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4.4 FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO NA PRÓPRIA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA

4.4.3 Mecanismos de impugnação

Uma vez fixado o valor mínimo na sentença penal, a vítima poderá entendê-lo insuficiente. O réu, por sua vez, poderá entendê-lo excessivo, ou mesmo entender que nada deve porque dano nenhum foi causado pela infração. Como proceder nessas situações a parte que se sentir prejudicada?

A nosso ver, é nítido que o réu tem interesse em recorrer, pois o arbitramento do valor mínimo lhe é substancialmente prejudicial, já que poderá ser executado de imediato assim que ocorrer o trânsito em julgado. Entendemos, portanto, que o réu poderá valer-se do recurso de apelação ao Tribunal, visando reduzir o valor mínimo fixado a um patamar inferior, ou mesmo comprovar que nenhum dano foi causado. Esse também é o pensamento de Fredie Didier sobre o assunto:

“Ora, com o referido arbitramento há a imediata abertura da via executiva no que concerne à parcela mínima arbitrada, razão pela qual é de interesse do acusado reduzir ao máximo o referido valor. Poderá o acusado, ainda, discutir a possibilidade de o juízo penal fixar o valor mínimo, em razão da ausência de elementos probatórios suficientes. Ou seja: pode o réu recorrer pedindo a não aplicação do inciso IV do art. 387 do CPP, na linha do entendimento do STJ.”80

Já a vítima, caso pretenda impugnar o valor mínimo fixado, por reputá-lo insuficiente, pensamos que deva ela buscar o incremento do valor no juízo cível, na forma do art. 63, parágrafo único, do CPP, e não mediante recurso de apelação. Entendemos que a vítima não tem interesse em recorrer, pois lhe está aberta a via cível para buscar eventual incremento da indenização. Outrossim, como a questão pode ser resolvida no primeiro grau de jurisdição, não é razoável que se provoque a segunda instância. Além do mais, caso a vítima fique insatisfeita também com a decisão proferida no juízo cível, poderá desta apelar.

Idêntico entendimento é perfilhado por Suavei Lai, conforme se demonstra abaixo:

“(...) é facultado ao réu manejar recurso dirigido às câmaras criminais do Tribunal de Apelação, visando tão somente à diminuição do quantum debeatur, pois tal valor é 80 DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneira da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de; Curso de Direito Processual Civil. 5. ed. Salvador: JusPODIVM. 2013. 5 v. 171-172 p.

mínimo, fazendo res iudicata parcial no Juízo Cível, que não poderá reduzi-lo. Agora, se a vítima ficar insatisfeita com o modesto valor reparatório, é inadmissível a apelação criminal por faltar interesse recursal, na medida em que o instrumento útil e adequado para majorá-lo é a liquidação de sentença na fase executória do art. 475-A do CPC.”81

Antônio do Passo Cabral também segue essa linha de raciocínio e não vê na vítima o interesse-necessidade recursal, senão vejamos:

“Ainda que vejamos forte tendência de prestigiar a vítima no processo penal brasileiro, continuamos no sistema de separação relativa de instâncias. Neste quadro, ao lesado faltaria o interesse na perspectiva da necessidade do provimento. Com efeito, como o lesado tem aberta a via cível para liquidar o valor restante do prejuízo, ou mesmo a possibilidade de ajuizar a ação civil ex delicto, fica mais difícil visualizar seu interesse- necessidade quando requer que a majoração ocorra no próprio processo penal.”

Todavia, a questão não é pacífica na doutrina. Fauzi Hassan Choukr82, por exemplo,

sustenta que a vítima poderia interpor apelação contra a parte da sentença que diga respeito ao valor mínimo indenizatório e arremata dizendo, ainda, que a vítima poderia fazê-lo habilitada como assistente de acusação ou na condição de terceiro não habilitado.

Fredie Didier, a seu turno, prega que a vítima possui sim interesse recursal caso discorde do valor mínimo fixado na sentença penal a título de reparação do dano:

“(...) há uma maior dificuldade em se vislumbrar interesse recursal por parte da vítima (...) Porém, e na medida em que a fixação de mínimo indenizatório proporciona inequívoca vantagem ao ofendido – que não terá de discutir em futura liquidação questões já ultrapassadas na esfera criminal -, parece que há também interesse recursal na majoração, ou ao menos, na fixação do mínimo indenizatório.”83

Noutro giro, situação distinta ocorre quando o juiz criminal deixa de fixar o valor mínimo reparatório. Neste casso, como entendemos que para que o juiz fixe a indenização mínima é necessário pedido expresso da vítima, habilitada como assistente de acusação, temos que distinguir duas situações.

Se não houve pedido, a vítima não poderá impugnar a não-fixação de indenização mínima. Porém, se houve pedido e o juiz não fixou a indenização mínima, a vítima poderá opor

81LAI, Suavei. Anotações sobre o novo art. 387, IV, do CPP: o valor mínimo indenizatório na sentença penal

condenatória. R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 14, n. 54, 287 p. abr.-jun. 2011.

82 CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de Processo Penal: Comentários Consolidados e Crítica Jurisprudencial. 5. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2011. 586 p.

83 DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneira da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de; Curso de Direito Processual Civil. 5. ed. Salvador: JusPODIVM. 2013. 5 v. 172 p.

embargos de declaração para que o juiz aprecie o pedido, suprindo sua omissão. Anote-se, porém, que, conforme já explicamos, pode acontecer de o juiz não dispor de elementos probatórios suficientes para fixar a indenização. Nesse caso, deve o juiz fazer constar na sentença uma fundamentação que justifique porque deixou de fixar o valor mínimo. Por conseguinte, se o juiz deixou de fixar o valor mínimo, mas justificou o porquê, resta à vítima ingressar com a ação de execução no cível para liquidar o valor devido, não havendo, conforme pensamos, interesse recursal.

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