O leite de cabra produzido no Cariri é destinado ao Programa Leite da Paraíba, uma ação do Governo do Estado, em parceria com o Governo Federal, voltada para a compra do
34 Segundo dados do SEBRAE/PB, a produção de leite de cabra pasteurizado do Estado da Paraíba é de 18.000
126 leite de forma direta aos produtores do Estado, o qual, depois de pasteurizado, é distribuído para populações carentes e para a iniciativa privada, principalmente as cooperativas, que beneficiam e diversificam os produtos e destinam-nos para o mercado.
Essas condições são justificadas pelo Pacto através da construção de um sistema integrado de produção composto por etapas e infraestruturas destinadas ao processo de produção e beneficiamento dos produtos da caprinocultura leiteira, seguindo as diretrizes de capacitação propostas pelo Serviço Nacional da Indústria (SENAI) de “Boas Práticas de Fabricação (BPF)” (SEBRAE, s/d, p.31). A construção e o funcionamento das Usinas de Beneficiamento (Fotografia 6) constitui-se na ação inicial desenvolvida pelos idealizadores dos projetos relacionados à caprinovinocultura.
Fotografia 6 – Usina de beneficiamento de leite de cabra do município de Gurjão - PB
Fonte: Pesquisa de campo, julho de 2011. Acervo: Petrúcio Clécio.
De modo geral, as usinas de beneficiamentos inserem-se em uma estrutura evolutiva e com dimensões macro que se apresentam como verdadeiros embriões de cooperativas, as quais atingiriam a condição de uma pequena ou micro empresa. De acordo com o SEBRAE, o Cariri paraibano conta com uma infraestrutura produtiva consolidada, materializada e espacializada (Mapa 5).
127 Mapa 5 – Espacialização da infraestrutura produtiva da caprinovinocultura no Cariri paraibano
Fonte: Pesquisa de Campo, outubro de 2012. Adaptado pelo autor. Elaboração: Priscila Pereira Souza de Lima, 2013.
O processo de construção dessas estruturas se deu por intermédio de financiamentos obtidos pelo Governo Estadual, via projeto COOPERAR35. As principais fontes de financiamento foram o Banco Mundial e o Banco do Nordeste. Devido a essas condições, é evidente que as ações motivadas pelo interesse em materializar a cadeia produtiva da caprinovinocultura foram balizadas pelo discurso de desenvolvimento local, em que os sujeitos promotores do Pacto montaram instrumentos e metodologias necessárias para disseminar a pecuária, com o objetivo de tornar competitivos os produtos de origem caprina e ovina e inseri-los no mercado. Para isso, um conjunto de altenativas foram apresentadas no sentido de aperfeiçoar, melhorar e diversificar a comercialização dos produtos elaborados, sobretudo a partir do leite de cabra (Fotografia 7).
128 Fotografia 7 – Exposição de produtos elaborados pela EMEPA-PB,
a partir do leite de cabra
Fonte: Pesquisa de campo, julho de 2011. Acervo: Petrúcio Clécio.
Para alcançar esses objetivos, as ações do Pacto direcionaram-se para iniciativas que abrangiam desde a capacitação dos produtores36 até a adequação e a construção de infraestruturas necessárias para consolidar uma produção de caracteristicas industriais. As ações desenvolvidas por parceiros, como o Programa de Estudos e Ações para o Semiárido (PEASA), a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB) e a EMEPA, por exemplo, contribuíram para o desenvolvimento de pesquisas direcionadas à qualificação dos produtos oriundos da cadeia produtiva da caprinovinocultura.
A preocupação principal era de estabelecer uma estrutura produtiva, atráves da construção e da organização de um verdadeiro sistema interligado de etapas e procedimentos de tratamento da matéria-prima, que constituiu a base da cadeia produtiva da caprinovinocultura. Essas etapas envolvem desde a produção do leite nas pequenas propriedades até o transporte/entrega e o condicionamento dessa matéria-prima em tanques resfriados, geralmente localizados e estabelecidos em sedes de associações rurais ou de produtores, até as usinas de beneficiamentos onde o leite é processado, beneficiado e destinado para a produção de distintos produtos, como iogurte, achocolatado, queijo, coalhada, doce de leite, lico e bebida láctea.
36 Essas capacitações eram cursos destinados à produção de derivados do leite como: ricota, queijo de manteiga,
leite maltado, queijo pré-cozido, entre outros. Além disso, os produtores tinham acesso a informações sobre a qualidade, as instalações adequadas, a ordenha correta, o transporte, a conservação e a comercialização. Os cursos eram ministrados por técnicos de instituições parceiras, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR/PB.
129 A partir desse modelo, a consolidação do arranjo produtivo local da caprinovinocultura (Figura 9) corresponderia a um mecanismo produtivo-econômico de alcance macroespacial, transformador e reestruturador das dimensões sociais, econômicas e infraestruturais do Cariri paraibano. Para os formuladores das ações do Pacto, o alcance da influência dessa atividade extrapolaria uma série de condições existentes na realidade e possibilitaria o surgimento e a oferta de novos serviços relacionados ao setores de saúde e de educação, ao crédito e ao financiamento bancário, à infraestrutura urbana e ao comércio, os quais seriam desevolvidos em torno da consolidação da cadeia produtiva da caprinovinocultura.
Figura 9 - Grade de conhecimento do Arranjo Produtivo Local Caprinovinocultura
Fonte: SEBRAE/CGEE, 2012.
Nesse contexto, a principal alternativa adotada foi a implantação do sistema de incubadora de indústria. A Incubadora do Agronegócio da Caprinovinocultura do Cariri Paraibano (IACOC), localizada no município de Monteiro, foi inaugurada em 23 de novembro de 2004, com a parceria entre a Prefeitura Municipal, o SEBRAE-PB e a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB). Composta por produtores rurais, empreendedores e empresários do Cariri e de outras regiões, a IACOC surgiu com a pretensão de promover o desenvolvimento econômico, a partir da consolidação de empreendimentos, como miniusinas de leite, abatedouros e outras infraestrutras, e ações destinadas à embalagem, à divulgação, à comercialização e ao armazenamento dos produtos.
130 As iniciativas para inserir a produção local, sobretudo as relacionadas ao leite de cabra, podem ser consideradas como uma das etapas do processo de fortalecimento da cadeia produtiva da caprinovinocultura. Entre os pequenos produtores de leite, os resultados obtidos ainda são pouco expressivos, tendo em vista as dificuldades operacionais decorrentes de interferências políticas, o que compromete a inserção dos produtos do Cariri em outros mercados consumidores. Essas dificuldades são menores quando se trata dos produtos derivados do couro, os quais, nos últimos tempos, vêm tendo grande aceitação no mercado nacional e internacional.