• Nenhum resultado encontrado

A MEDIAÇÃO COMO PROCESSO PARA A CRIAÇÃO DE ZONA DE

Considerando os princípios da teoria de Vygotsky, encontra-se presente o estudo sobre as relações entre Aprendizagem e desenvolvimento, que deu origem ao conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), em que é estimulado o desenvolvimento psicológico do indivíduo, com uma perspectiva pedagógica sobre o ensino.

De acordo com Vygotsky, (1984), o desenvolvimento humano pode ser compreendido como Desenvolvimento Real (DR), isto é, o resultado de ciclos de desenvolvimento já completados – o que a criança já é capaz de fazer sozinha, são ciclos consolidados, funções ou capacidades que ela já aprendeu e domina, indica processos mentais já amadurecidos – e Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), aquilo que ela realiza em colaboração com os outros elementos de seu grupo social, ou seja, necessita de assistência de alguém mais experiente como (pai, mãe, professor, colegas, etc). A Zona de Desenvolvimento Proximal define funções mentais que ainda não amadureceram.

A capacidade da criança de realizar tarefas de forma independente, caracteriza para Vygotsky o desenvolvimento de forma retrospectiva. As funções psicológicas que estão presentes no nível de desenvolvimento real são processos de desenvolvimento já completados. Para que se possa compreender o desenvolvimento, Vygotsky propõe que não se deve considerar apenas o nível de desenvolvimento real, mas também o nível de desenvolvimento proximal, ou seja, a capacidade da criança em desenvolver tarefas através de ajudas de outras pessoas

mais capazes, a exemplo dos colegas e dos docentes.

Vygotsky considera que o ensino cria a zona de desenvolvimento proximal, estimulando, por esse ângulo, os processos internos de desenvolvimento. O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal de Vygotsky, assume grande relevância para que os docentes possam avaliar o desenvolvimento dos alunos mediante seus processos de escolarização. Vygotsky explica a zona de desenvolvimento proximal:

A criança é capaz de imitar uma série de ações que ultrapassam suas próprias competências, mas somente dentro de limites. Por meio da imitação, a criança é capaz de desempenhar muito melhor quando acompanhada e guiada por adultos do que quando deixada sozinha, e pode fazer isso com entendimento e independência. A diferença entre o nível de tarefas resolvidas que podem ser desempenhadas com orientação e auxílio de adultos e o nível de tarefas resolvidas de modo independente, é a zona de desenvolvimento proximal. (VYGOTSKY, 1982, p.117)

Nesse sentido, Vygotsky defende que é de fundamental importância definirmos o nível de desenvolvimento da criança, Real ou proximal, pois só assim saberemos estabelecer a relação entre os processos de desenvolvimento da criança e as possibilidades de planejamento do ensino. Assim, Vygotsky defende que a zona de desenvolvimento proximal é uma ferramenta indispensável para analisar o planejamento de ensino, como também assume grande relevância para a obtenção dos seus resultados:

Dessa perspectiva, o ensino não pode ser identificado como desenvolvimento, mas o ensino adequadamente organizado, resultará no desenvolvimento intelectual da criança, fará fugir toda uma série desses processos de desenvolvimento, que não seriam possíveis de modo algum sem o ensino. Assim, o ensino é um fator necessário e geral no processo de desenvolvimento da criança- não dos traços naturais, mas dos traços históricos do ser humano. (VYGOTSKY, 1982, p. 121)

Díaz defende que o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal:

esta ajuda que serve de instrumento dinâmico no percurso de desenvolvimento da aprendizagem, impulsionando a sucessão das etapas da aprendizagem. (DÍAZ, 2011, p. 51)

Por isso, a mediação é considerada responsável para criar Zona de desenvolvimento proximal, e de grande relevância para o processo educacional, pois permite a compreensão da dinâmica interna do sujeito.

Neste contexto, o docente, poderá ter, através da mediação, conhecimento não apenas dos ciclos já completados pelos alunos, como também os que estão em via de formação, exigindo de sua ação docente, o planejamento intencional de atividades e estratégias pedagógicas que propiciem desafios e exigências que favoreçam suas aprendizagens, assim como a investigação e formulação de hipóteses sobre o processo de ensino e aprendizagem, a necessidade de um currículo flexível que atenda as reais necessidades educativas dos alunos – que possui diferentes estilos de aprendizagem- um currículo organizado a partir das interações do sujeito – objeto, que emerge dos processos de interação e reflexão.

