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Podemos dizer que mediação no Brasil, seguiu uma trajetória que se assemelha bastante com a dos EUA. No entanto ela ainda não possui forma legislativa, é aplicada atualmente como uma forma extrajudicial de resolução dos conflitos.

Contudo faz se interessante destacar que mediação começou a ganhar forma legislativa com o Projeto de Lei nº 4827/98, que foi oriundo da proposta da deputada Zulaiê Cobre, sendo que o texto inicial foi levado à Câmara para regulamentação onde ficam estabelecidas as definições de mediação e alguns aspectos a respeito. Em 2002, o projeto foi aprovado pela comissão de Constituição e Justiça posteriormente foi enviado ao Senado Federal recebendo o número PLC 94 de 2002.

Ocorre, todavia que em 1999 o Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP) já havia constituído comissão para elaborar um anteprojeto de lei sobre mediação no processo civil, o que então gerou diversos debates públicos e a elaboração de um texto final, sendo que este foi apresentado ao governo federal. E diante da existência do projeto de lei da deputada ora mencionada, e já aprovado na Câmara, foi realizada audiência pública pelo Ministro da Justiça que contou com a presença desta e das pessoas que colaboravam com ela e algumas organizações sociais envolvidas com o tema da mediação.

Logo após foi elaborado um texto de consenso com a deputada onde ficou estabelecida a estratégia de encaminhamento ao relator do Projeto no Senado Federal, qual seja, o senador Paulo Simon, solicitando-lhe que fosse apresentado como substituto. Contudo o nobre senador apresentou o substitutivo inspirado no texto elaborado pelo IBDP, porém alterado em seus aspectos principais.

Posteriormente foram apresentados diversos projetos de Lei modificando o Código de Processo Civil o que levou ao um novo relatório PL 94.

Dessa forma então o governo resolveu encaminhar um Projeto autônomo cujo texto foi elaborado pelo IBDP. Em 14 de março de 2006, o novo relatório foi recebido e aprovado, na forma do seu substitutivo, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Foi aprovado o substitutivo pela emenda nº 1-CCJ ficando prejudicado dessa forma o projeto inicial, tendo

sido substitutivo encaminhado à CCJX, que recebeu em 1 de agosto. Ficando lá paralisado desde abril de 2007.

“Quando as esperanças da positivação da mediação mostravam-se perdidas em nosso Direito, em 2009 foi convocada uma Comissão de Juristas, presididas pelo ministro do Superior Tribunal, Luiz Fux, com o objetivo de apresentar o novo Código de Processo Civil”, é o que nos traz o texto de Humberto Dalla Bernardina de Pinho participante do livro Justiça Restaurativa e Mediação dos organizadores Spengler e Lucas (2011, p. 270).

Em pouco tempo então foi apresentado o anteprojeto, que foi convertido em Projeto de Lei n º (166/10) e agora submetido a discussões e exames por uma Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal.

Hoje o mencionado projeto tramita como: Projeto de Lei de nº 517/ 2011 que propõe a construção de um novo Código de Processo Civil. No interior desse projeto (que já recebeu várias ementas) encontra-se disciplinadas a mediação e a conciliação judiciais. Diante desse projeto é preciso ter um olhar reflexivo sobre o que vem sendo proposto como ferramenta de recepção do Judiciário das práticas de mediação e conciliação como forma de tratamento dos conflitos. Nas palavras de Morais e Spengler (2012, p. 194):

Antecipadamente, é preciso anotar que, em particular, para a mediação não aparece ser-lhe complicada a necessidade de sua regulamentação. Ao contrário ante seu caráter aberto, criativo, disforme, sua conformação formal legislativamente pode significar a perda daquilo que tem de mais subversivo a informalidade.

Com base das ideias dos autores à de se concluir que embora seja se notável significância do texto trazer consigo a consagração da regulamentação de novos métodos para tratamento de conflitos, a mediação, e, especial como instrumento de construção de uma cultura de paz, não aceita ser conscrita em um território procedimental rígido. Acreditam estes que essa discussão seja mais que necessário a fim de afirmar a mediação como autônoma para que possa produzir melhores resultados.

