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3.5 Diodos emissores de luz

3.5.2 Mecanismo de inativação

Com o desenvolvimento da tecnologia LED, na última década houve um aumento de pesquisas avaliando o seu potencial germicida, entretanto, não há uma uniformidade nos protocolos ou testes padronizados para seu uso em sistemas de desinfecção com UV LED e as pesquisas, enquanto que, para sistemas que utilizam lâmpadas de mercúrio, houve progresso consideráveis, principalmente, em escala de bancada.

De acordo com Bolton e Linden (2003), não é necessário padronizar completamente um aparelho de bancada, mas as orientações básicas devem ser consideradas ao projetar um aparelho modificado para uma aplicação específica. Entre outros aspectos, o projeto deve garantir que o feixe que irradia a amostra seja razoavelmente uniforme para garantir leituras precisas dos sensores e a fluência média para todos os microrganismos na suspensão deve ser mantida igual por agitação cuidadosamente controlada (sem vórtice) (WUERTELE et al, 2011).

Sendo assim, as primeiras pesquisas de desinfecção com UV LED foram direcionadas aos resultados obtidos com as lâmpadas de bulbo de mercúrio e aos conhecimentos existentes com a radiação UV (WURTELE et al, 2011). Por exemplo, as lâmpadas de mercúrio de baixa pressão emitem luz monocromática ultravioleta a um comprimento de onda de 254 nm e apresentaram resultados significativos na inibição de vários microrganismos, no entanto, sabe-se que o DNA absorve principalmente a luz UV com comprimentos de onda entre 200 e 300 nm, mas o comprimento de onda do pico absorvido é variável para diferentes organismos (ZHOU et al, 2017).

Nos últimos anos, os resultados obtidos com as pesquisas publicadas utilizando UV LED, confirmam tal afirmação, pois demostram a inativação de diferentes microrganismos em diferentes comprimentos de onda, nas faixas de UVC (menor que 280 nm), UVB (280 a 315 nm) e UVA (315 a 400 nm). Ressaltando que até a presente data, os LED 220-230 nm não estão em fase prática de

desenvolvimento para esta aplicação. No entanto, LED emissores a partir de 255 nm estão amplamente disponíveis, mas com custos superiores aos LED com comprimento de onda na faixa do UVB e UVA (BECK et al, 2017).

A Tabela 4 descreve alguns resultados de trabalhos publicados sobre desinfecção com LED, frente aos fatores: comprimento de onda, microrganismos, dose de UV, logaritmo de inibição e dose resposta.

Tabela 4 – Pesquisas de desinfecção em água utilizando radiação por UV com LED Compr. onda (nm) Microrga- nismo Desinfeção UV dose (mJ cm-2) Log inativação Dose resposta (mJ cm-2 por log inativação) Referência

250 B. subtilis Água 59,2 3 19,7 Morris, 2012

254 Bactéria

Mesófila Água 0,73 0,8 1

Chevremont et al, 2012a

265 E. coli Água 20 3,4 5,9 Chatterley and

Linden, 2010

265 E. coli Água 10,8 4 2,7 Oguma et al,

2013

269 B. subtilis Água 40 5,9 6,8 Wurtele et al, 2011

280 E. coli Água 13,8 4 3,5 Oguma et al,

2013

280 Bactéria

Mesófila Água 1,37 1,4 1

Chevremont et al, 2012a 282 B. subtilis Água 60 7,2 8,3 Wurtele et al,

2011

310 E. coli Água 56,9 0,6 94,8 Oguma et al,

2013 365 E. coli Água 315,000 5,7 55,263 Hamamoto

et al, 2007 365 E. coli Água 54,000 3,9 13,846 Mori et al, 2007

365 Bactéria Mesófila Água 4,22 0,3 12,5 Chevremont et al,2012a 405 Bactéria Mesófila Água 25,58 0,3 88 Chevremont et al,2012a

254/365 Bactéria Mesófila Água 4,95 2,4 2,1 Chevremont

et al, 2012a

280/365 Bactéria Mesófila Água 5,59 3,5 1,6 Chevremont

et al, 2012a

254/405 Bactéria Mesófila Água 26,31 2,2 11,9 Chevremont

et al, 2012a

280/405 Bactéria Mesófila Água 26,95 3,5 7,7 Chevremont

et al, 2012a

Comparando a pesquisa realizada por Oguma et al (2013) com as demais pesquisas apresentadas na tabela 6 observa-se que o comprimento de onda de 310 nm (UV-B) apresentou maior dose de resposta por log de inativação de E. coli em comparação aos demais comprimentos de onda UV-A, sugerindo menor potencial de desinfecção. Entretanto, uma generalização pode ser errônea, uma vez que o comprimento de onda 280 nm (UV-B) apresentou maior inibição logarítmica da bactéria Mesófila, em comparação com o comprimento de onda (254 nm) apesar de ambos ter apresentado a mesma dose resposta (CHEVREMONT et al, 2012a).

