• Nenhum resultado encontrado

2 POLÍTICA PÚBLICA DE TRATAMENTO ADEQUADO AOS CONFLITOS DE

3.2 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA NO PODER JUDICIÁRIO

Como exposto acima, a Emenda Constitucional nº 19/1998 incluiu o princípio da eficiência na Constituição Federal no art. 37, este a ser observado pela administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.303A Lei nº 9.784/99, também, faz referência a este princípio no artigo 2º, caput.304

Moraes conceitua o princípio da eficiência como aquele,

que impõe à administração pública direta e indireta e a seus agentes a persecução do bem comum, por meio do exercício de suas competências de forma imparcial, neutra,

302 RODOVALHO, 2014. 303 BRASIL, 1988.

304 BRASIL. Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Regula o processo administrativo no âmbito da

Administração Pública Federal. Brasília, DF: Presidência da República, 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9784.htm. Acesso em: 19 maio 2019.

transparente, participativa, eficaz, sem burocracia e sempre em busca da qualidade, primando pela adoção dos critérios legais e morais necessários para a melhor utilização possível dos recursos públicos, de maneira a evitarem-se desperdícios e garantir-se maior rentabilidade social. Note-se que não se trata da consagração da tecnocracia, mas, muito pelo contrário, o princípio da eficiência dirige-se para a razão e fim maior do Estado, a prestação dos serviços sociais essenciais à população, visando à adoção de todos os meios legais e morais possíveis para satisfação do bem comum.305

E em acréscimo a isso, Maria Sylvia Zanella Di Pietro expõe dois aspectos acerca do princípio da eficiência,

[...] pode ser considerado em relação ao modo de atuação do agente público, do qual se espera o melhor desempenho possível de suas atribuições, para lograr os melhores resultados; e em relação ao modo de organizar, estruturar, disciplinar a Administração Pública, também com o mesmo objetivo de alcançar os melhores resultados na prestação do serviço público.306

Di Pietro esclarece que, conforme exposto por Hely Lopes Meireles, tal princípio da doutrina italiana corresponde ao dever da boa administração, e este inclui a submissão de toda atividade do Executivo ao controle de resultado; sujeição da Administração indireta à supervisão ministerial quanto à eficiência administrativa; recomendação da demissão ou dispensa do servidor, comprovadamente, ineficiente ou desidioso e, ainda, o fortalecimento do sistema de mérito.307

A fim de confirmar esse entendimento, Fernanda Marinela expõe que o princípio da eficiência exige que,

[...] a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional. Consiste na busca de resultados práticos de produtividade, de economicidade, com a consequente redução de desperdícios do dinheiro público e rendimentos típicos da iniciativa privada, sendo que, nessa situação, o lucro é do povo; quem ganha é o bem comum.308

305 MORAES, Alexandre de. A Reforma Administrativa: Emenda Constitucional nº 19/98. 4. ed. São Paulo:

Editora Atlas S.A, 2001, p. 32.Disponível

em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522474455. Acesso em: 20 maio 2019.

306 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 31. ed. rev. atual e ampl. Rio de Janeiro:

Forense, 2018, p. 122. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530979577/. Acesso em: 16 maio 2019.

307 Ibid.

308 MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo. 12. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 90.

De acordo com Odete Medauar, o princípio da eficiência impõe a realização da atividade administrativa de forma rápida e precisa, para produzir resultados que atendam as necessidades da população.309 Devido à doutrina da eficiência caracterizar-se pela relação custo versus benefício, verifica-se a obrigatoriedade por parte da administração pública direta e indireta de quaisquer Poderes do Estado, visar aos melhores resultados, e, assim, utilizar menos recursos públicos para o alcance das soluções almejadas. Portanto, é dever estatal atuar eficientemente, que corresponderia ao direito dos usuários à prestação de serviço público com qualidade e rapidez. Nota-se, ainda, que não é possível aplicar esse preceito como pretexto de descumprimento da lei, uma vez que é necessário analisá-lo em conjunto com os demais princípios do Direito Administrativo, com a legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade. A título de exemplificar, assiste ao servidor público federal, a produtividade, pois esta é um dos fatores avaliados durante o período de estágio probatório. Além disso, o art. 116 da Lei n. 8.112/90 elenca outros deveres do funcionário público relacionados à eficiência, entre eles, o atendimento com presteza ao público, em geral, e zelo pela economia do material.310 Acrescenta-se ainda, a necessária mudança de mentalidade dos administradores públicos em relação à eficiência da gestão pública, uma vez que não é suficiente o princípio da eficiência ser expresso, na Constituição Federal, sem a intenção de melhorar, de fato, os reais interesses da coletividade, como ainda distanciar-se dos interesses pessoais.

