• Nenhum resultado encontrado

5. DEZ ANOS DO 11/09: A MEMÓRIA NA TESSITURA DO

5.4 THE NEW YORK TIMES

5.4.1 A MEMÓRIA NO NEW YORK TIMES E OS DEZ ANOS DO 11/09

210

Um histórico mais detalhado sobre o The New York Times pode ser encontrado em Viana e Lima (2011).

211 Informações disponíveis em: <http://nymag.com/news/features/all-new/53344/>. Acesso em: 20 de novembro

de 2012.

212

A notícia pode ser conferida no portal G1. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/midia-e-

marketing/noticia/2012/10/new-york-times-anuncia-lancamento-de-edicao-digital-para-o-brasil.html>. Acesso

A possibilidade de aceder à edição do dia do The New York Times fica explícita no momento de acesso ao site, que mantém a seção Today’s paper entre as quatro principais na parte superior do site (ver Anexo H). A página permite o acesso livre aos sete últimos dias de publicação do jornal em suas duas edições diárias: regional (Nova York) e nacional (Estados Unidos), e suas edições europeia e asiática, denominadas International Herald Tribune. Os usuários também podem navegar pelos tópicos (Times topics213), que reúnem todas as notícias, os áudios, as fotos, os gráficos e os vídeos publicados sobre temas importantes desde 1981. A página traz um assunto principal, com uma imagem grande em destaque, seguida de temáticas que estão em pauta na mídia (In the news), as últimas atualizadas (Recently updated) e também de interesse (Also of interest). A navegação nessa página pode acontecer pelos tópicos listados em ordem alfabética, numérica, ou em quatro filtros: pessoas (people), assuntos (subjects), lugares (places) e organizações (organizations) – ver Figura 32.

Figura 32 – Página principal dos Tópicos do New York Times.

213 Endereço dos Times topics. Disponível em: <http://www.nytimes.com/pages/topics/>. Acesso em: 29 de

Enquanto o The Guardian coloca o obituário como um gênero, o The New York Times põe seu obituário (Obituaries214), que possui uma conta no Twitter215 com mais de 7700 seguidores216, como uma seção na página principal217. Na coluna principal e maior, à direita, as publicações são postas em ordem cronológica inversa, enquanto na outra coluna seleciona- se em seu primeiro quadro de links para se acessar as mortes notáveis (Notable deaths) de 2007 a 2012 (ver Anexo J). Há, ainda, a Times machine218, uma página exclusiva para assinantes que contém seu arquivo digitalizado de 1851 até 1922, último ano em que seu arquivo se torna domínio público. Como em praticamente todos os sites jornalísticos, o sistema de busca fica na parte superior. Após realizar a pesquisa, pode-se ter conhecimento dos 10 assuntos mais populares e colocar alguns filtros, como ordenar por mais novos (newest), mais antigos (oldest) ou relevantes (relevance). Outros filtros podem ser cruzados: data (que compreende períodos específicos selecionados a partir de 1851), tipo (artigos, blogs, multimídias, vídeo, receitas e perguntas mais frequentes – ou FAQ), autor e editoria/seção.

Diferentemente do já percebido nos especiais dos demais jornais estudados, o The New York Times desenvolveu uma arquitetura diferenciada para celebrar o decenário dos atentados do 11/09 com suas 61 publicações. Ainda que possua as três colunas, a página é um produto novo, que não respeita ou mantém o layout e a diagramação do site do jornal (ver Anexo D). Existe, de fato, um desenvolvimento específico para os dez anos dos ataques, inovando, por exemplo, através da arquitetura da informação, com uma navegabilidade útil por meio de nove subseções: A década (The decade); Aquele dia (That day); Guerra no exterior (War abroad); Guerra em casa (War at home); Recordação/Lembrança (Remembrance); Reconstrução (Rebuilding); Muçulmanos agora (Muslims now); Estado de espírito do 11/09 (9/11 state of mind); Retratos redesenhados (Portraits redrawn).

Cada subeditoria agrega alguns conteúdos em torno de uma temática e que sempre ficam visíveis no canto direito da tela. Essa possibilidade de navegação não permanece apenas na página principal, mas em praticamente todas as publicações do especial acerca dos dez anos do ataque. As matérias não podem ser “abertas” em outra página, não permitindo que o

214

Endereço do Obituário do The New York Times. Disponível em:

<http://www.nytimes.com/pages/obituaries/index.html>. Acesso em: 29 de outubro de 2012.

215 Endereço do NYT Obtuaries no Twitter. Disponível em: <https://twitter.com/NYTObits>. Acesso em: 19 de

janeiro de 2013.

216

Os números da conta no Twitter do NYT Obituaries do The New York Times são equivalentes a 19 de janeiro de 2013.

217 The Guardian também tem a seção “Obituário” em sua página principal, mas em espaço destinado às

publicações diárias no jornal, o Today’s paper.