Chevremont et al (2012a) realizaram vários experimentos com LED: UV-A (405 nm, 25 mW cm-2) , UV-B (365 nm, 4,22 mW cm-2 e 280 nm, 1,37 mW cm-2) e UV-C (255 nm e 0,73 mW cm-2) para a inibição dos microrganismos: E. coli e E.

faecalis (105-107 UFCmL-1) em amostra de água. Em seu delineamento experimental

os comprimentos de onda foram casualizados e acoplados, indicando que os LED acoplados 280/365, 280/405 e 255/405 nm apresentaram o máximo efeito de inibição aos microrganismos em 30s. Entretanto, considerando o alto custo do LED de 255 nm, os autores sugerem as demais alternativas. Além disso, para estas duas cepas, o LED de 280 nm foi mais eficiente, apesar da potência óptica ser menor, que o de 365 nm com maior potência óptica.

Outro estudo semelhante foi realizado por Oguma et al (2013) que também utilizou os comprimentos de onda 265 nm (0,7 mW cm-2), 280 nm (1,3 mW cm-2) e 310 nm (1,1 mW cm-2) casualizados e acoplados para a desinfecção em amostra de água acrescida de E. coli (106 UFC mL-1). Entretanto, diferente de Chevremont et al (2012a) os resultando indicaram que quando usados acoplados, houve menor eficiência na inativação do microrganismo. Segundo os autores, a diferença entre a sua pesquisa e a Chevremont et al (2012a) pode ser explicada pelos fatores: diferentes microrganismos-alvo, diferença nas potências ópticas dos comprimentos de onda quando acoplados e os design diferentes dos reatores.

Em virtude dos resultados divergentes de Chevremont et al (2012a) e Oguma et al (2013), Beck et al (2017) realizaram um estudo recente com LED de UV-C (260 nm, 280 nm e 260/280 nm) e lâmpadas ultravioletas convencionais de vapor de mercúrio de baixa pressão (254 nm) para a inativação de microrganismos

teste (Escherichia coli, Colífagos MS2, adenovírus humano tipo 2 (HAdV2) e esporos de Bacillus pumilus). De acordo com os resultados as LED UV-C foram tão eficazes quanto às lâmpadas comuns de vapor de mercúrio para inativar os agentes patogênicos bacterianos e virais e os LED de 260 nm e 280 nm quando usados simultaneamente em um microrganismo não causaram sinergia de duplo comprimento de onda na inativação bacteriana e viral, nem nos danos de DNA ou RNA.

Além disso, com a utilização de vários microrganismos foi possível observar na pesquisa realizada que houve respostas distintas frente a diferentes comprimentos de onda. Todas as cinco fontes UV apresentaram inativação similar de E. coli, enquanto para o colífagos MS2, o LED de 260 nm foi mais efetivo. Para HAdV2 e B. pumilus, a lâmpada UV-MP foi mais eficaz. Ao medir a energia elétrica por ordem de redução, a lâmpada UV-LP foi mais eficiente para inativar E. coli e colífagos MS2. As lâmpadas de mercúrio UV-LP e MP UV foram igualmente eficientes para os esporos HAdV2 e B. pumilus. Entre os LED UV-C, não houve diferença estatística na eficiência elétrica para inativar os esporos MS2, HAdV2 e B. pumilus. Sendo assim, fica evidente a especificidade tanto dos comprimentos de onda quanto dos microrganismos e a necessidade de se utilizar parâmetros como dose e eficiência elétrica para comparação entre comprimentos de ondas de luz LED e lâmpadas ultravioleta.

