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4. ANÁLISE DE DADOS

4.2. Mensuração dos Constructos

A primeira parte da análise foi confirmar que os construtos apresentavam validade convergente. A avaliação foi iniciada pelos constructos que representam as variáveis independentes. A validade convergente avalia o grau no qual duas medidas do mesmo conceito estão correlacionadas e para que a validade convergente seja aprovada as cargas devem ser pelo menos maiores ou iguais a 0,5 e os valores-p dessas cargas menores que o nível de significância de 5% (HAIR ET AL., 2005). As correlações dos indicadores devem ser altas com os constructos para os quais foram ligados e baixas com os outros fatores extraídos na análise.

Na Tabela 3 estão exibidas as cargas fatoriais e pode ser observado que nenhum dos indicadores apresentou problemas, sendo possível confirmar a validade dos constructos relacionados às variáveis independentes, os quais foram criados para representar os estilos de liderança:

Tabela 3 - Matriz de Cargas Fatoriais - Variáveis Independentes - Mensuração Inicial

LidTransfor LidTRC LidTGA Laissez P value

LFA1 0,636 0,212 -0,011 0,119 <0,001 LFA2 0,663 0,148 -0,089 0,107 <0,001 LFA3 0,804 0,089 -0,137 -0,060 <0,001 LFA4 0,761 -0,032 0,080 -0,142 <0,001 LFC1 0,740 0,253 -0,102 0,076 <0,001 LFC2 0,710 0,061 0,003 0,001 <0,001 LFC3 0,678 0,036 -0,108 0,039 <0,001 LFC4 0,713 0,135 0,121 0,032 <0,001 LFM1 0,702 -0,037 -0,095 -0,028 <0,001 LFM2 0,819 -0,060 0,126 -0,126 <0,001 LFM3 0,831 0,146 -0,080 0,072 <0,001 LFM4 0,746 0,081 0,077 -0,201 <0,001 LFE1 0,775 -0,191 0,036 0,074 <0,001 LFE2 0,742 -0,560 0,177 -0,008 <0,001 LFE3 0,681 -0,230 0,063 -0,005 <0,001 LFE4 0,761 -0,158 0,162 -0,041 <0,001 LFL1 0,742 -0,019 0,141 0,049 <0,001 LFL2 0,618 0,157 -0,327 0,038 <0,001 LFL3 0,767 0,018 -0,111 0,018 <0,001 LFL4 0,802 0,007 0,005 0,033 <0,001 LSR1 -0,316 0,769 -0,108 0,009 <0,001 LSR2 -0,016 0,711 0,146 -0,046 <0,001 LSR3 0,089 0,857 0,102 0,108 <0,001 LSR4 0,217 0,820 -0,133 -0,081 <0,001 LSEA1 -0,254 0,064 0,815 -0,105 <0,001 LSEA2 -0,187 -0,049 0,762 0,116 <0,001 LSEA3 0,379 0,016 0,523 -0,004 <0,001 LSEA4 0,186 -0,028 0,814 -0,000 <0,001 LLEP1 0,200 -0,110 0,005 0,628 <0,001 LLEP2 -0,015 -0,038 -0,048 0,834 <0,001 LLEP3 -0,396 0,476 -0,072 0,521 <0,001 LLEP4 0,042 0,152 -0,078 0,638 <0,001 LFLF1 -0,003 -0,122 0,091 0,814 <0,001 LFLF2 0,015 0,089 -0,071 0,666 <0,001 LFLF3 0,191 -0,326 0,144 0,685 <0,001 LFLF4 -0,098 0,026 -0,002 0,726 <0,001

Após a confirmação da validade convergente para os constructos das variáveis independentes, foi executada uma nova análise de validação convergente, mas dessa vez com os constructos que representam as variáveis dependentes do comprometimento organizacional. Foram utilizados os mesmos critérios indicados por Hair et al. (2005) usados na validação convergente anterior.

Como pode ser observado na Tabela 4, dessa vez alguns indicadores ficaram com cargas abaixo de 0,5 e por isso foram excluídos da pesquisa. Os indicadores excluídos foram: COA2, COA4, COI1, COI4, COI7. O constructo do comprometimento normativo (CompNor) apresentou problemas relacionados à maioria dos seus indicadores: CON1, CON2, CON3, CON7 e CON8 e, por isso, o pesquisador decidiu excluir todo o constructo da pesquisa.

