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4 A INTERLOCUÇÃO ENTRE NEUROCIÊNCIAS E EDUCAÇÃO

4.1 Contribuições das neurociências na educação

4.1.3 Memória e sono

A memória é imprescindível para a aprendizagem, o cérebro memoriza experiências que antes passaram pela atenção. A utilização de estratégias pedagógicas que sejam multissensoriais acionará redes neurais múltiplas que estabelecerão conexões entre si. Esse conjunto de neurônios relacionados numa rede é o substrato da memória (GUERRA, 2011). Lent (2010, p. 240), define memória como “o processo de arquivamento seletivo dessas informações, pelo qual podemos evocá-las sempre que desejamos, consciente ou inconscientemente”.

Na área educacional Wolf (2004) destaca que a memorização é vista como algo medíocre. Entretanto, cabe ressaltar que nossa capacidade de memorização é o que nos torna únicos, a memória nos permite aprender por experiências. Memorizar é diferente de aprender, mas para que ocorra aprendizagem é necessário que as informações fiquem retidas em nossa memória (MAIATO, 2013).

Os principais estágios da aprendizagem e da memória, conforme Gazzaniga e colaboradores (2006), são a codificação, o armazenamento e a evocação. A codificação é o

processamento da nova informação e envolve duas fases: a aquisição que corresponde ao registro de informações e a consolidação que cria a representação da informação por meio do tempo em que são gravadas em arquivo de longa duração. O armazenamento se refere à manutenção de registro permanente, que é o resultado da aquisição e consolidação. O resgate da informação seria o processo de evocação.

A memória não possui uma localização única no cérebro. Existe uma integração de regiões como: lobo temporal que armazena memórias de longo prazo, o hipocampo que exerce função na memória declarativa, o tálamo e o hipotálamo que têm conexões que trazem as emoções que neles originam para interferirem na aprendizagem (OLIVEIRA, 2011).

Diante da complexidade que envolve os processos de memória, de acordo com referencial adotado, encontramos variações na classificação dessas memórias quanto à sua terminologia. Entretanto, há consenso que cada tipo de memória resulta em diferente aprendizagem. A Figura 3 representa as divisões dos tipos de memória quanto à duração e ao conteúdo.

Figura 3 - Caracterização dos tipos de memória

Fonte: Adaptado de Vargas, 1995.

Cosenza e Guerra (2011) relatam que a memória pode ser classificada de maneira tradicional levando em conta sua duração. Memória de curta duração, encarregada de armazenar acontecimentos recentes, e memória de longa duração, responsável pelo registro de atividades permanentes. A memória de trabalho tem a função de manter, durante no máximo alguns minutos, a informação que está sendo processada naquele momento. Além de determinar, se a informação recebida é nova ou não, se é importante fazer nova memória, é

responsável também por determinar o contexto em que ocorrem os fatos, acontecimentos ou informações. Diferencia-se das demais por não formar memória consolidada (IZQUIERDO, 2011).

A memória explícita se refere a fatos lembrados e utilizados conscientemente, já a memória implícita é relacionada à manifestação sem esforço ou intenção consciente. Em relação à memória explícita, se diferencia quanto ao tipo de armazenamento que é semântica ou episódica. A memória episódica diz respeito a eventos que participamos ou assistimos. Enquanto a memória semântica a conhecimentos gerais (IZQUIERDO, 2011). Exemplificando, a memória episódica é a lembrança de uma festa, de um livro, de uma paisagem, enquanto a memória semântica é o conhecimento que possuímos sobre determinado assunto como português, matemática, ciências.

Esse tipo de memória, no contexto escolar, é o que ocorre com o aluno que apenas estuda na véspera da prova com o objetivo de almejar boa nota. Todo conteúdo é armazenado na memória de curta duração, passada a avaliação o conteúdo, se não for revisto com diversas estratégias pedagógicas, será rapidamente esquecido.

Guerra (2011) relata que a consolidação da memória não é algo imediato, mas que ocorre pouco a pouco, a cada período de sono, momento em que as condições cerebrais são propicias à neuroplasticidade. Por isso, a importância da reexposição aos conteúdos utilizando diferentes ferramentas pedagógicas com complexidade crescente.

Perpassando essas informações para o contexto de sala de aula, no momento em que o aluno desenvolve uma atividade que necessita evocar o conhecimento que subsidia essa tarefa, ele estará usando a memória semântica. Entretanto, essa evocação é facilitada quando o caminho percorrido até esse conhecimento é apoiado por estratégias pedagógicas amparadas na memória episódica, quando o docente utiliza atividades práticas, jogos, entre outros, que se refere a eventos que esses alunos foram oportunizados.

A consolidação das memórias ocorre, pouco a pouco, a cada período de sono, quando as condições químicas cerebrais são propícias à neuroplasticidade. Enquanto dormimos, o cérebro reorganiza suas sinapses, elimina aquelas em desuso e fortalece as importantes para comportamentos do cotidiano do indivíduo. Dormir pouco dificulta a memorização. Para aprender, precisamos estar despertos e atentos para absorver a experiência sensorial, perceptual e significativa, mas necessitamos do sono para que essas experiências sejam memorizadas e, portanto, apreendidas. Memória não se forma de imediato, “da noite para o dia”. A formação de sinapses demanda reações químicas, produção de proteínas e tempo. Por isso, a aprendizagem requer reexposição aos conteúdos e diferentes experiências e complexidade crescente. Assim, compreendemos a importância da espiral da aprendizagem. Além disso, preservamos na memória o que é importante no cotidiano. Esquecemos o que não tem mais valor, significado ou aplicação para nossa vida. (GUERRA, 2011, p. 6).

Entretanto, para ter boa memória se faz necessário o esquecimento. É por meio dele que ocorre a eliminação de algumas sinapses. A função primordial dessa eliminação é a manutenção de uma vida social e emocional equilibrada. O cérebro elimina algumas memórias de forma seletiva, possibilitando a formação de novas memórias (GUERRA, 2011).