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Marcos legais do envelhecimento

1.4. O envelhecimento no Brasil

1.4.1. Marcos legais do envelhecimento

O Congresso Nacional decreta a Lei 8.842/94 em 04 de Janeiro de 1994, como uma proteção legal que estabelece a Política Nacional do Idoso em razão de várias reivindicações feitas pela sociedade desde meados da década de 1970, e principalmente em razão do documento “Políticas para a Terceira Idade”, elaborado pela Associação Nacional de Gerontologia (ANG) nos anos 1990, estabelecendo uma série de recomendações sobre a questão do idoso.

Em 1996, o Ministério da Previdência e Assistência Social publicou a Política de Atenção ao Idoso e, em 27 de setembro de 1999, foi estabelecido o Dia Nacional do Idoso pela comissão de educação do Senado Federal, com o objetivo de abrir espaço para a reflexão sobre a situação do idoso no país, seus direitos e dificuldades.

O Ministério da Saúde (2006) aprovou a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSI) em conformidade com a Lei 8842/94. Em 1º outubro de 2003, pela Lei nº 10.741, aprovou-se o “Estatuto do Idoso”, visando garantir o bem-estar e a qualidade de vida desse grupo populacional, enfatizando o respeito e a satisfação das demandas básicas do idoso brasileiro. Em um país essencialmente jovem, como o Brasil, até recentemente, a legislação relativa à atenção dos idosos permaneceu fragmentada em ordenamentos jurídicos, setoriais ou em instrumentos de gestão política.

Cabe ressaltar que a elaboração das duas leis pelo Congresso Nacional é resultado de muita pressão da sociedade civil sobre os políticos e também pela mobilização dos próprios idosos, o que se constitui um ganho “per se”. O estatuto estabelece os direitos dos cidadãos acima de 60 anos a fim de assegurar os direitos sociais do idoso, possibilitando condições para promoção da autonomia, integração

e participação na sociedade. Antes dessa lei, o idoso tinha garantias previstas na Política Nacional do Idoso, de 1994, mas a lei, de 2003, veio ampliar esses direitos.

O Estatuto do Idoso (2003) trata dos mais variados aspectos da vida do idoso, abrangendo 118 artigos sobre direitos fundamentais até o estabelecimento de penas para os crimes mais comuns cometidos contra as pessoas idosas. As diretrizes contidas no Programa Nacional do Idoso (PNI) são reforçadas e dispositivos de leis anteriores são incorporados, chegando-se a 118 artigos que estão dispostos em sete títulos: Título I – trata das Disposições Preliminares; Título II – dos Direitos Fundamentais; Título III – das Medidas de Proteção; Título IV - da Política de Atendimento ao Idoso; Título V – do Acesso à Justiça; Título VI – dos Crimes e Título VII – das Disposições Finais e Transitórias.

O Estatuto do Idoso, lei 10.741/03, veio resgatar os princípios constitucionais que garantem aos cidadãos os direitos que preservam a dignidade da pessoa humana, sem discriminação de origem, raça, sexo, cor e idade conforme o artigo 3º IV da Constituição da República Federativa do Brasil.

Quanto à educação, a lei trata da inclusão da gerontologia e geriatria como disciplinas curriculares nos cursos superiores e, nos currículos mínimos, nos diversos níveis de ensino formal, inserindo conteúdos voltados para o processo de envelhecimento bem como o desenvolvimento de programas educativos, especialmente nos meios de comunicação, a fim de produzir conhecimentos informando sobre o assunto de forma a eliminar preconceitos.

Se a sociedade brasileira proporcionasse aos cidadãos mais velhos o tratamento e a consideração dispensada aos adultos não teria sido necessário os estatutos especiais para idosos. As leis existem para regular o comportamento dos indivíduos dentro de uma sociedade, estabelecendo seus direitos e deveres; porém uma legislação específica para os idosos só se fez necessária em razão da própria exclusão destes na sociedade produtiva.

De acordo com Lopes (2000), a imagem positiva da velhice contemporânea parece estar contribuindo para o interesse que a sociedade brasileira passou a nutrir pelo tema, estimulando e efetivando a criação de programas voltados para essa faixa etária, com distintos perfis econômicos, o que também “confirmam a possibilidade de a velhice ser vivida com uma imagem positiva” (ibid., p. 28).

O ano de 1999 foi considerado o Ano Internacional do Idoso, o que chamou a atenção da sociedade em geral sobre a importância e a preocupação do Estado com esse segmento da população. Entretanto, poucos foram os avanços em práticas significativas que realmente valorizem o idoso e sua inserção na sociedade. No ano de 2003, essa faixa etária foi contemplada como tema da Campanha da Fraternidade com o slogan: “Fraternidade e Pessoas Idosas: Vida, Dignidade e Esperança”, ressaltando a importância do tema e a necessidade de maiores pesquisas nesse campo.

O sistema capitalista, que privilegia a produção, tende a desvalorizar o idoso que para de produzir. Estar “inativo” pressupõe pouco capital para investir em compras, lazer e viagens, deixando de ser um segmento focado. Dessa forma, esse sistema mantém valores que desrespeitam o idoso, esquecendo sua contribuição passada e a que poderá vir.

Concordamos com Fernandes (1997) quando este coloca que se a sociedade brasileira proporcionasse aos cidadãos mais velhos o tratamento e a consideração dispensada aos adultos, eliminar-se-iam os estatutos especiais para idosos. As leis existem para regular o comportamento dos indivíduos dentro de uma sociedade, estabelecendo seus direitos e deveres; porém uma legislação específica para os idosos só se faz necessária em razão da própria exclusão desse grupo na sociedade produtiva.

Já, em 1978, Mosquera considerava que a velhice não pode ser vista como um “acidente”. É uma situação que se apodera da pessoa e que muitas vezes a deixa estupefata ante suas marcas e consequências. Ao mesmo tempo que a ciência desenvolve instrumentos capazes de prolongar a vida do homem, oferecendo recursos tecnológicos, de proteção e segurança, a sociedade desestimula a participação da população idosa nos processos socioeconômicos e culturais de produção, decisão e integração social.

De acordo com os dados demográficos da atual situação e também as projeções para o nosso país, percebemos uma necessidade de que gestores e políticos brasileiros olhem para o panorama dessa transição, e, juntamente com a sociedade, num curto espaço de tempo, redirecionem as políticas públicas de atenção ao idoso. Diante disso, percebemos a necessidade de tais medidas serem

implementadas em todas as esferas sociais, por técnicos e profissionais da saúde que atendem essa parcela populacional (RODRIGUES et al., 2007).

Desde março de 2007, a Comissão de Defesa dos Direitos do Idoso, da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de São Paulo (OAB-SP) alterou sua dinâmica, buscando a transparência do trabalho realizado e possibilitando a constante participação da sociedade em suas decisões. Novas estratégias para conhecer o processo de envelhecimento, denunciar maus-tratos e cobrar o devido respeito à pessoa idosa foram criadas.

Apesar da atenção quanto ao enfoque legal e normativo frente à população idosa, pelos organismos governamentais e não-governamentais, na prática, ela ainda se encontra fora do esperado em virtude da demanda e da diversidade de ações que exigiria. A Política Nacional do Idoso e seu Estatuto podem ser encarados como uma conquista que irá beneficiar a sociedade como um todo. Não podemos nos esquecer de que, ou convivemos com idosos como pais, avós ou ficaremos velhos um dia e poderemos precisar desse serviço.

Também não podemos esquecer que o estatuto ainda é desconhecido para a grande maioria da população, principalmente nas regiões mais pobres e de baixa escolaridade, necessitando ampla discussão e divulgação.