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Cada escola é diferente, em função de uma multiplicidade de variáveis que interagem entre si: história, cultura, estrutura organizacional e o contexto sócio- cultural no qual se insere. Na sala de aula, cada criança apresenta suas particularidades, seus estilos e estratégias de aprendizagem, diversidade de ritmos,

de interesses, de capacidades.

Compreendo que a diversidade existente na sla de aula exige do docente adotar medidas vinculadas à proposta curricular da escola e suas adaptaçoes para atendimento à diversidade, partindo do princípio de que as diferenças individuais são um dos aspectos a ser considerado pelo docente, na sala de aula, para que possa proporcionar situações de mediação que favoreçam a criação da zona de desenvovimento proximal dos alunos (ZDP).

Pensar na mediação docente para o atendimento à diversidade significa pensar na ação docente sustentada nos princípios da educação inclusiva que enxerga a escola como espaço de acesso e permanência para todos os alunos, onde as situações didáticas propostas eliminem a discriminação e dá lugar para procedimentos de identificação, remoção de barreiras para a aprendizagem e permanência do aluno na escola. Para isso, é de fundamental importância a identificação das reais necessidades educacionais que os alunos apresentam no contexto da sala de aula, ou seja, no ambiente escolar.

Santos (2008) argumenta sobre inclusão escolar:

Referimo-nos a construir todas as formas possíveis por meio das quais se busca, no decorrer do processo educacional escolar, minimizar o processo de exlusão, maximizando a participação do aluno, dentro do processo educativo e produzindo uma educação consciente para todos, levando em consideração quaisquer que sejam as origens e barreiras para o processo de aprendizagem. (SANTOS, 2008, p. 24)

Neste direção, ratifico que os fundamentos que norteiam a mediação docente numa proposta de escola inclusiva, implicam no reconhecimento da diversidade das características dos alunos, de modo a atender suas reais necessidades educacionais, assim como, devem respaldar os princípios da educação inclusiva, desafios que implicam na,

inserção de todos, sem distinção de condições lingüísticas, sensoriais, cognitivas, físicas, emocionais étnicas, socioeconômicas ou outras e requer sistemas educacionais planejados e organizados que dêem conta da diversidade dos alunos e ofereçam respostas

adequadas às suas características e necessidades. (PCN – Adaptações Curriculares, 1999, p. 17)

Nesta ótica, a mediação docente com alunos com dislexia, na sala de aula, na perspectiva inclusiva, requer a utilização de adaptações curriculares no planejamento pedagógico, relativas aos objetivos e conteúdos, aos procedimentos didáticos, metodologia, e às atividades avaliativas. A mediação do docente, voltada para atender, de fato a diversidade existente na sala de aula, considera que os alunos têm características próprias e singulares, por isso, é necessário pensar em alternativas que proporcionem suas aprendizagens e os princípios de inclusão.

Nesse sentido, as adaptações curriculares são uma estratégia de planejamento e atuação docente para atender às necessidades de aprendizagem dos alunos, ou seja, são modificações necessárias, realizadas nos diversos elementos do currículo escolar, para adequá-los às diferentes situações, grupos ou pessoas. São medidas educativas, propostas para atender à diversidade, que poderão ser realizadas em diversos níveis.

Para compreender melhor sobre adaptações curriculares, Solé (2001), salienta,

Uma adaptação curricular não é mais do que isso: uma medida ou um conjunto de medidas que buscam flexibilizar e adequar o currículo geral às características dos alunos nos diferentes níveis de concretização: o projeto curricular de centro e as programações de sala de aula. Quando as adaptações têm como destinatário um aluno que apresenta necessidades educacionais especiais, estamos diante de uma adaptação curricular individualizada ACI. (SOLÉ, 2001, p.175-176)

Com base no pensamento da autora, percebo que a flexibilização do currículo é um aspecto presente nas adaptações curriculares. Não podemos deixar de mencionar que a flexibilização do currículo já é uma preocupação presente na prática pedagógica de nossas escolas. Solé (2001) apresenta três tipos de adaptações curriculares, os quais, se referem a aspectos que poderão ser contemplados no planejamento e concretização das referidas adaptações:

Primeiro, de acesso ao currículo e que tratam de modificações que possibilitam ao aluno, por meio de recursos necessários, entrar em contato com a proposta curricular. Estes recursos poderão ser:

a) Pessoais, os quais abrem espaço para que profissionais, especialmente capacitados (fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos, psicopedagogos e outros) atendam aos alunos e orientem a instituição no que se refere aos procedimentos que poderão ser utilizados, inclusive o encaminhamento do aluno para atendimento por diversas áreas;

b) Materiais, consistindo em modificações que se fizerem necessárias para atender ao aluno na sua real necessidade e que abrangerão desde o mobiliário, até os materiais didáticos de uso comum;

c) Arquitetônicos, referentes às modificações realizadas no espaço físico ambiental, visando proporcionar ao aluno o desenvolvimento de sua autonomia.

