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A in d a está p o r escrever-se um a H istó ria do T eatro B ra sileiro . Som ente quando se fizer um levantam ento com pleto d o s textos se p o d e rá realizar um estudo satisfatório de todos os aspectos d a vida cênica - dram aturgia, evolução do espetáculo, relações com as dem ais a rtes e com a realidade so cia l do país, existência do autor, intérprete e d o s outros com ponentes d a m ontagem , p re se n ç a d a crítica e do p ú b lic o . P o r enquanto, m esm o que seja im ensa a b o a vontade, se esbarrará em obstáculos intransponíveis. T alvez a tarefa não seja de um único p esq u isa d o r: exige busca p a cien te em a rquivos e jornais, leitura de a lfarrábios e inéditos, a esperança de que se p u b liq u em d ocum entos inencontráveis. T odos fo rn e c e m o s su b síd io s p a r a a obra que -

acreditem os - um d ia virá a lume. Sábato M agaldi

C om o herdeiros, que sabem os ser de gerações que vivenciaram a am pliação do corpus docum ental das pesquisas em história, p o r v ezes nos perm itim o s o conforto de falar de um lu g ar que já não é tão refém da necessid ad e de d em o rar-se em longa defesa, quanto a legitim idade dos diálogos com os objetos artísticos em no ssas pesquisas. A cham o-nos, no entanto, em m eio a u m a ebulição de novos q uestionam entos teó rico ­ -m etodológicos e diferentes abordagens histo rio g ráficas que nos pedem que continuem os a am pliar nosso referencial teórico, e tal abertura não deixa de o ferecer-n o s novos desafios em nosso ofício.

T o m ar a arte teatral com o objeto de nossas pesquisas, nos dem andou um transito p o r terren o s nem tão sim ples de cam inhar. Isso p orque fom os postos logo em contato com linguagens específicas, que seriam n ecessariam en te p arte de nosso referencial para construirm os um conhecim ento histórico: a crítica teatral. Q uando tratam o s da H istó ria do T eatro B rasileiro, m uitas vezes som os apresentados a tais acontecim entos p ela pena dos críticos teatrais, que, não raro, foram alçados ao status de historiadores de nosso teatro. Tal lu g ar foi desse m odo ocupado ao longo de décadas, seja p o r ausência de interesse ou de possibilidades, devido à ausência de historiadores que p o r um longo período não se fizeram presentes n essa seara.

N ão é grande m istério que os nom es responsáveis p o r grande p arte da literatura sobre a H istó ria do T eatro brasileiro, a saber Y an M ich alsk i92; D écio de A lm eid a Prado; Sábato M agaldi, são críticos teatrais que estiveram em penhados não som ente em reg istrar a recepção daquilo que se p ro d u zia em nossos palcos. E sses no m es estiveram envolvidos em m om entos cruciais de n o ssa arte teatral, sistem atizando os anseios da classe intelectual em prol da atualização de nosso palco, atuando ju n to aos hom ens de teatro p o r um teatro de qualidade, e m esm o p reo cu p an d o -se em o rg an izar narrativas h istóricas que nos dessem

92 Teórico, crítico e ensaísta. Destaca-se no meio teatral como um dos mais combativos e inteligentes críticos de teatro do país, acompanhando um período de revoluções cênicas e também de repressão e censura política.

Seu nome foi forjado pela família para dar-lhe fuga em um navio, depois que os pais foram sequestrados pelo regime nazista. Yan Michalski chega ao Rio de Janeiro aos 12 anos. Em 1955 frequenta o curso da companhia O Tablado, onde faz suas primeiras experiências como ator e como diretor teatral, participando de mais de treze montagens até 1963. Formado em direção teatral pela Fundação Brasileira de Teatro - FBT, diploma-se com a primeira turma da escola em 1958, tendo como professores Adolfo Celi, Gianni Ratto e Ziembinski. Texto extraído de: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa7000/yan-michalski>

a co n h ecer os cam inhos de nosso teatro, ainda que não am bicionassem assin ar a h istória d efinitiva de nosso teatro .

