Esta pesquisa apresenta - a partir do Capítulo 4 - a metodologia de cálculo
dos Índices de Carência no Saneamento Habitacional (ICSH) como ferramenta para
avaliar a situação do saneamento nos sete municípios do litoral do Paraná e as
condições de distribuição da rede de esgotamento sanitário no município de Pontal
do Paraná. Desta forma, verifica-se a necessidade de introduzir algumas
considerações a respeito da discussão envolvendo modelos de avaliação e
propostas de indicadores aplicados ao setor de saneamento, a fim de – atendendo o
objetivo desta pesquisa – possibilitar uma análise sob a perspectiva da justiça
ambiental.
Assim, a questão remete ao debate – apresentado pela publicação
denominada “Panorama do saneamento básico no Brasil” (BRASIL, 2011a, p. 53) –
no qual se confrontam entendimentos diversos sobre o saneamento básico, sendo
este considerado ora como “direito social”, ora como “conjunto de obras de
infraestrutura”. Neste contexto, Borja
35(2010) ressalta que os modelos de avaliação
aplicados no país não contemplam “os resultados e os impactos” oriundos da
prestação dos serviços, pois, buscam reconhecer e mensurar “metas políticas
atingidas”, “cumprimento de programas” e “compatibilidade de gastos”, tanto quanto
a condição de estudos acadêmicos focados na formulação do processo político e da
tomada de decisões. O destaque da autora recai sobre a importância na
necessidade de haver uma “precisa definição conceitual” de saneamento básico,
sendo condição imprescindível definir o que se pretende avaliar, uma vez que este
é um fator determinante da metodologia a ser adotada na definição dos “aspectos da
realidade que serão considerados e no esclarecimento dos limites da análise
desenvolvida” (BORJA, 2010, citado por BRASIL, 2011a, p. 53).
As dificuldades surgem a partir de divergências relativas a proposições - sob
o enfoque de aproximar políticas de saneamento e políticas sociais nos países em
desenvolvimento - de efetuar ações de saneamento como medidas de saúde pública
(BORJA e MORAES
36, 2005) e outras divergências relativas à questão do lucro e
natureza pública ou privada. (BELLONI; MAGALHÃES; SOUSA
37, 2001, citados em
BRASIL, 2011a). Ao desenvolver o tema sobre avaliação na área de saneamento
básico, a publicação denominada “Panorama do saneamento básico no Brasil”
demonstra ainda registros deste universo de embates sobre os processos de
avaliação, suas considerações, os debates gerados e resultados. Assim, o
35 BORJA, P.C. Avaliação do plano municipal de saneamento básico: conceitos, experiências
brasileiras e recomendações. [s.l.: s.n.], 2010.
36 BORJA, P.C.; MORAES, L.R.S. Saneamento como um direito social. In: ASSEMBLÉIA DA
ASSEMAE, 35., 2005, Belo Horizonte. Anais... Brasília: ASSEMAE, 2005.
37 BELLONI, I.; MAGALHÃES, H.; SOUSA, L.C. Metodologia de avaliação em políticas públicas:
“Panorama” descreve a dificuldade em realizar avaliações “orientadas para a
melhoria da qualidade de vida da população [...]”
Um processo de avaliação, que considera as ações na área de saneamento básico como política pública, nortear-se-ia pelos princípios da universalidade, igualdade, integralidade, titularidade municipal, gestão pública, participação e controle social, parte dos quais são estabelecidos
pela Lei n. 11.445/2007 (BRASIL, 2007). Em complemento, para Heller38 e
Nascimento (2005), ainda que alguns meritórios esforços recentes possam ser percebidos, o campo do saneamento vem se encontrando imerso em um ambiente de rarefeitos debates sobre o papel social que tem a cumprir, dificultando a realização de avaliações orientadas para a melhoria da qualidade de vida da população e que representem contribuições para o desenvolvimento da área. (BRASIL, 2011a, p. 53)
A observação sobre o tema faz reconhecer as divergências a partir das
“diferentes tradições de pensamentos e posturas sobre a questão ambiental”
apresentados na seção 2.1 desta pesquisa. O fato é bastante relevante para – além
do exposto aqui – sugerir que dentre os debates e propostas encontram-se as
diversas vertentes, muitas inseridas no “espaço do debate do desenvolvimento
sustentável”, as quais definirão as posturas assumidas na implantação de políticas,
modelos de gestão, pesquisas, avaliações e estudos.
Desta forma, a fim de ilustrar uma estrutura didática sobre gestão do
saneamento - sem entrar no mérito ”das correntes” - cita-se Anjos Jr. (2011), que
faz as considerações sobre como a influencia da gestão do saneamento afeta,
“simultaneamente, a saúde pública, o planejamento urbano, o meio ambiente e a
realidade social”, e propõe como ponto de partida a compreensão da
“multidisciplinaridade da missão” dos gestores e interdisciplinaridade de conceitos,
para concluir dizendo:
Por fim, este livro propõe que a gestão estratégica de um sistema de saneamento deve contemplar o objetivo de maximizar os seus resultados econômicos e finaceiros em benefícios da sociedade em geral, dos seus clientes, em particular, e também da própria empresa gestora do sistema.(ANJOS, JR, 2011, p. XVI).
O autor Anjos Jr. (2011) discute a complexidade envolvida em avaliações da
gestão do saneamento subdividindo-a em dez aspectos de Gestão: econômica e
financeira de projetos; da demanda; de custos de sistemas de saneamento; de
38 HELLER, L; NASCIMENTO, N.O. Pesquisa e desenvolvimento na área de saneamento no Brasil: