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2.4 O MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

2.4.1 O Gerenciamento de Resíduos Sólidos (GRS) e suas etapas

2.4.1.4 Tratamento de Resíduos Sólidos

Para Monteiro et al. (2001), o tratamento dos resíduos sólidos baseia-se no conjunto de ações que visam reduzir a quantidade ou o potencial poluidor, transformando-os em materiais inertes ou biologicamente estáveis.

O tratamento dos resíduos são ações corretivas que podem trazer como benefícios a valorização de resíduos, ganhos ambientais com a redução do uso de recursos naturais e da poluição, geração de emprego e renda e aumento da vida útil de locais de disposição final (JULIATTO; CALVO; CARDOSO, 2011).

Os tipos de tratamento mais utilizados para resíduos domésticos são: incineração (tratamento térmico), compostagem e reciclagem (FRÉSCA, 2007) sendo a reciclagem a alternativa mais interessante devido seu forte apelo ambiental (MONTEIRO et al., 2001). Segundo Frésca (2007, p. 36), a reciclagem pode trazer vários benefícios, como a “[...] diminuição da quantidade de lixo a ser aterrada, a preservação de recursos naturais, a economia de energia, a diminuição de impactos ambientais, e a criação de novos negócios”.

O processo produtivo dos centros de triagem se inicia na coleta dos materiais e segue para a distribuição nos boxes, a triagem, pesagem, prensagem e amarração dos fardos, armazenagem e comercialização. A gestão do centro de triagem deve possuir seus processos de forma organizada e utilizar técnicas que promovam a melhoria da produtividade buscando agregar valor aos materiais, por isso a triagem é importante para as etapas seguintes, pois é a que mais agrega valor ao produto. Contudo por se tratar de um trabalho todo manual, várias são as pessoas envolvidas, as quais, na maioria das vezes, possuem ritmos diferentes de trabalho, o que gera um gargalo de produtividade para a associação (LOBATO; LIMA, 2010).

O setor de pesagem recebe o material separado na triagem, tendo como saída o material a ser prensado e enfardado, que depois é direcionado ao setor de armazenagem e expedição, para então seguir para o veículo de transporte (caminhão) que vai efetuar a entrega da comercialização (LOBATO; LIMA, 2010).

Segundo Lobato e Lima (2010), os atores desses processos podem atuar em várias etapas, com exceção da pesagem e prensagem, onde os equipamentos envolvidos só podem ser operados por pessoas específicas. A carência por mais equipamentos, principalmente balança e prensa, resulta em um gargalo na produção de fardos. Havendo apenas uma prensa, todo material triado fica armazenado até que haja quantidade suficiente e disponibilidade do equipamento para a prensagem, e o mesmo ocorre para a situação onde há apenas uma balança.

A ABRELPE (2015) com o objetivo de estimar o valor dos investimentos necessários para universalizar os serviços de tratamento e destinação ambientalmente adequada de resíduos sólidos no Brasil, analisou os sistemas estruturantes e as alternativas de destinação final de resíduos sólidos, disponíveis e aplicáveis no país e para isso foi avaliado o atual nível de desenvolvimento do setor e realizada projeção do volume de investimento necessário para atingir a adequação.

O estudo apresentou a projeção de geração de RSU para os anos de 2023 e 2031 e considerou que até 2023, 38% dos resíduos sólidos úmidos gerados sejam encaminhados para a compostagem e que 34% dos resíduos secos sejam reciclados. Já para 2031, estima-se que 53% dos resíduos sólidos úmidos gerados no Brasil serão destinados à compostagem e que 45% dos resíduos secos, para a reciclagem. O estudo é estimado obedecendo aos critérios previstos no Art. 9 do Decreto n.º 7.404 de segregação de resíduos sólidos secos e úmidos. O estudo também considerou uma fração adicional (“outros”), na qual estão incluídos resíduos que, por diversas características, não são passíveis de recuperação e aproveitamento, devendo ser aterrados ou, caso apresentem valor calorífico, encaminhados para processos de recuperação energética, quando existentes (ABRELPE, 2015).

A redução (e prevenção), reutilização e valorização de recursos são formas concretas para diminuir o desperdício e prevenir extração de recursos naturais dada a escassez, finitude, e as flutuações de preços para os recursos naturais, bem como os custos dos impactos ambientais da extração de recursos, mineração, transporte e processamento industrial (GUTBERLET, 2015).

Existem materiais que comumente são identificados como recicláveis ou não recicláveis. Os recicláveis são papel, metal, alumínio e plástico. Os não recicláveis que são derivados do papel são as etiquetas adesivas, papel carbono, fita crepe, papéis sanitários e metalizados, plastificados, parafinados, guardanapos, bitucas de cigarros, papel de fotografia (HEIDEN, 2008).

Um ponto importante a se destacar dentro das estatísticas apresentadas no SNIS-RS é que a maioria dos municípios não pratica, rotineiramente, a pesagem dos resíduos provenientes da coleta seletiva, por falta de equipamentos. O SNIS-RS computou um total de 1.178 municípios que afirmaram que pesam os resíduos. Esse montante corresponde a 32,1% do total de municípios presentes no conjunto de 2016 e 21,1% do total de municípios do Brasil quando se computa, também, os que não responderam.

