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Em termos históricos temos que a palavra mediador foi usada pela primeira vez por Justiniano, em substituição a proxenetas [...] que eram mediadores nas províncias [...] (CAPHAPUZ apud STANGHERLIN, 2007, p. 38). Entende-se por mediador no conceito atual a pessoa que media uma relação sem envolvimento, um transmissor de informações, um intermediário entre uma coisa e outra.

É de suma importância para o bom andamento do processo que se tenha um bom mediador, sendo que esta pessoa pode vir de qualquer órgão tanto estatal como privado.

Contudo recomenda-se que devido à seriedade do instituto o mediador deva ser alguém completamente preparado para exercer tal função, que detenha conhecimento jurídico e técnico para o bom desenvolvimento do procedimento. Tais profissionais devem ser preparados através de treinamento comportamental que possam fazer com que as partes participem efetivamente e de forma proveitosa das atividades do processo.

Nem sempre os melhores mediadores são aqueles que possuem índices significantemente os maiores acordos obtidos, mas sim aqueles que possuem participantes de mediação significantemente mais felizes (MORAIS; SPENGLER, 2012, p. 158).

A forma com que age o mediador é elemento determinante do êxito do processo, eis que sua função principal é restabelecer a comunicação entre as partes, dessa forma deve ser ele um facilitador e educador para que se chegue a melhor solução para aquele conflito.

Talvez o primeiro passo a ser dado na escolha de um mediador seja analisar sua identidade, sendo que essa identidade vá além daquela inata, ou seja, é um identidade adquirida, eis que algumas pessoas são naturalmente inclinadas a mediação, todavia essa deve ser trabalhada para que se chegue o mais perto daquele “ mediador perfeito”.

Interessante destacar a tarefa do mediador trazida por Six citado por Morais e Spengler (2012, p. 160):

Olhar o “3” é tarefa fundamental de todo o mediador, é perceber a terceira dimensão e valorizá-la onde se tem a tendência de aplainar o real e de mostrar o mundo e os

seres em duas dimensões. Fazer o “3” é provocar as pessoas e situações para que elas não se deixem aprisionar no preto e branco, no maniqueísmo. Isso só pode viver tendo o gosto pela complexidade, é a inteligência objetiva da complexidade do mundo, não a ignorância ou a inefabilidade, que pode hoje fundar novamente símbolos do senso comum.

Com tudo isso se percebe que é grande a responsabilidade do mediador pelo andamento das atividades, as partes devem se preocupar apenas com o objeto da discussão, mas quem conduz todo procedimento é o mediador. Dessa forma é fundamental que o mediador seja justo e tenha como base teórica os princípios do direito e os costumes daquela comunidade.

Contribuindo para esse faz se interessante destacar o estudo feito por Willin. E. Skin apresentado pelos autores Morais e Spengler (2012, pg. 160), elencando as dezesseis características que acredita serem fundamentais ao mediador:

1. A paciência de Jó;

2. A sinceridade e as características do bulldog de um inglês; 3. A presença do espírito de um irlandês

4. A resistência física de um maratonista;

5. A habilidade de um half-back de esquivar-se ao avançar no campo; 6. A astúcia de Machiavelli;

7. A habilidade de um bom psiquiatra de sondar a personalidade; 8. A característica de manter confidências de um mudo;

9. A pele de um rinoceronte 10. A sabedoria de Salomão;

11. Demostrada integridade e imparcialidade;

12. Conhecimento básico e crença no processo de negociação; 13. Firme crença no voluntarismo em contraste ao ditatorialismo;

14. Crença fundamental nos valores humanos e potencial, temperado pela habilidade, para avaliar fraquezas e firmezas pessoais;

15. Docilidade tanto quanto vigor;

16. Desenvolvido olfato para analisar o que é disponível em contraste com que possa ser desejável suficiente capacidade de conduzir-se e ego pessoal, qualificado pela humildade.

Outra habilidade importante que deve possuir um mediador é a capacidade de comunicação, pois essa é essencial para que a transação aconteça. Para o bom andamento do processo é necessário que aquele que media seja hábil e se comunique bem, que seja capaz de exprimir seus pensamentos de forma simples e clara, e de receber os pensamentos provenientes das partes de forma a interpretá-los de modo correto.

Em muitos casos de mediação as partes além do interesse pessoal apresentam um estado sentimental abalado, e é preciso que o medidor saiba trabalhar de forma correta para

minimizar essas consequências, pois aquele procedimento que busca o prejuízo da outra quando se fala em mediação, jamais terá êxito. Dessa forma a habilidade de acalmar e aconselhar as partes irá auxiliar o mediador a aumentar o sucesso do trabalho.

Em 1992 e 1994 nos Estados Unidos da América foi criado um documento chamado MODELO-PADRÃO DE CONDUTA DOS MEDIADORES, que vem apresentado pelos autores Morais e Spengler (2012, p. 163-165), no livro Mediação e Arbitragem, sendo que o documento ora mencionado apresenta os seguintes princípios a serem observados:

 Autodeterminação: através desse princípio mostra-se fundamental que as partes possam alcançar um acordo voluntário, sem imposição ou coerção de qualquer tipo, e que essas estejam livres para abandonar o processo quando bem entenderem.

 Imparcialidade: é ponto fundamental para o êxito da mediação que o mediador conduza o processo de forma imparcial e que só atue naquelas questões onde haja a certeza que manterá o seu posicionamento idôneo, e ter a consciência de abandonar o processo se assim não conseguir agir.