Tabela 4 - Matriz de Cargas Fatoriais - Variáveis Dependentes - Mensuração Inicial

Indicadores CompAfe CompIns CompNor Valor - p

COA1 0,704 0,281 0,062 <0,001 COA2 0,290 0,115 0,309 0,009 COA3 0,578 -0,052 0,373 <0,001 COA4 0,383 0,281 -0,110 <0,001 COA5 0,623 -0,269 -0,184 <0,001 COA6 0,693 -0,230 -0,007 <0,001 COA7 0,756 0,133 0,017 <0,001 COA8 0,759 -0,109 -0,264 <0,001 COI1 0,396 0,265 -0,519 0,028 COI2 -0,061 0,746 0,205 0,059 COI3 -0,061 0,734 0,031 0,053 COI4 0,556 0,331 -0,439 0,100 COI5 0,220 0,620 -0,086 0,071 COI6 -0,190 0,624 0,256 0,057 COI7 -0,617 0,431 0,201 0,066 COI8 0,077 0,628 -0,135 0,055 CON1 -0,270 0,127 0,253 0,067 CON2 0,201 -0,258 0,359 0,234 CON3 0,372 -0,250 0,389 0,241 CON4 -0,037 0,083 0,693 0,107 CON5 -0,189 0,113 0,569 0,117 CON6 -0,200 0,115 0,650 0,092 CON7 -0,140 0,156 0,233 0,204 CON8 0,414 -0,213 0,357 0,220

As desvantagens e limitações de uma pesquisa survey que serão descritas mais tarde na seção limitações da pesquisa, podem justificar a exclusão de alguns indicadores relacionados ao comprometimento afetivo e instrumental.

Apesar da exclusão de alguns indicadores, a maioria dos indicadores dos constructos do Comprometimento Afetivo e do Comprometimento Instrumental tiveram cargas acima de 0,5, o que justificou a permanência dos constructos.

No caso do constructo Comprometimento Normativo a situação foi diferente, uma vez que a maioria dos indicadores apresentou carga abaixo de 0,5, mostrando terem uma baixa correlação com o constructo.

Quadro 6: Indicadores com baixa correlação com o constructo do Comprometimento Normativo CON1 Acho que as pessoas hoje em dia movem-se de uma empresa para outra com

muita frequência.

CON2 Eu não acredito que uma pessoa deva sempre ser fiel a sua organização. (Reverso) CON3 Saltar de organização para organização, não me parece de todo antiético. (Reverso) CON7 As coisas eram melhores na época em que as pessoas ficavam em uma

organização a maior parte de suas carreiras.

CON8 Eu não acho mais que ser um "homem ou mulher da empresa" seja sensato. (Reverso)

Fonte: Elaborado pelo autor

O problema encontrado com esses cinco indicadores do Comprometimento Normativo poderiam estar relacionados com as seguintes causas:

• Allen e Meyer (1990) tiveram dificuldades na aplicação da escala de comprometimento normativo no segundo estudo do artigo original de 1990. Os autores documentaram que o instrumento precisava de mais testes e avaliações antes de poder ser utilizado com máxima confiança (MEYER; ALLEN, 1990). No artigo original Allen e Meyer (1990) destacaram que a diversidade da amostra talvez pudesse ter impactado negativamente a utilização da escala, pois a amostra tinha profissionais de organizações e perfis profissionais diferentes, o que certamente se repete na amostra dessa pesquisa.

• Embora algumas pesquisas, como por exemplo, (PANTALEÃO, 2011), tenham utilizado o instrumento do Comprometimento Normativo sem a validação completa alegando já ser um instrumento validado anteriormente pelos autores da escala (MEYER; ALLEN, 1990), alguns pesquisadores que optaram por fazer a validação completa das escalas de Comprometimento no Brasil, também identificaram vários indicadores que não apresentaram validade e tiveram que ser excluídos, como na pesquisa de Grohmann et al. (2013) que utilizou uma outra versão desse instrumento e teve que excluir metade dos indicadores de comprometimento por não apresentarem validade.

• Ao contrário da descrição de quase todos os indicadores do comprometimento afetivo e instrumental, os indicadores CON1, CON2, CON3 e CON4, referem-se ou podem parecer estar mencionando uma terceira pessoa e não o respondente, já que os itens utilizam as palavras “as pessoas” ao invés de “eu” como ocorre na maioria dos outros indicadores. O respondente poderá avaliar de forma bem diferente o seu próprio comprometimento e o comprometimento de outros profissionais.

Com a exclusão dos cinco indicadores que apresentaram baixa correlação com o construto comprometimento normativo, esse construto ficaria com apenas três indicadores para a mensuração. Tendo em vista que a maioria dos indicadores foram excluídos, o construto comprometimento normativo não apresentou validação convergente. Sendo assim, o autor decidiu excluir o construto do comprometimento normativo deste estudo o que não permitirá o teste de hipóteses relacionadas ao comprometimento normativo.

