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Quatro animais adultos jovens, machos (n=2) e fêmeas (n=2), pesando entre 300 e 400 gramas foram utilizados no experimento. Os animais foram obtidos por captura após permissão do Instituto Brasileiro do Meio ambiente (IBAMA – Licença nº 21440-1) e o trabalho foi iniciado após aprovação pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA), mediante protocolo nº 015/2009. É importante ressaltar que todos os cuidados foram tomados no sentido de evitar dor e sofrimento aos animais durante os procedimentos experimentais, seguindo-se estritamente as normas estabelecidas pela National Research Council of the National Academy.

Foram administrados por via intramuscular, os medicamentos cloridrato de tramadol e xilazina, ambos na dose de 5 (cinco) mg/Kg, como medida pré-anestésica. Decorridos 10 minutos, os animais foram mantidos em anestesia inalatória com isoflurano e oxigênio 100% administrados através de máscara. Os animais foram submetidos à perfusão transcardíaca e a agulha foi conectada a uma bomba peristáltica (Cole-Parmer), passando-se 300 ml de solução salina a 0,9% em tampão fostato 0,1M, pH 7,4 com heparina (Parinex, Hipolabor, 2ml/1000 ml de solução salina) durante seis minutos. Em seguida, foram infundidos 700 ml de solução fixadora composta por paraformaldeido 4%, glutaraldeído 0,05% e ácido pícrico 0,2% em tampão fosfato 0,1 M, pH 7,4 (Zamboni e Di Martino, 1967), passando-se metade desta solução a um fluxo de 6,0 ml por minuto e a outra metade a 3,0 ml por minuto, durando todo procedimento em torno de 30 minutos.

Finalizada a etapa de perfusão, os animais foram posicionados no aparelho estereotáxico para roedores. Após anotação das coordenadas do bregma e do lambda, o osso da calota craniana foi removido com o uso de broca e trocater, expondo-se o encéfalo. Ainda no aparelho estereotáxico, os encéfalos foram seccionados em três blocos através de duas secções coronais: uma no nível do bregma e a outra no nível do lambda. Logo após esta etapa, os três blocos foram armazenados em uma solução contendo sacarose a 30% em tampão fosfato 0,1M, pH 7,4, a 4 ºC, até serem submetidos à microtomia (cortes coronais).

Os encéfalos foram congelados por gelo seco e seccionados em micrótomo de deslizamento, obtendo-se secções coronais com espessura de 30 µm. Estas foram coletadas em um meio líquido de tampão fostato 0,1M, pH 7,4, distribuídas seqüencialmente em seis compartimentos, de maneira cíclica e seqüenciada, de modo a manter a distância entre uma secção e a outra imediatamente seguinte de um mesmo compartimento de aproximadamente 180 µm.

Os cortes de um compartimento foram imediatamente montados em lâminas de vidro gelatinizadas e submetidas à coloração pelo método de Nissl para permitir uma melhor demarcação das estruturas. Os cortes dos demais compartimentos foram transferidos para solução anticongelante e conservados a -20 ºC para utilização posterior em procedimentos de imunoistoquímica.

Precedendo a técnica de imunoistoquímica, os cortes foram submetidos a um pré-tratamento para recuperação da antigenicidade, sendo colocados em solução de boridreto de sódio a 1% em tampão fosfato 0,1M, pH 7,4, durante 15 minutos. O pré- tratamento também incluiu uma etapa de incubação em peróxido de hidrogênio (H2O2) a

0,3% em tampão fosfato 0,1M, pH 7,4 por cinco minutos. No início, entre as soluções e ao final, os cortes foram submetidos a seis lavagens de cinco minutos cada em tampão fosfato 0,1 M, pH 7,4.

O próximo passo consistiu na incubação dos cortes em anticorpo primário, isto é, uma solução formada pelo anticorpo anti-TH obtido em camundongo (Sigma) em diluição de 1:10.000, acrescido de soro normal de asno a 2% em Triton X-100 a 0,4% permanecendo em incubação por 12 a 72 horas em rotor com rotação lenta.

Ao fim deste período, os cortes passaram por seis lavagens em tampão fosfato 0,1 M pH 7,4, em agitador orbital e em seguida colocados em contato com o anticorpo secundário anti-camundongo obtido em asno (Jackson) diluído a 1:1000 no mesmo veículo anterior, por 120 minutos à temperatura ambiente, sob agitação lenta, em rotor.