No que tange a avaliação de um único microrganismo, o estudo realizado por Wurtele et al (2011) demostrou que o potencial germicida do LED no comprimento de onda de 262 nm é maior que o de 282 nm, obtendo, diferença absoluta de 1 log na taxa de inativação em esporos de Bacillus subtilis (concentração 107-109 UFC mL-1, temperatura de 23 ± 2ºC) em água deionizada. Entretanto, ao avaliar o desempenho global do LED considerando o mesmo intervalo de tempo e com a mesma potência de entrada, o LED de 282 nm é significativamente melhor do que o LED de 269 nm. A irradiação por um período de 300 segundos, por exemplo, leva a um fluxo de 175 J m-2 para o LED de 269 nm e 345 J m-2 para o LED de 282 nm. Por isso, o fator de redução para os LED de 269

nm é 0,9 log menor do que para o LED de 282 nm, sendo a preferível para a desinfecção.

Em uma segunda etapa deste estudo, foi avaliada a inativação deste microrganismo, mas em condições experimentais diferentes com o LED 280 nm (0,0132 J m-2) e a lâmpada de mercúrio em 254 nm (0,0056 J m-2). Considerando as taxas inativação, no LED os esporos de Bacillus subtilis apresentaram 2 vezes mais sensibilidade do que na lâmpada de mercúrio. Entretanto, não houve uma linearidade nos resultados obtidos, ao se aumentar a densidade óptica do LED e da lâmpada de mercúrio, o efeito de proporcionalidade da sensibilidade não se sustentou.

De acordo com REN et al (2016) a fase de crescimento do microrganismo pode interferir na eficiência da desinfecção, uma vez que em seu estudo com Staphylococcus aureus submetido à radiação ultravioleta, o microrganismo foi mais sensível na fase exponencial, pois a dose necessária para se atingir a curva de desinfecção foi de 60 mJ cm-2 (t=4 h), enquanto na fase de latência (t=0,5 h) foi de 110 mJ cm-2 e a fase estacionária (t=14 h) foi de 120 mJ.cm-2. Os resultados experimentais também indicaram que os danos causados pela radiação UV no DNA foram a causa para a inativação do microrganismo e foi proporcional à dose de UV aplicada.

Uma possível explicação relatada pelos autores é que durante a fase exponencial, os microrganismos estão em seu estado de crescimento celular máximo e intensa atividade metabólica. Após um curto período de aceleração, a taxa de crescimento da população microbiana torna-se constante, isto é, as células sofrem divisão e o seu número duplica após um determinado intervalo de tempo. Sendo assim, nesta fase o microrganismo é mais sensível a condições de estresse, como a radiação ultravioleta.

Para a eficácia do processo de desinfecção também é importante verificar parâmetros químicos e físicos como: turbidez, tamanho e concentrações de sólidos em suspensão e cor que possam interferir na inibição dos microrganismos e assim, considera-los na cinética da desinfecção.

Diante disto, Zhou et al (2017) demonstraram que o processo de desinfecção com ultrassom de baixa frequência (33 kHz, 2,64 kJ L-1, 40 s) seguido de UV-LED (254 nm, 30 mJ cm-2 em 900 s) pode ser uma alternativa para melhorar a eficiência de processos de desinfecção em efluente com alta turbidez e absorbância, devido à liberação de radical hidroxila, efeito de calor produzido pelo ultrassom e quebra dos flocos de bactérias pela força mecânica de cisalhamento alterando a distribuição do tamanho das partículas no líquido, podendo assim, reduzir até o tempo de detenção hidráulica e o volume do reator.

Outros fatores também interferem na eficiência do processo de desinfecção. Na pesquisa por Chevremont et al (2012a) em um estudo preliminar realizado com a suspensão de microrganismos em caldo nutriente exposta aos comprimentos de onda 255 nm, 280 nm, 365 nm, 405 nm, a densidade bacteriana (105 e 107 UFC mL-1) e os pH (6 e 7) apresentaram efeitos aleatórios e inconclusivos sobre eficiência de inibição das bactérias E. coli e E. faecalis. Segundo os autores, na prática, esses fatores não são facilmente ajustáveis em águas residuais de estação de tratamento e por essa razão os testes de otimização em seu reator em escala de bancada foram baseados em apenas dois fatores: tempo de exposição e comprimento de onda.

