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4 Diretiva 2008/98/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, a qual estabelece o enquadramento legal para o tratamento dos resíduos nos Estados Membros e traz em suas disposições conceitos chaves, como o de resíduo, valorização e eliminação. Para minimizar a relação atual existente entre o crescimento econômico e populacional e a produção de resíduos, a UE dota-se de um quadro jurídico que visa controlar todo o ciclo de vida do resíduo, desde a produção até à eliminação, com destaque para a valorização e a reciclagem. A Diretiva supracitada menciona em seu Art. 14 que de acordo com o princípio do poluidor-pagador, os custos da gestão de resíduos são suportados pelo produtor inicial dos resíduos ou pelos detentores atuais ou anteriores dos resíduos. Desta forma os Estados- Membros podem estabelecer que os custos da gestão de resíduos sejam suportados no todo ou em parte pelo produtor do produto que deu origem aos resíduos e que os distribuidores desse produto possam partilhar também desses custos (SANTOS, 2013).

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), sob a Lei n.º 12.305 (regulamentada pelo Decreto 7.404 de 23 de dezembro de 2010) visa implementar, analisar e avaliar um conjunto de ações para o gerenciamento da coleta, transporte, estação de transbordo, tratamento e destinação final dos rejeitos e implantação da coleta seletiva, e prevê a extinção dos lixões no Brasil. A Lei estabelece normas para execução da PNRS e regulariza que os responsáveis pelo plano de gerenciamento deverão conceder ao órgão municipal competente, ao órgão licenciador do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e às demais autoridades competentes, com periodicidade anual, informações completas e atualizadas sobre a implementação e a operacionalização do plano no Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR). Neste estão disponíveis as estatísticas e indicadores, e deve coletar e sistematizar dados e informações sobre os serviços públicos e privados de gestão e gerenciamento de resíduos, caracterizar as demandas e ofertas de serviços necessários, avaliar as metas, resultados e impactos dos planos e ações de gerenciamento e das atividades de logística reversa, disseminando informações úteis à sociedade sobre a situação e as atividades realizadas para a implantação e fortalecimento da PNRS.

Em seu capítulo II, seção II, III e IV, a PNRS trata sobre o plano nacional, estadual e municipal para a gestão dos resíduos sólidos, isto é, da necessidade da elaboração e execução de planos de gestão para que os estados e municípios tenham acesso aos recursos da união voltados a este fim (FREIRE, 2013). Para Jacobi e Bensen (2011), a PNRS traz princípios e medidas para melhoria da gestão integrada e sustentável dos resíduos sólidos, dentre eles:

Incentivo a formação de consórcios públicos para a gestão regionalizada com vistas a ampliar a capacidade de gestão das administrações municipais, através de redução de custos no caso de compartilhamento de coleta, tratamento e destinação final. Responsabilidade pelo ciclo de vida e a logística reversa, a prevenção, precaução, redução e reciclagem, metas de disposição final de resíduos em aterros sanitários e a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos em aterros sanitários. No aspecto de sustentabilidade socioambiental urbana, cria mecanismos de inserção de organizações de catadores nos sistemas municipais de coleta seletiva e possibilita o fortalecimento das redes de organizações de catadores e a criação de centrais de estocagem e comercialização regionais (JACOBI; BESEN, 2011, p.137).

Outro aspecto importante dessa Lei é a responsabilidade compartilhada, onde os consumidores, fabricantes, importadores, comerciantes, revendedores e distribuidores de produtos são responsáveis pelos seus resíduos, estando a responsabilidade distribuída entre todos os participantes da cadeia produtiva. Mas aqui o desafio seria a definição de uma hierarquia para o tratamento dos resíduos, sendo o primeiro passo a não geração de resíduos, seguido na ordem por: redução da geração, tratamento (incineração, reciclagem ou compostagem) e a disposição final adequada (MORAIS, 2015).

Em seu Art. 2, a Lei reforça a ideia de conexão entre os atos normativos ao estabelecer que aplicam-se aos resíduos sólidos as normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) como já mencionado, do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) e do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro) (BRASIL, 2010). A Lei n.º 12.305 (BRASIL, 2010) prevê o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) que é um planejamento que um município faz para um cenário de 20 anos com revisões pelo menos a cada quatro anos sobre a gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos que o município pretende realizar. Vale destacar que o conceito de gestão integrada dos resíduos sólidos surge de uma das possíveis traduções do termo solid waste management, que se refere:

[...] a um conjunto de procedimentos para manejar o fluxo de resíduos sólidos municipais, causando o menor impacto possível sobre a saúde humana e ambiental. Como estratégias para o solid waste management, são citadas a redução na fonte (incluindo reuso), reciclagem de materiais (incluindo compostagem), combustão (com recuperação de energia) e disposição final. Sendo que o conceito americano considera a etapa anterior, a geração, atribuindo a incorporação dessa etapa como a principal distinção entre as formas de gerir os resíduos sólidos urbanos entre as visões tradicional e moderna (BRINGHENTI, 2004, p. 877).

