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1 INTRODUÇÃO

2.3 MEMÓRIA GRÁFICA BRASILEIRA

Em outubro de 2017 aconteceu em Caruaru no Armazém da Criatividade um encontro que recebeu a denominação “Memória Gráfica no Agreste”, sobre a coordenação de Paula Valadares, colaboração de Solange Coutinho e a organização dos membros do Laboratório de Tipografia do Agreste (LTA). Durante dois dias (19 e 20) uma série de apresentações reu- niu pesquisadores, mestres e doutores, que expuseram seus

trabalhos desenvolvidos na vertente da “Memória Gráfica Brasileira”, mais do que um conjunto de palestras esta iniciati- va representou o retorno a valorização desta temática e o estí- mulo a realização de novos trabalhos.

A abertura do evento ficou por conta de Rafael Cardoso4

ressaltando a satisfação de verificar que uma ideia originada em modestas reuniões a cerca de quinze anos, mesmo com a sus- pensão das atividades do projeto de pesquisa Memória Gráfica Brasileira continuava rendendo frutos até os dias atuais. O conceito que segundo ele foi idealizado por Egeu Laus5 e com-

plementado pelos demais membros do grupo MGB ainda per- manece ativo.

A memória (do latim memorĭa) é a faculdade psíquica através da qual se consegue reter e (re)lembrar acontecimen- tos do passados e do presente. A palavra também permite re- ferir-se à lembrança/recordação de algo que nos marca afeti- va e emocionalmente, nos ligando a um determinado assunto ou um artefato.

O segundo aspecto do conceito se refere ao termo gráfi- co que neste caso surge como um adjetivo da memória, e tam- bém delimita o campo de estudos. O fazer gráfico diz respei- to a toda forma de expressão que envolva o registro e a difusão de informações verbais e visuais (pictóricas) por meio de tec- nologias de multiplicação e meios de comunicação. No cam- po do design esta ligado à evolução histórica da impressão

4 Escritor e historiador da arte. Possui doutorado em história da arte pelo Courtauld Institute of Art/University of London (1995). Pesquisa história da arte e do design no Brasil, no período 1840-1930. Colabora com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro e atua também como curador independente e perito judicial. Ë autor de vários livros como Uma Introdução a História do Design, Design para um mundo

complexo entre outros. Em 2008 coordenou o projeto de pesquisa Memória Gráfica

Brasileira. Fonte: Currículo Lattes em 06/09/2017.

5 É designer gráfico e atua há mais de 20 anos na área de design e gestão cultural. Ele é responsável por mais de 200 capas de discos de artistas como Renato Russo, Legião Urbana, Luis Melodia, João Gilberto, Pixinguinha, Zé Keti e Jacob do Bandolim. Além de trabalhar criando e concebendo peças de design gráfico, Egeu Laus também é um dos principais pesquisadores sobre a memória gráfica brasileira, tendo nos rótulos de cachaça um dos seus temas mais relevantes. Fonte: http:// www.mapadacachaca.com.br/artigos/rotulos-cachaca-egeu-laus/ , acessado em: 06/09/2017.

tipográfica, desde o século XV, com o desenho de tipos e vai até os atuais sistemas de mídias digitais. Podemos dizer que a identidade visual, estética e cultural das sociedades é formada, entre outras coisas, por seus elementos gráficos, assim a cultu- ra dos impressos é um meio pelo qual a sociedade pode preser- var seus conhecimentos. (MGB, 2007)

Embalagens, cartazes, letreiros, livros, revistas, cardápios, passa- gens, bilhetes, diplomas… Todos temos manifestações gráficas que trazem boas recordações. Estas manifestações gráficas tornam- -se suportes de memória, ilustram uma das mais bem sucedidas relações entre as pessoas e o meio projetado e apresentam uma perspectiva inédita para o entendimento de nossa sociedade e de- senvolvimento de produtos com foco na promoção de experiências memoráveis e sentimentos positivos. (MGB, 2007)

Complementando estas reflexões Priscila Lena Farias (2016: 61) conceitua:

A expressão memória gráfica tem sido utilizada, nos últimos anos, em países de língua portuguesa e espanhola na América Latina, cada vez com mais frequência para denominar uma linha de es- tudos que busca compreender a importância e o valor de artefatos visuais, em particular impressos, na criação de um sentido de iden- tidade local através do design. (FARIAS, 2016, p. 61)

E sobre o início dos estudos em memória gráfica no Brasil e países vizinhos, ressalta:

