• Nenhum resultado encontrado

MARSON, Adalberto Reflexões sobre o Procedimento Histórico In: Repensando a História São Paulo: Marco Zero, 1984, p 53.

Dentre essas características, figuram não somente virtudes como a honestidade e a habilidade narrativa, mas também e principalmente o compromisso com o

44 MARSON, Adalberto Reflexões sobre o Procedimento Histórico In: Repensando a História São Paulo: Marco Zero, 1984, p 53.

ligada a privilégios, en raizada em u m a p articu larid ad e” 45. E é ju stam en te essa infindável relação de seres subjetivos que faz da relação A rte/H istó ria um v asto cam po de possibilidades.

T an tas vezes nos deparam os com críticos teatrais em penhados na tarefa de in terp retar d eterm inado m om ento de n o ssa dram aturgia pelos m ais variad o s v ieses: a m odernização, o engajam ento p o lítico , a internacio n alização do palco brasileiro , etc. O discurso construído p o r esses sujeitos tem então um caráter m ultifacetad o e nos perm ite olhá-los e com p reen d ê-lo s a p artir dos m ais diversos vieses. C abe ao pesq u isad o r, no contato com esses d ocum entos, q uestioná-lo e dispor-se a o uvir o que eles ainda têm a dizer, com preendendo-os enquanto lugares de m em ória que são.

O esforço na construção de u m a interp retação estética e h istó rica de nosso teatro , com o vem o s em S ábato M agaldi, nos perm ite afirm ar a ex istên cia de m uitas possibilidades de diálogo entre A rte e P olítica, H istó ria e E stética, a p artir de um olhar cuidadoso p ara a prática desse sujeito e o m odo com o o m esm o se articula com seu ofício, seu tem p o e seu lugar.

E m sua larga atuação com o crítico teatral, S ábato configura-se en quanto figura central q uando se p retende co m p reen d er m om entos cruciais da H istó ria do T eatro B rasileiro. N ão som ente p o r ocupar-se da sistem atização da recepção desses espetáculos, m as tam bém p o r envolver-se em debates caros p ara com preenderm os os m om entos de n o ssa dram aturgia e de n o ssa cena, e sobretudo p o r em p reen d er um esforço em organizar essa narrativa a p artir de seu olhar crítico e h istórico, sem que isso signifique am bicionar a escrita da H istó ria do T eatro B rasileiro de fo rm a definitiva.

Panorama do Teatro Brasileiro, de Sábato Magaldi, procurou destacar a abrangência do teatro brasileiro. Escrito originalmente em 1962, esse trabalho, como o próprio título revela, ao contrário dos anteriores, não se propôs a confeccionar uma História do Teatro Brasileiro e sim apresentar um panorama do que tem sido a atividade teatral no Brasil desde a chegada dos Portugueses na América.46

N ão cabe de pro n to lev ar a cabo a análise d essa densa obra que é P a n o ra m a do

Teatro B rasileiro, m as é valido to cá-la no sentido de enfatizar a lucidez do autor quanto

ao alcance de sua in terpretação histórica. A consciência com que S ábato M agaldi constrói as reflexões deste livro, faz com que possam os m ais u m a vez encontrar m aneiras de

45 CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1982, p. 66. 46 GUINSBURG, Jacó; PATRIOTA, Rosangela. Teatro Brasileiro: Ideias de uma história. São Paulo:

co m p reen d er o crítico em exercício e a construção de sua interpretação. N ão há em

P a n o ra m a a pretensão de escrever a história definitiva de nosso teatro, tam p o u co existe

ingenuidade quanto àquilo que fig u ra nessas páginas. D esse m odo, em algum a m edida som os tam bém levados a refletir sobre a d ificuldade enfren tad a pelo crítico, que se dispôs a o rg an izar u m a n arrativ a dessa dim ensão p ara separar aquilo que é de um v alo r “ circunstancial” daquilo que é de v alo r “p erm an en te”

Ciente da impossibilidade de que uma única obra possa abarcar toda a complexidade inerente à escrita da História do Teatro Brasileiro, Magaldi propõe ao leitor um panorama com o intuito de apontar as possibilidades interpretativas e a discussão de ideias que subsidiaram diversas Histórias do Teatro no Brasil.47

A H istó ria do T eatro B rasileiro, portanto, não cabe ser escrita em um único volum e, nem pode ser-nos dada ao co nhecim ento através de um ú n ico intérprete. M últip las são as form as de reg istro da experiência teatral no B rasil, assim com o podem h av er as m ais distintas interpretações sobre esse fenôm eno. Isso nos diz a respeito do caráter híbrido d a histo rio g rafia que trata de n o sso teatro, m as nos diz ainda m ais sobre as am plas - e talv ez inesgotáveis - p ossibilidades de análise desse fenôm eno. Isso porque “não é possível en ten d er p ro cesso s artísticos e h istóricos se não se co n sid erar o m o v im en to das ideias que norteou os m esm os” .48

O crítico teatral, m esm o que não am bicione a escrita de u m a h istó ria em caráter definitivo, tem um papel decisivo u m a v ez que seu o lh ar crítico e histórico acaba p o r no rtear de algum a fo rm a a escrita das inúm eras histórias do teatro brasileiro. Sábato M agaldi não se om itiu quanto a isso, e m esm o p o r isso to rn a-se necessário com preender o engajam ento que o crítico da n oite sem pre m an tev e com o h isto riad o r do dia no cum prim ento da função deste hom em com prom etido com a arte teatral.

S om ente a p artir d essa b rev e reflex ão é que p oderem os enfim nos colocar algum as perguntas acerca do o lhar crítico e histórico de Sábato M agaldi sobre nosso teatro. F in alm en te p o derem os ad en trar algum as discussões a respeito da relação deste crítico com os hom ens de teatro e com as diferentes concepções dessa arte, além de refletir a respeito do estab elecim en to de um discurso em to rn o de determ inadas realizações, que em algum a m ed id a em ergem no discurso crítico e historiográfico, dotadas de um caráter icônico p ara d eterm inados m om entos de n o ssa cena.

47 Ibid., p. 68-69. 48 Ibid., p. 88.

CAPÍTULO 2

SÁBATO MAGALDI CONTA ARENA: O OLHAR PARA DA