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4 DIAGNÓSTICO DA ATUAÇÃO DO STF NO EXTERIOR

4.2 Acordos de cooperação

4.2.2 Acordos multilaterais

4.2.2.2 MERCOSUL

O Mercado Comum do Sul é um dos principais blocos de integração econômica e regional que o Brasil participa, logo importantes instrumentos de cooperação judiciária foram firmados sob o âmbito do bloco.

O primeiro instrumento a pautar a relação entre os Poderes Judiciários dos países participantes do MERCOSUL é a Carta de Brasília, assinada em 30 de novembro de 2004. Neste documento, representantes ou Presidentes dos Tribunais ou Cortes Supremas da Argentina, do Brasil, do Paraguai, do Uruguai, da Bolívia, do Chile e, inclusive, do Tribunal de Justiça da Comunidade Andina concordaram em institucionalizar, em Brasília, o Fórum Permanente de Cortes Supremas do MERCOSUL para tratar de questões jurídicas de relevância à integração latino- americana em geral (MERCOSUL, 2004).

Em 9 de novembro de 2007, por ocasião do V Encontro de Cortes Supremas do MERCOSUL e Associados, oportunidade em que se declarou que os poderes judiciários do bloco promoveriam a cooperação para o fortalecimento institucional de cada um deles, foram assinados dois acordos de cooperação (FÓRUM DE CORTES SUPREMAS DO MERCOSUL, 2007).

Em primeiro lugar, firmou-se o Acordo de Cooperação entre os Tribunais e Cortes Supremas do MERCOSUL para o intercâmbio de informações e de publicações através da utilização de um banco de dados de jurisprudência do MERCOSUL. Neste instrumento, cujo prazo de vigência é indeterminado (Cláusula sexta), instituiu-se um banco de dados denominado Jurisprudências dos Países do MERCOSUL (JM) (Cláusula primeira).

De forma semelhante ao RJC/CPLP, o acesso ao JM é feito pelos países participantes pela internet, na página do Fórum das Cortes Supremas, onde podem receber e armazenar dados relativos à jurisprudência constitucional das Cortes Supremas, bem como informações quanto a decisões dos judiciários nacionais que envolvam normas do MERCOSUL (Cláusula segunda).

O segundo instrumento firmado no V Encontro de Cortes Supremas do MERCOSUL e Associados foi voltado para a implantação e execução do Programa de Estímulo à Cooperação e ao Intercâmbio na Área do Direito no MERCOSUL. O Programa visa à cooperação e à mobilidade na área jurídica na região, no intuito de se criar um espaço regional de diálogo acadêmico, na área jurídica, entre os países do MERCOSUL (Cláusula primeira).

Os principais objetivos do Programa de Cooperação são o estímulo ao conhecimento mútuo das diferentes realidades jurídicas dos países integrantes do bloco, o apoio ao desenvolvimento de linhas de cooperação no campo de formação jurídica e da pesquisa em Direito, bem como o favorecimento à criação de um

espaço de reflexão jurídica acerca de questões centrais para o fortalecimento do MERCOSUL (Cláusula segunda).

Assim como os demais acordos de cooperação firmados pelo STF, o instrumento em questão também não envolve qualquer tipo de transferência de recursos entre as partes (Cláusula oitava), bem como vige por prazo indeterminado (Cláusula sétima).

Em 21 de novembro de 2008, por ocasião do VI Encontro de Cortes Supremas dos Estados-partes do MERCOSUL e Associados, foram, então, firmados mais dois instrumentos de suma importância para a cooperação jurídica na região.

Em primeiro lugar, tem-se o Termo de Compromisso celebrado entre os Tribunais e as Cortes Supremas do MERCOSUL e Associados, com a finalidade de promover o intercâmbio para estudantes de direito. O referido instrumento estabelece as diretrizes e requisitos para a participação de estudantes em programas de estágio em países integrantes do bloco (FÓRUM DE CORTES SUPREMAS DO MERCOSUL, 2008a). O segundo documento de destaque é o Acordo firmado entre os Tribunais e Cortes Supremas do Mercosul, com a finalidade de promover um programa de cooperação e intercâmbio de magistrados e servidores judiciais, o qual também estabeleceu critérios e diretrizes para a realização do intercâmbio funcional (FÓRUM DE CORTES SUPREMAS DO MERCOSUL, 2008b).

Interessante notar que os documentos comentados acima trouxeram importantes resultados práticos para a cooperação jurídica e judiciária na região, sobretudo com a implementação dos Programas de Intercâmbio Teixeira de Freitas e Joaquim Nabuco, comentados anteriormente e que já contaram com a participação de mais de duzentas pessoas, oriundas de diversos países associados ou integrantes do MERCOSUL.

Outro importante documento de cooperação firmado sob o âmbito do MERCOSUL é a Declaração de Brasília, assinada em 3 de junho de 2017. O instrumento foi assinado em evento realizado na capital brasileira que tratou sobre os temas como escravidão na modernidade, ética judicial e boas práticas na administração pública, papel dos Tribunais Constitucionais no combate à corrupção e direito fundamental, constituição e economia. Na oportunidade, declarou-se o compromisso dos Tribunais Constitucionais em assegurar a transparência e a preferência aos julgamentos relativos a trabalho escravo, o respeito dos Tribunais

Constitucionais à ética aplicada aos juízes, sobretudo quanto à transparência de seus atos e ao aprimoramento do controle de práticas de gestão administrativa e orçamentária, dentre outras provisões relacionadas à capacitação dos juízes, à prevenção da corrupção no sistema judicial e à relevância da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Por fim, previu-se a criação de um banco de jurisprudência comum e uma plataforma digital para os Tribunais Constitucionais da região, no intuito de aperfeiçoar o intercâmbio judicial latino-americano (XXIII ENCONTRO DE PRESIDENTES E JUÍZES DE TRIBUNAIS CONSTITUCIONAIS DA AMÉRICA LATINA, 2017).

Percebe-se, portanto, que o MERCOSUL é um bloco regional de integração econômica que, para além de seu aparato normativo de regulação das atividades comerciais e econômicas, possui também significantes instrumentos que incentivam a troca de informações jurídicas entre os Poderes Judiciários dos estados membros, reforçando, assim, os laços diplomáticos entre os países e favorecendo a compreensão das diferentes realidades nacionais de seus participantes.