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Mapas Cognitivos Congregados: Iniciando com os Membros

Descritores • Quantitativos

/ Ainda que o enquadramento do mapa continue dependendo, para a

2.7 MAPAS COGNITIVOS E GRUPOS

2.7.4 Mapas Cognitivos Congregados: Iniciando com os Membros

A segunda forma de construir-se um mapa cognitivo congregado é iniciar construindo mapas individuais de cada membro do grupo e depois agregá-los em um único mapa agregado. Sendo a individualidade explorada antecipadamente, existe aqui um menor risco de ocorrer o pensamento de grupo (Eden, 1988) e aumentam as chances de ocorrer o pensamento de equipe. Também é uma forma de se obter um maior interesse por parte de cada ator na atividade de definição do problema e, ao mesmo

tempo, permitir que apareçam pontos que não interessam ou, mesmo, desagradam os membros mais poderosos do grupo.

Não apenas a agregação de mapas individuais realiza uma equalização de poder mas, muito mais importante, permite reduzir a seletividade perceptiva de cada membro do grupo, à medida em que o processo de escutar se toma menos seletivo. Quanto ao relacionamento facilitador-atores, os mapas individuais indicam a esses últimos o interesse do facilitador em levar em conta a visão de cada ator sobre o problema. Também permitirá ao facilitador aprender sobre a personalidade, valores, crenças, preocupações e interesses de cada um daqueles atores (Eden et al., 1983). Reduz-se, ainda, os problemas de tolhimento da criatividade encontrados no “brainstorming” realizado em grupo (Camacho e Paulus, 1995).

Conclui-se, então que, sempre que houver tempo disponível, é melhor iniciar a construção de um mapa congregado partindo-se de mapas individuais, que são então agregados único mapa cognitivo (chamado de um mapa cognitivo agregado, Seção 2.7.4.1). Na Figura 37, são construídos mapas individuais para cada um dos n atores envolvidos na definição do problema. Um mapa agregado é, então, construído com os n mapas individuais. O objetivo deste mapa é assegurar um entendimento suficiente sobre a natureza do problema, de tal forma que os membros do grupo sintam- se comprometidos a despender esforços à definição do problema (Eden, 1989). Através de um processo de negociação entre os atores é possível chegar-se a um mapa cognitivo congregado (Seção 2.7.4.2).

2.7.4.1 Construção do Mapa Cognitivo Agregado

A construção dos mapas individuais segue a lógica apresentada na Seção 2.6, em uma interação do facilitador com cada ator separadamente (cada um deles levando em torno de uma hora para ser construído). A agregação dos mapas individuais, realizada apenas pelo facilitador (Belton et al., 1995), é construída da seguinte forma (Eden et al., 1983) (Bougon, 1992):

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• unindo conceitos - dois conceitos que têm rótulos similares (e portanto denotam conceitos similares) são unificados por aquele de sentido mais amplo (ou mais rico (Eden, 1989));

• relacionando conceitos - conceitos que claramente se relacionam devem ser ligados através de ligações de influência ou conotativas.

Figura 37. D os mapas cognitivos individuais ao mapa cognitivo congregado.

Quando unificam-se conceitos está se assumindo que existe um certo grau de comunidade (terceiro corolário da Teoria dos Construtos Pessoais) entre os conceitos de diferentes atores, de tal forma que pessoas diferentes querem dizer alguma coisa parecida através de palavras similares. No entanto, o facilitador deve assegurar-se que, ao unificar um conceito de dois atores, eles realmente tenham um sentido semelhante para os mesmos. Ele deve não apenas observar o rótulo do conceito bipolar, mas também o contexto que cerca tal conceito no mapa cognitivo (Eden et al., 1983).

A agregação dos mapas cognitivos individuais deve observar a dinâmica antecipada de negociações, uma vez que o mapa agregado será utilizado como uma ferramenta negociativa. Portanto, quando dois conceitos são unificados, é importante que o facilitador leve em conta o indivíduo que apontou o conceito a ser sobreposto e o indivíduo que apontou o conceito que se sobrepôs. Também o facilitador deve estar

atento para balancear a representação no mapa agregado dos membros chaves do grupo. Da mesma forma, quando realiza suas ligações entre conceitos, incorporando ao modelo sua forma própria de interpretar o problema, ele deve manter a estrutura hierárquica do mapa(Eden, 1989).

A Figura 38 apresenta um exemplo de dois mapas construídos com o facilitador individualmente com os atores A e B (os sinais positivos e negativos foram retirados por simplificação). Terminada sua construção, o facilitador deve agora agregá- los. Ele nota que os conceitos do ator A, Ca7, e do ator B, Cbs são similares (portanto podem ser agregados), tendo Caí um sentido mais amplo. Da mesma forma nota que Ca4 e Cas são conceitos similares com esse último sendo mais rico.

Como regra prática, é importante notar que os conceitos considerados como similares (CA? e CB8, CA4 e CB5), em cada um dos mapas da Figura 38, foram localizados no mesmo ponto geométrico do mapa. Considerando-se cada um dos mapas como um plano, é possível agora sobrepô-los de tal forma que os conceitos similares sobreponham-se. A Figura 39 apresenta tal sobreposição, em que os conceitos mais amplos (Ca7 e CB5, na figura, em negrito) ocupam seu devido local no mapa. A partir dele, o facilitador pode traçar as ligações relacionais que ele considera exisitir entre os conceitos, como na Figura 40 (flechas pontilhadas) entre CB7 e Ca9 e entre CB2 e Ca7- Está pronto, então, o mapa cognitivo agregado dos dois atores.

