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2. PRODUÇÕES E LEGISLAÇÃO GERAL

2.6. L EGISLAÇÃO

2.6.3. Marco Civil da Internet (MCI)

Merece menção o seguinte trecho a seguir destacado que consta do artigo 24, do Marco Civil (Lei 12.965/16):

Art. 24. Constituem diretrizes para a atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios no desenvolvimento da internet no Brasil: [...] VIII - desenvolvimento de ações e programas de capacitação para uso da internet; [...] IX - promoção da cultura e da cidadania; [...].

Já no artigo 26, do mesmo diploma legal, encontramos a citação que faz menção à própria força da Lei:

Art. 26. O cumprimento do dever constitucional do Estado na prestação da educação, em todos os níveis de ensino, inclui a capacitação, integrada a outras práticas educacionais, para o uso seguro, consciente e responsável da internet como ferramenta para o exercício da cidadania, a promoção da cultura e o desenvolvimento tecnológico.

Verifica-se, portanto, o dever do Estado, pelo rigor da lei. O ônus a ser assumido voluntariamente também perpassa pelas demais instituições, dada a sua relevância e necessidade. Fatos reais da área digital ou cibernética já existem e surgirão colocando crianças e adultos na linha de frente de desafios do dia a dia, em que quase tudo é online. Temas ligados a aplicativos, internet das coisas, fake news, Big Data, algoritmos, drones e inteligência artificial – apenas para citar alguns exemplos – ainda precisam evoluir bastante, redundando em consequência e reflexos no que tange a intimidade, privacidade e tensões de direitos entre as partes envolvidas e, por consequência, como instrumentos de Bullying e

Em breve, após alguns anos assimilando a legislação específica se acredita que será considerado como abandono intelectual não preparar os jovens para os novos desafios tecnológicos, especialmente o uso adequado da internet, considerando as redes sociais uma parte muito sensível disso. Inclusive é o que apregoa o próprio Marco Civil, Lei nº 12.965/2014, especialmente os artigos 24 e 26, como acima esmiuçado. Neste sentido é importante também um olhar mais atento sobre a devida formação19 para que se esteja preparado para essa gama de novidades que causa ruptura de costumes diuturnamente. Como destacou Severino (2012, p. 70), a educação carrega arraigada em si um elemento conscientizador, indispensável na Era Digital:

A educação é efetivamente uma prática cujo instrumental é formado por instrumentos simbólicos de trabalho e de ação. Dirige-se aos educandos interpelando sua subjetividade e investindo no desenvolvimento desta. Daí a importância do conhecimento teórico no trabalho educativo e por isso se fala do papel conscientizador da educação.

A aparente incerteza20 que os elementos digitais geram pode ser superada, como aqui será enfrentado, em especial considerando as questões de ética, direitos humanos e a cidadania, como complexo de respeito à dignidade da pessoa humana norteando as boas condutas e as melhores práticas que todos os indivíduos merecem receber e exercer. Na era digital, ainda é elementar dar o devido respeito e destaque à perpétua e irrevogável Educação.

Conforme conceitua Pinheiro (2016, p. 527), vislumbra-se como elementar a efetividade da Educação Digital:

Educar na sociedade digital não é apenas ensinar como usar os aparatos tecnológicos ou fazer efetivo uso da tecnologia no ambiente escolar. Educar é preparar indivíduos adaptáveis e criativos com habilidades que lhes permitam lidar facilmente com a rapidez na fluência de informações e transformações. É preparar cidadãos éticos

19

Adota-se aqui o conceito de formação de Severino (2017, pp. 134-135), por onde destaca a importância do docente, nestes dizeres: “Minha ideia de formação é pois aquela do alcance de um modo de ser, mediante um devir, modo de ser que se caracterizaria por uma qualidade existencial marcada por um máximo possível de emancipação, pela condição de sujeito autônomo. Uma situação de plena humanidade. A educação não é apenas um processo institucional ou instrucional, seu lado visível, mas fundamentalmente um investimento formativo do humano, seja na particularidade da relação pedagógica pessoal, seja no âmbito da relação social coletiva. A interação docente é mediação universal e insubstituível dessa formação tendo-se em vista a condição da educabilidade do homem.”

