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O desafio de olhar o portal do CNPq a partir deste cruzamento do meio, do ambiente e do processo comunicacional, requer a articulação a partir da proposta do Mapa das Mediações de Mártin-Barbero (2009). A análise das mediações entre o CNPq e os seus pesquisadores por meio do portal requer a premissa de que essas relações contemplam o cruzamento entre a dimensão comunicacional, cultural e política da comunidade científica.

A comunicação a que se refere neste trabalho, como já mencionado, é a constituída a partir da interação mediada por computador. Martín-Barbero (2009), quando fala em comunicação, cultura e política, refere-se a todos os meios, inclusive o computador. Segundo o autor, a política aplicada nos meios de comunicação atualmente força a uma nova forma de compreensão da realidade para os sujeitos envolvidos. Assim:

Se a televisão exige da política negociar as formas de sua mediação é porque, como nenhum outro, esse meio lhe dá acesso ao eixo do olhar a partir do qual a política pode não só invadir o espaço doméstico como também reintroduzir em seu discurso a corporeidade, a gestualidade, isto é, a materialidade significante de que se constitui a interação social cotidiana. (MARTÍN-BARBERO, 2009, p. 14)

Dessa forma, Martín-Barbero (2009, p. 15) entende que a “[...] comunicação e a cultura constituem hoje um campo primordial de batalha política: o estratégico cenário que exige que a política recupere sua dimensão simbólica para enfrentar a erosão da ordem coletiva”. Para esse pesquisador, vivemos num período da falta de vínculos sociais, cada sujeito está envolvido com seus próprios interesses e sua relação com o outro é puramente formal. A indústria se interessa pela rentabilidade e proporcionar oportunidade de vínculo social entre os sujeitos poderia colocar em risco o seu lucro e domínio da situação.

Para ilustrar esses conceitos, apresenta-se a seguir o Mapa das Mediações proposto por Martín-Barbero (2009, p.16) para demonstrar as complexas relações constitutivas entre comunicação, cultura e política.

O autor explica que as relações entre esses elementos ocorrem a partir de dois eixos principais, o sincrônico e o diacrônico. O diacrônico, numa escala de tempo maior, ocorre nas relações entre as Matrizes Culturais e os Formatos Industriais e o sincrônico entre as Lógicas de Produção e as Competências de Recepção ou Consumo. Conforme pode ser verificado no gráfico a seguir:

GRÁFICO 1 – Mapa das Mediações. LÓGICAS DE PRODUÇÃO Institucionalidade Tecnicidade MATRIZES CULTURAIS COMUNICAÇÃO CULTURA POLÍTICA FORMATOS INDUSTRIAIS Socialidade Ritualidade COMPETÊNCIAS DE RECEPÇÃO (CONSUMO) Fonte: Martín-Barbero (2009, p. 16)

Essas relações serão intermediadas por outros elementos, conforme demonstrados no gráfico. Na relação entre as matrizes culturais com as lógicas de produção e as competências de recepção, haverá as relações de socialidade e institucionalidade. A primeira demonstra as relações sociais entre os envolvidos nessa comunicação, ou seja, a forma como os indivíduos se interagem para alcançar objetivos comuns. A segunda estabelece a ordem legal representada pela ação do Estado para a democratização do discurso social. Entende-se essa relação institucional como o domínio político da situação. Martín-Barbero (2009, p.18) resume assim essas relações:

Vista a partir da socialidade, a comunicação se revela uma questão de fins – da constituição do sentido e da construção e desconstrução da sociedade. Vista a partir da institucionalidade, a comunicação se converte em questão de meios, isto é, de produção de discursos públicos cuja hegemonia se encontra hoje paradoxalmente do lado dos interesses privados.

No lado oposto das matrizes culturais, encontram-se os formatos industriais. Para a produção e o consumo dos produtos, estabelecem-se duas relações, a de tecnicidade e a de ritualidade. Para a indústria da comunicação, qualquer produto segue uma técnica de produção, um formato preestabelecido e o seu consumo obedece a uma ritualidade.

