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MODELOS DE AVALIAÇÃO DO SANEAMENTO E PROPOSTAS DE

No documento MUNICÍPIO DE PONTAL DO PARANÁ - PR (páginas 47-51)

Esta pesquisa apresenta - a partir do Capítulo 4 - a metodologia de cálculo

dos Índices de Carência no Saneamento Habitacional (ICSH) como ferramenta para

avaliar a situação do saneamento nos sete municípios do litoral do Paraná e as

condições de distribuição da rede de esgotamento sanitário no município de Pontal

do Paraná. Desta forma, verifica-se a necessidade de introduzir algumas

considerações a respeito da discussão envolvendo modelos de avaliação e

propostas de indicadores aplicados ao setor de saneamento, a fim de – atendendo o

objetivo desta pesquisa – possibilitar uma análise sob a perspectiva da justiça

ambiental.

Assim, a questão remete ao debate – apresentado pela publicação

denominada “Panorama do saneamento básico no Brasil” (BRASIL, 2011a, p. 53) –

no qual se confrontam entendimentos diversos sobre o saneamento básico, sendo

este considerado ora como “direito social”, ora como “conjunto de obras de

infraestrutura”. Neste contexto, Borja

35

(2010) ressalta que os modelos de avaliação

aplicados no país não contemplam “os resultados e os impactos” oriundos da

prestação dos serviços, pois, buscam reconhecer e mensurar “metas políticas

atingidas”, “cumprimento de programas” e “compatibilidade de gastos”, tanto quanto

a condição de estudos acadêmicos focados na formulação do processo político e da

tomada de decisões. O destaque da autora recai sobre a importância na

necessidade de haver uma “precisa definição conceitual” de saneamento básico,

sendo condição imprescindível definir o que se pretende avaliar, uma vez que este

é um fator determinante da metodologia a ser adotada na definição dos “aspectos da

realidade que serão considerados e no esclarecimento dos limites da análise

desenvolvida” (BORJA, 2010, citado por BRASIL, 2011a, p. 53).

As dificuldades surgem a partir de divergências relativas a proposições - sob

o enfoque de aproximar políticas de saneamento e políticas sociais nos países em

desenvolvimento - de efetuar ações de saneamento como medidas de saúde pública

(BORJA e MORAES

36

, 2005) e outras divergências relativas à questão do lucro e

natureza pública ou privada. (BELLONI; MAGALHÃES; SOUSA

37

, 2001, citados em

BRASIL, 2011a). Ao desenvolver o tema sobre avaliação na área de saneamento

básico, a publicação denominada “Panorama do saneamento básico no Brasil”

demonstra ainda registros deste universo de embates sobre os processos de

avaliação, suas considerações, os debates gerados e resultados. Assim, o

35 BORJA, P.C. Avaliação do plano municipal de saneamento básico: conceitos, experiências

brasileiras e recomendações. [s.l.: s.n.], 2010.

36 BORJA, P.C.; MORAES, L.R.S. Saneamento como um direito social. In: ASSEMBLÉIA DA

ASSEMAE, 35., 2005, Belo Horizonte. Anais... Brasília: ASSEMAE, 2005.

37 BELLONI, I.; MAGALHÃES, H.; SOUSA, L.C. Metodologia de avaliação em políticas públicas:

“Panorama” descreve a dificuldade em realizar avaliações “orientadas para a

melhoria da qualidade de vida da população [...]”

Um processo de avaliação, que considera as ações na área de saneamento básico como política pública, nortear-se-ia pelos princípios da universalidade, igualdade, integralidade, titularidade municipal, gestão pública, participação e controle social, parte dos quais são estabelecidos

pela Lei n. 11.445/2007 (BRASIL, 2007). Em complemento, para Heller38 e

Nascimento (2005), ainda que alguns meritórios esforços recentes possam ser percebidos, o campo do saneamento vem se encontrando imerso em um ambiente de rarefeitos debates sobre o papel social que tem a cumprir, dificultando a realização de avaliações orientadas para a melhoria da qualidade de vida da população e que representem contribuições para o desenvolvimento da área. (BRASIL, 2011a, p. 53)

A observação sobre o tema faz reconhecer as divergências a partir das

“diferentes tradições de pensamentos e posturas sobre a questão ambiental”

apresentados na seção 2.1 desta pesquisa. O fato é bastante relevante para – além

do exposto aqui – sugerir que dentre os debates e propostas encontram-se as

diversas vertentes, muitas inseridas no “espaço do debate do desenvolvimento

sustentável”, as quais definirão as posturas assumidas na implantação de políticas,

modelos de gestão, pesquisas, avaliações e estudos.

