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- MARCO AURÉLIO (REPÓRTER DA RÁDIO PANORAMA FM DE JUIZ DE FORA)

Entrevista em 29/10/2005, por e-mail.

1- Quais as principais diferenças em uma transmissão pelo rádio e pela televisão?

O rádio é mais vibrante, mais emotivo. Você cria no ouvinte uma imagem e a televisão apresenta uma transmissão mais morna. Sou suspeito para falar porque sou apaixonado pelo rádio. Não tiro os méritos da televisão, mas acho que o rádio não tem comparação, o rádio é lindo.

2- Como você explica o fato do torcedor estar no campo, vendo o jogo, e trazer o rádio? E, em casa, com a televisão transmitindo, ele prefere colocar o som da rádio e tirar o da tv?

Acho que ele traz o rádio para campo para acompanhar mais de perto e sentir a emoção que eu falei. Quanto a tirar o som da tv eu acho interessante. Eu faço isso. É uma sensação diferente porque quem tem o costume de ouvir sempre pelo rádio já constrói a imagem do jogo com facilidade. Agora, quem fizer isso nas primeiras vezes vai estranhar um pouco. Vai se assustar. O que ele vai ver na tv não tem a mesma velocidade que tem no rádio. Sugiro isso inclusive para quem não é muito adepto do rádio, que comece a experimentar e ver a diferença.

3- O que mais agrada na transmissão do rádio?

A vibração. Quanto mais vibração o locutor colocar na sua narração e os repórteres nas informações, você conquista o torcedor e leva até ele a melhor transmissão.

4- E qual a vantagem da televisão?

Talvez, por ser mais lenta, ela permita você analisar melhor o jogo.

APÊNDICE 13 - SÉRGIO NORONHA (COMENTARISTA TV GLOBO, ATUOU MUITOS ANOS NA RÁDIO GLOBO, TAMBÉM COMO COMENTARISTA)

Entrevista realizada durante o jogo entre Tupi e Cruzeiro no Campeonato Mineiro de 2004.

1- Quais as principais diferenças na transmissão do rádio e da televisão?

No rádio você conta uma história que o ouvinte não está vendo. Na televisão você explica para ele o que ele já está vendo.

2- O que explica o torcedor vir ao estádio e mesmo assim sentir a necessidade de trazer o rádio? Ou mesmo ver o jogo pela tv e colocar o som dom rádio?

A segunda hipótese é cada vez mais rara. Acredito que a televisão presta um serviço que o rádio não consegue prestar, que é repetir os lances. A televisão hoje tem o mesmo número de repórteres que o rádio. Eu acho que dificilmente hoje uma pessoa desliga o som da tv para ouvir o rádio. Eu acho que quem ouve rádio ouve porque gosta e nem se preocupa muito com a televisão. Quem ouve a transmissão do rádio fora do estádio é o porteiro do edifício, motorista de táxi, pessoas que não têm a possibilidade de ver o jogo pela televisão. A televisão te dá uma visão do jogo que o rádio não consegue. Como eu disse, ele não está vendo aquilo. A televisão costuma colocar em média 20 câmeras no estádio. Se existe algo melhor do que isso acredito que seja estar no estádio.

3- O que o torcedor, na sua opinião, vê de mais interessante em cada uma das duas transmissões?

Talvez o rádio seja mais emocionante. Como está sendo contada para o ouvinte uma história que ele não está vendo, o exagero é aceito e faz parte da narração pelo rádio. Há um certo exagero até. Na televisão você está vendo aquilo e você precisa explicar o que está acontecendo e, às vezes, fazer uma previsão do que pode vir a acontecer.

APÊNDICE 14 - LUIS ROBERTO (NARRADOR DA TV GLOBO. TRABALHOU EM RÁDIO NA RECORD, GAZETA E GLOBO SP)

Entrevista realizada no jogo entre Cruzeiro e Tupi, pelo Campeonato Mineiro de 2004.

1- Qual a principal diferença entre a transmissão de rádio e a de televisão?

Em relação à locução a diferença básica é que no rádio, além de você não ter imagem e por isso não poder dar espaço, você está criando uma imagem. Essa é a tese do rádio. Aos poucos ela quase se transforma. Ela se presta à transmissão daquela partida que não está na televisão ou para aquele que está impedido de ver o jogo pela tv, que está no trânsito ou trabalhando. Para essa pessoa é preciso passar a imagem clara do jogo e da situação, do que está acontecendo, de como é a cidade, o estádio, a temperatura que está fazendo. É uma criatividade que busca fatos que possam fazer na cabeça do ouvinte a imagem mais fiel possível do que ele está vendo. Na televisão é um filme, uma novela, onde a narração é um complemento para o que elas estão assistindo.

Eu tenho que dizer quem está com a bola e completar com algumas informações sobre ele, que é uma personagem que está sendo vista, que está ali. Na minha opinião é muito mais difícil transmitir pela televisão do que pelo rádio. Na televisão o campo de visão é muito mais complexo, você tem replay, você tem uma série de coisas acontecendo, gols de outros jogos que estão entrando no teu vídeo e o jogo que você está narrando está continuando. No rádio você está focado no jogo e acabou. É mais simples. Fica simplificada a sua narração.

