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1 INTRODUÇÃO

2.1 REFLEXÕES SOBRE O DESIGN

2.1.1 O Design Gráfico e o Design da Informação

Antes de falarmos do design gráfico propriamente dito gos- taríamos de destacar o conceito de “gráfico” e de “linguagem gráfica” apresentado por Michel Twyman em um texto publi- cado em 1979 intitulado “A schema for the study of graphic lan-

guage” e revisitado pelo próprio autor em “Further thoughts on

a schema for describing graphic language” de 2002. Para Twyman

“gráfico” é aquilo que é desenhado ou feito visível em respos- ta a decisões conscientes e a “linguagem” é o veículo de comu- nicação. Assim linguagem gráfica se configura como marcas produzidas à mão e/ou por máquinas com o intuito de comu- nicar uma mensagem.

Relacionando a obra de Antonio Vera Cruz ao conceito de Twyman encontraremos bons exemplos de artefatos que representam a linguagem gráfica. Os desenhos de Vera Cruz eram feitos a mão, a maioria na pedra litográfica, e passa- vam posteriormente pela máquina no momento da impres- são onde eram transmitidos ao papel na prensa. As ilustrações criadas principalmente para as revistas ilustradas transmitiam mensagens e informações para a sociedade, até os analfabetos que constituíam uma boa parcela da população brasileira nos fins do século XIX poderiam visualizar e tentar entender mes- mo sem o auxílio textual o significado dos desenhos.

Nos estudos de Twyman (1985) é proposto ainda um esque- ma que permite a compreensão das diferentes formas de uso e de representação da linguagem gráfica, ao relacionarmos o mes- mo com campo do design gráfico podemos dividir a linguagem gráfica nos seguintes modos de simbolização: verbal-numérica

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Figura 1 - Ilustração Central de O Diabo

a Quatro, na historieta em quadrinhos

cada cena desenhada é acompanhada por texto-legenda, caracterizando os modos de simbolização pictórico e verbal citados por Twyman (1985) Litogravura | Antonio Vera Cruz 17.10.1875 | nº 15

quando é expressa por texto e/ou dígitos; pictórica quando é expressa por desenhos e fotografias; ou esquemática quando é expressa por símbolos e esquemas. Uma peça gráfica pode con- ter até os três modos de simbolização da linguagem gráfica, nos desenhos de Vera Cruz é possível visualizar os modos verbal- -numérico, na presença de texto-legenda que acompanham di- versas ilustrações [Figura 1]; e o pictórico além das gravuras li- tografadas, Vera Cruz também utilizou fotografias [Figura 2] na fase final de sua produção artística. Mais detalhes de sua obra e exemplos serão demonstrados nos próximos capítulos.

O design gráfico é uma área do design que comunica visual e graficamente utilizando textos, imagens ou esquemas (como destacado anteriormente por Twyman, 1985) a fim de informar, identificar, sinalizar, organizar, estimular, persuadir e entreter, resultando na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Esta prática envolve um conjunto de habilidades cognitivas, estéticas e conhecimentos em tipografia, artes visuais (cores, formas, tex- turas, imagens e sons) e diagramação de páginas, para a criação de soluções visuais a problemas de comunicação.

Para o professor e designer gráfico André Villas-Boa (1999, p. X), “design gráfico é a área de conhecimento e a prática pro- fissional específicas que tratam da organização formal de ele- mentos visuais (tanto textuais quanto não-textuais) que com- põem peças gráficas para reprodução.”

A ADG (Associação dos Designers Gráficos do Brasil) clas- sifica o design gráfico como “um processo técnico e criativo que utiliza imagens e textos para comunicar mensagens, ideias e conceitos com objetivos comerciais ou de fundo social”. O designer gráfico, pode desenvolver mensagens visuais que equacionam sistematicamente dados ergonômicos, tecnoló- gicos, econômicos, sociais, culturais e estéticos, que atendam concretamente às necessidades humanas.

