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MARCO LEGAL DO SANEAMENTO NO BRASIL

No documento MUNICÍPIO DE PONTAL DO PARANÁ - PR (páginas 51-55)

3 ANTECEDENTES

3.1 MARCO LEGAL DO SANEAMENTO NO BRASIL

No Brasil, conforme registram Moisés et al. (2010, p. 2582), o crescimento

vertiginoso das cidades “sem o devido acompanhamento de infraestrutura básica”

gerou ambientes insalubres de exclusão social das classes populares. Destacam

que há menos de um século, a população nas cidades brasileiras aumentou de

10,0% para 82,0% do total nacional. Assim, resultado do êxodo rural, esta

concentração gerou o seguinte cenário: 6,6 milhões de famílias sem moradia, 11%

de domicílios urbanos sem acesso ao abastecimento de água potável e

aproximadamente 50% sem esgotamento sanitário.

Os autores, Moisés et al. (2010) registraram que - diante do déficit existente

no país - o setor de saneamento enfrentou “mais de 20 anos de luta” em busca da

aprovação de uma política Federal de Saneamento Básico: a “Lei de Diretrizes

Nacionais para o Saneamento Básico”, Lei N

o

11.445, regulamentada em 5 de

janeiro de 2007 (MOISÉS et al., 2010, p. 2582). Esta, descreve em seu Art. 3º, as

definições de saneamento básico e esgotamento sanitário. O primeiro é definido

como o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações de abastecimento de

água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e

drenagem de águas pluviais urbanas. Destes, esgotamento sanitário é:

b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infra-estruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente; (BRASIL, 2007).

Nesta lei, estão estabelecidos os princípios fundamentais em que se devem

basear os serviços públicos de saneamento.

Art. 2o Os serviços públicos de saneamento básico serão prestados com

base nos seguintes princípios fundamentais:

I - universalização do acesso;

II - integralidade, compreendida como o conjunto de todas as atividades e componentes de cada um dos diversos serviços de saneamento básico,

propiciando à população o acesso na conformidade de suas necessidades e maximizando a eficácia das ações e resultados;

III - abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente;

IV - disponibilidade, em todas as áreas urbanas, de serviços de drenagem e de manejo das águas pluviais adequados à saúde pública e à segurança da vida e do patrimônio público e privado;

V - adoção de métodos, técnicas e processos que considerem as peculiaridades locais e regionais;

VI - articulação com as políticas de desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção ambiental, de promoção da saúde e outras de relevante interesse social voltadas para a melhoria da qualidade de vida, para as quais o saneamento básico seja fator determinante;

VII - eficiência e sustentabilidade econômica;

VIII - utilização de tecnologias apropriadas, considerando a capacidade de pagamento dos usuários e a adoção de soluções graduais e progressivas; (BRASIL, 2007, p. 1, grifo nosso)

Dentre os princípios fundamentais relacionados, ressalta-se aqui o inciso “I -

universalização do acesso“ e o inciso “VI - articulação com as políticas de

desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de combate à pobreza e de sua

erradicação [...]”, uma vez que apontam para a relação entre acesso e condição

socioeconômica da população, base para a demanda por parte da população de um

direito que lhe é assegurado.

A Resolução Recomendada N

o

62, de 3 de dezembro de 2008 (BRASIL,

2008), veio definir o “Pacto pelo Saneamento Básico”, que ressalta os motivos

existentes para a elaboração do Plano Nacional de Saneamento Básico -

PLANSAB - e destaca o impacto do saneamento sobre a qualidade de vida, saúde,

educação, trabalho e ambiente, assim como registra que enquanto o Plano de

Aceleração do Crescimento - PAC - opera com investimentos robustos, permanece

a necessidade de planejar o aperfeiçoamento em busca da universalização dos

serviços de saneamento básico. A situação reflete a necessidade de enfrentar a

postura hegemônica focada no “desenvolvimento através do crescimento

econômico” e na manutenção na ampliação de investimentos.

Em sua apresentação, o texto do “Pacto pelo Saneamento Básico” (BRASIL,

2008) ressalta a importância de enfrentar desafios assumidos em busca da

Universalização do Saneamento Básico visando a saúde, a qualidade de vida e

inclusão social e assim enfatiza a orientação dada pela Lei 11.445/2007 quanto ao

necessário empenho “dos três níveis de governo, dos prestadores de serviço

população em geral”, com compromisso socioterritorial objetivando aperfeiçoamento

de serviços e do controle social (BRASIL, 2008, p. 3).

Partindo de um cenário de busca da regulamentação do setor de

saneamento básico - e da necessidade e interesses na implantação de programas

para sua melhoria - o Decreto N

o

6.942, de 18 de agosto de 2009, veio instituir o

Biênio do Saneamento 2009-2010 e o Grupo de Trabalho Interinstitucional para

elaborar o PLANSAB. Ainda assim, apenas em 21 de junho de 2010 - através da

instituição do Decreto N

o

7.217 – é que foram estabelecidas as normas para a

execução da Lei de Diretrizes Nacionais do Saneamento Básico, Lei N

o

11.445/2007.

Mesmo a partir do estabelecimento de responsabilidades, direitos,

obrigações e diretrizes pautando avanços da legislação, ao passar dos anos seguem

situações de dificuldades e a captação de água para abastecimento se torna cada

vez mais crítica, trazendo a necessidade de se instituir a Lei N

o

12.862, de 17 de

setembro de 2013, que altera a Lei N

o

11.445 estabelecendo diretrizes nacionais

com objetivo de incentivar a economia no consumo de água.

