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3.2 Desinfecção

3.2.2 Organismo indicador – Staphylococcus aureus

Staphylococcus aureus (S. aureus) é uma bactéria pertencente ao filo Firmicutes, apresenta-se de forma esférica, do tipo cocos, imóvel e geralmente encontram-se agrupadas de forma irregular, semelhante a um cacho de uva (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Caracteriza-se por ser Gram-positivo, coagulase positiva e anaeróbio facultativo que fermentam a glicose, produzindo ácido na presença ou na ausência de oxigênio. Podem crescer em uma ampla faixa de temperaturas (7 a 48 °C) e pH (4,5 e 9,3), com crescimento ótimo entre 35 e 37 °C, pH 6,0 e 7,0 e, possui também elevada tolerância osmótica à concentração de até 20% de NaCl (PELCZAR et al,1997a; PELCZAR et al,1997b; MADIGAN et al, 2016).

É uma bactéria comumente encontrada na pele, nas mucosas nasais e no intestino dos seres humanos e animais heterotérmicos, estima-se que 20% da população mundial sejam portadores persistentes (GARZONI e KELLEY, 2009). Também está amplamente distribuída no ambiente como no ar, na água, no solo,

nos alimentos, no esgoto e em objetos. Entretanto, sua colonização é um fator de risco, uma vez que, quando o corpo do hospedeiro sofre algum tipo de distúrbio, S. aureus pode se tornar patogênico, desencadeando a produção de toxinas que ao atingir o sangue, aumenta a capacidade de invadir e danificar os tecidos do corpo hospedeiro, causando uma grande variedade de infecções em humanos, de espinhas e furúnculos à pneumonias, intoxicações alimentares e infecções em feridas cirúrgicas (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

Pesquisa realizada por Nasrolahei et al (2017), constatou alta prevalência de Staphylococcus aureus em amostras de unhas e esfregaços nasais de 220 pessoas manipuladoras de alimentos, atendidas no laboratório do centro de saúde pública em Sari, no norte do Irã, entre setembro de 2013 a outubro de 2014. Os resultados indicaram que 62,2% apresentaram cultura positiva para diferentes espécies bacterianas a partir do conteúdo das unhas, sendo que 46% eram Staphylococcus aureus. Com relação às amostras dos esfregaços nasais, 65,4% continham Staphylococcus aureus e os trabalhadores de lojas de frangos 14/17 (20,8%) foram os de maior taxa. Os açougueiros apresentaram a maior prevalência dessa bactéria (86,6%) no conteúdo das unhas, seguidos pelos trabalhadores de “fast food” (76,5%), padeiros (73,5%), policiais (73%), funcionários das cantinas (53,3%), (46,9%) e vendedores de frutas/legumes (42,5%).

Para os autores a alta prevalência de bactérias nas unhas é decorrente de más práticas de higiene sanitária, de precárias condições de saneamento no local, como a falta de água potável e da ignorância às práticas de promoção da saúde, representando risco aos consumidores.

De acordo com os dados publicados do Ministério da Saúde, entre os anos de 2007 a 2016, dos microrganismos identificados, o Staphylococcus aureus é o terceiro agente mais frequente relacionado às doenças transmitidas por alimentos no Brasil, sendo o 1º a E. coli e o 2º a Salmonella spp. (BRASIL, 2016).

Surtos de intoxicação alimentar causados por Staphylococcus aureus são frequentemente relatados, pois em condições favoráveis no alimento, as bactérias liberam enterotoxinas durante a multiplicação celular e, depois de 4 a 6 horas surgem sintomas como vômitos intensos, dor abdominal e diarreia (TORTORA;

FUNKE; CASE, 2017). No Brasil, o Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos n° 12 de 2001, da ANVISA, que preconiza os limites de 102 a 103 UFC g-1 para S. aureus, conforme os tipos de alimentos destinados ao consumo humano.

No ano de 1998, na cidade de Buriti, São Paulo, 1800 pessoas, sendo 1200 crianças em idade escolar foram diagnosticadas com Staphylococcus de coagulase positiva e produtor de enterotoxina tipo A, provavelmente proveniente de fonte humana. No dia do incidente, a merenda escolar continha arroz, feijão e farofa composta por farinha de mandioca e milho, ervilha e milho em conserva, mortadela picada e linguiça tipo toscano, sendo que no preparo da farofa a temperatura utilizada foi inferior à 60ºC, temperatura mínima requerida para inviabilizar as células de estafilococos (<102 UFC g-1) presentes em todos os ingredientes. De acordo com os resultados, foram encontrados 8,5.107 UFC g-1 de Staphylococcus na farofa e em posterior avaliação, foi diagnosticado condições precárias de higiene, tanto no preparo quanto no transporte dos alimentos (MICHELI; CARMO; CARLOS, 2006).

Pessoas que estejam direta e indiretamente envolvidas com o ambiente hospitalar ou no manuseio de alimentos para consumo humano podem ser disseminadores em potencial da bactéria, sendo, imprescindível que haja programas de controle e prevenção, educação sanitária, desinfecção de equipamentos e saneamento básico.

Staphylococcus aureus também é uma das causas mais comum de infecções hospitalares. Segundo pesquisa realizada por Guimarães et al (2011) dos 133 óbitos associados à infecção hospitalar ocorridos no Hospital Estadual Sumaré, São Paulo, entre os anos de 2007 a 2008, Staphylococcus aureus foi o microrganismo com maior frequência (25%) associado a pneumonias e infecção sanguínea.

