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Marco histórico no Estado catarinense 73 

O Estado de Santa Catarina era ignorado pelos governos federais até meados do século XX devido à sua carência de uma boa economia e de autoridades políticas com reputação nacional, mesmo depois de um catarinense, Nereu Ramos, ter representado a presidência do País, embora pouco ele pôde fazer para os seus conterrâneos em menos de três meses de mandato.

Com o arrebatado processo de industrialização no País, durante o governo de Juscelino Kubitschek, Santa Catarina ainda continuava sendo esquecida, e um dos principais motivos desse esquecimento era ser considerada como uma terra de alemães ricos e que, portanto, não

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precisavam de auxílio ou estímulo para resolver seus problemas regionais (ARANTES, 2009).

Entretanto, o ano de 1960 foi extremamente significativo para os catarinenses, pois foi fundada a primeira universidade do Estado e que, em pouco tempo, mudaria a face desse Estado e as suas perspectivas. A cidade de Florianópolis era, até então, uma “pacata capital provinciana, cujo mercado de trabalho resumia-se basicamente ao serviço público, ao comércio varejista e às profissões liberais” (ARANTES, 2009, p. 47). Já em 1965, tem-se também a fundação da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), ou seja, quase que simultaneamente duas universidades de grande porte aterrissaram na Ilha. Sem comparar com o grau de importância atribuído à fundação dessas universidades, mas se caracterizando também como um fator transformador, deu-se no ano de 1975 a transferência da sede da Eletrosul do Rio de Janeiro para Florianópolis.

Esses acontecimentos provocaram um grande fluxo de pessoas “de fora”, principalmente do Rio Grande do Sul, por parte da UFSC, e do Rio de Janeiro, por conta da Eletrosul, além de inúmeros estudantes oriundos do interior do nosso Estado e também de outros estados. E também neste momento o turismo começava a intensificar-se e a profissionalizar-se. Dessa forma, as repercussões positivas tornaram-se “inevitáveis sobre a cultura e a economia, redesenhando a realidade local em menos de duas gerações” (ARANTES, 2009, p. 48).

Segundo Arantes (2009), ao reportar-se à fundação da universidade federal, é indispensável mencionar dois professores, Henrique da Silva Fontes, um dos principais condutores nos primeiros acordos realizados com o Ministério da Educação, e João Ferreira Lima, considerado o grande criador desta universidade. Destaca-se também a importância da participação da Associação Catarinense de Engenheiros (ACE) nesse feito, na figura de seu presidente, Celso Ramos Filho (no biênio 1957-58), cujo sobrenome influenciou politicamente na fundação da universidade federal, pois seu pai, Celso Ramos, político de destaque, era o governador eleito de Santa Catarina (assumiria o cargo em 31 de janeiro de 1961) sob a sigla do PSD, também partido do Presidente da República da época, Juscelino Kubitschek.

A Lei nº 3.849, que criava a Universidade Federal de Santa Catarina, foi aprovada por Kubitschek no dia 18 de dezembro de 1960. Esse grande marco histórico do ensino superior na sociedade catarinense

75 foi concretizado a partir da integração de seis faculdades – Direito, Filosofia, Ciências Econômicas, Medicina, Farmácia e Odontologia (consideradas apenas uma faculdade), e Serviço Social, sendo a Faculdade de Direito49 o primeiro estabelecimento de ensino superior do Estado criado na década de 1930. Esse foi o momento propício no qual surgiu a ideia de um “centro universitário, irradiador de cultura e de progresso” para benefício da “mocidade barriga-verde e brasileira!” (LIMA, 2000, p. 57/61).

Vale ressaltar o nome do principal responsável pela implantação da UFSC, o professor João David Ferreira Lima, cujas paixões concentravam-se em sua família e na universidade. João David “ajudou- a a nascer e cuidou dela por dez anos” (LIMA, 2000, p. 12), sendo o seu primeiro reitor e consolidando o campus universitário no bairro Trindade. No livro que redigiu, intitulado UFSC: sonho e realidade, foi possível perceber sua dedicação, persistência e ousadia nessa construção conjunta e, acima de tudo, a amizade entre os professores e políticos da época, responsáveis pela implementação da universidade. A título de exemplo, tem-se a justificativa de recusa do professor João Bayer Filho à indicação para ser o primeiro reitor da UFSC:

Ferreira Lima, não sou homem de coisas escusas e erradas. Jogo limpo! Você, mais que ninguém, é o responsável pela criação desta Universidade e a você cabe dirigi-la como seu primeiro reitor. Não aceito esta designação, pois, se aceitasse, considerar-me-ia indigno, e não serei candidato a Reitor, porque a você cabe este cargo. (LIMA, 2000, p. 89).

A UFSC, apesar dos obstáculos enfrentados no período do Regime Militar juntamente com os movimentos estudantis, já havia avançado em vários aspectos na década de 1970, por exemplo, na aplicação do sistema de tempo integral, no incentivo pelo aprimoramento do quadro docente em outras instituições do País e do exterior, e no seu vasto crescimento, sendo criados 18 novos cursos de       

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O idealizador e fundador da Faculdade de Direito do Estado de Santa Catarina foi José Arthur Boiteux. Essa faculdade foi o primeiro estabelecimento superior federal de Santa Catarina (LIMA, 2000).

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graduação. A Reforma Universitária também é inserida nessa década (REVISTA INSTITUCIONAL UFSC 45 ANOS, 2009), e

o ensino superior brasileiro, quanto à sua estruturação acadêmica, guardava ainda moldes medievais. Existiam as organizações universitárias baseadas em estanques e fechadas faculdades e escolas, com séries, cátedras vitalícias, conselhos, matrículas e inscrições próprias. A universidade se resumia, assim, na existência de um reitor com alguns órgãos administrativos que foram criados posteriormente; as faculdades preexistentes, apesar da fusão, mantinham-se afastadas entre si, fechadas numa tradição, conservantismo e isolamento pernicioso sob todos os aspectos. (LIMA, 2000, p. 194).

Essa reforma provocou uma mudança significativa na estrutura administrativa da universidade, em vez de faculdades, séries e anos letivos, agora centros, departamentos, fases (semestres) e créditos. Pode-se dizer ainda, de forma sucinta, que houve uma substituição de escolas e faculdades por uma universidade. E a instituição pioneira na implantação dessa Reforma Universitária foi a Universidade Federal de Santa Catarina, que se tornou modelo para todo o País (LIMA, 2000).

Em 1980, a UFSC, assim como o País inteiro, caminhou em busca da democracia, sendo “palco de manifestações, greves, movimentos reivindicatórios e políticos” (UFSC, 2009b, p. 14), os quais levaram a comunidade universitária, em 1984, a eleger (entre duas candidaturas) o seu primeiro reitor pelo voto direto – Rodolfo Joaquim Pinto da Luz.

Após 30 anos de existência, a UFSC assume o posto privilegiado de estar entre as dez melhores universidades brasileiras. Em 2000, possuía 11 centros de ensino, abrigando mais de 20 mil estudantes de graduação e 10 mil de pós-graduação, sendo o maior centro de pós- graduação do Estado.

Em 2005, chegou a 62 cursos de graduação e 81 de pós- graduação, sendo 48 opções de mestrado e 33 de doutorado. Hoje em dia, com 48 anos de existência, a UFSC continua crescendo e, sem

77 dúvida, possui uma posição de destaque entre as instituições brasileiras de ensino superior.