Finalmente, no dia 6 de dezembro de 2013 é aprovado o Plano Nacional de

Saneamento Básico - PNSB - pela portaria interministerial

39

N

o

.571 que - conforme

determinado em seu artigo 4º - teria o nome PLANSAB adotado para efeitos de

divulgação (BRASIL, 2013b). De acordo com notícia veiculada pelo Portal Brasil, o

plano define diretrizes, metas e ações de saneamento básico para um período de 20

anos, considerado de 2014 a 2033 (PORTAL BRASIL, 2013).

Resultado de extenso trabalho, é possível considerar a amplitude de

discussão entre correntes de pensamento ao observar, nas primeiras páginas do

PLANSAB, o registro da estrutura

40

envolvida em sua elaboração (BRASIL, 2013a,

p. 3-5).

39 Ministério da Casa Civil da Casa Civil da Presidência da República, Ministério da Fazenda, Ministério

da Saúde, Ministério do Planejamento, Ministério do Orçamento e Gestão, Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Integração Nacional e Ministério das Cidades (BRASIL, 2013b).

40 Grupo de Trabalho Interinstitucional, incumbido de coordenar a elaboração e promover a divulgação

do Plano Nacional de Saneamento Básico (Portaria nº. 634, de 22/10/2010, e nº 418, de

31/01/2011), com vigência até abril de 2011, GTI–Plansab. Composto por: representantes da Casa

Civil, Ministérios, Caixa Econômica Federal, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social – BNDES, Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, Agência Nacional de Águas – ANA,

Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – CODEVASF,

Conselho das Cidades (este composto por Trabalhadores; Poder Público Municipal e Estadual; Onganizações Não Governamentais; Movimento Popular; Entidades profissionais, acadêmicas e de pesquisa; Empresários.

Quanto as bases do PLANSAB - seguindo as orientações da lei 11.445/2007

- o plano dedica o Capítulo 3 para explicar seus Pricípios Fundamentais

41

, no qual

destaca a importânca de conceituá-los observando a influência de diferentes visões

e se valendo do rigor científico no emprego de métodos que reduzam as

subjetividades. Desta forma, registra: (BRASIL, 2013 a, p. 14)

Assim, a construção do Plansab não se reduz a um processo técnico-científico descontextualizado. Está envolto em um contexto social, político e econômico, dentre outros aspectos. A sua abertura para o social, ao buscar suporte conceitual em princípios fundamentais, possibilita explicitar distintas leituras e enfoques sobre a sociedade. Nesse sentido, a elaboração do Plano foi sustentada em princípios da política de saneamento básico, a maior parte deles presente na Lei nº 11.445/2007. Alguns se baseiam em conceitos que requerem precisão, sendo muitas vezes sem uma significação consensual pelos diversos autores que se ocuparam de discuti-los ou entre diferentes correntes teóricas. (BRASIL, 2013a, p. 14)

Neste capítulo, o PLANSAB trata dos conceitos de universalização,

equidade, integralidade, intersetorialidade, sustentabilidade, ressaltando a

importância da dimensão conceitual - da “influência da formação, do

desenvolvimento e das mudanças históricas do Estado brasileiro” (BRASIL, 2013a,

p. 16) -, da participação e controle social e finalmente da matriz tecnológica que

orienta o planejamento e a política setorial.

Considerando a escala municipal, o decreto nº 8.211/2014 veio alterar o

Decreto N

o

7.217/2010 ao exigir a existência do Plano Municipal de Saneamento

Básico - PMSB - definindo sua obrigatoriedade para o acesso a recursos

orçamentários da União ou geridos ou administrados por órgão ou entidade da

administração pública federal (BRASIL, 2014a).

O PLANSAB, em seu Capítulo 2 – Bases Legais e Competências

Institucionais – descreve as diversas competências relativas às responsabilidades,

dentre as quais – conforme o Plano Plurianual de Investimentos PPA 2012-2015 -

cabe ao Ministério das Cidades atuação sobre os municípios com população

superior a 50 mil habitantes, assim como cabe a Fundação Nacional de Saúde -

FUNASA - do Ministério da Saúde - a responsabilidade pelo atendimento aos

41 Conforme referenciado, em nota de rodapé do PLANSAB (BRASIL, 2013a, p.14): O Capítulo 3.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS foi baseado, principalmente, nos seguintes Cadernos Temáticos

integrantes do vol. 7 do Panorama do Saneamento Básico no Brasil: CASTRO, J. E. Gestão

democrática nos serviços de saneamento; INOJOSA, R. M. Intersetorialidade e transversalidade; PAIM, J. S. Universalidade, integralidade e equidade; PEIXOTO, J. B. Aspectos econômicos dos serviços públicos de saneamento básico; SOUZA, C. Estado e política de saneamento no Brasil.

“municípios com menos de 50 mil habitantes, áreas rurais, quilombolas e sujeitas a

endemias” (BRASIL, 2013a, p. 12).

Além disso, a FUNASA é também o órgão competente para implementar

ações de saneamento em áreas rurais de todos os munícipios, de maneira a reverter

o cenário de transmissão de doenças hídricas, parasitoses intestinais e diarréias,

com foco na inclusão social de grupos minoritários. Quanto às necessidades, são

consideradas as especificidades de cada comunidade e região para o

desenvolvimento de sistemas de saneamento (FUNASA, 2015c).

No documento MUNICÍPIO DE PONTAL DO PARANÁ - PR (páginas 51-55)