Em seguida, os cortes passaram por seis lavagens em tampão fosfato 0,1 M em agitador orbital e depois colocados na solução do complexo avidina-biotina-HRP (Protocolo ABC, Kit elite da Vector), numa diluição de 1:100 em Triton X-100 a 0,4%, contendo NaCl , por 120 minutos à temperatura ambiente, sob agitação lenta, em rotor. Terminada esta fase, as secções foram novamente submetidas a seis lavagens em tampão fosfato 0,1 M em agitador orbital.

Para visualização da reação, as secções foram postas em meio contendo H2O2

como substrato e a 3,3’,4,4’tetrahidrocloreto-diaminobenzidina (DAB), utilizada como cromógeno. A H2O2 foi oferecida indiretamente, colocando-se na solução glicose

oxidase e D-glicose, provocando uma reação em que a primeira agindo sobre a segunda libera H2O2 (Itoh et al., 1979). Esta reação dura em torno de 15 minutos e após

esta, os cortes foram submetidos a mais seis lavagens em tampão fosfato 0,1 M em agitador orbital.

Os cortes foram montados em lâminas gelatinizadas, que após secas foram imersas em solução de tetróxido de ósmio a 0,05% com o intuito de intensificar a reação. Após as etapas de desidratação, em baterias de álcool de graduação crescente até o álcool absoluto, e diafanização em xilol, as lamínulas foram montadas sobre os cortes com o uso de DPX.

As secções do mesencéfalo, coradas pelo método de Nissl e/ou submetidas à imunoistoquímica para TH foram examinadas ao microscópio óptico (Olympus BX41) em campo claro. Imagens digitais foram obtidas de secções representativas usando uma videocâmara digital (Nikon DXM1200). As imagens foram analisadas, corrigidas minimamente para brilho e contraste, montadas usando o programa Adobe Photoshop CS5® e os desenhos esquemáticos foram montados no software Adobe Illustrator CS5®. Os resultados foram documentados em fotomicrografias e esquemas construídos a partir das mesmas.

RESULTADOS

O comprimento rostro-caudal médio, do bulbo olfatório à transição bulbo- espinal, foi da ordem de 3,63 cm (Fig. 1).

Com base na imunoistoquímica para TH, aliada à técnica de Nissl, foi possível estabelecer os limites anatômicos, assim como a citoarquitetura e possíveis subdivisões, dos três núcleos dopaminérgicos do mesencéfalo. Para facilitar a compreensão, foram

feitos esquemas ilustrativos que demonstram as estruturas encefálicas sequenciadamente (Fig. 2).

No sentido rostro-caudal, os primeiros neurônios dopaminérgicos a aparecerem fazem parte da SNc e estão no nível da transição die-mesencefálica, coincidindo com estruturas do hipotálamo posterior, a aproximadamente 2,34 mm pós-bregma (p.b.) e se estendem até o nível 6,48 mm p.b., coincidindo com estruturas dos níveis rostrais e médios do mesencéfalo, pertencendo à RRF e a uma das subdivisões da VTA (VTAdc).

Substância Negra pars compacta (SNc/A9):

Com base na densidade de distribuição dos seus neurônios, ao longo da maior extensão da SNc é possível identificar subunidades neste núcleo. Assim, a SNc foi então dividida em substância negra compacta dorsal (SNcd ou A9d), substância negra lateral (SNl ou A9l), substância negra medial (SNm ou A9m), cauda da substância negra (cSN) e substância negra ventral (SNv ou A9v).

Como mencionado, os primeiros neurônios dopaminérgicos nigrais surgem na porção ventrolateral do tegmento mesencefálico e são pertencentes à SNm, localizando- se lateralmente aos núcleos mamilar (Mn) e supramamilar (SuM), medialmente ao núcleo subtalâmico (STh), ventralmente ao lemnisco medial, zona incerta (ZI) e às projeções nigro-estriatais TH+ e dorsalmente ao pedúnculo cerebral (cp) e à substância negra reticulada (SNr) (Figs. 2A e 3A-C). Foi visto que estes neurônios são bipolares e multipolares, apresentando formato ovóide e, com menor freqüência, triangular. Com relação à orientação dendrítica, os neurônios rostrais apresentavam uma organização dendrítica paralela às bordas do pedúnculo cerebral e SNr (Fig. 3C). Porém, nos níveis mais caudais, esse padrão foi sendo substituído por uma arborização aleatória (Figs. 4D e 5D).