Assim, fica evidente que a interação do sujeito com outras pessoas, contribui para o seu processo de aprendizagem, pois a partir dos desafios dessa interação, da ajuda do outro mais experiente, como a de outros colegas, por exemplo, é que se desencadeia o processo de construção, enriquecimento e modificação dos esquemas de conhecimentos.

Pimentel argumenta sobre a ZDP:

A ação na ZDP favorece o desenvolvimento de processos metacognitivos que promovem a regulação e o controle de suas próprias funções psíquicas. Desse modo, a criação de ZDPs, favorece o prognóstico do desenvolvimento da criança e, por consequência, o seu sucesso na aprendizagem. (PIMENTEL, 2012, p.77)

O planejamento de ensino e a gestão, na sala de aula, por parte do docente, pode favorecer para os alunos processos internos de desenvolvimento, desde que estejam pautados na realização de atividades intencionais que possibilitem desafios e exigências para os alunos, o que implica em saber o que esses já sabem fazer sozinhos, assim como conhecer sobre os conceitos trabalhados no grupo, série que

atua, de modo a interagir com os alunos de maneira diversificada, pra que assim possa haver consolidação do conhecimento trabalhado.

De acordo com Pimentel (2012),

numa relação de ensino e aprendizagem, mediar significa fornecer níveis de ajuda, planejados de forma intencional e que se ajusta às necessidades dos educandos. Essa prática de mediação é inerente à ação do professor que presta assistência ao estudante ocupando uma função de andaime10 (PIMENTEL, 2012, p. 71)

É aqui que está a importância da mediação docente para proporcionar, na prática pedagógica, situações didáticas que favoreçam o desenvolvimento dos alunos com dislexia. É na zona de desenvolvimento proximal que a mediação docente é a mais transformadora, pois os processos que as crianças com dislexia já consolidaram como construção do conhecimento, não vão exigir ações externas para serem desencadeados. É na Escola que as atividades educativas são pensadas, planejadas intencionalmente de modo a oportunizar para os alunos o aceso ao conhecimento formalmente organizado. Para Vygotsky (1991) o bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento, ou seja, se dirige para as funções psicológicas superiores - temática discutida nesse trabalho - que estão prestes a serem completadas.

Vygotsky (1997), com base no conceito de zona de desenvolvimento proximal contribui para a chamada educação especial e defende que classes heterogêneas favorecem o desenvolvimento cognitivo da criança com necessidades educacionais especiais, sendo favorável à sua inclusão em classes regulares. Tratando-se das crianças com dislexia, frequentar a sala de aula regular favorece seus processos de aprendizagem, pois as intervenções de outras pessoas, no caso específico da escola, dos docentes e dos colegas é fundamental para o seu desenvolvimento.

De acordo com Rego (1995), o docente assume grande relevância no contexto escolar, pois ele é o elemento mediador das interações entre os alunos e destes com os objetos do conhecimento. O docente assume função privilegiada no

10

Andaime de acordo com a visão de Vygotsky significa que o docente assume a função de apoio e suporte para proporcionar aos alunos condições favoráveis aos seus processos de aprendizagem.

cotidiano escolar, nas intervenções que realiza na sala de aula, isso porque tem mais experiência, informações, contribuindo, assim, com os desafios presentes na construção de conhecimento dos alunos.

Para que o docente possa interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, proporcionando situações didáticas que favoreçam avanços que não ocorreriam espontaneamente é necessário planejar as atividades intencionalmente e conhecer o que os alunos são capazes de fazer sozinhos.

Nesse contexto, é necessário que o docente esteja sempre refletindo sobre os conhecimentos que se propõe a ensinar, como ensiná-los e de que forma poderá mediar intencionalmente a aprendizagem, pois como afirma Coll, Palacios e Marchesi,

empregar conscientemente a mediação social, implica dar, em termos educativos, importância não apenas ao conteúdo e aos mediadores instrumentais (o que é que se ensina e com quê), mas também aos agentes sociais (quem ensina) e suas peculiaridades (COLL, PALACIOS E MARCHESI, 1996, p. 85)

Assim, a mediação docente é fundamental nesse processo para a criação da zona de desenvolvimento proximal, pois como afirma Vygotski (1991), o fator impulsionador dos avanços, no desenvolvimento do aluno, recai sobre a ação da mediação. Nesse sentido, o docente tem papel essencial na construção de novas conquistas psicológicas das crianças que frequentam a escola.