Desta forma, a fim de ilustrar uma estrutura didática sobre gestão do

saneamento - sem entrar no mérito ”das correntes” - cita-se Anjos Jr. (2011), que

faz as considerações sobre como a influencia da gestão do saneamento afeta,

“simultaneamente, a saúde pública, o planejamento urbano, o meio ambiente e a

realidade social”, e propõe como ponto de partida a compreensão da

“multidisciplinaridade da missão” dos gestores e interdisciplinaridade de conceitos,

para concluir dizendo:

Por fim, este livro propõe que a gestão estratégica de um sistema de saneamento deve contemplar o objetivo de maximizar os seus resultados econômicos e finaceiros em benefícios da sociedade em geral, dos seus clientes, em particular, e também da própria empresa gestora do sistema.(ANJOS, JR, 2011, p. XVI).

O autor Anjos Jr. (2011) discute a complexidade envolvida em avaliações da

gestão do saneamento subdividindo-a em dez aspectos de Gestão: econômica e

financeira de projetos; da demanda; de custos de sistemas de saneamento; de

38 HELLER, L; NASCIMENTO, N.O. Pesquisa e desenvolvimento na área de saneamento no Brasil:

investimentos em capacidade instalada; social dos serviços de saneamento; do

conhecimento e dos recursos humanos; ambiental dos serviços de saneamento;

Políticas de gestão e planejamento estratégico; e regulação dos serviços; conceitos

e aplicações de matemática finaceira (ANJOS, JR., 2011, p. V-VII).

Ainda, citando Anjos Jr. (2011), a cada aspecto da gestão cabem específicos

“métodos de análise”. Desta forma, ao destacar que na “Gestão social” se deve

atender o “objetivo de universalizar o acesso da sociedade como um todo aos

benefícios de água potável e do esgoto tratado”, registra que as estratégias

sugeridas para cumprir tal meta “buscam conciliar a equidade social com a eficiência

na gestão”. Neste âmbito, o autor demonstra que deve-se aplicar “um método de

análise para medir os resultados da gestão social” e a partir dos objetivos de

universalização ressalta a importância de escolhas políticas para “cobrir os custos”

de maneira a possibilitar o atendimento “de uma parcela da população cuja renda é

insuficiente”, pois, a gestão deve buscar “atingir um grau de compromisso

satisfatório”, equilibrando “viabilidade fineceira e o acesso universal aos benefícios

do saneamento” (ANJOS, JR., 2011, p.121).

Esta pesquisa busca, inicialmente, avaliar a abrangência do serviço de

esgotamento sanitário verificando o seu déficit entre os setores censitários,

domicílios e população por município, para em um segundo passo, observar a

relação entre dados coletados que apontem vulnerabilidades relativas a saúde, nível

de renda e nível de pobreza. Ainda, pretende dar enfase à questão do uso balneário,

observando a concentração e localização dos domicílios de uso ocasional tendo em

conta a sua relevância na produção/ocupação do espaço no litoral. Portanto, a

avaliação não se refere às políticas adotadas, aos sistemas de gerenciamento, ou a

eficiência de atendimento ou tratamento, mas refere-se a verificação da fração da

população atendida, assim como às condições de vulnerabilidade do universo

atendido/não atendido e, através da metodologia desenvolvida pela pesquisa,

apresentará as considerações referentes ao índice eleito para efetuar tal avaliação.

No documento MUNICÍPIO DE PONTAL DO PARANÁ - PR (páginas 47-51)