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1.5 MECANISMOS ADEQUADOS DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS

1.5.4 Mediação

A mediação é definida, de acordo com Tartuce, como um “mecanismo de abordagem consensual de controvérsias em que uma pessoa isenta e capacitada atua tecnicamente com vistas a facilitar a comunicação entre os envolvidos”.124 Assim, o mediador atuaria, priomordialmente, com a função de organizar a comunicação entre as partes, para que ela se realize de forma eficiente, clara e, assim, ocorra a aceitação do ponto de vista do outro, de tal forma que a decisão do conflito assistirá às partes, jamais ao mediador.

A mediação será necessariamente estimulada por juízes, advogados, defensores públicos, ou ainda, membros do Ministério Público, esta incluída ou não no curso do processo judicial, conforme art. 3º, § 3º do Código de Processo Civil.125 Ademais, a partir do ordenamento brasileiro associado ao conceito previsto no art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 13.140/2015 segundo a qual, a mediação é a atividade técnica exercida por terceiros elementos imparciais, estes escolhidos pelas partes envolvidas, mas sem poder decisório. E esses estimulariam aos requerentes a elaboração de possíveis soluções consensuais para a controvérsia.126

122 BRASIL. Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996. Dispõe sobre a arbitragem. Brasília, DF: Presidência da

República. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9307.htm. Acesso em: 10 nov. 2019.

123 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da

República. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/L13105.htm. Acesso em: 10 nov. 2019.

124 TARTUCE, Fernanda. Mediação no Novo CPC: questionamentos reflexivos. Novas Tendências do Processo

Civil: estudos sobre o projeto do novo Código de Processo Civil. Org.: CAMARGO, Luiz Henrique Volpe; FREIRE, Alexandre; JÚNIOR, Fredie Didier; MEDINA, José Miguel Garcia; DANTAS, Bruno; NUNES, Dierle; Miranda de Oliveira. 2013, p. 749.

125 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da

República. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/L13105.htm. Acesso em: 10 nov. 2019.

126 BRASIL. Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015. Dispõe sobre a mediação entre particulares como meio de

solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública; altera a Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997, e o Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972; e revoga o § 2º do art. 6º da Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em:

Quando a mediação não for realizada pelos componentes dos quadros jurisdicionais, ela é denominada de mediação privada ou extrajudicial. Por outro lado, será judicial quando for efetivada no curso de uma demanda já instaurada, sendo conduzida por mediadores judiciais, previamente cadastrados e habilitados segundo as regras do respectivo Tribunal, designados pelo juiz da causaou indicados pelos Centros (CEJUSCs). A mediação privada ou extrajudicial, conduzida por qualquer pessoa de confiança dos interessados, pode ser subdividida em mediação institucional ou independente. A primeira ocorre quando a mediação é organizada por centros ou associações de mediação. Já a segunda é conduzida por mediadores sem vínculo com qualquer entidade e escolhidos livremente pelas partes.127

A mediação privada constitui mais uma opção para reduzir tempo e custos na solução de conflitos. Embora normalmente ela seja realizada antes da instauração de uma relação processual, nada impede que litigantes em conflito busquem dirimi-lo pela mediação extrajudicial mesmo havendo um processo pendente; nesse caso, é possível requerer a suspensão do feito enquanto participam das sessões consensuais.

A mediação assemelha-se à conciliação, uma vez que ambas visam à autocomposição. Entretanto, essas são diferentes, porque, durante esta, o conciliador tem participação ativa no processo de negociação, o que possibilita, inclusive, sugerir soluções para o litígio, logo indica- se esta técnica para os casos em que não há vínculo anterior entre os envolvidos. Ademais, a conciliação é um processo consensual breve, envolvendo contextos menos conflituosos durante o qual as partes ou os interessados são auxiliados por um terceiro indivíduo, ou seja, neutro à disputa, a fim de solucionar a contenda. Já nos trâmites da mediação, o mediador é um facilitador do diálogo entre as partes, auxiliando-as a compreender as questões e os interesses debatidos, de modo que elas possam identificar, por si mesmas, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.

Quanto à realização durante a mediação do litígio, podem ocorrer diversas sessões entre os envolvidos para que eles encontrem a solução para seus conflitos, por outro lado, a conciliação, habitualmente, é verificada em um ou dois períodos conciliatórios em que o conciliador estimula as partes a comporem-se e efetivarem provável acordo. Dessa maneira, durante a conciliação objetiva-se o acordo, ou seja, as partes, mesmo antagônicas, propõe-se a um consenso e, assim, evitar processo judicial. Em contrapartida, as partes não são vistas como adversárias durante a mediação, logo o acordo é a consequência da real comunicação entre elas. Sendo assim, na conciliação, o conciliador sugere e aconselha às partes. Já na mediação, o

mediador facilita a comunicação, sem induzir as partes ao acordo.128Ademais, ressalta-se, ainda, que os conflitos sempre existiram no convívio social, de algum modo, daí a mediação tornar-se um instrumento na solução dos mesmos, pois há a necessidade de abordá-los em diferentes tempos, lugares e culturas, como as judaicas, cristãs, islâmicas, hinduístas, budistas, confucionistas e indígenas.129

Na Argentina em 1991, foi desenvolvido Programa Nacional de Mediação pelo Ministério da Justiça local para implementar programas de mediação em diversos setores da sociedade como nas escolas e colégios profissionais, empresas, organizações não- governamentais e no Poder Judiciário, como ainda a inclusão da disciplina mediação nos currículos universitários. Além disso, esse programa dispôs a criação de uma escola de mediadores, com experiência inicial relacionada a alguns tribunais de foro cível. Em 1995, foi promulgada a Lei nº 24.573 que instituiu a mediação prévia judicial em caráter obrigatório.130

A mediação, na França, é classificada em institucional e cidadã. Na primeira, o objetivo é evitar que os conflitos surjam por incompreensão entre os usuários e os serviços, assim se evitaria uma ação judicial. Para tanto, os mediadores seriam escolhidos pelas instituições, como o mediador da República, os mediadores judiciais e os constituídos pelas empresas. Na segunda classificação, os mediadores por caracterizarem-se pelo dom de mediar e possuírem a confiança dos indivíduos que os conhecem são formados e sugeridos por associações livres.131

Na Espanha, a Lei nº 1/2001 dispôs a mediação familiar, a imparcialidade do mediador, a sua confidencialidade, seus princípios, como também os acordos obrigatoriamente versados sobre direitos privados dispositivos. Destaca-se que poderá ocorrer a mediação para alguns casos em âmbito público, como nos conflitos entre casais não oficializados, em controvérsias relacionadas ao não pagamento da pensão alimentícia entre parentes ou tutores, o que resultaria na execução de sentenças, dentre outros. São excluídos da mediação pública os conflitos relacionados às empresas familiares e questões sucessórias.132

O Poder Judiciário brasileiro, foco dessa dissertação, instituiu política pública de tratamento adequado aos conflitos jurídicos existentes, com claro estímulo à solução por intermédio da autocomposição, conforme será exposto no próximo capítulo.

128 TARTUCE, 2018. 129 Ibid.

130 SALES, Lília Maia de Morais. Justiça e Mediação de Conflitos. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. 131 SALES, 2004.

2 POLÍTICA PÚBLICA DE TRATAMENTO ADEQUADO AOS CONFLITOS DE