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A criação do Centro de Desenvolvimento da Caprinovinocultura (CENDOV) pode ser considerada uma iniciativa que vem contribuindo para modernizar e fortalecer a produção de caprinos e de ovinos. Criada no ano de 2001, no município de Monteiro, essa instituição é um dos centros científicos32 responsáveis pela promoção de informações necessárias para o aperfeiçoamento das condições sanitárias e de disponibilização de alimentos, bem como do melhoramento genético do rebanho a partir da inserção de novas raças (Fotografia 5).

32 É necessário destacar as contribuições de outras instituições, como a Estação Experimental de Pendência da

EMEPA, localizada no município de Soledade – PB, e da Estação Experimental da Universidade Federal da Paraíba no município de São João do Cariri – PB.

122 Fotografia 5 – Baners da EMEPA indicando a inserção

de novas raças de caprinos e ovinos

Fonte: Pesquisa de campo, julho de 2012. Acervo: Petrúcio Clécio.

O melhoramento genético dos rebanhos constitui-se no foco principal das iniciativas do CENDOV e de outras instituições parceiras que atuam na região, como a Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (EMEPA), a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A pretensão dessas instituições é de disponibilizar matrizes de caprinos e ovinos com ampla capacidade de adaptação e resistência às condições naturais do Cariri paraibano e de ofertar animais com alta qualidade de produção de leite, carne e peles.

Com essa finalidade, ações como a inserção de novas raças, como as que estão destacadas na fotografia 5, a aquisição de embriões de animais considerados como referências genéticas e a prática da inseminação artificial fizeram com que o rebanho caririzeiro de caprinos e ovinos passasse por um processo de melhoramento genético e de modernização e manejo reprodutivo. A aquisição de embriões, por exemplo, foi amplamente divulgada na imprensa paraibana, como pode ser visto na figura a seguir.

123 Figura 8 – Destaque da impressa estadual em

relação à caprinovinocultura paraibana

Fonte: Jornal da Paraíba, março de 2013.

Além dessas ações, a mudança estrutural na oferta de alimentos também é vista pelos idealizadores do Pacto como uma intervenção que possibilitou avanços positivos na base da cadeia produtiva da caprinovinocultura. A preocupação principal era de estabelecer práticas de aquisição de alimentos que não fossem perecíveis, principalmente nos períodos de seca. Para isso, as ações visavam superar o pensamento único em torno da oferta natural de alimentos impregnada entre os criadores caririzeiros, a qual se constitui de uma essência determinista e conformista, pautada, sobretudo, nas condições climático-naturais. Para os formuladores do Pacto, a superação dessas condições centrava-se na inovação do manejo alimentar, desenvolvido através da inserção de práticas alternativas, como a reserva de alimentos, a adoção e o cultivo de pastagens de espécies nativas e exóticas como complemento alimentar, além do estimulo à produção de feno e de silagem.

Outra ação direcionada à capacitação dos envolvidos na caprinovinocultura é a promoção de melhoramentos de ordem sanitária dos rebanhos e das áreas de criatório nas propriedades, com vistas a superar os entraves decorrentes da imagem negativa dos produtos pela falta da certificação de qualidade. Para desenvolver e inserir produtos de qualidade no mercado, com histórico reconhecido e de procedência produtiva, práticas higiênico-sanitárias passaram a ser incentivadas entre os criadores/produtores. Entre essas ações, destacam-se as campanhas de vacinação preventiva e regular de saúde animal e a melhoria das instalações

124 destinadas ao abrigo, à alimentação e ao manejo dos animais, como currais, apriscos e salas de ordenha.

A essas condições higiênicas correlacionam-se as iniciativas de modernização e modificação das formas de uso dos utensílios e do comportamento do homem do Cariri, uma vez que essas ações vêm possibilitando a inserção dos criadores de caprinos e ovinos do Cariri paraibano em um universo novo e composto por comportamentos e regras distintas do seu contexto e dinâmica habitual, passando a ser envolvido e influenciado por outra lógica, a do mercado.

Para isso, os Agentes de Desenvolvimento Rural (ADRs) exerceram um importante papel no fortalecimento dessa atividade, agindo como um instrumento de controle zootécnico sistêmico do rebanho, auxiliando e disseminando os conhecimentos e as técnicas oferecidas pelos parceiros do Pacto, na tentativa de desenvolver práticas contínuas de capacitação embasadas no modelo de “Boas Práticas Agropecuárias (BPA)” (SEBRAE, s/d, p.26).

Os ADRs são pessoas da comunidade que foram capacitadas “para a atividade com o grau de instrução mínima de nível médio, agregados às associações e apoiados por parceiros33‟ que servem de ligação técnica e de informações entre o produtor e a associação” (SEBRAE, s/d, p. 28). O estímulo à atuação desses agentes visava fortalecer a participação e o envolvimento da população local com os delineamentos das ações e dos projetos do Pacto.

Na leitura realizada pelos sujeitos do Pacto Novo Cariri, a interseção dessas ações de modo conjugada possibilitaria avanços e o aprimoramento dessa atividade econômica, por meio do melhoramento e do aumento dos efetivos de caprinos e ovinos do Cariri paraibano (Tabela 3), criando, dessa forma, as bases de sustentação necessárias para a implantação da cadeia produtiva da caprinovinocultura.

33 Esses parceiros correspondiam a instituições como as Prefeituras municipais, a Fundação Banco do Brasil

(FBB), o próprio SEBRAE entre outras instituições que dão apoio logístico aos ADRs, com a finalidade de possibilitar a circulação das orientações técnicas de modo permanente entre os produtores associados.

125 Tabela 3 – Evolução dos efetivos de caprinos e ovinos do Cariri paraibano (2000 a 2010)

ANOS CAPRINOS (Cabeças) OVINOS (Cabeças)

2000 247.838 113.52 2001 284.463 125.509 2002 294.647 127.398 2003 318.123 134.617 2004 327.508 138.913 2005 312.294 137.097 2006 304.105 134.577 2007 309.136 138.066 2008 316.007 140.825 2009 317.066 145.996 2010 298.363 147.502

Fonte: Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), IBGE (2012).

Para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e o SEBRAE, a maioria do rebanho de caprinos do país está na Região Nordeste. O semiárido nordestino concentra 94% de todo o rebanho nacional e participa com pouco mais de 26% da produção de leite de cabra.

Ainda de acordo com a EMBRAPA (2009), alguns Estados, como a Paraíba e o Rio Grande do Norte, ocupam uma posição de destaque no que se refere à produção de leite de cabra, com cerca de 22.000 L/dia34 e 14.000 L/dia respectivamente. Especificamente no caso da produção paraibana, as condições apresentadas contribuíram para a formulação e atribuição de um “título” por parte do SEBRAE/PB em reconhecimento à Paraíba como sendo o maior produtor de leite de cabra do país. O Estado conta com três regiões produtoras: o Curimataú, o Sertão e o Cariri paraibano, que desponta como a principal região produtora de leite de cabra. Dados do Censo Agropecuário do IBGE (2006) expressam que o Cariri paraibano foi responsável por 3.244.172 litros de leite de cabra, ou seja, 73,14% do total produzido no Estado.