Lateralmente à SNm, aparecem os primeiros neurônios TH+ referentes à SNcd (Fig. 2B). Basicamente, em toda a sua extensão a SNcd encontra-se ventralmente ao lemnisco medial e dorsalmente à SNr. Assim como na SNm, na SNcd constatou-se a presença de neurônios TH+ bipolares e multipolares com corpo celular em formatos ovóide e triangular. No tocante à arborização dendrítica, foi possível constatar a predominância de uma orientação em sentido medial-lateral (paralelo ao lemnisco medial) e, em menor expressão, em sentido dorso-ventral (na área correspondente à SNr) (Figs. 4C e 5C).

Lateralmente à SNcd (Fig 2E), foi possível visualizar neurônios referentes à SNl. Este grupamento de baixa densidade neuronal foi identificado nas porções mais laterais do tegmento mesencefálico, estando dorsalmente à SNr. Seus limites caudais se encontram ventralmente à RRF (Fig. 2N). Os neurônios pertencentes a esta subunidade nigral são multipolares e, em menor expressão, bipolares. Além disso, apresentam formato ovóide e, frequentemente, piriforme. Com relação à organização dendrítica, não há um padrão especifico (Figs. 6C e 7C).

Por volta do nível 4,14 mm p.b. (Fig. 2H), neurônios TH+ surgem bilateralmente em uma região dorsal às porções mais laterais da SNcd e recebem o nome cSN. Prosseguindo a visualização das secções mais caudais, é possível perceber que estes grupamentos coexistem com a SNc até o nível de 5,22 mm p.b. (Fig. 2M). É um grupo de baixa densidade celular, formado basicamente por neurônios bipolares fusiformes e, raramente, ovóides. Grande parte dos dendritos está disposta em um sentido dorso-ventral (Figs. 8D e 9C).

No nível 4,32 mm p.b. (Fig. 2I), foram identificados neurônios TH+ bilateralmente em uma região ventral às porções intermediárias da SNcd e dorsal ao pedúnculo cerebral, inseridos na SNr. Estes grupamentos recebem o nome de SNv ou A9v e seus neurônios coexistem com as demais porções da SNc até o nível 6,12mm p.b. (Fig. 2O). Trata-se de um subgrupo de baixa densidade neuronal, formado por neurônios ovóides e multipolares com orientação dendrítica dorso-ventral (Figs. 9D e 10C).

Área Tegmental Ventral (VTA/A10):

Assim como a SNc, foi possível subdividir o complexo da VTA em sub- regiões: VTA propriamente dita, VTA central (VTAc ou A10c), VTA dorsal (VTAd ou A10d) e VTA dorsal caudal (VTAdc ou A10dc).

Os primeiros neurônios TH+ referentes à VTA começaram a aparecer no nível 2,70 mm p.b., na região mais medial do tegmento mesencefálico. Neste ponto, localiza- se lateralmente aos núcleos mamilares e supramamilar, medialmente à SNm e SNr e ventralmente aos lemnisco medial, ZI e às projeções nigro-estriatais (Fig. 2B). Analisando níveis mais caudais, foi possível identificar mais relações entre a VTA e outras estruturas mesencefálicas, como por exemplo o núcleo interpeduncular e o fascículo retroflexo, que se encontram em uma posição ventromedial em relação à VTA (Figs. 2H e 2M). De um modo geral, os neurônios da VTA são multipolares

arredondados e, em menor quantidade, triangulares. Além disso, não apresentam um padrão de organização dendrítica (Figs. 6D e 8C).

No nível 3,96 mm p.b. (Fig. 2G) foi possível identificar com clareza a formação neuronal TH+ que recebe o nome VTAc. Neste nível ela se encontra medialmente à VTA e dorsalmente ao fascículo retroflexo. Já, em níveis mais caudais, a VTAc se encontra dorsalmente ao núcleo interpeduncular (Fig.2L). Trata-se de um núcleo pouco denso constituído de neurônios multipolares, com formato arredondado e sem um padrão específico de organização dendrítica (Figs. 6E e 11E) e nos seus limites caudais este núcleo se entrelaça com o linear caudal da rafe (Cli).