20

Segundo Morin (2003, p. 48): “Para o determinismo, a incerteza causada por um fenômeno aleatório decorre da fraqueza dos meios e recursos cognoscitivos e da ignorância do espírito humano. Insuficiência, fraqueza e ignorância que impediriam reconhecer o determinismo e a ordem imutável dissimulados por acasos e desordens aparentes, cuja reparação permitiria acessar essa ordem ocultada por uma desordem ‘aparente’.”

para um novo mercado de trabalho cujas exigências tendem a ser maiores que as atuais.

A Educação Digital, neste sentido, pode ser entendida como o conjunto de metodologias que reflitam em ensino e aprendizagem, com o objetivo de transmitir conhecimentos éticos e de cidadania, para o uso e acesso de ambientes digitais, na internet, nos aplicativos, nos programas e demais sistemas informáticos, respeitando-se a dignidade da pessoa humana e o bem comum.

Como advertiu Severino (2014, p. 264), a importância da educação e os juízos de valor moral vêm abraçando a filosofia para se desvendar tais situações:

É por isso que a filosofia continua buscando fundamentar também os nossos juízos de valor moral. Por mais que já saibamos que os valores que embutimos em nossas práticas pessoais cotidianas sejam herdados de nossa própria cultura, recebendo-os através dos processos informais e formais de educação, continuamos desafiados a justificá-los, a fundamentá-los, buscando esclarecer como eles se legitimam e legitimam o nosso agir individual e coletivo.

Portanto, a educação é um direito humano fundamental e, no que tange aos mediadores, notadamente levando em conta que incidentes digitais irão ocorrer, invariavelmente, entre professores e alunos e eles terão que tomar as devidas medidas para auxiliar na solução. Desta forma, não pode o mediador ser avesso à tecnologia, pelo contrário, deve ter sintonia para entender o que ocorre nesse campo digital.

Só o despertar de uma consciência digital, instrumentalizada pela “cibercidadania”, poderá nortear um caminho sadio e proveitoso. Desta maneira, construir uma mentalidade de ética digital é crucial, já que ensinar aos jovens a criar uma reputação digital é elementar, prevenindo, assim, diversos infortúnios futuros. Afinal, o que está na rede pode se perenizar e deixar sequelas eternas.

Nesta ordem de ideias parece salutar a importância da Educação Digital, pois, sem se entender os mecanismos tecnológicos e as suas consequências, ficamos à mercê de resultados inesperados. Portanto, é fundamental compreender esse “admirável mundo novo” para que valores humanos sejam atribuídos para um exercício ético e respeitoso dentro de tais ambientes digitais, que se interligam com o mundo real e físico.

Sem Educação Digital o Cyberbullying, infelizmente, continuará ocorrendo, inclusive com relatos de situações envolvendo professores, por exemplo, ao criticar um aluno

numa rede social, ao curtir e responder somente postagens de alguns e deixando outros no esquecimento, ao apelidar e quaisquer outros exemplos que acontecem, com inúmeros relatos.

De modo compatível, importante que seja respeitada a dignidade da pessoa humana, destacando o plexo de direitos humanos envolvidos nas situações digitais, com a preservação e consagração dos direitos e deveres a todos devidos, inclusive no espaço digital, como a liberdade de pensamento, a honra, a legalidade, a privacidade, a intimidade e os demais atributos reconhecidos e inerentes ao sujeito humano. Levando em conta o relacionamento professor e aluno, o que gerará um despertar para o verdadeiro exercício da cibercidadania, amparado em elementos de convicção dos riscos e direitos inerentes ao uso dos benefícios tecnológicos, o seu uso ético, é a conscientização, caminho esse que só é possível com um exercício contínuo de Educação Digital.

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