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Apesar da ideia assumida anteriormente de que a Educação Olímpica pode ser considerada um legado do Movimento Olímpico, é necessário ter a clareza de que o próprio Coubertin nunca se utilizou dessa expressão em seus escritos.

Foi a criação da Academia Olímpica Internacional37, em 1961, como instituição impulsionadora dos estudos relacionados ao Movimento Olímpico, ao Olimpismo e aos Jogos

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Ao falar e m restauração dos Jogos Olímp icos por Pierre de Coubertin, considero a necessidade de fazer aqui duas ressalvas. A prime ira é que antes de Coubertin, outras inic iativas de restauração dos Jogos Olímp icos fora m realizadas. Os Jogos Olímpicos Zappianos, idealizado pelo milionário grego Evangelos Zappas e realizados em Atenas nos anos de 1859, 1870, 1875 e 1889 é u m e xe mplo dessas iniciativas. Estes Jogos não obtiveram o sucesso suficiente para garantir a sua continuidade devido, sobretudo, a sua realização somente dentro do Estado grego. A outra ressalva que aqui se faz é a de que apesar da expressão restauraç ão, os Jogos Olímp icos da Antiguidade foram somente uma referência para Coubertin na idealização dos Jogos Olímp icos Modernos. Os Jogos Olímp icos Clássicos tinham, por e xe mp lo, co mo u m os seus objetivos, a celebração aos deuses da época, dando a esses Jogos um caráter religioso, o que não ocorria e nem ocorre co m os Jogos Modernos. Meinberg (2007) vai afirma r que a pretensão de Coubertin em revita liza r os Jogos Olímp icos antigos, apresentando -os sob uma roupagem moderna, significa a reed ição de alguns elementos da antiguidade, e não uma tentativa de cópia destes elementos.

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A Academia Olímp ica Internacional (AOI), be m co mo as suas respectivas Academias Olímp icas Nacionais (AONs), são instituições formadas por expertos em Estudos Olímp icos que se dedicam na produção e disseminação do conhecimento relac ionado ao Olimpis mo e seus ideais (Mesquita, 2007).

Olímpicos – Estudos Olímpicos – que assegurou a tradição na continuação de investigações que se dedicassem a avançar e a desenvolver de forma sistematizada uma pedagogia esportiva referenciada nas ideias de Pierre de Coubertin.

Nesta perspectiva, o termo Educação Olímpica apareceu pela primeira vez em 1970 como neologismo criado por Norbert Müller38 a partir de seus estudos voltados para o âmbito educativo do Movimento Olímpico (FUTADA, 2007).

Desde então, um movimento paradoxal em relação aos estudos, publicações e sistematizações de propostas relacionadas à Educação Olímpica tem sido constatado. Ao mesmo tempo em que aumentaram o número de especialistas que discutem o tema, passaram também a existir muitos projetos chamados de Educação Olímpica que, por falta de esclarecimentos sobre a temática, não fazem realmente parte desta perspectiva (FRANCESCHI WACKER, 2009).

Portanto, talvez o esforço inicial necessário seja o de buscar conceitos que melhor possam definir o termo Educação Olímpica, destacando alguns autores que têm contribuído na busca por esta conceitualização.

Tavares (2009), por exemplo, é um dos autores que contribuem para a conceitualização da Educação Olímpica, definindo-a como as propostas pedagógicas sistematizadas de educação por meio do esporte referenciadas no Movimento Olímpico, nos seus valores, símbolos, história, heróis e tradições; ou ainda como um conjunto de atividades educativas de caráter multidisciplinar e transversal tendo como eixo integrador o esporte olímpico (TAVARES, 2006). Ao utilizar-se desta mesma definição, Franceschi Wacker (2009) procura demarcar que o processo de educação citado deve ser entendido de forma ampla, e não apenas restrita ao espaço escolar.

Baseado nas ideias de Brownlee, Futada (2007, p. 17 a 18) menciona que “[...] a Educação Olímpica é um processo que busca trazer vida à filosofia do Olimpismo, através do ensino dos ideais Olímpicos”. Todt (2009) compartilha dessa mesma definição, mas acrescenta a ela um olhar romântico ao afirmar que a Educação Olímpica, ao se basear no Olimpismo, pode ser um meio, a partir do esporte, de se alcançar o objetivo de desenvolvimento de um ser humano ideal, mais justo, igual e fraterno.

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Nascido na Alemanha, Nobert Muller pode ser considerado um dos maiores estudiosos do Olimp ismo. Atualmente é presidente do Co mitê Internacional Pierre de Coubertin.