Após a exclusão dos indicadores COA2 e COA4 do construto comprometimento afetivo, dos indicadores COI1, COI4 e COI7 do construto comprometimento instrumental e da remoção do construto do comprometimento normativo da pesquisa, foi estimado um novo modelo de mensuração. O novo modelo apresentou cargas maiores do que 0,5 e os valores-p associados com as cargas menores que o nível de significância de 5% para todos os indicadores, resultando em uma aceitável validade convergente dos constructos, conforme mostrado na Tabela 5.

Tabela 5 - Matriz de Cargas Fatoriais - Variáveis Dependentes - Mensuração Final

Indicadores ConfAfe CompIns Valor - p

COA1 0,692 0,333 <0,001 COA3 0,543 -0,125 <0,001 COA5 0,655 -0,226 <0,001 COA6 0,735 -0,171 <0,001 COA7 0,766 0,186 <0,001 COA8 0,770 -0,040 <0,001 COI2 -0,042 0,784 <0,001 COI3 -0,089 0,754 <0,001 COI5 0,229 0,637 <0,001 COI6 -0,120 0,597 <0,001 COI8 0,039 0,650 <0,001

Fonte: Elaborada pelo autor

Uma vez confirmada a validade convergente do instrumento de mensuração, é necessário iniciar o processo de verificação da sua validade discriminante. Normalmente, para se avaliar a validade discriminante, se compara a raiz quadrada da variância média extraída (AVE), com as correlações entre as variáveis latentes. Segundo Fornell e Larcker (1981), a AVE precisa ser maior do que qualquer outra correlação relacionada à variável latente que está sob análise. De acordo com Kock (2012), todas as perguntas do questionário precisam ser compreendidas e respondidas de maneira correta com relação ao seu significado real, para que um instrumento de mensuração tenha boa validade discriminante. Como exemplo, a variável latente que representa o comprometimento organizacional afetivo (CompAfe) tem AVE igual a 0,698 e nas outras correlações, o maior valor obtido foi na correlação com Liderança Transformacional (LidTransfor).

Analisando a Tabela 6, é possível verificar que a variável latente que representa a liderança transacional por recompensa contingente (LidTRC) não têm validade discriminante em relação à liderança transformacional (LidTransfor). Esse resultado não é inédito na literatura, tendo em vista que, outros autores já constataram a forte correlação entre esses dois construtos em seus próprios estudos (BENEVIDES, 2010) e (SANTOS ET AL., 2012) e os próprios Bass e Avolio (2004) identificaram essa alta correlação como uma possível limitação do MLQ.

Tabela 6 - Matriz de correlação das variáveis latentes

Variáveis Latentes LidTransfor LidTGA Laissez LidTRC CompAfe CompIns

LidTransfor 0,737 LidTGA 0,370 0,739 Laissez -0,384 0,067 0,696 LidTRC 0,828 0,349 -0,301 0,791 CompAfe 0,375 0,181 -0,141 0,267 0,698 CompIns 0,243 0,254 -0,015 0,210 0,278 0,688

Fonte: Elaborada pelo autor

Diante da falta de validade discriminante entre LidTransfor e LidTRC, o autor decidiu remover um dos construtos da pesquisa para que se pudesse seguir com a validação das hipóteses iniciais proposta para a pesquisa. Foi decidido pela permanência do constructo LidTransfor no modelo, devido ao maior número de indicadores utilizado para a medição do mesmo, pelo destaque e importância que as pesquisas atuais têm dado para a liderança transformacional, e também pelo interesse do pesquisador nesse estilo de liderança.

Depois de concluída as análises de validade convergente e discriminante dos constructos do instrumento de mensuração, foi necessário realizar a análise de confiabilidade dos constructos. Diferentes respondentes precisam entender da mesma forma os indicadores associados a cada variável latente para que um instrumento de mensuração apresente uma confiabilidade aceitável (KOCK, 2012). A análise de confiabilidade dos constructos foi feita baseada nos valores de composite reliability e do alpha de Cronbach, que precisam ambos estarem acima de 0,7 para confirmar a confiabilidade das variáveis latentes mensuradas.

Na Tabela 7, é possível verificar que todas as variáveis latentes utilizadas no instrumento de mensuração apresentam confiabilidade aceitável.

Tabela 7 - Coeficientes das variáveis latentes

Coeficientes LidTransfo LidTGA Laissez CompAfe CompIns Composite reliability 0,959 0,824 0,880 0,849 0,816 Cronbach's alpha 0,955 0,712 0,843 0,786 0,718 Average variances extracted 0,543 0,545 0,484 0,487 0,474

Após a remoção dos construtos referentes à liderança transacional por recompensa contingente e ao comprometimento organizacional normativo, foi possível atestar a validade convergente, discriminante e a confiabilidade de todos os constructos que permaneceram no modelo estrutural. As análises realizadas nos constructos fornecem validade para as relações que serão testadas no modelo estrutural dessa pesquisa.

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