A mediação já propôs seu caráter mais informal para que as partes se sintam mais a vontade, para que não exista já todo aquele receio de um processo judicial. Talvez essa regulamentação venha trazer justamente aquilo que se esta tentando fugir que o processo visto

como litígio que envolve tempo e bastantes gastos. O que se pode esperar até o momento é ver que passos o projeto ainda vai tomar, e como os profissionais que já atuam nessa área vão se posicionar, mas uma coisa é certa o debate está longe de acabar.

As questões referentes ao tema da mediação vêm sendo reguladas pelo Conselho Nacional da Justiça (CNJ), que institui através da resolução 125 a chamada Política Judiciária Nacional de Tratamento dos Conflitos de Interesses, que tem por objetivo a efetivação do princípio constitucional do acesso à justiça (artigo 5º, XXXV, da Constituição Federal).

A Política Judiciária de Tratamento dos Conflitos de Interesses procura assegurar a todos através de meios mais adequados a solução dos conflitos de acordo com sua peculiaridade. A Política tem o intuito de trazer ao Judiciário outras formas de resolução de controvérsia.

Segundo o que dispõe a resolução 125 CJN, cabe ao Judiciário, organizar em âmbito nacional, não somente os serviços prestados nos processos judiciais, mas, também a solução dos conflitos através de mecanismos consensuais.

Contudo ressalvam os autores Morais e Spengler (2012, p. 172):

A Resolução 125 do CNJ institui especificadamente a mediação e conciliação como políticas públicas de tratamento adequado dos conflitos, porém, não as diferencia, tratando-as como se fossem institutos idênticos com as mesmas características e servindo ao mesmo tipo de conflito.

No dia 31 de janeiro deste ano o CNJ publicou a primeira emenda a resolução 125 de 2010, com o objetivo de estimar a busca por soluções extrajudiciais para resolver os conflitos. Segundo informações do site jusbrasil2 a emenda determina que todos os Tribunais do país criem no prazo de 60 (sessenta dias), núcleos permanentes de métodos consensuais de solução de conflitos, que deve ser composto por magistrados da ativa ou aposentados e servidores. Outra nova diretriz, adicionada ao artigo 1º, e a compilação de dados estatísticos referentes à mediação.

2 Disponível em <http://asmego.jusbrasil.com.br/noticias/100340034/cnj-emenda-resolucao-125-para-estimular-

A emenda alterou os artigos 1º, 2º, 3º , 6º , 7 º , 8º , 9º , 10º, 12º, 13 º, 15 º , 16 º , 18 º e os anexos I, II,III e IV da Resolução 125. Com tal emenda foi uma forma de intensificar o estimulo a solução extrajudicial de resolução dos conflitos.

A matéria trazida pelo site em questão também traz a opinião do Promotor de Justiça de Minas Gerais Andre Luís Alves de Melo, diz ele que: "a resolução é um indício de que o Judiciário reconhece a importância dos meios alternativos de solução de conflitos". Mas pondera que, como essas iniciativas têm sido postas a cargo do Judiciário, há o risco de se criar uma espécie de nova instância. "Temos o risco de judicializarmos os meios alternativos de solução de conflitos". Segundo o mesmo, para que haja incentivo as soluções extrajudiciais é preciso maior controle sobre a justiça gratuita. Também é indispensável que os municípios, e não só os estados assumam a responsabilidade sobre a solução dos conflitos.

Ainda a respeito do tema segundo informações do site G13, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Luiz Felipe Salomão entregou no inicio do mês de outubro desse ano dois anteprojetos de lei ao presidente do Senado, Renan Calheiros, um dos projetos pretende reformar a Lei da Arbitragem e outro pretende criar um marco legal para a mediação extrajudicial.