Com relação à VTAd, esta é formada por uma moderada densidade de neurônios TH+ ovóides, bipolares e, em menor freqüência, multipolares situados na linha média encefálica, dorsalmente à VTAc (descrita a seguir) e ventralmente à substância cinzenta periaquedutal (PAG) e, nos níveis mais caudais, ao núcleo do nervo oculomotor (3N). Trata-se de um grupo neuronal que esboça um padrão de organização dendrítica dorsoventral (Fig. 7C e 11D).

A VTAdc, contém neurônios TH+ em baixa densidade, presentes desde os níveis mais rostrais (Fig. 2D), até os níveis em que não mais existem neurônios da VTA no tegmento mesencefálico (Fig. 2P). Trata-se de um grupo existente na PAG, especificamente na metade ventral do aqueduto cerebral (Aq). Seus neurônios basicamente são ovóides, bipolares e, em menor freqüência, multipolares com orientação dendrítica paralela às bordas do aqueduto cerebral (Figs. 6E e 14C).

Zona Retrorubral (RRF/A8):

Os neurônios TH+ retrorubrais surgem em uma área ventral às porções mais caudais do núcleo rubro (RN) e dorsal ao lemnisco medial (Fig. 2N). Neste nível, é possível ainda se perceber a coexistência da SNcd e SNl que se encontram ventrolateralmente e a VTA que está ventromedialmente à RRF.

Tal núcleo, comparado com demais estudados, é formado por um grupo reduzido e disperso de neurônios multipolares ovóides e, raramente, fusiformes, sem padrão de organização dendítrica. Seus últimos neurônios são vistos no nível 6,48 mm p.b. (Figs. 2P e 12C-D, 13C-D e 14D).

Considerações técnicas

Como mencionado anteriormente, a TH é uma enzima comum à síntese de todas as catecolaminas, podendo a sua expressão imunoistoquímica evidenciar tanto neurônios dopaminérgicos, como noradrenérgicos ou adrenérgicos. Entretanto, evidências provenientes de estudos com ferramentas fisiológicas, farmacológicas, hodológicas, clínicas e de biologia molecular, permitem assegurar que os grupamentos neuronais imunorreativos a TH no mesencéfalo, diencéfalo, telencéfalo e retina são constituídos por neurônios produtores de dopamina e, portanto, a imunorreatividade a TH pode ser considerada um marcador molecular confiável para identificação de grupamentos dopaminérgicos no mesencéfalo (Grimm et al., 2004; Prakash e Hurst, 2006; Margolis et al., 2010).

Portanto, a imunoistoquímica para TH, aliada à técnica de Nissl, permitiu-nos delimitar os grupamentos dopaminérgicos do mesencéfalo do mocó, bem como caracterizar a morfologia dos neurônios.

No mesencéfalo do mocó foram identificados os núcleos A8, A9 e A10, semelhantemente aos que foram encontrados anteriormente no rato (Rattus norvegicus) (German e Manaye, 1993), hamster (Mesocricettus auratus) (Vincent, 1988), highveld gerbil (Tatera brantsii) (Moon et.al., 2007), greater canerat (Thryonomys swinderianus) (Dwarika et al., 2008), cape porcupine (Hystrix africaeaustralis) (Limacher et al., 2008) entre outros roedores.

Convém ressaltar que resultados semelhantes foram obtidos em estudos de caracterização morfológica desses núcleos em animais de diferentes ordens, como por exemplo, o chacma baboon (Papio ursinus) (McRitchie et.al., 1998), rock hyrax (Procavia capensis) (Gravett et al., 2009), rock elephant shrew (Elephantulus myurus) (Pieters et al., 2010), giraffe (Giraffa camelopardalis) (Bux et al., 2010), morcegos das subordens Microchiropteria e Megachiropteria (Dell et al., 2010; Kruger et al., 2010) entre outros.

Segue-se uma discussão sobre a organização nuclear dos grupos A8, A9 e A10, comparativamente às descrições prévias em outras espécies.

Zona retrorubral (A8)

Em estudo com duas espécies de roedores, o highveld mole-rat (Cryptomys hottentotus pretoriaie) e o Cape dune mole-rat (Bathyergus suillus), demonstrou-se que os neurônios que formam a RRF são do tipo ovóide, bipolar e/ou multipolar e não

apresentam uma orientação dendrítica (Bhagwandin et al., 2008). No highveld gerbil (Tatera brantsii), evidenciou-se que, além dos neurônios ovóides, encontram-se neurônios fusiformes, podendo ambos os tipos apresentarem um padrão de organização dendrítica nos sentidos ventrolateral e dorsolateral (Moon et al., 2007). No presente estudo no mocó, não foi identificada a presença de neurônios bipolares nesta região. Porém, constatou-se a existência de neurônios com formato ovóide e, em menor freqüência, fusiforme cujos dendritos não apresentam padrão organizacional específico.