218 Endereço do Times Machine, no The New York Times. Disponível em:

leitor acesse mais de um conteúdo por clique/vez – isso ocorre porque o site é desenvolvido em HTML com links para JavaScript. Baseado na colaboração e na participação dos seus leitores, o especial do The New York Times dividiu todos os seus conteúdos em grandes temas (as subeditorias já citadas), nos quais sempre há ao menos uma publicação somente com comentários e uma com dados e números sobre questões daquela subseção específica (ver Figura 33).

Figura 33 – Publicações baseadas em comentários dos leitores e dados.

As frequências dos dados das 61 publicações do The New York Times produzidas para o especial dos dez anos do 11/09 podem ser acessadas no Apêndice E, por meio de tabelas. O hibridismo de gêneros, de modo similar à Folha, é predominante, por estar presente em 49,2% das publicações, a reportagem em 29,5% e o artigo ou crítica em 10 16,4%. Como nos jornais acima analisados, a multimídia é o que mais aparece (54,1%), seguido do texto sozinho (18%) e do texto acompanhado de hipermídia (14,8%).

Como no Guardian, não encontramos uma publicação apenas com link intertextual, embora os sozinhos internos estejam em 57,4% dos materiais e os intra e intertextuais em 39,3%. Os conteúdos com links internos e externos devem muito aos “index”, as matérias baseadas em dados e números sobre questões de determinada subeditoria (ver Figura 34). Ainda similar ao jornal britânico, não encontramos links apenas na narrativa, mas fora dela em 47,5% das ocasiões e inseridos e fora da narrativa em 49,2%. Os números ainda continuam similares quando observamos a natureza dos links, com 47,5% dos materiais

apenas contendo imóveis e 49,2% mesclando imóveis e móveis. As fontes da memória em quase todas as publicações são apenas os sites (83,6%), não outros lugares do ciberespaço, como os blogs, as redes sociais, os fóruns, entre outros.

Figura 34 – Recorte da publicação com dados que contêm links externos e internos219.

Na canibalização, representada pelo deslocamento e transporte e pela minimalização e substituição, verificamos 72,1% das publicações com conteúdos inéditos e repetidos, enquanto em 24,6% existem apenas os repetidos, novamente mais próximos aos números do Guardian. Como no jornal britânico e na Folha, as focalizações global (49,2%) e local (50,8%) são praticamente iguais. Diferentemente dos outros jornais, a transmidialidade é quase nula, aparecendo apenas cinco vezes, enquanto 91,8% das publicações não são transmídia. Como no Guardian, os conteúdos são publicados, majoritariamente, por meio de um longo período (86,9%). E, como nos outros veículos, predomina o enfoque da sociedade, tornando o conteúdo mais compreensível (77%). As fontes datam quase todas de mais de uma década (72,1%), enquanto algumas poucas são da década atual (26,2%). Os materiais são praticamente todos de livre acesso ao público (91,8%). Os conteúdos relacionados o são de modo apenas intrínseco ao fenômeno em 67,2% dos casos, e extrínseco e intrínseco em 32,8%. A atualização ocorreu em 21,3% publicações, sendo duas somente para contradizer algo que haviam colocado e 18% tanto para ampliar e confirmar como para contradizer.

Embora o enquadramento temático mostre o aspecto da Lembrança e consequências do 11/09 e dos seus atores como majoritário (41%), verificamos proporções mais equilibradas

219 War by the Numbers. Disponível em: <http://www.nytimes.com/2011/09/08/us/sept-11-reckoning/index-war-

do que nos outros jornais. Celebração do 11/09 e homenagem às vítimas apareceu, por exemplo, em 18% das matérias, Imperialismo e poder americano em 13,1% e Segurança e novos atentados aos EUA em 11,5%, além de outros observáveis no Gráfico 7. A disposição do conteúdo, apesar de diversa, concentra-se em quatro posições: chamada no centro, com 24,6% publicações; chamada acima e central com foto, com 16,4% cada; e inferior com foto, com 14,8%. A editoria Internacional/Mundo é, mais uma vez, a mais requisitada (78,7%), ainda que encontremos matérias em Arte e Cultura (9,8%), Economia (6,6%) e Nacional (4,9%). A conotação das publicações traz um equilíbrio, apesar do tom negativo prevalecer (47,5%), seguido do neutro (36,1%). A quantidade de matérias com ação ritual e incorporação é igual, com 83,6% cada. Há, inclusive, um infográfico220 que traz a imagem e algumas frases dos trabalhadores que ajudaram a construir o memorial em homenagem às vítimas do 11/09.

Gráfico 7 – Enquadramento temático no New York Times.

No The New York Times, a incorporação da memória traz os números mais distintos, em comparação com os outros jornais. Aqui, a necessidade sozinha é a forma mais comum, em 29,5% das matérias, apenas o convite aparece em 23% e a associação entre convite e indulgência em 19,7%. Outras formas de incorporação trazem números relevantes, conforme exposto no Gráfico 8.