Outro aspecto importante é a falta de discernimento do que seja coleta seletiva e do que seja triagem/recuperação de materiais recicláveis secos. Considera-se para o SNIS-RS que coleta seletiva seja [...] o conjunto de procedimentos referentes ao recolhimento diferenciado de resíduos recicláveis (papel, plástico, metal, vidro e outros) e/ou de resíduos orgânicos na sua fonte geradora, desde que previamente separados [...] e triagem/recuperação de matérias recicláveis como [...] o conjunto de procedimentos referentes à segregação da massa de recicláveis por tipo de material recolhidos por meio de coleta seletiva ou não e destinados à sua recuperação pela via da reutilização ou da reciclagem [...] (SNIS, 2018, p. 82).

Bing et.al., (2016) apontam que, segundo os números da reciclagem de 2015 do EUROSTAT (Estatísticas da União Europeia), as mais acentuadas taxas de reciclagem estão na Alemanha (64%), Áustria (58%) e na Bélgica (55%). No entanto, a coleta de resíduos para a reciclagem ainda é insipiente e muito inicial nos novos estados-membros da União Europeia, que enviam seus resíduos para aterros numa abrangência que varia de 82% (Estónia) e 98% (Bulgária). Em média, em toda União Europeia, mais de 40% dos resíduos ainda é enviado para aterros o que indica a necessidade de melhorar a reciclagem de RSU.

A reciclagem se configura como uma estratégia importante na redução dos impactos ambientais oriundos da geração de resíduos sólidos, pois diminui os efeitos sobre a saúde e passivos ambientais causados principalmente pela disposição inadequada desses resíduos no solo. Porém, a reciclagem depende necessariamente da segregação de resíduos na fonte e da existência de programas de coleta seletiva (BRINGHENTIA; ZANDONADE; GÜNTHER, 2011). Estudos confirmam que a inclusão das questões ambientais nas propostas políticas e a compra do pacote do apelo ambiental pela mídia global, tem contribuído para a sensibilização das cidades no que tange a importância dada à separação dos resíduos na fonte. Na América Latina, os programas de coleta seletiva municipal têm aumentado e a prática de coleta de resíduos tem crescido principalmente nos países em crise econômica. Aponta-se alguns fatores que contribuem para este cenário:

[...] um aumento de materiais recicláveis no lixo, o crescimento do mercado de reciclagem, a exclusão dos catadores do sistema formal de trabalho, aumentando os níveis de informação e sensibilização para as questões ambientais e abertura política e novas propostas para a gestão municipal com base na valorização da mobilidade social e da incorporação de questões sociais e ambientais (BRINGHENTI; ZANDONADE; GÜNTHER, 2011, p. 877).

Furlan (2007) em seu estudo “Modelo de decisão para escolha de tecnologia para o tratamento de resíduos sólidos no âmbito de um município” afirma que as proposições de tratamento de resíduos sólidos urbanos no Brasil são as mesmas há décadas e faz algumas considerações em relação às tecnologias de tratamento. Na sua pesquisa, são analisadas sistemicamente dez variáveis, que gerou um modelo de decisão que pode auxiliar a gestão municipal. As variáveis (Quadro 2) para composição do modelo de avaliação de alternativas são:

Variáveis de entrada

- investimento/custo de equipamentos e instalações, incluindo custos financeiros – reflete a disponibilidade de caixa para investimento;

- despesas/custos de operação e manutenção do sistema – reflete a disponibilidade de caixa para custeio; - periculosidade, composição e poder calorífico do resíduo a ser tratado – reflete a abrangência de solução a ser adotada;

Variáveis de saída

venda de subprodutos resultantes da coleta seletiva, da separação ou a rocha vítrea resultante da incineração ou do processamento a plasma;

- venda de energia recuperada;

- quantidade de créditos de carbono obtidos com a solução. Variáveis decorrentes do processo

- área total necessária para instalações;

- distância recomendada de área urbana em função de questões de saúde; - tempo necessário de implantação;

- interesse ou necessidade de processo de separação, além da coleta seletiva. Fonte: adaptado de Furlan (2007).

As variáveis têm unidades de medida e comportamentos distintos. Para que possam ser avaliadas e comparadas, são então convertidas para uma escala de utilidade, entre 0 e 1, conforme a Figura 1.

Figura 1 - Comportamento das variáveis

Fonte: (FURLAN, 2007).

Segundo Furlan (2007), a partir das soluções avaliadas, deve-se elaborar um projeto, conforme a Figura 2, com as soluções mais efetivas, a partir de dados quantitativos como volume de resíduos, grau de periculosidade desses resíduos, subprodutos comercializáveis, ou não, sua destinação, ganhos energéticos dos processos, etc., contemplando as variáveis principais do problema.

Fonte: (FURLAN, 2007).