2- Como explicar o torcedor com a necessidade de levar o rádio ao estádio ou aquele que em casa tira o som da televisão para ouvir o rádio?

No estádio é simples. O rádio é a fonte de informação. Ele usa o rádio para saber quem está com a bola. É assim que ele conhece os ídolos dele e talvez o time inteiro dele, bem como o adversário. Ele quer saber quem levou cartão amarelo, cartão vermelho. Existe ainda uma relação de empatia com as pessoas do rádio. As gerações

mais novas estão perdendo essa empatia e o rádio precisa encontrar uma solução para isso. Os mais jovens estão se habituando com a televisão. A relação dos mais antigos que assistiam à televisão e ouviam pelo rádio é recente. Até porque, a transmissão pela televisão tem sido mais intensa de uns dez anos para cá. Os mais antigos têm uma relação mais intensa com o rádio e é difícil romper. Ao mesmo tempo foi sendo fortalecida essa empatia. Eu mesmo tenho isso, tenho o rádio que eu ouço, tenho o hábito.

3- Então o rádio precisa tocar os mais jovens em termos de transmissão esportiva?

Sim. Ele tem que resolver isso rapidamente. E não é só por conta da televisão, mas também porque surgiram outras mídias como a internet, a tv a cabo, que oferecem uma série de formas de você acompanhar o resultado de uma partida de futebol. O que faz o torcedor ver uma partida pela televisão ou ouvir pelo rádio? É a neurose que ele tem de saber quanto está a partida. Por isso videoteipe hoje é cada vez menos visto. O cara quer saber na hora. Se não está passando na tv ele recorre ao rádio. Com as novas mídias e a massificação da televisão você tem uma proposta para o cara ficar em casa e então ele liga a tv e se habitua. Por isso a televisão, no que tange à narração esportiva também, está criando novos ídolos. Exemplos como Galvão Bueno, Luciano do Valle.

Hoje, o cara comenta o que o Casagrande falou, o que o Sérgio Noronha falou, o que o José Roberto Wright disse sobre o impedimento. Isso é forte. Eu acho que a TV Globo encontrou uma forma de apresentar o jogo na linguagem falada que é um avanço. Você tem comentarista de arbitragem que fica ligado naquilo, que esteve lá dentro, que sabe observar um lance ou perceber quando um jogador está usando da malandragem. Você tem comentaristas que têm uma história acompanhando futebol. A TV Globo procura transmitir o mais fiel possível o que está acontecendo. Sem falar na tecnologia que

dispõe. E que dá a quem está em casa um jogo completo. A aposta é na tecnologia. É claro que o sujeito prefere o jogo na televisão, no caso da Globo, com a certeza da qualidade. As gerações novas estão ligadas nisso. A televisão passou a ter reportagem em campo, como sempre houve no rádio. Ela ocupou dentro das casas o lugar que pertencia ao rádio. E cabe a ele, nessa situação, encontrar o seu jogo, o seu novo espaço.

Agora, nessa comparação é bom lembrar que no rádio a identificação com quem está narrando é maior já que está sendo repassada a imagem do que não se está vendo.

4- O que dizer para aquele que insiste em dizer que o rádio é mais emocionante que a televisão, considerada fria?

Eu acho assim, que a descontração é uma forma que todos buscam. No entanto, a televisão, e no caso falo da aberta, ela te dá uma noção de responsabilidade enorme. Se eu disser que a bola passou raspando à trave e isso não se comprovar com a imagem nunca mais o cara me ouve. Essa linguagem até certo ponto folclórica, que é o forte do rádio e muito legal e legitima, não cabe na televisão. Se você observar, todo movimento na televisão em termos de mudança de linguagem ou formato é lento. Porque ela tem um público mais eclético. A sala da pessoa tem a vovó, a criança, a mãe, o pai, e entre eles muitos não gostarão da gritaria do rádio. Só quem gosta muito do futebol. O percentual de fanáticos é muito pequeno em relação aos demais que estão também acompanhando a transmissão. O rádio tem a necessidade de buscar os bordões, as expressões para tentar te pegar. A diferença do rádio está na comunicação falada, linguagem falada, não na tecnologia. Na televisão a tecnologia é o primeiro ponto de diferencial. O torcedor vai ver o jogo se eu estiver narrando, se for o Galvão, o Noronha comentando ou o Casagrande. No rádio o torcedor se identifica muito mais com o narrador e o comentarista. O compromisso com a linguagem falada é maior. A televisão

tem outras formas de narrar, usando o replay, uma imagem de um pedaço do estádio, uma ilustração, com outros atrativos. O maior atrativo, seja no rádio ou televisão, é o jogo. Mas o locutor de rádio é muito identificado.

5- Você acha que o rádio perdeu o espaço?

Não acho que o rádio perdeu o que possuía, mas já parou de cair. Ele estagnou.

Só acredito que ele possa vir a perder se surgirem outras mídias.

APÊNDICE 15 - RONALDO FERNANDES (LOCUTOR DA RÁDIO TRÊS RIOS)