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Meridional e Americana: duas pioneiras

Hebe Maria Gonçalves de Oliveira

1. Meridional e Americana: duas pioneiras

As duas agências nacionais pioneiras – Americana e Meridional – recebem pouca ou quase nula atenção dos historiadores da imprensa no Brasil. A Meridional, quando citada, não ultrapassa um ou dois parágrafos, como nas obras de Fernando Morais (1994) e de Glauco Carneiro (1999). Pela breve duração da Americana, a Meridional tem sido considerada pelos historiadores da imprensa brasileira (MEDINA, 1988; CARNEIRO, 1999) como a primeira agência de notícias no país – fundada em 1931, quando a cadeia de Chateaubriand atuava somente no segmento de jornais 4.

Ao criar a Agência M eridional, Chateaubriand profissionalizava o que já era feito amadoristicamente entre suas empresas: a distribuição do

material produzido por um jornal para os demais veículos associados. Aquilo que até então era um gentil intercâmbio de artigos e reportagens tornou-se uma fonte de renda para o jornal que produzisse o material. (MORAIS, 1994; 266).

A Agência Meridional criara escritório em todas as cidades em que estava instalada uma empresa do grupo Associados. O primeiro empreendimento jornalístico de Assis Chateaubriand foi a compra em 1924 de O Jornal, que se tornara um dos principais veículos do Rio de Janeiro (então Distrito Federal). Para se ter a dimensão do império Chateaubriand, em 1937 o grupo. contava com as seguintes empresas no país: Rio de Janeiro – O Jornal, Diário da Noite (1925) 5 , O Cruzeiro (1928), Rádio Tupi (1935); São Paulo – Diário de São Paulo

(1929), Diário da Noite (1925), Rádio Tupan (1937), A Cigarra Magazine, O Diário, em Santos; Minas Gerais – Estado de Minas (1929) e Diário da Tarde (1931), em Belo Horizonte e Diário Mercantil, em Juiz de Fora; Estado do Rio de Janeiro – Monitor Campista (1936), de Campos; Paraná – Diário do Paraná; Rio Grande do Sul – Diário de Notícias, em Porto Alegre; Bahia – Jornal da Bahia (1936), em Salvador; Alagoas – Jornal de Alagoas, em Maceió; e Pernambuco – Diário de Pernambuco (1931), em Recife. (CARNEIRO, 1999; 175).

A Meridional também atuava com os serviços das agências internacionais, que, segundo Carneiro (1999; 216), ajudaram os jornais a escaparem da “rotina do noticiário do Estado Novo”. Sobre a estrutura e funcionamento da agência, o jornalista Adirson Vasconcelos (2009) 6, repórter da Meridional em 1958 e

diretor da Sucursal em Brasília de 1960 a 1968, relata que até a chegada do telex (transmissão de dados por microondas), em 1960, as notícias breves eram transmitidas por rádio, através do código Morse (traços e pontos), e por telefone – sistemas ainda muito precários para a época 7 . As mais elaboradas

circulavam através de malotes despachados via aérea, entre as principais capitais. Com escritório central sediado no Rio de Janeiro, a Meridional funcionava no edifício de O Jornal, também sede dos Diários Associados, na rua Sacadura Cabral, na zona portuária da cidade.

A expansão da Meridional no país ocorria sempre com a criação de um novo veículo do grupo. Em Brasília, uma sucursal foi implantada em 1958 para atuar na cobertura da construção da capital federal, inaugurada em 21 de abril de 1960, também data de fundação do Correio Braziliense, por Assis Chateaubriand. A sucursal era formada por três teletipistas, cinco repórteres, uma secretária e contava com um jeep para a equipe de reportagem. Segundo Vasconcelos (2009), embora os despachos fossem feitos em malotes por via aérea, não havia um sistema estruturado pela empresa. Nos horários dos voos, o jornalista chegava ao aeroporto e perguntava aos passageiros quem iria para

Recife, Porto Alegre ou Rio de Janeiro, por exemplo, e solicitava o envio do malote de notícias. Da redação, via rádio ou telefone, repassava ao teletipista o voo e as características físicas do portador do malote, para que fosse identificado assim que chegasse ao aeroporto de destino. Já na era do telex, a redação também enfrentava dificuldades. “Quando o telex quebrava, pois o sistema quebrava muito, corríamos para os Correios [Empresa de Brasileira de Correios e Telégrafos] para fazer a transmissão da notícia”, relata Vasconcelos (2009).

Embora as dificuldades apontem para um sistema amador e não- empresarial de despachos de notícias, Vasconcelos (2009) considera o trabalho da Meridional muito eficiente para o jornalismo da época: “Brasília era o lugar onde moravam todas as pessoas de todos os estados. As pessoas queriam ver notícias. Os jornalistas corriam para dar as notícias. E a Meridional foi vital nesse processo”.