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Figura 39. Mapa cognitivo agregado dos atores A e B - União de conceitos.

Figura 40. Mapa cognitivo agregado dos atores A e B - R elacionam ento de conceitos.

O processo de agregação de mapas individuais permite que as diferentes perspectivas (a construção particular do problema), de cada um dos membros do grupo, sejam levadas em conta na definição do problema como um todo. Facilita-se com isto a

negociação e, ao mesmo tempo, permite-se alargar a definição inicial do problema. Isso é obtido aumentando deliberadamente sua complexidade, ao invés de diminuí-la. Assim, o facilitador deve ter meios para lidar com tal complexidade, sem perda das sutilezas e riquezas do problema, caso contrário acabará por piorar a situação em que se encontra o grupo de atores. Daí a importância do processo de análise dos mapas cognitivos (Seção 2.8) e do planejamento dos encontros entre facilitador e atores.

2.7.4.2 Construção do Mapa Cognitivo Congregado

Terminado o processo de agregação, realizada pelo facilitador, este apresenta o mapa agregado ao grupo, em um encontro onde todos os seus membros estarão presentes. O primeiro procedimento é apresentar o mapa ao grupo, mostrando que ele é uma agregação dos mapas cognitivos individuais (e, portanto, os conceitos de cada um deles estão ali representados). Isso fornece uma sensação de posse do modelo a cada um dos atores (Eden, 1989). Segue-se, então, uma apresentação das uniões entre conceitos realizadas e dos conceitos relacionados, com o facilitador verificando, junto aos atores, se eles realmente podem ser efetuados.

Terminada a apresentação do mapa, ela provavelmente iniciará uma negociação por parte do grupo sobre os conceitos do mapa e os relacionamentos existentes entre tais conceitos. Aparecerão enxertos (Bougon, 1992): novos conceitos são inseridos no mapa agregado e novas relações de influência aparecem entre os conceitos. (Relações entre aqueles conceitos já existentes; relações entre aqueles conceitos já existentes e os conceitos enxertados; relações entre aqueles conceitos enxertados.) Uma série de encontros, em que os atores negociarão sobre o mapa (realizando enxertos), findará com um mapa cognitivo congregado.

Enquanto, do ponto de vista operacional, as modificações que o processo de negociação geram no mapa foram descritas acima, é importante compreendê-las à luz do sistema de valores dos atores. Cada ator usou, como base, seu sistema de valores na construção de seu mapa cognitivo individual. Assim, na Figura 41, observam-se os sistemas de valores de quatro atores A, B, C e D. Quando agregados, os mapas individuais, alguns valores são comuns entre indivíduos (áreas hachuradas da Figura 41)

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e outros não. Esses valores comuns são a base sobre a qual a estrutura cognitiva coletiva é negociada (Langfield-Smith, 1992) e, também, são a base em que encontram- se os conceitos similares nos mapas individuais (aqueles a serem unificados pelo facilitador no mapa agregado).

Figura 41. Sistem as de valores de quatro atores A, B, C e D (adaptado de (Langfield-Smith, 1992, p. 362)).

A Figura 42 apresenta um esquema que relaciona os sistemas de valores dos atores à construção do mapa. Inicialmente, o mapa agregado é construído a partir do sistema de valores de cada ator. Os valores em comum entre os atores (área hachurada — Sistema de Valores - Mapa Cognitivo Agregado) servirão de base para que o facilitador realize as uniões de conceitos e aponte relações de influência entre conceitos (agregação dos mapas individuais). A cada encontro sucessivo, valores comuns são desenvolvidos, tanto através da negociação, argumentação e interação entre os membros do grupo, quanto devido à influência de eventos externos. Isso se refletirá, no mapa, como um conjunto de enxertos construídos sobre ele em cada encontro. Ao final do n-ésimo encontro (e portanto da inclusão do conjunto de enxertos En), o sistema de valores comuns entre os atores (área hachurada Sistema de Valores - Mapa Cognitivo Congregado) será maior que ao início do processo. Tal sistema de valores serve como base ao mapa cognitivo congregado.

Encontros entre Facilitador

ao Grupo

Figura 42. Construção do mapa cognitivo congregado e o sistema de valores dos atores (adaptado de (Langfield-Smith, 1992, p. 361)).

A cada encontro entre facilitador e atores vai-se estabelecendo uma estrutura cognitiva coletiva, produto da negociação, argumentação e interação entre os membros do grupo. Valores comuns aos membros do grupo são transformados ou desenvolvidos ao longo do tempo, via o processo social de construção do mapa cognitivo. No longo prazo, depois de uma série de encontros associados com negociações “bem sucedidas”, os valores dos membros dos grupos podem mudar, com os valores já existentes sendo reafirmados e novos valores sendo criados (Langfield- Smith, 1992).

A estrutura cognitiva coletiva tem, como apontado anteriormente, uma natureza dinâmica. Portanto, o mapa cognitivo congregado representa-a em um dado instante de tempo, através da operação cognitiva quádrupla. Assim, o mapa congregado não pode ser considerado como “o que está na cabeça do grupo”. E apenas o resultado da negociação da interpretação que cada ator faz do problema, negociação esta que gerou uma nova construção do problema compartilhada pelos atores e o facilitador. Sobre esta definição do problema (o mapa congregado) é que a árvore de PVs será, constriúda.

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