A elaboração dos PGIRS5 é a condição necessária para que os municípios possam ter acesso aos recursos da União, destinados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, pelo Art. 21 § 2º. da mesma lei, mesmo sem o PGIRS, deve ser elaborado e operacionalizado o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS). Conforme Art. 13 da Lei n.º 12.305, o PGIRS deve definir, no âmbito local ou regional, o órgão público que será a referência para entrega do PGRS, de forma a garantir a sistemática anual de atualização, visando o controle e a fiscalização, o qual deverá orientar quanto a estes procedimentos, quanto às penalidades aplicáveis pelo seu não cumprimento, assim como pela identificação dos responsáveis por: atividades industriais; agrosilvopastoris; estabelecimentos de serviços de saúde; serviços públicos de saneamento básico; empresas e terminais de transporte; mineradoras; construtoras; e dentre outros grandes estabelecimentos comerciais e de prestação de serviço (BRASIL, 2010).

Entre os benefícios de uma gestão integrada de resíduos sólidos urbanos pode- se destacar, entre os muitos fatores determinantes para a qualidade de vida, a melhoria do aspecto estético

5 O modelo de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos pode ser entendido como “[...] um conjunto de referências político, estratégicas, institucionais, legais, financeiras, sociais e ambientais capaz de orientar a organização do setor” (JULIATTO; CALVO; CARDOSO, 2011).

de uma cidade, o auxílio na eficiência de outros setores do saneamento, a inclusão social nas fases de coleta e tratamento de recicláveis e o prolongamento da vida útil de aterros sanitários (JULIATTO; CALVO; CARDOSO, 2011).

O PGIRS pode estar inserido no Plano de Saneamento Básico (PSB), mas respeitando o conteúdo mínimo definido em ambos os documentos legais. Os municípios que optarem por soluções consorciadas intermunicipais para gestão dos resíduos sólidos não têm necessidade de elaboração do PGIRS e podem optar pelo Plano Microrregional e Regiões Metropolitanas indicado para Município em regiões metropolitanas de forma consorciada; pelo Plano Intermunicipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PIGIRS), indicado para Municípios não necessariamente próximos a grandes centros urbanos, mas com interesse em soluções consorciadas; e pelo Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, que é indicado para Municípios isolados geograficamente ou que, por outras questões, preferem fazer seus planos de forma individual (BRASIL, 2010).

O IBGE6 (2014) divulgou resultados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais realizada nas prefeituras dos 5570 municípios brasileiros, referente ao ano de 2013. Do universo de municípios, dois se recusaram a responder e 1865 (33,5%) declararam possuir PGIRS 7 nos moldes da PNRS correspondendo a 37,3% da população estimada pelo IBGE para o ano pesquisado.

Em agosto de 2015, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) encaminhou Ofício Circular para todas as Unidades da Federação solicitando informações sobre os seus municípios a respeito da existência ou não de PGIRS nos moldes da Lei n.º 12.305. O MMA consolidou as declarações8 e o resultado foi um aumento em torno de 24,7%, que representa 2325 municípios com PGIRS no país, correspondendo a 52,4% da população total estimada pelo IBGE para o ano de 2015 (SNIS, 2018).

Embora a situação do Brasil não possa ser considerada boa, houve uma melhora considerável nos últimos anos com relação à sensibilização das pessoas sobre resíduos sólidos, a forte atuação do Ministério Público no incentivo à recuperação de áreas de antigos lixões e

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Para municípios com população total inferior a 20 mil habitantes, apurada com base nos dados do censo mais recente realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o PGIRS terá conteúdo simplificado, conforme estabelecido pelo Decreto nº 7.404/2010 que regulamenta a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

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Os municípios que optarem por soluções consorciadas intermunicipais para gestão dos resíduos sólidos estão dispensados da elaboração do plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, desde que o plano intermunicipal atenda ao conteúdo mínimo previsto no Art. 19 da Lei nº 12.305/2010.

8 Mesmo com grande adesão, alguns municípios não responderam e para evitar lacunas, foi considerada a resposta do ano de 2014.

implantação da coleta seletiva, induzindo as Prefeituras assinar Termos de Compromisso Ambiental (ANDRADE; FERREIRA, 2011).