220 The Workers. Disponível em: <http://www.nytimes.com/interactive/2011/09/08/us/sept-11-reckoning/wtc-

workers.html>. Acesso em: 18 de dezembro de 2012. 0 5 10 15 20 25 Ataques e guerras semelhan tes Imperialis mo e poder american o Respeito aos islâmicos e aos muçulma nos Posiciona mento dos EUA e Guerra ao Terror Seguranç a e novos atentado s aos EUA Celebraçã o do 11/9 e homenag em às vítimas Lembranç a e consequê ncias do 11/9 e dos seus atores Frequência 4 8 5 1 7 11 25

Gráfico 8 – Incorporação da memória no New York Times.

No Apêndice I desta dissertação, apresentamos todos os cruzamentos realizados com os dados do The New York Times. Na associação entre enquadramento temático e incorporação da memória, Lembrança e consequências do 11/09 e dos seus atores, com seus 41% das publicações, esteve mais relacionada com a incorporação da memória por necessidade (19,7%). O inverso também é observado, se considerarmos que a necessidade esteve em 29,5% das matérias. Esses dados revelam uma intenção de lembrar aspectos do acontecimento e das consequências do 11/09, enfatizando, sobretudo, seu caráter decenário. A incorporação por convite e indulgência (23%), esteve disponibilizada em todos os enquadramentos. Os 11,5% das matérias por incorporação pelos três modos estão praticamente todas (9,8%), relacionadas com a temática Lembrança e consequências do 11/09 e dos seus atores.

O cruzamento entre incorporação da memória e gênero revela que mais da metade das matérias por necessidade (18%), relaciona-se com o hibridismo de gêneros; o inverso também traz uma alta correlação. Esse fato ocorreu graças à participação e à colaboração dos leitores, dos quais o The New York Times se valeu para criar suas produções próprias e com caráter distinto e específico. Um exemplo está no infográfico com o mapa do planeta Terra que marca onde as pessoas estavam no dia do atentado, sendo interativo através dos filtros dos sentimentos de cada leitor (ver Figura 35). Quando a memória é incorporada por necessidade, convite e indulgência, a correlação com hibridez de gênero engloba quase todos os produtos (8,2%). A incorporação por necessidade (29,5%), possui metade de seus conteúdos

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Necessida de Convite Necessida de e Convite Necessida de e Indulgênci a Convite e Indulgênci a As três formas Frequência 18 14 9 1 12 7

relacionados com o formato multimídia (14,8%). Materiais que possuem apenas texto (18%) têm 9,8% de relevância com a incorporação por necessidade. A predominante multimídia (54,1%) está presente em todas as formas de incorporação, com convite e convite e indulgência com 13,1% das publicações cada.

Figura 35 – Infográfico interativo desenvolvido através da participação dos leitores221.

Embora Lembrança e consequências do 11/09 e dos seus atores esteja em 41% dos conteúdos, sua disposição na página não lhe confere destaque exacerbado, com a foto no topo indo para uma matéria de Celebração do 11/09 e homenagens às vítimas. Diferentemente dos outros jornais, o que estava em destaque não foi a publicação do decenário, tendo em vista que ficou majoritariamente no meio da página dedicada ao especial. No tocante à incorporação da memória, dos 19,7% das matérias de convite e indulgência, 9,8% estiveram na parte superior do especial, seja apenas em texto ou acompanhadas por foto. Por fim, temos o cruzamento entre incorporação do link e sua natureza, na qual observamos que todos os 47,5% das matérias que traziam links apenas fora da narrativa tinham um caráter imóvel. E, de modo similar ao Estadão, quando o link está incorporado tanto na narrativa como fora dela, ou mesmo quando a natureza do link é móvel e imóvel, existe uma correlação total entre esses dados, independentemente da ótica avaliada. São, ao todo, 49,2% das matérias contendo links imóveis e móveis e incorporados e fora da narrativa.

221

Where Were You on Sept. 11, 2001?. Disponível em:

<http://www.nytimes.com/interactive/2011/09/08/us/sept-11-reckoning/where-were-you-september-11- map.html>. Acesso em: 18 de dezembro de 2012.

Na próxima seção, realizamos uma breve revisão dos conceitos propostos ao longo da dissertação, discutindo, principalmente, os dados apresentados neste capítulo, a fim de relacionar os quatro jornais analisados e demonstrar as similaridades e as distinções do uso da memória nos especiais dos seus sites sobre o decenário do 11/09. Ao apresentar as limitações encontradas em nossa metodologia, fazemos uma proposta de aspectos analíticos que buscam contribuir para futuras investigações sobre a relação (web)jornalismo e memória, sobretudo em ocasiões distintas daquelas encontradas por nós. Em outras palavras, propomos categorias para avaliar a utilização da memória na prática jornalística diária – não apenas em caso de celebração/comemoração –, não necessitando que o conteúdo seja destinado para espaços próprios e específicos, como os especiais. Por fim, as conclusões se referem ao proposto neste trabalho e representam apenas um passo inicial de uma pesquisa mais ampla sobre memória e meios de comunicação/mídia, a ser ampliada e aperfeiçoada pela noção de “guerra de memórias”, que propomos discutir em uma pesquisa já de caráter doutoral, permitindo-nos uma análise mais complexa da memória em produtos midiáticos.