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Cabe ressaltar que, diferente da proposta anterior, não há processo seletivo para realização de matrícula nessas unidades de ensino.

4.2 MARCOS LEGAIS

A Carta Magna do país, a Constituição Federal, embora não explicite o termo educação integral ou ampliação da jornada escolar ao afirmar em seu Art. 205 que “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988, grifos nossos), permite extrair uma concepção de educação integral em tempo integral, visto que o desenvolvimento pleno do indivíduo exige, entre outras ações, o acesso a mais tempos e espaços de educação sejam esses formais ou não formais. Deste modo, permite-se defender com base no que prevê esse ordenamento legal a educação em tempo integral enquanto possibilidade de formação integral dos indivíduos.

Em 1990, a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90) ratifica o dever da família, da sociedade e do poder público em garantir a proteção integral à criança e ao adolescente. O Artigo 3º preconiza

Art. 3- A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, 1990).

O ECA no Art. 53 também reforça o direito das crianças e adolescentes de ter acesso a uma educação que os preparem para o seu desenvolvimento pleno e no Art. 59 que os municípios, estados e União devem promover o acesso das crianças e adolescentes a espaços culturais, esportivos e de lazer apontando a necessidade de intersetorialidade das políticas públicas e a importância de se ampliar os espaços de aprendizagem além do âmbito escolar.

Da mesma forma, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei 9394/96) ao instituir em seu Art. 1º que

Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (BRASIL, 1996).

Também aponta a obrigação do Estado de ampliar o tempo de formação, os espaços de escolarização e socialização do conhecimento. No Art. 34, parágrafo 2º determina que “O ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino” e no Art. 87, parágrafo 5º que “Serão conjugados todos os esforços objetivando a progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino fundamental para o regime de escolas de tempo integral” (BRASIL, 1996).

No entanto, como aponta Giolo (2012), a LDB, limita o projeto de educação integral no Brasil a uma ação futurística não se configurando como uma política pública precisa. Esse autor afirma que

No primeiro dispositivo [Art. 34], o advérbio ‘progressivamente’ confere ao conteúdo do artigo uma imprecisão tal que dele não se pode esperar nada em termos concretos. Além disso, a frase completa-se com uma evasiva: ‘a critério dos sistemas de ensino’. Isso quer dizer que os sistemas de ensino poderão ou não considerar esse ‘progressivamente’. Quanto ao segundo dispositivo [Art. 87], é difícil saber o que significa a expressão ‘serão conjugados todos os esforços’. Quais esforços? De quem? A partir de quando? (GIOLO, 2012, p.95).

Após a LDB destaca-se como política educacional para a educação básica o Fundode Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério

(FUNDEF)17 que previsto para durar dez anos (1997 – 2006) não reserva recursos para a ampliação da jornada escolar.

Em 2001, com a aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE), começa a ser desenhada de forma mais enfática, uma política pública de educação integral em tempo integral no país. Já que esse aponta o mínimo de 7 horas diárias para a escola de tempo integral e propõe a ampliação do atendimento, embora com algumas ressalvas, para a educação infantil. As atividades, de acordo com o que propunha o Plano, deveriam ser desenvolvidas preferencialmente na mesma instituição com o objetivo de universalizar o acesso e diminuir a repetência. O PNE previu para a efetivação da proposta de ampliação da jornada escolar a aplicação, na educação pública, de apenas 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), nos quatro primeiros anos e de 0,6% no quinto ano.

Também o atual PNE, Lei nº 13.005 aprovado em 25 de junho de 2014 prevê, na sua meta 6, que 50% das escolas públicas de Educação Básica desenvolvam suas atividades em jornada ampliada atendendo a, pelo menos, 25% dos alunos da educação básica.

De acordo com Giolo (2012) é somente com a aprovação do FUNDEB18 que é delineado um projeto de dimensão nacional, nas palavras do autor “real e amplo”, para a implantação da escola de tempo integral no Brasil. A educação básica em tempo integral é definida no Art. 4º do FUNDEB como a “jornada escolar com duração igual ou superior a sete horas diárias, durante todo o período letivo, compreendendo o tempo total que um mesmo aluno permanece na escola ou em atividades escolares” (BRASIL, 2007).

Tal fundo destaca-se por direcionar recursos de aplicação específica à escola de tempo integral. Para o exercício de 2014, por exemplo, foram fixadas as seguintes ponderações e o valor anual por aluno estimado para Sergipe, por etapas, modalidades e tipos de estabelecimentos de ensino da educação básica.

17

O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério foi instituído pela Emenda Constitucional nº 14/1996, e regulamentado pela Lei nº 9.424/1996 e pelo Decreto nº 2.264/1997.

18

Criado pela Emenda Constitucional nº 53/2006 e regulamentado pela Lei nº 11.494/2007 e pelo Decreto nº 6.253/2007 para substituir o Fundef. Constitui-se em um fundo especial, de natureza contábil e de âmbito estadual, formado por uma parcela financeira de recursos federais e por recursos provenientes dos impostos e das transferências dos Estados, Distrito Federal e Municípios. Seu período de vigência será de 2007-2020, sendo considerados na distribuição dos recursos o total de alunos matriculados na rede pública de acordo com o censo escolar.

Tabela 2 – Valores do FUNDEB 2014 para Sergipe

Fonte: Elaborado pela autora com base na Portaria Interministerial nº 19 de 27 de dezembro de 2013 e na

Resolução nº 1 de 31 de dezembro de 2013.

As ponderações são definidas pela Comissão Intergovernamental de Financiamento para a Educação Básica de Qualidade, instituída no âmbito do Ministério da Educação conforme a Lei 11.494/2007 no seu Art. 12 § 2º. Essas são multiplicadas pelo valor anual mínimo por aluno, definido nacionalmente, resultando nos valores mínimos anuais do Fundeb. Desde 2012 o valor da ponderação, para a escola em tempo integral, associada às diferentes etapas, modalidades e tipos de estabelecimento de ensino é de 1,30 valor máximo fixado pela Lei nº 11.494/2007 que estabeleceu uma variação entre 0,70 e 1,30. No entanto, como ressalta Menezes (2012, p.144) esses valores anuais por aluno precisam ser revistos, pois “se encontram defasados em relação às reais necessidades da educação básica pública, e aqui se destaca, em tempo integral”. O desafio do aumento da qualidade da educação pública, questão que discutiremos com maior aprofundamento no próximo item, exige, conforme Menezes (2012), entre outros fatores, uma inversão na lógica do financiamento da educação em que deve ser considerado como referência para o financiamento o custo aluno-qualidade.

Educação Infantil Creche Integral Pré-escola integral Creche parcial Pré-escola parcial Ponderações 1,30 1,30 1,00 1,00 Valor por Aluno 3.571,18 3.571,18 2.747,06 2.747,06 Ensino Fundamental Tempo Integral Séries Iniciais Urbana Séries Iniciais Rurais Séries Finais Urbanas Séries Finais Rurais Ponderações 1,30 1,00 1,15 1,10 1,20 Valor por aluno 3.571,18 2.747,06 3.159,12 3.021,77 3.296,48

Ensino Médio Tempo

Integral Urbano Rural Ponderações 1,30 1,25 1,30 Valor por aluno 3.571,18 3.433,83 3.571,18