Em outra pesquisa realizada pelos mesmos autores Chevremont et al (2012), com efluente tratado apresentando valores acima dos preconizados pela legislação francesa, COD de 210 mg de O2 L-1 (limite estabelecido menor que 125

mg de O2 L-1), de TSS de 150 mg L-1 (limite estabelecido menor que 35 mg L-1), e

alta turbidez 71,5 NTU, foi constatado que a alta turbidez e a espessura da camada de efluente (1,7 cm de espessura para 250 mL e 3,4 cm para 500 mL) influenciaram na eficiência do processo de desinfecção com UV-LED (Chevremont et al, 2012a), ou seja, a redução da concentração dos microrganismos com 250 mL de efluente foi em média 1 log maior em comparação com 500 mL, utilizando os LED acoplados 280/365 nm.

Em suma, os efeitos da irradiação por LED, além de serem dependentes dos comprimentos de onda, densidade de energia, dimensionamento do aparato experimental e das características físicas e químicas da amostra, também

demostram variações nos resultados entre várias espécies de microrganismos testados (D'ERCOLE et al, 2016), conforme descrito na Tabela 5.

Tabela 5- Relaciona os resultados obtidos em diversas pesquisas com a inativação de microrganismos diferentes, o comprimento de onda e os tempos de exposição

Comprimento de onda (nm) Microrganismo Desinfec- ção Tempo de exposição Log inativação Referência

254 E. coli (107 UFC mL-1) Água 30 s 3,5 Chevremont et al (2012b)

280 E. coli

(107 UFC mL-1) Água 30 s 7

Chevremont et al (2012b) 365 E. coli (107 UFC mL-1) Água 30 s 2.7 Chevremont et al (2012b)

365(Pulso) E. coli (107 UFC mL-1) Biofilme 1 h 3 Li et al (2010)

365(Pulso) Candida albicans (10

7

UFC mL-1) Biofilme 1 h 3 Li et al (2010)

375 E. coli (108 UFC mL-1) Biofilme 2 h 2 Hwang et al (2013) 375 Streptococcus mutans

(105UFC.mL-1) Água 15 min 4 Kim et al 2007

405 E. coli (107 UFC mL-1) Água 30 s 3,3 Chevremont et al 2012b

254/365 E. coli (107 UFC mL-1) Água 30 s 7 Chevremont

et al 2012b

280/365 E. coli (107 UFC mL-1) Água 30 s 7 Chevremont

et al 2012b

280/405 E. coli (107 UFC mL-1) Água 30 s 7 Chevremont

et al 2012b

Fonte: adaptado de Song et al (2016)

Alguns estudos como os apresentados na Tabela 7 relacionam a inibição do microrganismo ao tempo de inibição e não à dose-resposta (SONG et al, 2016). A exposição dos microrganismos nos tempos entre 30 s a 2 h causa inibição de 1 a 7 log, porém, os resultados são variados. Considerando o menor tempo de 30 s, houve inativação de 7 log de E. coli, nos comprimentos de onda 280 nm, 254/365 nm, 280/365 nm, 280/405 nm (Chevremont et al, 2012b), entretanto em 276 nm para reduzir 3-4 log precisou de 5 minutos.

Observa-se também comportamentos diferentes entre as espécies de microrganismos que apresentam diferentes log de inibição no mesmo comprimento de onda. Por exemplo, em 365 nm foi realizada a inativação de 2,7 log de E. coli em 30 s, mas no mesmo comprimento de onda foi necessário 6 minutos para inativar 1 log de Vibrio parahaemolyticus, ou seja, é precoce uma afirmação que determinado comprimento de onda iniba uma gama de microrganismos.

Outro aspecto importante que não está plenamente conhecido é como a radiação ultravioleta age no microrganismo inibindo-o. Uma hipótese é a fotossensibilização de moléculas endógenas de coenzimas (pirimidina e flavinas) e moléculas exógenas (compostos húmicos) que ao serem excitadas, produzem quantidades de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio maiores que a capacidade celular, gerando lesões em biomoléculas, como ácidos nucleicos, lipídeos e proteínas, importantes em mecanismos celulares como a replicação, transcrição e a translação e consequentemente a morte celular (D'ERCOLE, 2016).

O comprimento de onda influencia na profundidade de penetração da radiação na célula podendo afetar diferentes moléculas, que têm diferentes picos de absorção para UV causando danos que as células não podem reparar.