Meggs (2009) associa suas origens desde o momento em que o homem começou a fazer pinturas em cavernas; mas sua con- figuração enquanto ofício começa a tomar forma no século XV quando Johannes Gutenberg inicia atividades impressoras na Europa com a técnica dos tipos móveis que adaptou do Oriente.

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Figura 2 - Homenagem do Ginásio Ayres Gama a Joaquim Nabuco. Ao centro o homenageado surge em uma fotografia, ao seu redor os demais elementos foram desenhados, acompanhados de textos e numerais completam o quadro,caracterizando os modos de simbolização pictórico e verbal-numérico

Desenho de Antonio Vera Cruz 18. 04.1910

Mais tarde no século XVIII quando a Revolução Industrial trou- xe consigo uma infinidade de produtos, aflorou-se de vez a ne- cessidade da comunicação visual e com a confecção de cartazes, capas e miolos de livros, logotipos, anúncios e periódicos que ti- nham a função de informar, despertar a atenção e o desejo do público, as primeiras tipografias e gráficas se firmaram pelo con- tinente europeu, chegando ao Brasil apenas no século XIX, pe- ríodo do recorte temporal deste trabalho.

No início o design gráfico estava limitado a planos bidimen- sionais voltado para a impressão em papel, tecido ou madeira, os trabalhos de Vera Cruz por datarem do final do século XIX e início do XX apresentam esta limitação. Entretanto, as mu- danças tecnológicas repercutiram no campo de atuação destes profissionais, e hoje os designers gráficos também estão traba- lhando em projetos que não precisam necessariamente ser im- pressos como: websites, animações, atividades interdisciplinares ligadas a propaganda, a publicidade e ao marketing. Vale ressal- tar, no entanto, que projetos que serão materializados além dos displays de computadores, smartphones ou tabletes, sendo im- pressos em algum tipo de suporte (papel, plástico, tecido, ma- deira, entre outros) ainda são o foco principal e representam a maior procura pelos serviços de um designer gráfico.

O design gráfico tem uma proximidade a outros campos do design como: o tipográfico (na criação e desenho de tipos); editorial (na diagramação de panfletos, folders, periódicos, li- vros, entre outros); de embalagens (tanto no projeto gráfico quanto na impressão das mesmas); e da informação que abor- daremos em detalhes na sequência.

Segundo Araújo (2010, p. 96) “podemos definir informa- ção como sendo a organização física de dados, códigos, pen- samentos, ideias ou fatos que são processados e manipulados com um objetivo a ser transmitido”. O modo como a infor- mação pode ser organizada e transmitida as pessoas é o cerne fundamental do design da informação ou infodesign como também é conhecido.

O International Institute for Information Design – IIID, fundado na Áustria em 1986, caracteriza o design de informação

como “a definição, planejamento e modelagem dos conteú- dos de uma mensagem e do ambiente em que ela é apresenta- da, com a intenção de satisfazer às necessidades de informação dos destinatários.” (IIID, 2007).

A Sociedade Brasileira de Design da Informação – SBDI, fundada em outubro de 2002 no Recife, reúne pesquisadores, docentes e profissionais da área de design, que atuam em sis- temas de informação e comunicação, tendo por missão insti- tucional contribuir para o desenvolvimento científico e tecno- lógico do Design da Informação no Brasil, o definindo como:

Uma área do design gráfico que objetiva equacionar os aspectos sintáticos, semânticos e pragmáticos que envolvem os sistemas de informação através da contextualização, planejamento, pro- dução e interface gráfica da informação junto ao seu público alvo. Seu princípio básico é o de otimizar o processo de aquisição da informação efetivado nos sistemas de comunicação analógi- cos e digitais. (SBDI, 2006)

A SBDI relaciona o design da informação ao design gráfi- co assim como Shedroff (2000) afirma que os princípios do de- sign de informação têm origem no design gráfico e editorial, talvez por se tratar de um conceito mais recente alguns auto- res façam esta relação de dependência e origem entre ambos, preferimos considerá-los mais como conceitos que se relacio- nam e interagem entre si. Ainda segundo Shedroff, a discipli- na tem como objetivo organizar e apresentar dados, transfor- mando-os em informação com sentido e valor. Seu objetivo não é substituir o design gráfico e outras disciplinas visuais, mas oferecer a estrutura necessária para que elas expressem suas capacidades.