De acordo com modernos publicistas, o controle do princípio da eficiência é objeto de estudo. Por um lado, é primordial o respeito às orientações e prioridades dos administradores públicos, bem como aos recursos financeiros disponíveis, e de outro, não se admite o desrespeito ao princípio constitucional, mas exige-se a aplicação do mesmo. É fato que os controles administrativos e legislativos são legítimos, respectivamente, conforme art. 74 e 70 da Constituição Federal. Em relação ao controle judicial, este é, entretanto, limitado, pois incide apenas diante da hipótese de comprovada ilegalidade, com o objetivo de evitar que os juízes intervenham no círculo da competência constitucional atribuída aos órgãos da Administração.311

309 MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 13. ed. rev. atual. São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 2009.

310 BRASIL. Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8112compilado.htm. Acesso em: 19 maio 2019.

311 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 32. ed. rev. atual. ampl. São

Paulo: Atlas, 2018. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597015904/. Acesso em 20 de maio 2019.

De acordo com José dos Santos Carvalho Filho, há diferença entre eficiência, efetividade e eficácia.

A eficiência não se confunde com a eficácia nem com a efetividade. A eficiência transmite sentido relacionado ao modo pelo qual se processa o desempenho da atividade administrativa; a ideia diz respeito, portanto, à conduta dos agentes. Por outro lado, eficácia tem relação com os meios e instrumentos empregados pelos agentes no exercício de seus misteres na administração; o sentido aqui é tipicamente instrumental. Finalmente, a efetividade é voltada para os resultados obtidos com as ações administrativas; sobreleva nesse aspecto a positividade dos objetivos.312

O ideal é que se produza a atividade administrativa com eficiência, eficácia e efetividade, e esta voltada aos resultados obtidos com as ações administrativas. Todavia, há a possibilidade de a conduta administrativa ser produzida com eficiência, apesar de não deter eficácia ou efetividade. De outro prisma, a conduta pode não ser eficiente, mas em face da eficácia dos meios é, também, efetiva. Admite-se, ainda, condutas eficientes e eficazes que não alcançam os resultados desejados, dessa forma, não ocorre a efetividade.

Como observado no art. 37 da Constituição Federal, é fundamental exaltar o princípio da eficiência pelo Poder Judiciário, ou seja, a administração dos órgãos que compõem esse Poder há de ser eficiente. Dessa forma, a presteza, associada à mínima utilização de recursos, ao objetivar o máximo resultado possível, são necessárias às atividades exercidas pelos agentes públicos deste órgão. No entanto, conforme observado por Muniz, em relação aos processos judiciais existem muitas causas que influenciariam na entrega da prestação jurisdicional, caracterizada como o resultado, diante disso, é essencial ponderar o desvio de um caso processual dos demais. Para esse autor, muitos fatores contribuem para que o tempo de duração seja, relativamente, rápido, uma vez que se considera, normalmente, três fatores na sua análise, como, a conduta das partes, complexidade da causa e administração do Judiciário.313

Não obstante a tal fato, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) expõe os dados do Judiciário em seus relatórios estatísticos, que colaboram para melhor compreensão da situação desse poder. Há pouco tempo, um litigante não afirmaria se o magistrado designado para julgar sua causa era eficiente ou não, ou seja, se este seria célere ou não quando comparado a outros juízes de mesma competência. Em virtude da necessária transparência do Poder Judiciário, o jurisdicionado poderá, progressivamente, exigir maior eficiência do magistrado designado para julgar o seu processo, isto porque não é justo que uma parte tenha seu processo sorteado para

312 CARVALHO FILHO, 2018, p. 37. 313 MUNIZ, 2018.

um juiz com histórico de julgar, lentamente, suas causas e assim, acumular-se-iam processos, enquanto outro com a mesma competência julgaria de maneira célere. Além disso, assiste à sociedade o direito de saber quantos processos aguardam julgamento e qual a previsão do mesmo para cada caso, pois estas questões estão vinculadas aos princípios constitucionais.

No presente contexto, a cobrança da eficiência ao Poder Judiciário recai sobre o magistrado. Dessa forma, a função administrativa do juiz adquire papel significativo, pois ao mesmo tempo que este precise ser ágil, também deve atentar-se aos casos urgentes que requerem melhor administração de seu próprio tempo de forma a atender as preferências legais e, ainda, oportunizar a continuidade nos processos sem preferências.

De acordo com Leonardo Carneiro da Cunha, nota-se a aplicação do princípio da eficiência em várias situações do Poder Judiciário, conforme exposto,

É por isso que a promoção de juízes depende da “aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios de produtividade e presteza no exercício jurisdicional e pela frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento” (CF/1988, art. 93, II, c). Também é por isso que deve haver “cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamento e promoção de magistrados, constituindo etapa obrigatória do processo de vitaliciamento a participação em curso oficial ou reconhecido por escola nacional de formação e aperfeiçoamento de magistrados” (CF/1988, art. 93, IV). A criação do Conselho Nacional de Justiça, pela EC 45/2004, confirma essa dimensão do princípio da eficiência administrativa.314

Portanto, o princípio da eficiência decorre diretamente do art. 37, caput, da Constituição Federal, uma vez explicitamente incluído pela Emenda Constitucional nº 19/1998 e este institui o dever de produzir, com eficiência, atividade estatal e nela se inclui a exercida pelo Poder Judiciário.