Os nucleotídeos têm picos de absorbância UV entre 240 e 280 nm e o máximo de absorção de DNA é considerado próximo a 260 nm (WURTELE et al, 2011). A absorção UV de proteínas geralmente atinge picos de 280 nm devido à absorvência dos aminoácidos aromáticos, tirosina e triptofano, bem como a ligação dissulfureto de cistina, embora as proteínas de alguns vírus possam ser efetivamente afetadas por comprimentos de onda abaixo de 240 nm (BECK, 2017). Além disso, os comprimentos de onda na região UV-A (acima de 315 nm) são menos energéticos em comparação com a UV-B e a UV-C, mas possui maior penetrância podendo produzir intermediários reativos e danos oxidativo ao DNA e outros componentes da célula bacteriana (HAMAMOTO et al, 2007; ZYARA et al, 2017).

Geralmente, as UV-C atingem diretamente o DNA e as UV-A tem ação indireta através de danos aos componentes celular. Assim, a reparação indireta de danos ao DNA pode ser menos eficiente para a UV-A que para a UV-C, uma vez

que, esta pode ser reparada por mecanismos de dependência da luz (foto reativação) e independentes da luz (reparo em ambientes escuros) (CHEVREMONT et al, 2011; GUO et al, 2012).

Uma maneira de reduzir o risco de fotorreativação em efluentes desinfetados é o acoplamento de comprimento de onda para atingir o dano do DNA causado por UV-C (200-280 nm) e danos oxidativos causados por UVA (315-400 nm) (ZYARA, 2017). O efeito sinérgico do acoplamento de ondas na inativação de microrganismos foi observado anteriormente por Chevremont et al (2012a, 2012b), Oguma et al (2013) e Zhou et al (2017).

A fotorreativação é um processo natural em que as enzimas DNA fotoliases utilizam da energia proveniente da luz visível para catalisar as reações de dissociação de dímeros de bases pirimídicas (timina, citosina e uracila). Já a reparação do DNA em ambientes escuros é independente de luz e realizada por varias enzimas que removem e substituem as bases.

Sanz et al (2007) em sua pesquisa utilizou uma lâmpada de mercúrio de 254 nm em doses de 50-200 mW cm-2 até 250 minutos para avaliar o efeito de foto reativação e reparação no escuro de coliformes fecais, coliformes totais e Streptococcus faecalis em amostra de efluente secundário. Segundo os dados obtidos os microrganismos que foram reativados com a luz não excederam a 1% da concentração inicial, na seguinte ordem de grandeza: coliformes totais > coliformes fecais > Streptococcus faecalis e para a reparação no escuro os resultados foram ainda menores. Os autores também propuseram modificações no modelo cinético para processos de reativação, considerando, a proporção máxima de sobrevivência dos organismos alvo e a taxa constante de reativação a importância da verificação dos testes de reparação do DNA para garantir a eficácia e a segurança do processo de desinfecção.

Já os experimentos realizados por Zhou et al (2017) indicaram fotorreativação bacteriana. O reparo e o recrescimento das bactérias nas amostras de efluente desinfetado desempenham apenas uma pequena parcela na reativação, pois, o número de E. coli aumentou imediatamente em até 6 horas de exposição à luz de fotorreativação (Lâmpada UVA 8 W, 365 nm a 30 mJ cm-2). Os processos de

tratamento para a desinfecção foram classificados na seguinte ordem de fotor reativação: UV-LED a 30 mJ cm-2 > Desinfecção UV a 25 mJ cm-2 com pré- tratamento Ultrassom > Desinfecção UV a 30 mJ cm-2 com pré-tratamento Ultrassom, e os índices de fotoreativação foram de 9,9%, 7,1% e 2,6% respectivamente.

Como mencionado anteriormente, a ação do UV-LED pode gerar subprodutos celulares, como o radical hidroxila, que no decorrer do tempo poderão danificar e ou destruir os componentes da célula, por exemplo, a membrana plasmática. Essa é uma hipótese sugerida pelos pesquisadores Chevremont, et al (2012a) a partir da avaliação dos seus resultados, no qual o efluente tratado foi irradiado com UV LED de 280/365 nm ou 280/405 nm por 60 s, apresentando ausência de reativação e aumento na inativação bacteriana (5 a 7 log de E. coli e Enterococcus faecalis) após 20 h da amostra no escuro.

