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4. PERCURSO METODOLÓGICO

4.2. E NTREVISTAS

4.3.6. Virtual (Digital)

Incluída a palavra digital, pois a terminologia virtual passa a ideia de algo irreal, um jogo, uma simulação do real, sem consequências físicas, portanto pedagógicas e jurídicas. Parecendo mais acertada a acepção de digital, como incluso no subtítulo, porém mantemos também a anterior em homenagem ao que consta na lei.

Vislumbra-se uma típica situação de CyberBullying no relato abaixo, praticado por professor, sem valores firmes de ética digital sobre a privacidade do aluno, divulgando documento privativo do aluno com outros professores.

Então, eu tive um professor que ele colocou o material do aluno para outro professor compartilhar, para mostrar que o aluno tinha feito um erro e ele colocou como deboche do aluno, mas ficou entre os professores, não que foi divulgado, só que esse erro repercutiu para os outros professores, que toda vez que chegavam dentro de sala de aula falavam: “eu vi o trabalho que você fez; você não tem vergonha de fazer uma coisa daquele tipo”. Mas é o que eu falei, o que a pessoa pôs no grupo. O outro que recebeu e utilizou isso em sala. Então, dos 16 (dezesseis) que estavam no grupo, eu sei que um utilizou dessa fala e para mim eu acho que é uma forma depreciativa, porque o professor colocou na Internet um trabalho e o outro foi lá e, assim, menosprezou o aluno, deixou ele mal e não era nem a área dele, um dos professores era de português, o outro era de matemática e não tinha nada a ver (Entrevista B, 2018)

Ora, além do Bullying digital essa conduta também se enquadra nas modalidades de intimidação moral (difamar) e psicológica (perseguir e infernizar), refutando a missão do professor de correção fraterna, respeitosa. Assim, alimentando uma cultura de ódio entre professores e alunos, a partir de um “sistema de retroatividade e recursividade”, com o docente colaborando com a sua conduta inconsequente, que deveria agir com excelência, em um sistema marcado pela incompreensão e a violência.

Por fim, violando o ECA e outras normas legais, como a Constituição Federal, por exemplo, pela violação a privacidade do relacionamento entre professor e aluno, somado ao desrespeito a dignidade da pessoa humana do aluno, exposto em uma situação sem nenhum caráter pedagógico, portanto, totalmente injustificada. Tal conduta atropelou a ética e a moral a serem praticadas no meio escolar. Situação reprovável não apenas do professor que repassou o trabalho do aluno, mas também daqueles outros educadores que usaram da informação, sem o devido pudor e respeito ao aluno.

E, ainda, neste tópico relativo ao Cyberbullying uma situação que também tem caráter sexual. Um exemplo de assédio que buscava uma aproximação do docente com o aluno no campo digital:

Aí ele veio falar pra mim: “professora, sabe”, professora, no caso é mediadora, “sabe tal pessoa”, falei sei, “então ó, tá pedindo foto pra mim e aí eu falei para ele”, e o professor homem e o aluno homem, menino, terceiro ano do médio, “eu falei para ele que tem foto no meu Facebook”, ele tá lá porque que ele não vê as minhas fotos, e ele pediu umas fotos mais delicadas e, aí ainda dei uma bronca no aluno, na hora, falei assim: “olha o que você está falando é muito grave!”. Porque a gente também tem que medir isso, o aluno tem uma imaginação, não vou nem dizer que eles mentem, mas eles imaginam umas coisas assim e floreiam as coisas, então, de repente, pode não ter sido isso, falei: “olha cuidado com o que você está falando, você pode causar um problema muito grave pra um professor”, aí dei um sermãozinho de leve nele, aí ele falou assim: “mas S. eu tenho gravado isso, porque fica ali”. Daí eu falei: “abre para mim”, e ele me mostrou, então aí fui falar com o professor e não foi nem pra intimidar ou dar bronca, porque também, é lógico, falei com a diretora, e ela mesmo falou pra falar com o professor, mas eu, na intenção ali, com professor era, falei assim: “olha, cara, se eu fiquei sabendo outras pessoas também podem ficar sabendo, então para ou, se situa”. (Entrevista C, 2018)

No triste episódio o professor também buscava satisfazer o seu apetite sexual, extrapolando o seu lado homo demens, falhando na questão ética com o aluno, nos aspectos do assédio e no abuso de poder, aproveitando-se da condição de professor. O que provocou a intervenção da mediadora. Além de inapropriada a conduta extrapola aos limites do Bullying e poderia ter desaguado em um crime sexual.

Desta forma, percebe-se que a importância do(a) mediador(a) pode transcender apenas a questão de intervir nos incidentes instaurados, podendo também potencializar suas ações como um personagem decisivo dentro do âmbito escolar, ou seja, um promotor do diálogo e de uma de cultura da paz, repassando conhecimentos recebidos previamente aos professores junto com a Coordenação Pedagógica (até porque coletam muitas novidades junto aos alunos), aos próprios alunos e a comunidade escolar. Uma das mediadoras relatou durante as entrevistas:

Vamos falar, no geral, assim do aluno praticamente o Bullying é mais aqui no S. J., discriminação racial, aceitação principalmente para os alunos do Fundamental, aquele aluno que está chegando na escola, aquele aluno que está sendo conhecido, está reconhecendo ali o todo da escola. E eu vejo assim que o Bullying acaba até afastando esse aluno, e esse aluno fica um pouco com medo até de me procurar, porque ele tem vergonha. Porque ele, às vezes, até não se aceita na questão de discriminação racial. Mas eu venho assim trabalhando bastante, eu tenho assim o apoio da família bastante, onde eu trabalho com os livros. Logo que o aluno chega, eu trabalho principalmente com os sextos anos que esse ano nós temos três salas dos sextos anos, eu trabalho com livrinho, aonde fala do CyberBullying, do Bullying propriamente, onde eles fazem o trabalho, expõe o trabalho, fazem debates, a gente faz roda de conversa e eu tenho assim um bom resultado né. E os demais alunos do sétimo, oitavo e nono ano assim é muito pouco, entre eles é muito pouco, não vou nem pontuar, porque assim a gente tenta resolver de imediato. Quando eu falo de imediato, o aluno vem e eu converso com a sala, perante a presença do professor. Então, é assim, o resultado, assim vamos falar assim que é 99% (noventa e nove por cento) resolvido. (ENTREVISTA E, 2018)

Como verificado a mediadora tem essa precaução de passar conteúdo aos alunos, assim contribuindo de modo efetivo na prevenção de incidências de intimidação sistemática.

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