A autora também argumenta que as adaptações acima poderão ser acompanhadas, ou não, por outras, tais como adaptações pouco significativas, as quais considera que:

O referencial é o currículo geral, mas as estratégias metodológicas e organizacionais, os recursos e o tempo variam de forma a possibilitar que o aluno a quem se dirige possa alcançar as capacidades estabelecidas nos objetivos gerais da etapa.(SOLÉ, 2001. p. 177).

Assim também por adaptações significativas, compreendendo as que já foram realizadas nas adaptações pouco significativas do currículo e outras de caráter mais profundo, nos objetivos e conteúdos que, consequentemente, influenciam nos critérios de avaliação, pois, em algumas situações, acabam sendo transferidos ou abolidos. Estas adaptações, como afirma Solé, são significativas porque “imprimem mudanças substanciais no currículo seguido pelo aluno e porque podem ter consequências significativas na possibilidade de validação de sua escolarização”. (SOLÉ, 2001, p. 177).

As adaptações curriculares pouco significativas, assim como as adaptações significativas, requerem profunda fundamentação teórico-metodológica, e, no caso das adaptações significativas, para serem realizadas, faz-se necessário, primeiramente, que os recursos e componentes curriculares que lhes antecedem sejam esgotados. Um outro aspecto a ser considerado é que ambas devem estar incorporadas ao projeto curricular da instituição de ensino.

A historicidade do pensamento de Vygotsky possibilita a compreensão de que é por meio da atividade que o homem se relaciona com outros homens e transforma o mundo. É através da atividade que o indivíduo desenvolve sua capacidade cerebral. Portanto, a mediação docente, reflete o currículo escolar adotado pelo estabelecimento de ensino. É nesse contexto que as atividades didáticas planejadas e desenvolvidas assumem um papel importante na escola, uma vez que correspondem a uma finalidade e são realizadas mediante um plano de ação determinado, isto é, são direcionadas de acordo com o projeto educacional, que foi definido por Altúnez et al (1992) do seguinte modo:

O projeto educacional da escola é, principalmente um contrato que compromete e vincula todos os membros da comunidade educacional numa finalidade comum. É o resultado de um consenso, (...) é uma oportunidade - principalmente para os professores – de falar de revisar e de discutir as propostas instrutivas, formativas e organizacionais da escola onde trabalham. (ALTÚNEZ et al, 1992, p. 20-22)

O autor enfatiza a importância do projeto educacional, alegando:

Deveria ser o instrumento no qual pudessem ser encontradas as justificativas para as decisões que precisam ser constantemente tomadas na escola. Muitas vezes, devem ser tomadas decisões relativas ao currículo. (...) Também se devem tomar decisões referentes à organização e à gestão da escola (...). (ALTÚNEZ et al, 1992, p.20-22)

Por isso, convém repetir que o projeto curricular assume papel importante na mediação docente, por ser:

o instrumento que há de promover nos professores o debate que conduza à fundamentação de cada uma das decisões que são tomadas na escola, de modo que lhe permitam garantir que a proposta educacional que realiza é, em cada momento, a mais adequada às características e necessidades diferenciais de cada um de seus alunos e alunas. (PARCERIZA, ZABALA, 1996, p. 170-171)

Dessa forma, podemos salientar que, a mediação docente, poderá criar efetivas oportunidades de desempenho, para seus alunos, com vistas a favorecer a

zona de desenvolvimento proximal, pois é a partir da sua prática concreta, decisões e intencionalidade, que surgirão as propostas e modificações no currículo escolar, em função do direcionamento da prática pedagógica. É, nesse contexto, que o docente poderá realizar adaptações curriculares, visando atender às reais necessidades educacionais dos alunos com dislexia.

CAPÍTULO III

3 DISLEXIA: BASES HISTÓRICAS E DIAGNÓSTICO

3.1

TRAJETÓRIA HISTÓRICA E PERSPECTIVAS CONCEITUAIS