O crítico não é um sujeito p ara o qual possam os o lhar a p artir de u m a ú n ica dim ensão, em especial ten d o em v ista os q uestionam entos que m ovem esta p esq u isa. Isso porque não se trata de u m esp ectad o r com um com o p rivilégio de to rn ar públicas suas im pressões, sobre os espetáculos, anotadas num rascunho. N em tão po u co é um hom em de paixões aviltadas, que o levam a en altecer ou d ep reciar aquilo que assiste a p artir m eram ente de se gosto particular. Seu papel com o fo rm ad o r de opinião, seu com prom isso com a arte a que se dedica e seu lu g ar enquanto p ro d u to r de docum entos são aqui levados em conta a to d o m om ento.

A o longo do prim eiro capítulo pudem os ser apresentados à dim ensão da m ultip licid ad e de S ábato M agaldi enquanto crítico, intelectual e historiador, sujeito capaz de ocupar a cadeira do espectador, as páginas de um jo rn al de grande circulação e, enfim , as prateleiras dedicadas às obras de h istó ria de u m a livraria. D ian te disso, e ten d o em m ente a com plex id ad e a que som os apresentados quando encaram os esta figura, nos cabe pen sar a dim ensão alcançada pelos discursos im p resso s nas páginas de crítica teatral. C abe, enfim , p en sa r tam bém o processo que lev a esses discursos a serem ressignificados em sua tran sp o sição p ara páginas que carregam o peso de u m a narrativa histórica.

D essa m aneira, antes de adentrarm os os m eandros da o rganização dessa n arrativa h istó rica a p artir da p rodução do crítico, faz-se n ecessária u m a reflexão sobre a tarefa à que se propõe a crítica teatral enquanto gênero literário. N ão se trata de atribuir-lhe a responsabilidade de ser capaz de d esco b rir algo n a obra ou no au to r e rev elar ao público leitor. À crítica cabe tão som ente n o tar as validades, sendo capaz de articu lar p ara isso seu repertório e linguagem .

Pois, se a crítica é apenas uma metalinguagem, isto quer dizer que sua tarefa não é absolutamente descobrir “verdades” mas somente “validades”. Em si, uma linguagem não é verdadeira ou falsa, ela é válida ou não: válida, isto é, constituindo um sistema coerente de signos (...) Pode-se dizer que a tarefa da crítica (esta é a única garantia de sua universalidade) é puramente formal, não consiste em “descobrir”, na obra ou no autor, alguma coisa de “escondido”, de “profundo” de “secreto”, que teria passado despercebida até então (por que milagre? Somos nós mais perspicazes do que nossos predecessores?) mas somente ajustar, como um bom marceneiro que aproxima apalpando “inteligentemente” duas peças de um móvel complicado, a linguagem que lhe fornece sua época (existencialismo, marxismo, psicanálise) à linguagem, isto

é, ao sistema formal de constrangimentos lógicos elaborados pelo próprio autor segundo sua própria época.93

O crítico, ainda que não seja im b u íd o da responsabilidade de nos “revelar” q ualquer sentido oculto da obra, m o b iliza seu repertório em prol do p ú blico leitor. Se a obra não n ecessita de revelações sobre si, igualm ente ela não é, jam ais, com pletam ente clara. D ian te disso, a atividade crítica é ú n ica m ed id a que pode adquirir um caráter, essencialm ente form al ao m esm o tem p o que estabelece ju ízo s estéticos num a sistem atização da recepção.

Assim pode travar-se, no seio da obra crítica, o diálogo de duas histórias e de duas subjetividades, as do autor e as do crítico. Mas esse diálogo é egoisticamente todo desviado para o presente: a crítica não é uma “homenagem” à verdade do passado, ou a verdade do “outro”, ela é construção e inteligência de nosso tempo.94