É apenas no final dos anos de 1980 e dos anos 1990, de acordo com Sturken (2008), que os estudos sobre memória gráfica, se configu- ram como um campo de pesquisa. Os estudos sobre memória gráfi- ca por sua vez tornaram-se mais numerosos e consistentes a partir de 2008. No Brasil, esse ano coincide com o início de um projeto de pesquisa que uniu pesquisadores de universidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, e do lançamento de um site relacionado, ambos nomeados ‘Memória Gráfica Brasileira’. (FARIAS, 2016, p. 62)

Constitui portanto uma linha de estudos relativamente re- cente, e apesar de sua breve existência apresenta uma conside- rável variedade de trabalhos e artefatos estudados. A maioria dos estudos desenvolvidos nesta área, acabam se voltando para o passado remoto, entretanto a memória gráfica não se con- centra apenas no que foi criado no passado, existem artefatos gráficos do presente ou mesmo de um passado relativamente recente, que de alguma forma pode nos tocar e nos remeter a questionamentos que originem ricas pesquisas. Como exem- plo o trabalho realizado por Fátima Finizola (2010), que inves- tigou os letreiramentos populares da cidade do Recife, alguns dos quais eram criados no momento em que a pesquisadora realizava a coleta de dados tratando-se de um artefato de me- mória de um passado recente.

O objeto de estudo desta pesquisa no entanto está inserido no passado remoto, no período destacado por Cardoso (2004) como a gênese do design no Brasil. As ilustrações de Antonio Vera Cruz que remontam sua trajetória enquanto artista grá- fico, estão espalhadas nos acervos da cidade, portanto esta é uma pesquisa em memória gráfica onde os aspectos históricos possuem grande relevância.

Por sua vez, as pesquisas de memória de cunho mais histórico, que se voltam aos impressos que não são mais produzidos, salvaguar- dados em acervos, dificilmente poderão ter seus usuários estuda- dos. Isto ocorre porque estes objetos foram criados num contexto passado e para usuários que dificilmente poderão ser consulta- dos. (ALMEIDA, 2013, p. 33)

Farias (2016, p. 62) destaca como parte do processo de pes- quisa a coleta de imagens, organização e catalogação das mes- mas, algumas vezes dando origem a sofisticadas bases de dados digitais, como um passo necessário para a maioria dos projetos de pesquisa sobre memória gráfica. Esta etapa é um dos objeti- vos do presente trabalho a criação de um banco de dados com as 300 imagens digitalizadas que constituem a obra de Vera Cruz. Além de organizar as ilustrações e informações adqui- ridas no decorrer da pesquisa é uma forma de preservar estes

artefatos que devido a fragilidade do suporte (papel, tecido ou telas) podem deteriorar-se com o tempo e a falta de investi- mentos na manutenção de alguns acervos públicos.

A memória gráfica pode investigar as manifestações gráficas, as per- sonalidades que as desenvolveram, bem como o público a que se des- tinavam [...] Estes artefatos refletem o repertório daqueles respon- sáveis por sua concepção, bem como o imaginário da sociedade de uma época. São verdadeiros instrumentos de pesquisa que podem desvendar o desenvolvimento da técnica e as formas de difusão de informação de uma época. Eles guardam consigo informações relati- vas às nossas memórias individuais e coletivas. (ALMEIDA, 2013, p. 19)

Do estudo da memória gráfica sob a ótica do design da in- formação podem surgir trabalhos com foco na investigação das personalidades pioneiras do design da informação; nas técni- cas de produção e os artefatos criados por eles; como estes ar- tefatos funcionavam enquanto sistema informacional e intera- giam com seus receptores (usuários), dependendo do período temporal em que o artefato foi concebido esta análise só pode ser feita mediante relatos e pesquisas bibliográficas. Esta pes- quisa reconstrói os passos de um dos pioneiros do design em Pernambuco e por meio da exposição de seus desenhos de- monstra aspectos da sociedade e da cultura do período. “Um dos papéis dos estudos em memória gráfica é recuperar mani- festações que marquem a identidade e a memória das socieda- des, de modo a preencher também lacunas em nossa história e na história do design” (ALMEIDA, 2013, p. 20).

Independentemente de como a pesquisa seja conduzida e os aspectos que aborde, o importante é compreender que a memória gráfica desempenha um papel na preservação cul- tural e construção da história do design.

2.4 ESTUDOS EM DESIGN

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