 Conflito de interesse: Através desse principio é vedado ao mediador estabelecer qualquer relação profissional futura com qualquer das partes, relacionadas e correlacionadas com a mediação, ou seja, o mediador jamais deve deixar qualquer interesse prevalecer ao bem maior que é a mediação.

 Competência: só pode mediar aquele que possua qualificações necessárias para atender as expectativas das partes.

 Confidencialidade: é vedado ao mediador revelar qualquer informação que de alguma das partes solicite que seja mantida em confidência. Somente revelará informações se as partes consentirem ou por determinação legal.

 Qualidade do processo: deve o processo ser conduzido de maneira justa e diligente observando o principio da autodeterminação das partes. Eis que essas

devem participar de todas as discussões e decidir de que forma vão firmar o acordo e quando vão encerrar a mediação.

 Anúncios ou solicitações: Não devem ser feitas promessas ou garantias, o mediador deve primar pela verdade não só no curso do processo, mas antes dele, inclusive antes de anunciar-se ou se oferecer como mediador.

 Custos: O mediador deve oferecer as partes informações sobre os custos no início do procedimento no que diz respeito a honorários e custos, até para que essas decidam se desejam manter os serviços do mediador.

 Obrigação para com o processo da mediação: devem educar as pessoas de modo que façam o melhor uso possível da mediação e que essa seja acessível a todos aqueles que desejam dela utilizar-se, corrigir abusos que vierem a ocorrer e desenvolver corretamente suas habilidades profissionais.

Em tese é o que podemos falar sobre a figura do mediador, como terceiro imparcial apresentado a proposta da mediação. Agora é necessário adentrar mais precisamente na figura do mediador familiar eis que esse possui certas peculiaridades e o objeto do nosso estudo.

2.2.1 O mediador familiar

O mediador familiar, assim, como em qualquer outra área, deve observar os princípios e objetivos da mediação, entretanto a área familiar exige ainda mais atenção de profissional.

Para se atuar na área de família, o mediador deve conhecer a natureza desses conflitos, com todas as peculiaridades que os mesmos carregam. Deve compreender as transformações que ocorreram nas estruturas familiares e respeitar toda e qualquer forma de família.

É de extrema importância que o profissional que trabalha com a medição desenvolver a sua capacidade de empatia, para conseguir entender o que sentiria, se estivesse no lugar dos envolvidos, reconhecendo sentimentos como dor e raiva entre eles. Para não se envolver emocionalmente pressupõe-se um trabalho pessoal das suas próprias áreas de conflito, o que lhe permite manter um afastamento confortável entre seus próprios problemas, dificuldades e

preconceitos, e os dos mediados. Além disso, o mediador precisa estar muito bem informado sobre as relações entre as famílias, envolvidas, seus problemas, suas configurações e suas significativas implicações nos divórcios. Precisa também reconhecer valores culturais como religiosos, morais e raciais das diversas sociedades. Eis que:

Os mediadores familiares são, sobretudo, homens e mulheres formados para estar atentos às famílias, sejam quais forem […], atentos a tudo que compõe sua vida, a tudo o que possa melhor seu modo de existência, atentos, ao mesmo tempo, a tudo o que pode desequilibrá-las ou destruí-las (SIX apud BREITMANN, 2006, p. 24).

É interessante salientar a diferença entre mediação familiar e terapia de casal, para que ambas as figuras não se confundam. De forma clara o processo de mediação familiar é breve e objetiva solucionar de forma pacífica os problemas dessa natureza, possibilitando uma convivência futura, mesmo depois dos conflitos. A terapia por sua vez, é mais duradoura e objetiva ocasionar mudanças profundas no comportamento dos familiares. Mas a principal diferença encontrada é que na mediação a discussão refere-se ao presente e futuro e na terapia o enfoque principal são os problemas passados. Contribuindo para o entendimento:

É importante ressaltar que a mediação não é terapia e não visa à cura de nenhuma patologia, da área emocional, a ser tratada pelo mediador. Também não pode ser considerada necessariamente como uma disputa, porque o instituto elimina o aspecto adversarial e competitivo; tampouco pode ser considerada como arbitragem, já que não tem como objetivo encontrar uma solução mesmo através de uma sentença (CAPACHAPUZ apud STANGHERLIN, 2007, pg. 40).

O mediador deve frisar a capacidade que os familiares possuem para resolver seus conflitos, sempre deixando claro que ao final da mediação essa deva contribuir para reorganização e manutenção das relações parentais.

Faz se muito importante na mediação familiar à utilização de palavras que serviam para estimular a autoestima dos mediados, eis que geralmente nesses conflitos as pessoas ingressam deprimidas e desanimadas, com forte tendência para sua autodestruição.

Para que se obtenha sucesso na mediação é imprescindível que o mediador conquiste a confiança das partes, principalmente a respeito do conflito familiar. Isso por que as pessoas precisam se sentir confiantes para que assim possam expor seus sentimentos.

É necessário também que o mediador controle as suas próprias emoções, pois este tem de ser imparcial. É um grande desafio a função de mediador principalmente tratando-se de questões de família, onde este deve da melhor forma compreender o dinamismo das relações dessa natureza.

No próximo capítulo será abordado como se deve estabelecer a atuação do mediador em cada caso que envolve os litígios de família, o que irá clarear ainda mais como deve ser a forma de atuação desse profissional. Contudo pode se dizer que o mediador precisa ser provocante e saber cativar as partes para que se essas consigam se comunicar e se reaproximem de certa forma, é necessário também que este possua conhecimento jurídico, com isso faz se interessante abordarmos os perfis e técnicas utilizados pela mediação.

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