D o ponto de v ista do trab alh o intelectual desem penhado, as interpretações estabelecidas nas páginas de crítica teatral, são p o r v ezes responsáveis p o r d ar certo respaldo a u m a obra, atestando a v alid ad e de sua produção. E sses textos, além de serem to m ad o s com o um “n o rte” p ara as p roduções artísticas, oferecem tam bém ao grande público u m a síntese d a recepção. A posteriori, os historiadores são responsáveis por alçarem esses textos à condição de fonte docum ental, oferecendo a possib ilid ad e de um diálogo não som ente com a obra, m as com o m om ento de sua realização. Tal dinâm ica nos lev a a p en sar a ressignificação desses textos p o r p arte de seus pró p rio s autores, quando os m esm os se propõe a elaboração de u m a narrativa histórica, em que v oltam seus olhares p ara seus próprios escritos enquanto d ocum entos capazes de resp o n d er p o r um m om ento histórico, lo calizado no tem po e no espaço, tanto no que se refere aos acontecim entos, com o aos próprios q u estionam ento que guiavam sua produção enquanto críticos.

N o s capítulos p recedentes b u scam o s adentrar a constituição de S ábato M agaldi, sua p rodução enquanto crítico teatral, a m ultip licid ad e de sua form ação. P u d em o s ainda to m ar contato com sua concepção de crítica teatral, bem com o com a noção de teatro im plícita em seus escritos. M ais do que isso, através de um m ergulho em seus textos de crítica a respeito de espetáculos do T eatro de A ren a de São P aulo, pu d em o s acom panhar a trajetó ria desse g rupo p o r m eio dessas pág in as que tam bém eram m unidas de

93 BARTHES, Roland. Crítica e Verdade. São Paulo: Perspectiva, 2003, p. 161. 94 Ibid. p. 163.

interpretações acerca dos cam inhos de nosso teatro, das expectativas, das realizações e m esm o dos insucessos a partir do o lhar desse crítico.

E m obra posteriores, que a partir daqui procuram os discutir, S ábato M agaldi m o b iliza seu repertório e sua atuação de décadas com o crítico teatral, em to rn o do esforço de ap resentar de fo rm a sistem atizad a ao grande p ú blico um p an o ram a do teatro nacional e m esm o um balan ço que n os perm ite acessar suas reflex õ es. T ais obras abrangem um recorte tem poral m ais am plo, e são capazes de n os dar um im p o rtan te subsídio acerca das produções de n o ssa cena teatral. P o d em o s ainda ter dim ensão da fo rm a com o a atividade crítica e a organização dessas n arrativ as se dão p ara o autor em q uestão.

Se vam o s p erseg u ir a u rd id u ra dessas obras de Sábato M agaldi, vale apresentar m in im am en te aquelas que em ergem com m ais destaque nas discussões desse capítulo. E m P a n o ra m a d o T eatro B ra sileiro , o bra p u b licad a em 1962, o autor b u sca ap resentar um panoram a histórico das realizações da arte teatral n o B rasil, desde as prim eiras m anifestações dram áticas, a saber o teatro jesuíta, que datam do século X IV , passando pelo estabelecim ento da co m éd ia de costum es, às prim eiras m an ifestaçõ es da m odernidade em n o sso palco alcançando as produções das ú ltim as décadas do século X X . A pêndices acrescentados e edições p osteriores tratam das tendências contem porâneas de n o sso teatro.

A in d a que n essa obra o crítico não subverta a ordem cronológica dos acontecim entos ao org an izar sua narrativa, é possível p erceb er pela fo rm a que os m esm os nos são apresentados, que os capítulos v islum bram m ais do que períodos, intervalos de tem po e aquilo que se destaca a cada in terv alo . O s textos nos rem etem a m om entos de n o ssa dram aturgia que ganham destaque pelas m ãos do autor devido as realizações, m o vim entos e transform ações ocorridas, havendo especial destaque a acontecim entos sui

g en eris, com o os que são capazes de elevar nosso teatro ao status de m odernidade.

N a obra in tro d u tó ria U m pa lco b ra sileiro : O A ren a em S ã o P a u lo , o crítico apresenta brevem ente ao público leito r a trajetó ria do T eatro de A ren a desde seu início, que se p ercebe b astan te ligado à E sco la de A rte D ram ática de São P aulo, com forte influ ên cia do T B C , até o m om ento que parece fix ar o grupo n a h istó ria do teatro brasileiro, através da afirm ação do autor nacional em no sso s palco s. N essa obra, adquire destaque tam bém a n arrativ a acerca das diferentes fases do grupo, com o o ciclo dos m usicais e a im plantação do S istem a C oringa.