Nos anos 1970, os Diários Associados enfrentam a crise instaurada a partir da ação judicial impetrada pela família de Assis Chateaubriand pela posse do patrimônio do condomínio criado em 1959. A Meridional foi desativada em 1972 por vários motivos, entre eles a falta de pagamento regular pelos jornais associados das despesas operacionais da agência; e falta de investimentos para concorrer no mercado de agências nacionais. Em 1975, foi criada a Agência de Notícias dos Diários Associados (ANDA), sob a coordenação do jornal Correio Braziliense. O noticiário produzido em Brasília era transmitido, por telex, aos jornais do grupo e demais veículos. Em 1992, a ANDA foi desativada também pela falta de recursos financeiros. Nesse período, atendia a 23 clientes externos (grande parte composta por jornais do interior), além dos jornais do grupo Associados. Em 1993, ANDA foi retomada e, em outubro do mesmo ano, rebatizada de Meridional, a qual permaneceu com serviços voltados ao grupo Diários Associados até 1997. A partir de 1998, o Centro de Documentação (Cedoc) – órgão de preservação do acervo dos Diários Associados instalado na sede do Correio Braziliense, em Brasília – passou a comercializar a distribuição de fotografias e textos produzidos pela redação do jornal em Brasília. Em 2008, a agência foi refundada com denominação de DAPress (de Diários Associados), atuando com o serviço de imagens, além da disponibilização do acervo fotográfico dos jornais Correio Braziliense, Estado de Minas, Diário de Pernambuco e Jornal do Commercio 8 .

No setor estatal, o Brasil teve sua experiência com agência de notícias já no regime ditatorial da Era Vargas, por meio da Agência Nacional, ligada ao Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). “A Agência Nacional surge, portanto, na inspiração de um Estado forte e centralizador, que assume a elaboração e aplicação de políticas públicas, entre estas, a comunicação. A

agência operava com boletins enviados para os jornais e rádios, noticiando, sobretudo, as atividades presidenciais”. (SILVA JUNIOR, 2006). Em 1979, a Agência Nacional passa a denominar-se Empresa Brasileira de Notícias (EBN), já na gestão do então presidente da República João Baptista Figueiredo, e “absorve totalmente as suas funções: divulgação dos atos oficiais mediante distribuição gratuita das informações administrativas, e produção do boletim informativo A Voz do Brasil”. (BAHIA, 1990; 279).

Conforme escreve Silva Júnior (2006), de 1979 a 1985, a EBN tinha um funcionamento desligado da Radiobrás, que controlava a distribuição de materiais radiofônico e televisivo produzidos respectivamente pela Rádio Nacional e TV Nacional. Com a redação centralizada no Governo Federal, em Brasília, a EBN atuava com 30 jornalistas na capital federal, além das sucursais em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife e Belém. Na gestão do presidente José Sarney, EBN e Radiobrás se fundem. Já na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Radiobrás passou a concentrar uma TV de sinal aberto (TV Nacional – canal 2 de Brasília); duas rádios AM (Rádio Nacional de Brasília e a do Rio de Janeiro); duas rádios em ondas curtas (Rádio Nacional da Amazônia e a Rádio Nacional do Brasil); uma rádio FM (Rádio Nacional de Brasília); uma TV pública por satélite (TV Brasil) e a Agência Brasil. Ainda conforme Silva Júnior (2006), a Agência Brasil “é, portanto, um departamento da Radiobrás, que além da cobertura regular dos três poderes e dos ministérios e órgão federais em Brasília, possui sucursais no Rio de Janeiro e São Paulo e correspondentes em Porto Alegre, Curitiba, Recife, Fortaleza, São Luis, Manaus e Macapá”.

Já no setor privado, Alberto Dines (1986; 113) escreve que a Agência JB surgiu da tentativa para a criação de uma cooperativa entre jornalistas no Jornal do Brasil:

Em 1966, fundou-se a Agência J B, Serviços de I mprensa Ltda., que funcionava como agência de notícias para jornais do interior e do exterior. Sua composição acionária era inédita: 51% pertenciam aos proprietários do Grupo J B e o restante aos principais executivos da redação. (...) a AJ B foi um sucesso jornalístico, tendo se transformado na grande e última agência brasileira e num êxito comercial. Seu balancete em novembro de 1973 dava um resultado positivo de 800 mil cruzeiros. N o rol de seus clientes regulares encontravam-se todos os grandes jornais brasileiros fora do Rio e São Paulo.

Posteriormente, as grandes empresas jornalísticas criaram suas próprias agências: O Estado de S. Paulo, Agência Estado, em 1970; O Globo, Agência O Globo, em 1973; Folha de S. Paulo, Agência Folha (1994) – denominada

Folhapress em 2004. Em 1975, a AJB inaugura um serviço pioneiro de tradução e distribuição do serviço da Associated Press (Dines, 1986; 113), passando a ser considerada a “primeira a distribuir serviços jornalísticos nacionais e internacionais” (BAHIA,1990; 279).

2. Conglomerados de Mídia e as Agências de Notícias