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Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano

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3 A AUTOBIOGRAFIA NA DESCOBERTA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

3.1 Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano

A respeito da Abordagem Ecológica do Desenvolvimento, Alves (1997) ressalta o enfoque em ―aspectos saudáveis do desenvolvimento‖, assim como a observação do sujeito engajado em um maior número possível de ambientes naturais e interações sociais. Embora não negligencie fatores biológicos, esta abordagem valoriza os processos psicológicos em sua relação com o contexto, já que se acredita que este diálogo é responsável pela construção da identidade. Para isso, quatro aspectos dinamicamente interrelacionados norteiam a análise do desenvolvimento: o processo, a pessoa, o contexto e o tempo (ALVES, 1997). Eschiletti Prati et al. destacam que:

(...) a análise destes âmbitos de interação possibilita o acesso às oportunidades de crescimento, aos momentos de estabilidade e instabilidade dos contextos nos quais as pessoas estão inseridas, as interações afetivas e as relações de poder na dinâmica interpessoal (ESCHILETTI PRATI et al., 2008. p. 160).

Sobre o processo, a abordagem ecológica indica como fator principal o que Bronfenbrenner (1996) denominou de ―processo proximal‖, que seriam eventos regulares, duradouros e recíprocos de interação, imprescindíveis para o desenvolvimento das capacidades biopsicossociais das pessoas. Daí o desenvolvimento, por parte de Cecconello e Koller (2003, apud ESCHILETTI PRATI et al., 2008), da chamada Inserção Ecológica, concepção na qual o pesquisador também se desenvolve naquele determinado contexto de pesquisa, que, por sua vez, gera novos processos proximais. Eschiletti Prati et al. afirmam, nesse sentido:

(...) que o processo proximal surge através da interação recíproca, complexa e com base regular de pesquisadores, participantes, objetos e símbolos presentes no contexto imediato, constituindo a base de toda

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investigação que adota a Inserção Ecológica. O processo proximal, além de ser o foco da investigação, é o que permite o desenvolvimento da pesquisa. O processo de investigação-no-contexto, como o proposto pela Inserção Ecológica, envolve o compartilhamento de informações, percepções e sentimentos dentro da equipe, na qual as experiências individuais e os aspectos observados no ambiente são comunicados (ESCHILETTI PRATI et al., 2008, p. 161).

As autoras destacam, ainda, que a concepção defendida por Bronfenbrenner acerca do que é interação vislumbra um desenho em espiral, no qual o processo é multicausal,

ou seja, o desenvolvimento humano ocorre através de ampliações e aproximações entre a pessoa e os diversos elementos do contexto que se influenciam mutuamente de forma não linear e dinâmica, alterando- se qualitativamente ao longo do tempo. (...) Interação significa mais que uma relação simples e pontual, porque implica alterações em ambas as partes envolvidas. É como se a pessoa se desenvolvesse em ―inter-ação‖, no inter-jogo, em constante troca com os outros e com o ambiente. (ESCHILETTI PRATI et al., 2008. p. 161-162)

Bronfenbrenner admite que as influências exercidas pelo ambiente não sejam apenas de ordem física, mas também, de ordem social e cultural e, para efeito de análise, promoveu uma subdivisão em quatro níveis de interação: o microssistema, o mesossistema, o exossistema e o macrossistema (ALVES, 1997, ESCHILETTI PRATI et al., 2008).

É necessário que a Inserção Ecológica ocorra nos microssistemas (onde acontecem os processos proximais) e que sua compreensão possa ser relacionada com os demais sistemas, ampliando o campo de investigação. (...) É fundamental que os pesquisadores tenham clareza de seus objetivos para elaborar um programa de trabalho que permita o acesso aos sistemas mais adequados. Para cada investigação, dependendo dos objetivos, os pesquisadores delimitarão seu foco de estudo e elegerão o contexto mais apropriado para a análise almejada (...) Mesmo focando um ou outro sistema, os pesquisadores não devem perder de vista a existência dos outros, que interagem e influenciam o desenvolvimento de todos os envolvidos (ESCHILETTI PRATI et al., 2008. p.162).

Ao debruçar-se sobre a variável tempo, que considera fator essencial na constituição de processos proximais e, consequentemente, em suas análises, Bronfenbrenner estruturou um conceito que ele chamou de cronossistema:

(...) que possibilita examinar as influências no desenvolvimento da pessoa e as mudanças (e continuidades) ao longo do tempo no ambiente no qual a pessoa vive. (...) O tempo exerce um papel no desenvolvimento, a partir de transformações e continuidades características do ciclo vital. As interações ocorridas no cronossistema exercem uma influência cumulativa nos processos significativos de desenvolvimento humano (ESCHILETTI PRATI et al., 2008, p. 162).

24 Portanto, se o pesquisador pretende adotar como procedimento metodológico a inserção ecológica, deve ter sempre em primeiro plano a interrelação entre os elementos acima descritos, a saber: processo, pessoa, contexto e tempo, isto é, o modelo PPCT, que evoca uma visão dinâmica e complexa (ESCHILETTI PRATI et al., 2008):

os pesquisadores ecológicos estão preocupados em compreender o processo de desenvolvimento das pessoas. Ou seja, pretendem investigar as relações (processos) que elas estabelecem durante seu crescimento pessoal ou social, no curso de sua história (tempo) em um determinado contexto.(...) Os pesquisadores ecológicos são pessoas em desenvolvimento (processo), fazendo parte do cenário da pesquisa (contexto), em um momento de sua história pessoal (tempo). (ESCHILETTI PRATI et al., 2008, p. 163).

Para o estabelecimento de processos proximais, indispensáveis à realização de uma pesquisa no viés ecológico inspirado por Bronfenbrenner e difundido por Cecconello e Koller (2003, apud ESCHILETTI PRATI et al., 2008), é preciso que a

inserção-no-contexto (ESCHILETTI PRATI et al., 2008) ocorra de modo que fiquem

claras, entre pesquisador e sujeito da pesquisa, as condições, objetivos, expectativas inerentes à investigação. Ao estabelecer uma espécie de contrato entre os participantes, uma relação de reciprocidade deve ser construída, na qual implica troca e, para que isso aconteça da forma esperada, há necessidade de se estabelecerem diversos encontros, que aproximem as pessoas participantes do estudo. O pesquisador deve garantir ―presença constante, significativa e estável‖ (ESCHILETTI PRATI et al., 2008) no contexto de investigação:

Esta forma de trabalhar com a coleta de dados, não deixa de lado a importância do seu rigor, sistematização e consistência, que caracterizam a formalidade da coleta. (...) Através da Inserção Ecológica, a equipe de pesquisa pode chegar o mais perto possível da obtenção de acurácia compartilhada dos achados, uma vez que devolve, no aconchego da percepção dos participantes, as suas impressões (ESCHILETTI PRATI et al., 2008, p. 165).

Trabalhar com a pesquisa qualitativa utilizando a inserção metodológica exige rigor científico, ao considerar a subjetividade, tanto do pesquisador quanto do sujeito da pesquisa, novas portas são abertas para a coleta de dados, o que pode contribuir para o estudo do tema.

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