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Fonte: Foto de arquivo pessoal da Prof.ª Edir Neves Barboza, cedido para a pesquisa.

A opção pela assessoria do professor Gouvêa59, naquele momento, se justificava pelo fato de possuir em seu currículo, larga experiência no processo da Educação Popular e por contribuir para a formação política e articulação dos movimentos populares em várias regiões do país. Nas palavras da professora Maria Dilnéia,

O professor Gouvêa vinha de uma experiência construída já há bastante tempo. Ele havia trabalhado com o professor Paulo Freire na Secretaria de Educação do município de São Paulo, no governo da Luiza Erundina. Então, tanto é que na

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O professor Antonio Fernando Gouvêa da Silva possui Bacharelado e Licenciatura em Biologia pela Universidade de São Paulo. É Doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atuou como professor no Ensino Fundamental e Médio e no Ensino Superior em universidades públicas e privadas. Presta serviços de assessoria às Secretarias de Educação na implementação de movimentos de Reorientação Curricular. É professor de Ensino Superior em nível de Graduação e Pós-Graduação, na Universidade Federal de São Carlos, Campus Sorocaba e atua como pesquisador nas áreas de Currículo Crítico, Políticas Curriculares e Metodologia do Ensino de Ciências Naturais e Biologia.

metodologia de trabalho do planejamento da Constituinte, a metodologia trabalhada ela era sustentada pelos princípios teóricos, metodológicos de Paulo Freire60”.

Nesse sentido tornou-se fundamental sua contribuição para construir, junto aos gestores da SEMED, os passos a serem desencadeados nas escolas, através da Constituinte Escolar. Ainda segundo a professora Maria Dilnéia,

Num planejamento, o senso comum sempre aponta como problema aquilo que é consequência do problema e não o problema em si. Então a metodologia a partir dos princípios teóricos, metodológicos de Paulo Freire, ela buscava elucidar essa questão, de levar mesmo a percepção da situação limite prá mostrar que nem sempre aquilo que a gente vê como problema, de fato é o problema. Na maioria das vezes é consequência. E quando a gente ataca somente a consequência a gente não consegue resolver61”.

Em relação à assessoria da equipe, professora Edir também destacou de que:

No decorrer do processo [...] a gente conseguiu definir um assessor. E aí veio o professor Antonio Gouvêa, que já tinha bastante experiência com esse processo de democratização da educação numa proposta freireana mesmo, de pensar a educação, e ele já tinha experiência por ter trabalho com Paulo Freire no estado de São Paulo, e em outros estados. No Rio Grande do Sul ele trabalhou no município de Chapecó [SC] e sempre com essa proposta de democratização da Educação62.

Tais informações foram acrescentadas e confirmadas pelo professor Aroldo ao relatar: “a gente contratou um assessor, que era o Gouvêa. Ele tinha assessorado outras experiências

bem sucedidas, em Angla dos Reis [RJ] e Chapecó [SC]. No Brasil ele tinha algumas prefeituras do PT que ele tinha assessorado. [...] Ele trabalhou com a equipe de Paulo Freire em São Paulo63”.

Portanto, o Referencial teórico-metodológico que orientava esse processo fundamentava-se nas concepções, nos valores e nas práticas da Educação Popular do educador Paulo Freire. A partir disso, ficou evidente nas entrevistas a opção por uma orientação mais epistemológica, de caráter freireana, gramsciana. Conforme afirma o professor Aroldo,

O Tetila [Prefeito Municipal] tinha o entendimento que era prá gente colocar uma perspectiva freireana na educação. [...] o Gouvêa era que na verdade, ele que deu a linha mestra. Porque pegou um monte de coisa: pegou eu da História, pegou a Edir da História, pegou gente da Pedagogia, gente da geografia, gente que veio da

60 Entrevista com a Prof.ª Maria Dilnéia Espíndola Fernandes, produzida por Reginaldo Candado em 23/09/2014. 61

Idem.

62 Entrevista com a Prof.ª Edir Neves Barboza, produzida por Reginaldo Candado em 14/08/2014. 63 Entrevista com o Prof. Aroldo Careaga, produzida por Reginaldo Candado em 26/08/2014.

filosofia. [...] ele trouxe uma unidade. Fez uma reflexão e permitiu trabalhar. Então a gente trabalhou bastante64.

O que fica em nosso entendimento, é que o professor Gouvêa (assessor) tinha uma preocupação em formar uma equipe heterogênea, no sentido de privilegiar todas as áreas de conhecimentos, para iniciar as atividades de formação.

Entretanto, o conjunto desta equipe precisava de alguma forma ser “lapidada” (preparada), em virtude das divergências de pensamento que ali existia, sobretudo política, para que todo o trabalho não fosse prejudicado e/ou comprometido. Dessa forma, nas palavras de Careaga, “a gente fez um trabalho interno, que era a ideia de você ter uma unidade, um

mínimo de unidade entre a nossa equipe, porque daí tinha gente que era liberal, outro era progressista, mas de um outra linha. Então, do ponto de vista pedagógico a gente precisava amarrar isso”65.

Como era de se esperar, a equipe encontrava algumas dificuldades internas e também apresentava algumas limitações, por isso havia muitos conflitos. Isso ficou evidente quando, em dado momento, o professor Careaga indagou que: “[...] nossa equipe não era toda de

esquerda. [...] Aí você tinha o que, você tinha que ir construindo. Era tenso, tinha os questionamentos, mas isso resolvia muito com nosso assessor pedagógico e entre a gente, que aí elencava as leituras, os textos”66, para contribuir nas discussões e reflexões do grupo. Durante a formação pedagógica da equipe, ainda segundo Careaga,

Ele (Gouvêa) fez uma reflexão com a gente interna, foi fazendo uma crítica ao modelo educacional vigente, a estrutura educacional, as políticas vigentes eram todas políticas que vinham de fora prá dentro das escolas e do MEC. Então a gente começou a partir da nossa experiência ali, fazer uma crítica às escolas e ao modo como às políticas chegavam às escolas, prá que pudesse ter ciência do que ia fazer67. (grifos nosso)

Na mesma perspectiva, professora Edir destacou que “a forma também de como

Gouvêa vai conduzindo a formação da equipe, quando ele vai assessorando a equipe nos estudos de formação, esse pensar a educação com outros conceitos, não com esse conceito

mercadológico, mas de pensar a educação mesmo como emancipadora”68

, foram importantes durante a formação político-pedagógica da equipe.

64 Entrevista com o Prof. Aroldo Careaga, produzida por Reginaldo Candado em 26/08/2014. 65 Idem.

66

Idem.

67 Idem.