O usuário do computador realiza um ritual de acesso que foge do seu controle. Há uma imposição da técnica para que ele participe desse processo comunicacional, tanto em termos

culturais, que delimitam suas formas de relação social, como em termos de consumo, quando ele decide o que fazer com o conteúdo acessado.

Uma análise do portal do CNPq a partir do Mapa das Mediações proposto por Martín- Barbero (2009) vem ao encontro do que foi apresentado até aqui como elementos essenciais para o usuário reconhecer no portal um ambiente de sociedade em rede.

Apesar de algumas dificuldades de domínio técnico, os usuários do portal conseguem reconhecer no seu formato um meio de comunicação com outras instâncias produtoras do conhecimento para disseminação e compartilhamento do conhecimento produzido a partir das respostas das demandas apresentadas pelo CNPq, visto como uma instituição promotora de demandas e gerenciador de fomento.

A forma como o portal é apresentado tecnicamente será responsável pela efetividade das relações estabelecidas por esse meio de comunicação – veremos essas características mais detalhadamente no capítulo A construção da imagem do CNPq a partir do seu portal na

internet. A disposição textual repercutirá diretamente na forma de socialização entre os

usuários do portal. Cabe ao CNPq entender que o ambiente virtual é acessível a vários pesquisadores de origens sociais diferentes e sua relação com o portal vai se dar a partir das suas experiências pessoais mediadas pelo computador. Foi dito que a afetividade depende em grande parte da forma como o emissor, nesse caso, o portal, apresenta suas demandas. O processo gerado no portal para acesso a informações corriqueiras estabelecerá laços de afetividade positivos entre os usuários e o meio, quanto mais fácil e rápido se encontra o que procura, maior empatia os usuários terão pelo portal. Alterações nas formas tradicionais de navegação preocupadas apenas com a forma estética, apresentando textos extremamente técnicos e formais, também repercutirá na forma como os usuários consomem o conteúdo disponibilizado.

Martín-Barbero (2009) apresenta em seu Mapa das Mediações os elementos que colaboram para uma visão mercadológica das relações do portal com o seu público. O formato industrial atende aos elementos definidos pela lógica de mercado na qual são estabelecidos os formatos técnicos a serem seguidos e a maneira como o usuário deve agir para ter acesso ao conteúdo e divulgar o que produz. O cuidado que se deve ter é estar atento ao que o órgão deseja e ao modo como a comunidade recebe essas demandas.

Por fim, Martín-Barbero (2009, p. 20) apresenta qual o seu principal objetivo com a construção do Mapa das Mediações:

O que busco com esse mapa é reconhecer que os meios de comunicação constituem hoje espaço-chave de condensação e intersecção de múltiplas redes de poder e de

produção cultural, mas também alertar, ao mesmo tempo, contra o pensamento único que legitima a ideia de que a tecnologia é hoje o “grande mediador” entre as pessoas e o mundo, quando o que a tecnologia medeia hoje, de modo mais intenso e acelerado é a transformação da sociedade em mercado, e deste em principal agenciador da mundialização (em seus muitos e contrapostos sentidos).

No ambiente da internet, como destacamos, há processos de interação e ofertas interativas (KIELING, 2012, p. 11) que implicam em lógicas de produção específicas e requerem competências de recepção próprias:

Vamos encontrar a interatividade como um evento que ocorre a partir da conjunção de duas operações: “as ofertas interativas” e “os processos de interações”. As primeiras promovem a interação homem-máquina e, como meio, permitem a mediação entre produtor e receptor na construção e publicação do conteúdo. E os segundos resultam das trocas simbólicas e produção de sentido das quais resultam os textos (enunciações, discursos) construídos pelos sujeitos da comunicação nessa ambiência.

No capítulo a seguir, analisam-se as mudanças ocorridas na forma de se lidar com as NT e seu impacto na vida das pessoas, destacando as diferenças geracionais.

6 COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA – MIGRANTES E NATIVOS

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