No entanto, a interação entre a radiação UV e a inibição de microrganismos pode, ao mesmo tempo, também promover a liberação de DNA livre para as águas residuais e assim, através do processo de transformação, as bactérias podem adquirir características de resistência aos antibióticos. Foi o que constatou a pesquisa realizada por Boopathy (2017) com a presença do gene mecA livre em todas as amostras de efluente “in natura” e tratado por ultravioleta. Outros estudos também mostraram que as estações de tratamento de águas residuais são fontes comuns de genes de resistência a antibióticos (BOOPATHY, 2017).

Outro aspecto importante a ser questionado é o potencial da radiação ultravioleta em fotodegradar compostos presentes mesmo após o tratamento convencional do efluente.

Lu et al (2017) ao avaliar a degradação do diclofenaco (0,03 mM) com persulfato ativado (1 mM) e UV-254 nm (0,1 mW cm−2), observou que os subprodutos do diclofenaco podem ser mais tóxicos do que o próprio diclofenaco, entretanto, o processo de tratamento e o tempo de degradação mais longo podem reduzir a toxicidade. De 80 a 140 min de oxidação, a taxa de inibição na luminescência natural das bactérias V. qinghaiensis aumentou de 2,4% para 14,9%, enquanto o diclofenaco quase desaparece. Além disso, durante este período,

observou-se uma mineralização de 30,4% para 30,7%. As alterações na toxicidade foram atribuídas principalmente à formação de intermediários tóxicos e à mineralização inadequada dos compostos orgânicos, e o diclofenaco foi o que menos contribuiu para o efeito de toxicidade. Após 140 min, a toxicidade da solução foi reduzida rapidamente, de 14,9% para 1,5%, e a mineralização foi observada até o valor máximo, indicando que os subprodutos de oxidação do diclofenaco poderiam ser transformados em compostos orgânicos não tóxicos no processo UV/ persulfato ativado.

Já na pesquisa realizada por Verma e Sillanpää (2015) em amostra de água ultra pura obteve-se a remoção de 50% da anatoxina-a (1 µM) com fotólise, utilizando LED UV-C (λ=260 nm, 4032 J m-2

). No tratamento com UV-C H2O2

(0,5 mM), observou-se o aumento na taxa de oxidação da anatoxina-a em 4,5 vezes em comparação com a fotólise direta por LED UV-C, levando a uma degradação de 97% da anatoxina-a. Com a amostra de água do lago Pitkäjäärvi (Finlândia), a remoção foi de 96% da anatoxina-a por fotólise utilizando LED UV-C e 79% de remoção com o tratamento UV-C/H2O2. Em relação à toxicidade foram realizados

testes de toxicidade aguda com Aliivibrio fischeri, cujos resultados indicaram diminuição da toxicidade das amostras tratadas, tanto após a fotólise UV-C quanto no processo UV-C/H2O2 em comparação com a água não tratada e também, que

ambos os processos de tratamento não geram produtos intermediários e subprodutos tóxicos ao organismo teste.

Outra questão importante é o fato dos poluentes químicos recalcitrantes à biodegradação permanecerem no efluente mesmo após o seu tratamento com UV. Podendo causar efeitos deletérios sobre os ecossistemas e sobre a saúde humana ao se reutilizar o efluente tratado e desinfetado na agricultura. Em razão disso, Chevremont et al (2013), avaliaram os possíveis efeitos da carbamazepina e do antraceno nas atividades microbianas do solo. No experimento, as substâncias foram adicionadas em amostras de água da torneira e efluente, nas quais, foram posteriormente tratadas com UV-LED (280/365 nm por 30 minutos). Os resultados demonstraram que após 3 meses, o antraceno e a carbamazepina foram transformados duas a três vezes mais rápido, respectivamente, em solos regados

com águas residuais UV-LED do que em solos regados com água da torneira (provavelmente devido à adição de matéria orgânica pelo efluente) e a biodiversidade funcional não foi afetada pelas propriedades microbianas e químicas do efluente. Além disso, os insumos poluentes não alteraram a diversidade metabólica, indicando que as comunidades microbianas autóctones do solo eram particularmente resistentes a tais poluentes.

Desta forma, apesar das vantagens da utilização da radiação UV-LED como desinfetante de efluentes domésticos, ainda se faz necessário verificar o