funcione e seja constantemente avaliado, O retorno (feedback) dos resultados para os diferentes atores apontam acertos e falhas, fundamentais para melhorias e reestruturação do sistema, ou seja, sua melhoria continua. Feedback é pré-requisito para avaliar e ajustar os métodos de trabalho e apoiar novas decisões (MOLLEMAN, 2000).