Girginov e Parry (2005) defendem um conceito muito parecido com a dos autores acima ao afirmarem que a Educação Olímpica é a forma de estabelecer como os valores do esporte e do Olimpismo podem ser promovidos na prática.

Em consonância com linha de pensamento anterior, Moretti e Tapetti (2007, p. 77), ao tratarem do tema da Educação Olímpica, afirmam que esta se utiliza do esporte olímpico para alcançar um tipo de homem baseado nos ideais do Olimpismo: “[...] honestidade, honradez, valorização do esforço, compreensão, tolerância, respeito ao próximo, são valores oriundos do ideário olímpico, que através do esporte podem ser incluídos no processo educacional”. Esses autores ainda afirmam que as propostas de Educação Olímpica buscam trabalhar com valores humanistas considerados universais, ou seja, comum a todas as culturas, adaptando esses valores às condições específicas de cada nação, tornando o desenvolvimento dessas propostas mais próximas da realidade concreta.

Ao analisar o assunto sob um prisma multicultural, Abreu (2009, P. 208) salienta que:

[...] na práxis de qualquer implementação de uma proposta de Educação Olímpica multicultural, devem ser consideradas ambas esferas, macro e micro. Considerando as características do conceito macro de um conjunto de valores, composto por codificação e controle, interconexões globais e valores imutáveis. Categorias estas que estão ao redor do universalismo olímpico. No entanto, as características do conceito micro são compostas por interpenetrações particulares, adaptações plurais, condicionais e dependentes, diferenças culturais, compondo um pluralismo olímpico.

Portanto, no desenvolvimento de propostas de Educação Olímpica, há de se considerar um movimento ambivalente de difusão de valores éticos universais adaptados à diversidade cultural das diferentes sociedades.

O fato que se percebe é que, aparentemente, os autores que se dedicam ao tema da Educação Olímpica têm convergido quanto à conceitualização do que seja essa proposta educacional. Todos eles reconhecem o esporte referenciado no Movimento Olímpico como meio pedagógico para se alcançar uma educação pautada em valores. As ideias aparentemente diferentes desenvolvidas pelos diversos estudiosos da área possuem um caráter de complementação e não, como se poderia pensar, de embate entre opiniões antagônicas. Frente a isso, fica então a pergunta: Se não existe divergência significativa quanto à conceitualização sobre o que é a Educação Olímpica, por que alguns autores insistem em apontar para um cenário de indefinição quanto ao tema, como apresentado no início deste capítulo?

A resposta para essa indagação tem como ponto de partida o distanciamento entre o plano conceitual sobre o que é EO e a sua materialização enquanto proposta pedagógica.

Como visto, parece haver um consenso quanto ao conceito de Educação Olímpica, porém, colocar em prática este conceito tem gerado certa confusão entre aqueles que assumem essa responsabilidade, o que tem acarretado, como Franceschi Wacker (2009) nos mostra, um número elevado de projetos intitulados de Educação Olímpica que parecem não pertencerem verdadeiramente a esta temática.

O que realmente se sabe é que precisa ser derrubada a lacuna existente entre teoria e prática quando o assunto é a EO. Em outras palavras, é imprescindível que as propostas práticas de Educação Olímpica, ainda que diferenciem entre si quanto a sua estrutura organizacional39, busquem se basear ao máximo na conceitualização existente sobre o tema.

Também é necessário deixar claro que muitas propostas de educação em valores existentes não obrigatoriamente são propostas de Educação Olímpica. Mesmo aquelas que, segundo Franceschi Wacker (2009), tem buscado discutir valores por meio de atividades físicas ou da própria Educação Física não devem ser caracterizadas de antemão como iniciativas de EO. Tais propostas só podem assim ser caracterizadas “[...] quando tiverem o esporte como meio ou como fim de suas atividades” (FRANCESCHI WACKER, 2009, p. 30).

Porém, isso é apenas a primeira ressalva para que uma iniciativa de educação em valores seja considerada uma proposta de Educação Olímpica. A outra ressalva demarca que, mesmo projetos de educação em valores que utilizam o esporte como meio ou fim para o alcance de seus objetivos por vezes não são programas de Educação Olímpica, já que “[...] a diferença básica entre as propostas de educação através do esporte e de Educação Olímpica são os princípios e os valores do Olimpismo. Educação Olímpica é mais que o esporte como meio de educação” (FRANCESCHI WACKER 2009, p. 31).