Segundo informações do site os anteprojetos foram elaborados por uma comissão de juristas presidida por Salomão instituída no ano passado (2012). Um dos objetivos do projeto é diminuir a fila de ações no Judiciário Brasileiro. Que de acordo com o Ministro, gira em torno de 20 milhões de ação cada ano, segundo ele “A ideia é desafogar o Judiciário. Reflexamente porque quando você aposta na solução que a própria sociedade encontra isso é um marco da civilidade. Acrescenta ele ainda que “ A arbitragem e a mediação são amplamente utilizadas em outros países, e reflexamente tira as demandas de volume.” Segundo fontes do site o presidente do Senado informou que irá encaminhar os dois textos à Comissão da Constituição e Justiça.

O ministro Salomão ainda afirma que é necessário uma cultura de mediação “ Uma das sugestões é implementar nas universidades uma cadeira obrigatória de conhecimento da mediação”. Nas palavras do mesmo:

3 Disponível em <http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/10/ministro-entrega-anteprojetos-da-lei-de-

Temos um litígio para cada dois habitantes. Na Austrália, um litígio para cada 16, 4 mil habitantes. Isso dá bem a dimensão do que é o tamanho da nossa litigiosidade e ela é muito mais acentuada em alguns estados da Federação. O Rio Grande do sul, por exemplo, é um estado que tem muito litígio. (SALOMÃO, 2013).

Segundo informações do site do CNJ está prevista para o dia 08 de novembro deste ano a inauguração da Escola Nacional de Conciliação e Mediação, a primeira do país, destinada a capacitação dos profissionais do Direito para atuar neste campo de resolução dos litígios.

É interessante destacar também que o CNJ criou um portal sobre a Conciliação e Mediação que pode ser acessado no meio virtual através do endereço: www.cnj.jus.br reunindo nessa página informações a respeito dos cursos de formação em conciliação e mediação realizados pelo mesmo.

No que se refere a mediação familiar no Brasil pode se dizer que há proposta do Instituto Brasileiro de Direito de Família, o IBDFAM, sendo subscrita pelo Deputado Sérgio Barradas Carneiro. Tramitando no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº. 2.285/2007 que pretende implantar a mediação interdisciplinar nos processos de família, como meio extrajudicial e com o objetivo de ampliar a jurisdição:

Mas ainda existe o Projeto de Lei que está para se votado no Congresso Nacional Projeto de Lei nº.4.948/2005 do senador. Antonio Carlos Biscaia, o qual busca altera dispositivo do Código Civil para inserir a mediação familiar como recomendação na regulação dos efeitos da separação e divórcio. Assim, deverá remeter os artigos do projeto de Lei:“Art. 1º. Esta lei insere no Código Civil a recomendação de incentivo à mediação familiar na regulação dos efeitos da separação e divórcio.Art. 2º. O art. 1.571 da Lei 10.406 – Código Civil, de 10 de janeiro de 2002, passa a vigorar com a seguinte redação:[...]“Art. 1.571[...]§ 3.º Na separação e no divórcio deverá o juiz incentivar a prática de mediação familiar. (Adriane Medianeira Toaldo; Fernanda Rech de Oliveira, 2013, grifo do autor).

Esse Projeto de Lei que foi estipulado pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família, contando com vários membros como magistrados, advogados, promotores, psicólogos e outros que atuam na área.

Alguns Estados brasileiros já implementaram a mediação familiar, como o Estado de Santa Catarina que criou, o programa: Mediação familiar como alternativa para resolução dos conflitos familiares, sendo um programa do Tribunal de Justiça. Nome semelhante ao intitulado nesse trabalho, pois, é essa proposta que apresenta esse trabalho para aplicação em

nossa região, algumas cidades do Rio Grande do Sul já possuem programa semelhante, contudo não é uma realidade ao nosso redor, e com isso o próximo capítulo vem trazer um estudo de como seria a aplicação da mediação no caso concreto, como uma forma de sugerir a sua utilização por nosso Tribunal ou até mesmo pela nossa jurisdição local.

3 DA POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DO INSTITUTO DA MEDIAÇÃO NAS

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