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Materiais e método

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3 A AUTOBIOGRAFIA NA DESCOBERTA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

3.7 Materiais e método

Primeiramente, cabe lembrarmos, a partir da fala de Souza (2006), a relevância do trabalho científico pautado em histórias de vida:

O sentido e a pertinência do trabalho centrado na abordagem biográfica e de seu enquadramento como um projeto de investigação- formação justificam-se porque não busco uma teorização a posteriori sobre a prática, mas sim uma constante vinculação dialética entre as dimensões prática e teórica, as quais são expressas através da metarreflexão do ato de narrar-se, dizer-se de si para si mesmo como uma evocação dos conhecimentos das experiências construídos pelos sujeitos. (SOUZA, 2006, p. 48

Com o uso da história de vida não houve um tempo determinado para a duração da entrevista, que poderia ser gravada em áudio ou vídeo. A interação estabelecida no momento da coleta dos dados é que define a extensão da narrativa, que pode ser tomada novamente, em outras oportunidades, até que o pesquisador verifique que já não percebe

39 novidades acerca de seu objeto de estudo, ou seja, até que ele atinja o chamado ponto de saturação. Cumpre ao pesquisador transcrever os relatos logo após eles terem sido coletados e, ao longo da investigação, analisá-los. As categorias de análise não são predefinidas, mas sim, eclodem do discurso dos informantes e só então devem ser agrupadas pelo pesquisador, para serem analisadas com base no referencial teórico que fundamenta a pesquisa:

Esta perspectiva tem especial impacte nas histórias de vida, já que a emergência do interesse pelo material biográfico está ligada de forma intrínseca ao processo de individualização. A entrevista em profundidade (ou história de vida) só é possível quando o narrador se separa de uma história colectiva e se reporta a um discurso pessoal que ele próprio estrutura. É a partir de uma concepção específica da essência do ser humano, caracterizado pelos traços de liberdade e igualdade, que o sujeito concebe quer a necessidade imperiosa de realizar o seu futuro pessoal, quer a possibilidade de organizar a sua história de vida através de uma racionalidade própria. (...) Tomando como objecto um sujeito histórico em acção, esta metodologia observa, no mesmo movimento, o sujeito e a sociedade em interacção, mas também, e simultaneamente, os factos e as emoções que os acompanham. (GUERRA, 2006, p. 17, 19)

No caso da presente pesquisa foram realizados dois encontros para gravação em áudio de relatos de história de vida da aluna com baixa visão. Os encontros ocorreram no ano de 2013 e não tiveram limite de tempo estabelecido, entretanto, coincidentemente, ambos duraram cerca de uma hora.

No primeiro encontro não houve roteiro previamente elaborado, mas apenas a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seguida da solicitação de que a entrevistada fizesse um relato da sua história de vida e da sua trajetória como aluna do IFMT Campus Cáceres. Cumpre dizer que antes do início da gravação foi explicada a atividade e feita a verificação de permissão da gravação. Como entrevistadora e entrevistada já se conheciam, foi esclarecido que não se tratava de uma conversa informal e sim uma entrevista para pesquisa. A mudança principal seria a pouca interação verbal, priorizando a fala livre e espontânea da aluna, mas com a possibilidade de intervenções da pesquisadora ao longo do relato. Durante a primeira narrativa houve algumas dessas intervenções, ora para acalmar a entrevistada, tendo em vista sua emoção que a levou por várias vezes a chorar, e ora para esclarecer alguns pontos do que havia sido dito.

Após a entrevista houve a transcrição literal da fala da entrevistada e, a partir de uma primeira leitura, detectou-se a necessidade de realizar mais uma coleta, desta feita orientada por um roteiro, por meio do qual todos os pontos que haviam ficados obscuros na primeira narrativa de história de vida pudessem ser esclarecidos. Desta forma, o segundo relato foi conduzido por trinta e cinco questionamentos, elaborados a partir do que a entrevistada havia falado da primeira vez. Em nenhuma das duas entrevistas foram pré-definidas categorias de análise. Estas emergiram do discurso da informante e, para efeito de pesquisa, foram divididas em sete, a saber: A luta por atendimento médico, O sonho de estudar, A influência da família, O enfrentamento de si mesma e dos outros, A defesa dos direitos das pessoas com deficiência, As marcas do IFMT no âmbito emocional e As marcas do IFMT no âmbito acadêmico.

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O conteúdo de uma comunicação, não obstante a fala humana, é tão rico e apresenta uma visão polissêmica e valiosa, que notadamente permite ao pesquisador qualitativo uma variedade de interpretações. Talvez o maior ―nó‖ em relação à abordagem desses conteúdos está em como visualizá-lo no campo objetivo, a princípio mais palpável; e no campo simbólico, ou seja, naquilo que não está aparente na

mensagem. (...) Segundo este ponto de vista, produzir inferência, em

análise de conteúdo significa, não somente produzir suposições subliminares acerca de determinada mensagem, mas em embasá-las com pressupostos teóricos de diversas concepções de mundo e com as situações concretas de seus produtores ou receptores. Situação concreta que é visualizada segundo o contexto histórico e social de

sua produção e recepção. (CAMPOS, 2004, p. 612, 613)

Após a transcrição das entrevistas, as três fases da análise de conteúdo propostas por Campos (2014) forma seguidas, ou seja: fase de pré-exploração do material ou de leituras flutuantes do corpus das entrevistas; a seleção das unidades de análise (ou unidades de significados) e o processo de categorização e sub-categorização. (CAMPOS, 2004 p. 613)

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