Substância Negra pars compacta (A9)

As propriedades eletrofisiológicas dos neurônios dopaminérgicos do mesencéfalo foram primeiramente caracterizadas na SNc, onde cerca de 90% dos neurônios são imunorreativos a TH (Margolis et.al., 2006). Com relação a esta área, todos os estudos propõem a sua subdivisão em: SNcd, SCl, SNm e SNv. Contudo, apenas um estudo evidenciou a existência da cSN como sendo um dos componentes dos núcleos dopaminérgicos (Nielsen et al., 2009). De acordo com o atlas do rato (Paxinos e Watson, 2007), a área referente à cSN é apontada seria pertencente à RRF. Todavia, a análise microscópica das secções do mocó permitiu sugerir que se trata de áreas distintas, uma vez que os neurônios da cSN são basicamente fusiformes e com padrão de organização dendrítica dorso-ventral o que, de certo modo, diverge dos neurônios relativos à RRF.

Certamente, surge a necessidade de se ampliar os estudos acerca da existência dessa subunidade nigral, incluindo a análise de outras amostras do próprio mocó, assim como estudos em outros animais da ordem Rodentia e, principalmente, da família Caviidae. Afinal, os estudos anteriores trataram de roedores de outras famílias e, sobretudo, discrepantes em termos de fenótipo, hábitos de vida, dimensões encefalicas, entre outros aspectos.

Quanto à SNm, estudos prévios relataram a existência de neurônios ovóides, bipolares e sem organização dendrítica em mole-rat africano (Bhagwandin et al.; 2008); rock hyrax (Gravett et al., 2009), sendo possível também encontrar neurônios multipolares com formato triangular como no rock elephant shrew (Pieters et.al., 2010), ou apresentando organização dendrítica paralela ao pedúnculo cerebral, como no highveld gerbil (Moon et.al., 2007). Na SNm do mocó foram encontrados neurônios bipolares e multipolares, apresentando um formato ovóide e, com menor freqüência, triangular. Com relação à orientação dendrítica, os primeiros neurônios apresentavam

uma organização paralela às bordas do pedúnculo cerebral e SNr. Porém, nos cortes mais caudais, esse padrão foi sendo substituído por uma arborização aleatória.

No mocó a SNcd é formada por neurônios bipolares e multipolares com corpo celular em dois aspectos, ovóide e triangular, e a arborização dendrítica apresenta a predominância de uma orientação em sentido medial-lateral (paralelo ao lemnisco medial) e, em menor expressão, em sentido dorso-ventral (na área correspondente à SNr). De fato, esta subunidade nigral não apresenta divergências significativas quando comparadas com outros estudos (Bux et al., 2010; Limacher et al., 2008).

Já a SNv, no highveld gerbil (Tatera branstsii) é formada por neurônios triangulares, multipolares e não apresentam orientação dendrítica (Moon et al., 2007). No caso do highveld mole-rat (Cryptomys hottentotus pretoriaie) e do Cape dune mole- rat (Bathyergus suillus), esses neurônios são ovóides, bipolares e não apresentam orientação dendrítica (Bhagwandin et.al, 2008). No mocó apresenta-se como um grupo de baixa densidade neuronal, formado por neurônios ovóides e multipolares com orientação dendrítica dorso-ventral.

No tocante à SNl, ficou constatado que esta é formada por uma baixa densidade neuronal se encontra nas porções mais laterais do tegmento mesencefálico. Seus neurônios são multipolares e, em menor expressão, bipolares. Além disso, apresentam formato ovóide e, frequentemente, piriforme. Com relação à organização dendrítica, não há um padrão específico. Em outros estudos, foram encontrados neurônios poligonais e, frequentemente, triangulares no rock hyrax (Gravett et al., 2009) e no rock elephant shrew (Pieters et.al., 2010).

Área Tegmental Ventral (A10)

Com relação à morfologia do complexo da VTA, vários estudos destacaram a sua divisão em: VTA, VTAc, VTAd e VTAdc (Smeets e González, 2000).