É no ambiente hospitalar que a muitas bactérias adquirem resistência a antibióticos, devido ao uso excessivo desses, condições higiênico-sanitárias precárias e pacientes hospitalizados que têm sistema imune comprometido. Em 1961 foi documentado o primeiro caso de S. aureus resistente à meticilina e em

2002, foi relatada uma infecção causada por S. aureus resistente à vancomicina em uma paciente nos Estados Unidos.

Diante desta problemática Katouli et al (2012) questionou a sobrevivência de bactérias provindas de efluentes hospitalares, após o processo de desinfecção por cloração em sistema de tratamento de esgoto de uma cidade do sul da Austrália, antes do efluente tratado ser liberado em águas superficiais. No estudo, foram identificadas 245 linhagens de E. coli e 167 linhagens de S. aureus em 8 amostras semanais, na saída do efluente hospitalar. As amostras também foram testadas quanto a sua resistência a 9 antibióticos para S. aureus e a 16 para E. coli. Segundo os resultados obtidos, 7 linhagens distintas de E. coli e 7 linhagens de S.aures foram frequentemente detectadas na maioria das amostras semanais e 3 linhagens de E. coli e 1linhagem de S.aures foram detectados após a desinfecção por cloração. Com relação à resistência aos antibióticos avaliados, entre as cepas de E. coli isoladas, a maior resistência foi observada contra aztreonam, gentamicina, amoxicilina- clavulânico, ceftazidima, cefepima variando de 89% a 79%. Para S. aureus observou-se a maior resistência contra ampicilina seguida de amoxicilina /ácido clavulônico, gentamicina e cefoxitina variando de 100% a 78%.

A estação de tratamento de esgoto é um habitat ideal para o desenvolvimento de bactérias resistentes a antibióticos, pois grande número de bactérias entra em contato com muitos tipos de antibióticos lançados nas águas residuais. Boopathy (2017) constatou em sua pesquisa que a linhagem de S. aureus do efluente tratado apresentou maior resistência aos antibióticos do que as linhagens do efluente sem tratamento, possivelmente, devido à troca de genes de resistência durante o tempo de detenção hidráulico.

O pesquisador ressalta que muitas ETEs são projetadas com o propósito de remoção de carbono orgânico e nitrogênio, sendo a remoção de genes de resistência a antibióticos um problema emergente que precisará ser mais discutido. No seu estudo em uma estação de tratamento rural da cidade de Thibodaux, EUA, foram coletadas amostras mensais durante o período de 12 meses de efluente “in natura” e efluente tratado, após o tratamento por “wetlands” seguido de desinfecção com radiação ultravioleta (255 nm). Os resultados indicaram presença de S. aureus

(5400 UFC.mL-1) tanto no efluente “in natura” quanto no tratado, apesar do tratamento ter reduzido 4 log da concentração inicial do microrganismo. Quanto à resistência microbiana ao antibiótico Vancomicina, foi detectado o gene mecA em todas as amostras de efluente não tratado e pós-tratamento, sendo de grande preocupação a sua presença após o tratamento, resultante na prevalência de microrganismos no ambiente (BOOPATHY, 2017).

A falta de saneamento básico é um fator de risco à disseminação de parasitas no ambiente. O lançamento de esgotos não tratados ou tratados indevidamente pode acarretar a contaminação direta do homem, como por exemplo, através do consumo de água por meio de rios que recebem o efluente, por comunidades ribeirinhas, ou através da contaminação indireta, via cadeia alimentar.

Vários estudos já documentaram os impactos de lançamentos de esgotos tratados e não tratados em rios que abastecem comunidades rurais que não realizam tratamento de água para consumo humano. Mahmoud et al (2016) foram além de análises físicas e químicas, avaliaram também parâmetros bacteriológicos e parasitológicos nas espécies de peixes (Oreochromis niloticus e Mugil cephalus) de 3 lagos que abastecem comunidades rurais das províncias de El-Fayyum, Port Said e El-Dakahlia, no Egito. Os lagos egípcios representam 15% do total de peixes consumidos no país, entretanto, não há tratamento de efluente na maioria das comunidades rurais. Estima-se que os lagos recebam 13,5 bilhões de m3 de esgoto por ano, sendo 90% de fontes difusas agrícolas, 6,2% de fontes domésticas e 3,5% de fontes pontuais industriais. As coletas de água e peixes foram realizadas mensalmente (março a outubro de 2014) e analisado parâmetros físicos, químicos e bacteriológicos. Os resultados foram surpreendentes, pois, em todas as amostras de peixes foram detectados Streptococcus sp., Staphylococcus sp. e Salmonella spp. além de, Morganella morganii, Pseudomonas cepacia e Enterococcos durans. A presença de metacercárias (Diplostomatidae, Prohemistomatidae e Heterphyidae) e dois protozoários parasitas (Mxyoboulus Tilápias e Ichthyophthirius multifil) também foram detectados em algumas amostras.

Estudo semelhante foi realizado por Rong et al (2017) em 320 amostras de alimentos aquáticos crus (peixes de água doce, peixes de água salgada e

camarão) que foram coletados em 64 lojas de varejo e 64 hipermercados comerciais de 32 capitais provinciais da China, de junho de 2015 a junho de 2016. Os resultados demostraram que 119 amostras (37,2%) foram positivas para S. aureus por meio de análises qualitativas e quantitativas e também apresentaram capacidade de virulência, resistência a antibióticos e diversidade genética, representando risco em potencial para a saúde pública através da disseminação da bactéria em produtos alimentícios aquáticos.

Sendo assim, compreender os processos que regulam os impactos seja dos contaminantes físicos e químicos, como dos microbiológicos na natureza e consequentemente, no homem, é um desafio crescente e essencial para garantir o equilíbrio da saúde ambiental.