E m C em a n o s de teatro em S ã o P a u lo , S ábato M agaldi e M aria T hereza V argas, contem plam o centenário do jo rn al O E stad o de São P au lo a partir da ótica da produção da arte teatral na cidade ao longo desse período. O crítico, atuante no jo rn al em questão, aliou-se a outra grande con h eced o ra de nosso palco num em preendim ento que, apresenta ao leitor um pan o ram a que u ltrap assa inform ações de nom es, datas e obras, nos guiando p o r elem entos do ju íz o crítico a p artir de u m a p ersp ectiv a histórica.

Sábato M agaldi é, sem dúvidas, um dos nom es de m aio r peso de n o ssa crítica teatral, e apresenta nesses escritos o resultado de acom panham ento e estudo aprofundado de m om entos cruciais de n o ssa dram aturgia, não raro to m ad o com o u m a referência essencial p ara u m a reflex ão sobre autores, textos e m o vim entos significativos de nosso teatro. A partir dessas obras, encontram os um aporte p ara p en sar acerca da elaboração de narrativas h istóricas a p artir da interpretação da crítica teatral e, enfim , podem os propor u m a reflexão a respeito do m odo com o a h istó ria do teatro b rasileiro tem sido pro d u zid a a p artir da particu larid ad e da p ersp ectiv a desses sujeitos.

N ão se apresenta em q ualquer u m a dessas obras a am bição de estabelecer-se com o obra d efinitiva da H istó ria do T eatro B rasileiro. A d im ensão a im p o ssib ilid ad e de dar conta da m ultip licid ad e de realizações dessa arte em nosso país, coloca-se com o um ponto de partid a p ara o crítico, que b u sca ap resen tar o esforço de co n trib u ir p ara essa construção a partir de u m a p ersp ectiv a sua assum indo que, “ T alvez apenas u m a v erd ad eira H istó ria do T eatro B rasileiro, realizad a p o r v ário s estudiosos, p o ssa satisfazer a legítim a curiosidade dos leito res.” .95

A construção de sua obra, referen cia-se em outros escritos que anteriorm ente vislum braram , em seu tem po, ap resentar p anoram as de nosso teatro, abrangendo m ais do que som ente a literatu ra d ram ática.96 E m b o ra o crítico não destoe das obras anteriores no que se refere a p eriodização adotada p ara n arrar as realizações de n o sso teatro, é perceptível que a o b ra organiza-se em prol de “ co m p reen d er os cam inhos p ercorridos p ela dram aturgia para que, no d eco rrer do século X IX , em ergisse um teatro que p udesse ser id entificado com o n acio n al” .97

95 MAGALDI, Sábato. Panorama do Teatro Brasileiro. 6aed. São Paulo: Global, 2004, p.7.

96 Entre essas referências merecem destaque as obras História do Teatro Brasileiro, de Lafayette Silva e O

Teatro no Brasil, de J. Galante Silva. Ambos são pensados ao lado da obra panorâmica de Sábato Magaldi

numa reflexão que busca compreender a construção da historiografia de nosso teatro no capítulo

Construção Historiográfica da História do Teatro Brasileiro na obra GUINSBURG, Jacó; PATRIOTA,

Rosangela. Teatro Brasileiro: Ideias de uma história. São Paulo: Perspectiva, 2012

D esse m odo, ao p en sar n a obra de Sábato M agaldi, in serid a no contexto de produções q u e tem lu g ar n a h isto rio g rafia de nosso teatro, p artim os tan to do referencial que o subsidia, quanto de suas especificidades. “M agaldi u tilizo u o repertório m obilizado p o r S ilva e p o r Sousa e dispôs de suas próprias obras p ara d iscu tir m om entos da trajetó ria dram ática e cênica no B rasil no âm bito das ideias e das in terp retaçõ es.” .98 D ito isso, lançam os nosso olhar para seus escritos que, em algum a m edida, p arecem nos fo rn ecer as pistas p ara co m p reen d er u m a narrativa, que parece con v erg ir para determ inados m om entos da h istó ria de nosso teatro.