Já Gui Bonsiepe (1999) o caracteriza como um domínio em que os conteúdos são visualizados por meio de seleção, ordena- mento, hierarquização, conexões e distinções visuais que permi- tem uma ação eficaz, Sendo o refinamento da informação uma atividade dos designers da área. Destaca ainda a dimensão do al- cance do design da informação citando possíveis áreas de atua- ção como: projeto de interfaces, imagens médicas, diagramas e

manuais, mapas e planos de orientação digitais, design de infor- mação para crianças, design de informação para televisão, ge- renciamento de informações, entre outros.

Frascara (2004) destaca duas etapas na construção do de- sign da informação: a organização da informação e o plane- jamento de sua apresentação, tais tarefas exigem a habilida- de de processar, organizar e apresentar mensagens de maneira verbal e não verbal, uma vez que a acuidade visual e a com- preensão devem ser as preocupações centrais. Em outro texto de 2011, Frascara ressalta outras características que a informa- ção adquire quando é realizado um bom trabalho por parte do designer, ela se torna acessível, disponível de maneira fácil;

apropriada ao conteúdo e ao usuário; atrativa, convidando

a ser lida ou compreendida; relevante, de acordo com o ob- jetivo do usuário; oportuna, estando onde e quando o usuá- rio necessita dela; e ainda confiável, completa, concisa, com-

preensível e apreciada por sua utilidade. Uma peça gráfica

bem organizada e planejada convida a ser usado, reduz o can- saço e erros no processamento das informações.

Almeida & Coutinho (2012, p. 2) apontam que “Entende- se o design da informação como uma área de conhecimento/ atividade multidisciplinar que atua sobre a configuração da in- formação para que a mensagem transmitida seja otimizada, sis- tematizada e direcionada para satisfazer o seu usuário, num determinado contexto”. As autoras acrescentam um detalhe in- teressante as definições anteriores a multidisciplinaridade des- tacando a sua relação com outras áreas do conhecimento, além do campo gráfico como as ciências exatas e de saúde, das quais por vezes recebe as informações e mensagens a serem trabalha- das e organizadas.

No cenário da sociedade contemporânea onde a veloci- dade de propagação nos meios digitais faz com que sejamos bombardeados por milhares de mensagens e informações num único dia, o design da informação tem se tornado além de uma profissão técnica, uma necessidade social, pois possi- bilita que o grande volume de informações com que lidamos

seja transmitido de maneira mais organizada, clara e objetiva, seja seu suporte físico ou digital.

Assim os designers da informação facilitam a transferência de conhecimento ao tornar a informação - fornecida por aque- les que a sabem - acessível e compreensível àqueles que não a sabem, mas desejam saber. Relacionamos este tipo de ativida- de ao trabalho desenvolvido por Antonio Vera Cruz e outros artistas gráficos do século XIX, que mesmo antes da existência do termo design (da informação), já organizavam e apresenta- vam visualmente as matérias e acontecimentos descritos nos periódicos ilustrados, através de divertidas gravuras que comu- nicavam e transmitiam conhecimento e estavam repletas de significados, auxiliando inclusive na compreensão dos não le- trados que poderiam encontrar nas imagens uma forma de en- tendimento dos fatos que marcavam a sociedade do período.

No decorrer dos capítulos algumas ilustrações da obra de Vera Cruz serão apresentadas, e será possível aos nossos olhos do século XXI verificar como as características do design gráfico e da informação descritas anteriormente estão presentes nas mesmas.

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