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2 A VIOLÊNCIA LETAL CONTRA A MULHER E A (IN)EFETIVIDADE DOS

2.2 Os mecanismos protetivos presentes na Lei Maria da Penha

2.2.3 Medidas protetivas

Para coibir a violência doméstica e a proteção às vítimas, existe a garantia fornecida às mulheres através de medidas protetivas, conforme menciona o artigo 22 da Lei nº 11.340/2006:

Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:

I – suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

II – afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III – proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;

c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;

IV – restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V – prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

§1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público.

§2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6º da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.

§3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial.

§4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos §§ 5º e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).

A lei propõe, portanto, a adoção de mecanismos de proteção à mulher vítima de violência doméstica e familiar, com a possibilidade de concessão de medidas protetivas de urgência e encaminhamento para serviços de acolhimento, atendimento, acompanhamento e abrigamento, se necessário (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2012).

Para o CNJ (Conselho Nacional de Justiça, 2015, s/p) as medidas protetivas da Lei Maria da Penha, garantem a toda e qualquer mulher gozar dos “direitos fundamentais inerentes à pessoa humana e tenha oportunidades e facilidades para viver sem violência, com a preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social”.

Tais medidas devem ser solicitadas na Delegacia de Polícia no momento do registro da ocorrência, ou até seis meses após o registro, bem como ao próprio juiz que tem o prazo de 48 horas para analisar a concessão requerida (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2012). A Lei também assegura à mulher, a proteção com relação ao agressor, vez que esta não pode entregar a intimação ou notificação diretamente a ele.

A Lei Maria da Penha admite que a vítima, durante o registro da ocorrência policial, solicite medidas protetivas de urgência no âmbito do Direito de Família, ou seja, “a vítima, ao registrar a ocorrência da prática de violência doméstica, pode requerer separação de corpos,

alimentos, vedação de o agressor aproximar-se da vítima e de seus familiares, ou que ele seja proibido de frequentar determinados lugares” (DIAS, 2007, p. 80).

O juiz irá apreciar os pedidos da mulher e decretará as medidas protetivas cabíveis, se for o caso. A finalidade de tais medidas é a de resguardar a integridade da vítima, por exemplo: proibição do agressor de se aproximar da mulher e de seus familiares, afastamento do lar, proibição dele frequentar determinados lugares e fixação de pensão alimentícia em favor da mulher e/ou dos filhos, além de outras medidas que poderão ser determinadas.

Cabe também ao juiz possibilitar à vítima outras medidas protetivas de urgência, a depender da gravidade dos fatos, como por exemplo:

Encaminhamento da vítima e seus dependentes para programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento, determinar a recondução da vítima e de seus dependentes ao domicílio, após o afastamento do agressor e determinar o afastamento da vítima do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e recebimento de pensão. Sempre que considerar necessário (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2015, s/p).

Diante da criação da Lei Maria da Penha, os crimes de violência doméstica passaram a ser julgados nos Juizados ou Varas Especializadas de violência doméstica contra as mulheres, juntamente com auxílio de profissionais treinados no atendimento às vítimas. Dessa forma, houve uma mudança significativa no que se refere à proibição da aplicação da Lei n° 9.099/95, suspendendo a punição aos agressores com penas pecuniárias ou a suspensão condicional do processo (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2012).

Neste sentido, apesar de prevista em lei, a implementação dos juizados não é plenamente efetiva, uma vez que faltam profissionais especializados para o atendimento qualificado das vítimas, além de que “a distribuição das 66 unidades judiciárias existentes para julgar exclusivamente as causas de violência doméstica e familiar contra as mulheres não é proporcional nas cinco regiões do Brasil” (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2013, s/p).

Da mesma forma, abrangendo a região Sul e particularmente o Estado do Rio Grande do Sul, também existe a desproporcionalidade de juizados, fato que também atesta o Conselho Nacional de Justiça (2013, s/p), havendo somente um juizado exclusivo:

O estudo mostra que os estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná dispõem cada qual, de apenas uma vara ou um juizado exclusivo da violência doméstica e familiar para atender, respectivamente, a uma média de 5,48 milhões, 5,3 milhões e 3,1 milhões de mulheres. De acordo com a pesquisa, nessa região não se iniciou ainda o processo de interiorização das estruturas de competência exclusiva.

A pesquisa mencionada foi realizada pelo Conselho Nacional de Justiça e intitulada “A Atuação do Poder Judiciário na Aplicação da Lei Maria da Penha”. Em sintonia com a mesma, foi proposta a instalação de “54 varas ou juizados da violência contra a mulher: a maioria em cidades limítrofes, do interior e com grande concentração populacional, para atender de forma adequada à demanda existente”. Caso a proposta se efetive, “o número de varas ou juizados exclusivos da violência doméstica e familiar contra a mulher no Brasil praticamente dobrará, subindo para 120 unidades judiciárias especializadas nesse tipo de atendimento” (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2013, s/p).

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