De maneira geral, elas estão organizadas cronologicamente e, em vista disso, estruturam a narrativa dispondo os acontecimentos sob a égide de uma ideia central: o teatro brasileiro traçando sua trajetória em direção à modernidade e à modernização. Ao lado dessa premissa e da forma adotada para transmiti-la há outro aspecto que merece ser destacado: o lugar de produção de tais trabalhos.99

N um cenário m ais am plo, nos arriscam os a afirm ar que usu alm en te as análises dedicadas à trajetó ria de nosso teatro, acabam p o r o rganizar-se de m an eira cronológica e p rivilegiando em algum nível u m a “id eia” central, que parece a regente dos cam inhos p ercorridos p o r nosso teatro . N ão raro esse cam inho converge p ara a m o d ern ização de nosso palco e, finalm ente, não é m isterio sa a cau sa de tal coincidência: o lugar de onde nascem essas narrativas, a crítica teatral, é essencialm ente tam bém lu g ar de efusiva m ilitân cia em prol dessa m o d ern ização . Ju stam en te pela ação d esem p en h ad a em fav o r dessa tran sfo rm ação de nosso palco, essa persp ectiv a adquire tam an h o relevo em tais obras.

É possível afirmar que as ideias, não apenas defendidas e sim vivenciadas pelos críticos teatrais, tornaram-se não só o parâmetro qualitativo, mas, especialmente, o referencial interpretativo que norteou as análises feitas pelos contemporâneos e as avaliações construídas a posteriori, em particular aquelas que compreenderam o teatro da primeira metade do século XX como uma busca incessante pela modernização.100

P erpassam as discussões de P a n o ra m a , tem as que propõe a reflexão acerca do estabelecim ento da arte teatral em nosso país, nosso longo atraso em relação às produções internacionais (especialm ente as europeias) e p rin cip alm en te à qualidade d aquilo que por m uito tem p o dom inou nossos palco s. M uitas dessas, que são as questões cruciais postas desde os p rim eiros capítulos da obra, soam de m odo a nos direcio n ar p ara um m om ento

98 GUINSBURG, Jacó; PATRIOTA, Rosangela. Teatro Brasileiro: Ideias de uma história. São Paulo: Perspectiva, 2012, p. 69.

99 Ibid., p. 89. 100 Ibid., p 133.

de realização de ex pectativas em nosso palco, em que estaríam os m ais p róxim os de u m a consonância com o que de m elh o r se p roduzia m und ialm en te em term o s de teatro.

Não se definiu ainda uma especificidade da cena brasileira, capaz de agir como elemento dinamizador de outras culturas. É mínimo, ademais, o índice de integração do teatro na vida brasileira: os espetáculos de êxito invulgar atingem nas capitais, apenas 2% da população, e poucas vezes atravessam seis meses de cartaz, em calas cuja capacidade média é inferior a quinhentos lugares. Essa visão pessimista, se não merece ser tachada de leviana ou gratuita, tem o defeito de desconhecer a perspectiva histórica e sobretudo a situação do teatro em todo mundo.101

E m breve traçado de perspectivas, no in ício da obra, o crítico aponta para a insip iên cia da v id a teatral no B rasil, que p arecia ain d a não ter sido capaz de definir-se ou estabelecer-se, atingindo de fato a população. M agaldi atribui esse atraso a diversos fatores, tan to históricos, com o a condição colonial do país, que freo u p o r m uito tem p o a possib ilid ad e de existência de um teatro v erd ad eiram en te brasileiro, com o fatores estéticos, com o o aparente gosto do público p o r um teatro de cunho m ais com ercial.

A crise da criação literária não poderia poupar, milagrosamente, o Brasil, que nem dispunha de tradição para servir-lhe de apoio. Não se deve esquecer, sobretudo, que o bom teatro é exceção, em todo o mundo. A média das temporadas, nas várias capitais cênicas, é de reconhecida mediocridade. Poucos são os textos que se salvam e permitem conjeturar que venham mais