Alguns estudos apontaram que a subunidade chamada VTA é constituída por neurônios ovóides, bipolares e com orientação dorsoventral, como no greater canerat (Dwarika et al., 2008) e highveld gerbil (Moon et al., 2007). Contudo, algumas diferenças foram identificadas no mocó, no qual os neurônios são multipolares, arredondados e, em menor quantidade, triangulares. Além disso, não apresentam um padrão de organização dendrítica.

A VTAc, uma região pouco densa, foi delimitada e seus neurônios classificados em multipolares, com formato arredondado e sem um padrão específico de

organização dendrítica. Já no caso de outro roedor estudado, o cape porcupine (Hystrix africaeaustralis), contatou-se a presença de neurônios ovóides, bipolares e com orientação dorsolateral dos dendrítos (Limacher et al., 2008).

No mocó, a localização da VTAd, na linha média encefálica, dorsalmente à VTAc, bem como a citoarquitetura constituída por um aglomerado de neurônios ovóides, bipolares e, em menor freqüência, multipolares, com organização dendrítica dorsoventral, está de acordo com o padrão encontrado nas diversas espécies estudadas previamente.

O último componente do complexo VTA é a VTAdc. No mocó trata-se de um grupo situado na substância cinzenta periaqueduta, com neurônios ovóides, bipolares e, em menor freqüência, multipolares com orientação dendrítica paralela às bordas do aqueduto cerebral. Este padrão foi encontrado nas diversas espécies estudadas. Todavia, em estudo com morcegos (Schreiber’s long-fingered bat, Miniopterus schreibersii) estes neurônios não foram identificados (Maseko e Manger, 2007).

Considerações evolutivas

Com base nos estudos realizados em outros animais, principalmente reportando-se aos diversos da ordem Rodentia, foi possível deduzir que, embora se perceba diferenças fenotípicas acentuadas, a complexidade nuclear dos centros dopaminérgicos no mesencéfalo parece ser capaz de mudar entre as diferentes ordens, mas não dentro dela mesma (Maseko et al, 2007). Deste modo, autores sugeriram que para a ordem Rodentia as variações fenotípicas, de hábitos de vida e características evolutivas não conduzem à variação dos núcleos dopaminérgicos (Bhagwandin et al, 2008; Da Silva et al., 2006; Manger, 2005).

Os resultados revelaram que os núcleos dopaminérgicos do mesencéfalo do mocó são, de um modo geral, similares ao que já foi descrito em outras espécies de mamíferos, sugerindo que os núcleos A8, A9 e A10 têm se mostrado filogeneticamente estáveis entre as espécies. Uma ressalva deve ser feita com relação à presença da CSN, a qual foi descrita apenas em uma espécie não Rodentia, o gottingen minipig (Sus scrofa domesticus), um ungulado desenvolvido laboratorialmente a partir do porco doméstico (Nielsen et al., 2009).

Considerando que na maioria das espécies estudadas os núcleos dopaminérgicos mesencefálicos apresentam uma distribuição semelhante, e no caso do mocó se tenha encontrado uma diferença relacionada à organização da substância negra,

surge a necessidade de maiores detalhamentos de estudos desta natureza. Um dos caminhos seria a ampliação da análise comparativa de amostras encefálicas de animais de mesma ordem (tanto de mesma família, quanto de famílias diferentes), no que se refere à consistência das divisões nucleares. Além disso, estudos paralelos poderão ser desenvolvidos no sentido de comparar animais de ordens diferentes (Moon et al., 2007; Maseko et al, 2007).

Portanto, este trabalho mostrou a proximidade existente entre os núcleos dopaminérgicos do mesencéfalo do mocó (Kerodon rupestris) e de outros animais (roedores ou não) estudados. Porém, lançou a perspectiva de aprofundamento de estudos, no sentido de esclarecer ainda mais algumas divergências existentes, assim como de avançar no sentido de compreender as mais diversas funções do sistema dopaminérgico.

ACKNOWLEDGMENTS

This study was financially supported by the National Council for Scientific and Technological Development (CNPq), Coordination for High Level Staff Improvement (CAPES) and Research and Projects Financing (FINEP), Brazil.

REFERÊNCIAS

Bhagwandin, A., Fuxe, K., Bennett, N.C., Manger, P.r., 2008. Nuclear organization and morphology of cholinergic, putative catecholaminergic and serotonergic neurons in the

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