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3. APLICAÇÃO DA AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO E O SETOR DE

3.2. Uma nova Zona de serviço?

3.2.1 Universo da pesquisa e percepções acerca da zona de serviço

3.2.1.1 Edifício D’Louvre

3.2.1.1.2 Mapeamento Visual

O mapeamento territorial (figura 55 e 56) foi feito pela dona da casa, o marido e a empregada, cada um definiu seu espaço no setor de serviços, incluindo a cozinha gourmet. A empregada definiu como seu espaço a lavanderia, banheiro e quarto de serviço, além de uma área na cozinha situada entre a bancada, o fogão e a geladeira. A dona da casa estabeleceu como sua a área da mesa com as cadeiras, onde são feitas as refeições rápidas, e a região de preparação de alimentos composta pelo lavatório, a geladeira e o fogão. O dono da casa não estabeleceu nenhuma área como sendo sua neste espaço.

Apesar das atividades domésticas do dia a dia não serem realizadas pela dona da casa, observa-se que ela definiu como “seu território” a região onde a preparação de alimentos é realizada. Esse fato demonstra que no momento que não houver uma empregada, ou que a mesma esteja de folga, a patroa tomará para si a realização das atividades. É como se estivesse intrínseco à mulher o papel de realizar os deveres no âmbito doméstico. O homem se exime de tais atividades. Este fato pode ser explicado através de questões históricas, e até mesmo ideológicas. O discurso de uma sociedade onde todos são iguais cai por terra, pois, os indivíduos trazem consigo costumes e culturas que foram construídos com o tempo.

Figura 55 - Mapeamento visual para demarcação de território do setor de serviços do apartamento D’Louvres

Figura 56 - Mapa visual com demarcação do território da cozinha gourmet do apartamento D’Louvre.

Fonte: Produzido pela autora.

Na cozinha gourmet a empregada não possui nenhum território, enquanto o espaço é quase todo do dono da casa. A esposa determinou como sua a área da pia e a mesa de receber os convidados. Desde o inicio da verticalização em Maceió, foi explanado no capítulo 1 desta pesquisa que o apartamento de alto padrão, em sua maioria, existe a presença da empregada, tanto que no setor de serviços dos apartamentos destinados a esse público, o quarto e o banheiro da empregada fazem parte do programa de necessidades. A funcionária permanece a maior parte do tempo na cozinha funcional, realizando as atividades domésticas que lhe são atribuídas. Sua função na cozinha gourmet é a limpeza e organização do espaço no dia a dia, e não no seu funcionamento.

A atividade social e administrativa da casa, desde os tempos coloniais, era função masculina. Portanto, através da demarcação territorial feita pelo dono da casa é possível sugerir que não houve modificação significativa neste fato. A cozinha gourmet funcionando como um local destinado às atividades sociais e fazendo o papel de sala de estar, fez com que a predominância territorial fosse

masculina. As ações e percepções são determinadas pela posição que determinado individuo ocupa, a figura do homem como mantenedor da família ainda é forte, o que se vê nesse mapeamento visual é um reflexo de fatores históricos e sociológicos.

Analisando os mapas visuais elaborados nota-se que, apesar de não realizar as atividades domésticas usualmente, a dona da casa definiu como sendo sua parte a cozinha funcional. No espaço gourmet, sua demarcação, além da mesa de interação, englobou a mesa e a parte da bancada, porém na entrevistada confessou que não é adepta dos trabalhos domésticos, fazendo-os quando necessário.

Nota-se que a bancada do cooktop, onde é feita a preparação de alimentos não foi demarcada por nenhum dos entrevistados, comprovando que o espaço não é utilizado para a preparação de alimentos, e sim para a recepção de pessoas. Como na casa burguesa, a zona de estar era a mais importante e tinha as atenções voltadas para si, com a utilização da cozinha gourmet como zona social, o espaço da bancada com o cooktop tornou-se inutilizado, funcionando como objeto de enfeite. Assim como nos interiores burgueses as mulheres da elite, apesar de serem responsáveis pelo funcionamento e administração da casa, tinham o papel de “embelezar” os eventos sociais, mas o objetivo dessas reuniões era atender às aspirações masculinas nos âmbitos político, financeiro e de preservação do status social (SCHETTINO & THOMÉ, 2013). Com o espaço da cozinha gourmet exercendo a função de sala de estar, o sentimento de dominação territorial ratificou o que acontecia na época colonial, o homem tem a soberania.

Como parte do mapeamento visual foram definidos os pontos positivos e negativos levantados pela empregada e os donos da casa e descritos no quadro 03:

Quadro 03 - Síntese dos pontos positivos e negativos encontrados no setor de serviços do apartamento D’Louvres.

COZINHA FUNCIONAL COZINHA GOURMET

Pontos positivos

Facilidade de locomoção Vista para o mar Climatização

Pontos negativos

Lavanderia: tamanho insuficiente Dificuldade de limpeza

Quarto serviço: ventilação insuficiente Espaço insuficiente para o fluxo de pessoas na área entre a bancada do cooktop e a pia.

Observando o quadro 03 nota-se que um dos pontos positivos apontados para a cozinha gourmet foi a vista para o mar, porém, em termos funcionais essa característica não seria atributo de cozinha e sim de sala, o que ratifica a soberania do status perante à funcionalidade do espaço. Outro aspecto que chama a atenção e ratifica a afirmação anterior, como ponto negativo foi apontado o espaço insuficiente para o fluxo de pessoas na área entre a bancada, o cooktop e a pia. Portanto, o espaço não foi pensado para a execução e preparação de alimentos, perdendo assim sua função de cozinha.

Ao analisar os pontos positivos e negativos identificados pelos usuários, observou-se que foram encontrados mais pontos negativos do que positivos. Os pontos negativos estão em sua maioria relacionados ao tamanho do ambiente, além da falta de conforto climático. Apesar de o projeto ter sido desenvolvido por arquitetos, ao utilizar o espaço sempre se encontra algo que incomoda, ou que poderia melhorar. O fato de os proprietários nunca estarem totalmente satisfeitos com um ambiente, poderia então estar relacionado com a frequência com que eles usam o mesmo, uma vez no espaço mais utilizado, que é a cozinha funcional os aspectos negativos estão relacionados ao tamanho e conforto térmico e não à funcionalidade, como ocorreu na cozinha gourmet.

Os pontos positivos estão relacionados ao espaço analisado, pois para a cozinha convencional foram ressaltados aspectos funcionais, enquanto para a cozinha gourmet aspectos da qualidade do ambiente, como temperatura e agradabilidade.