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Capítulo IV – Análise de dados

1. Metodologia de análise dos dados

Tal como foi referido no início da apresentação deste documento, este estudo baseia-se numa investigação de tipo qualitativo e, de acordo com Bogdan & Biklen (1994),

“a investigação qualitativa possui cinco características: a fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal; é descritiva, uma vez que os dados recolhidos são em forma de palavras e/ou imagens e não números; mais importante que os efeitos e resultados, o mais importante é o processo; a análise dos dados é feita de forma indutiva, uma vez que [os investigadores] não recolhem os dados para confirmar ou infirmar hipóteses construídas previamente, e por fim, o significado tem uma elevada importância neste tipo de investigação, uma vez que os investigadores estão interessados no modo como diferentes pessoas dão sentido às suas vidas, preocupando-se com o que se designa por perspectivas participantes.” (Bogdan & Biklen, 1994, pp. 47-50)

Desta forma, no decorrer do desenvolvimento do nosso projeto recolhemos dados, sendo que os mesmos “incluem materiais que os investigadores registam activamente, tais como transcrições de entrevistas e notas de campo referentes a observações participantes.”, em que “o investigador procura identificar a informação importante por entre o material encontrado durante o processo de investigação.” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 149), tornando-se, desta forma, essencial organizar todos os dados para que o investigador seja capaz de avançar na compreensão do que aconteceu.

Após a recolha dos dados, é necessário organizá-los e relacioná-los com o fundamento teórico que esteve na base deste projeto de intervenção, uma vez que “a teoria ajuda à coerência dos dados e permite ao investigador ir para além de um amontoado pouco sistemático e arbitrário de acontecimentos.” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 52) e, para além disso,

“Os dados ligam-nos ao mundo empírico e, quando sistemática e rigorosamente recolhidos, ligam a investigação qualitativa a outras formas de ciência. Os dados incluem os elementos necessários para pensar de forma adequada e profunda acerca dos aspetos da vida que pretendemos explorar.” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 149).

As técnicas de recolha dos dados deste estudo foram diversificadas, tal como referido no final do capítulo anterior, prendendo-se com registos fotográficos, vídeo gravações das quais foram feitas transcrições de alguns episódios (cf. Anexo 19), para além dos desenhos efetuados pelos alunos.

Consideramos pertinente a recolha de registos fotográficos, uma vez que “as fotografias dão-nos fortes dados descritivos, são muitas vezes utilizadas para compreender o subjetivo e são frequentemente analisadas indutivamente.” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 183), indo desta forma ao encontro das características associadas à investigação do tipo qualitativo. Para além do exposto, “a utilização mais comum da câmara fotográfica é talvez em conjunto com a observação participante. (…) As fotografias tiradas pelos investigadores no campo fornecem-nos imagens para uma inspecção intensa posterior que procura pistas sobre relações e actividades.” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 189).

No final da implementação do nosso projeto foram também realizadas entrevistas a todos os intervenientes no projeto (cf. Anexo 19) uma vez que “a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 134).

É importante termos sempre presente que “as identidades dos sujeitos devem ser protegidas, para que a informação que o investigador recolhe não possa causar-lhes qualquer tipo de transtorno ou prejuízo” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 77) e, desta forma, salvaguardamos a identidade verdadeira dos nossos alunos em todos os materiais apresentados em anexos, bem como no ponto 3 deste capítulo, referente à análise de dados. De notar que a recolha dos mesmos foi realizada mediante autorização dos encarregados de educação, numa carta em que foram informados que os dados recolhidos seriam exclusivamente para utilização no nosso estudo, salvaguardando a identidade de todas as crianças nele envolvidas.

Considerando o exposto anteriormente, este capítulo é dedicado então à análise dos dados recolhidos, sendo que, de acordo com Bogdan & Biklen (1994),

“a análise de dados é o processo de busca e organização sistemático de transcrições de entrevistas, de notas de campo e de outros materiais que foram sendo acumulados, com o objectivo de aumentar a sua própria compreensão desses mesmos materiais e de lhe permitir apresentar aos outros aquilo que encontrou. A análise envolve o trabalho com os dados, a sua organização, divisão em unidades manipuláveis, síntese, procura de padrões, descoberta dos aspectos importantes e do que deve ser aprendido e a decisão sobre o que vai ser transmitido aos outros.” (p. 205)

Tendo em consideração as características expostas sobre a investigação de tipo qualitativo, a metodologia que utilizamos para a análise dos dados é a análise de conteúdo, sendo esta uma das técnicas da investigação qualitativa mais utilizadas em educação, uma vez que a análise de conteúdo é “uma técnica de investigação que através de uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações, tem por finalidade a

interpretação destas comunicações” (Berelson in Bardin, 1979, p.36) constituindo-se desta forma numa inferência que permite ao analisador passar da descrição à interpretação, possibilitando a atribuição de sentido ao material que foi previamente recolhido, numerado e organizado. (cf. Bardin, 1979)

É então objetivo deste capítulo, que, após a recolha de dados ocorrida durante o desenvolvimento do projeto de intervenção, se organizem os dados recolhidos de forma a que nos seja possível proceder à análise de conteúdo, análise esta que

“permite inferências sobre a fonte, a situação em que este [conteúdo] produziu o material objecto de análise, ou até, por vezes, o recetor ou destinatário das mensagens. A finalidade da análise de conteúdo será pois efectuar inferências, com base numa lógica explicitada, sobre as mensagens cujas caracteristicas foram inventariadas e sistematizadas.” (Vala, in Silva & Pinto, 1999, p.104)

Podemos resumir a técnica de análise de conteúdo com as seguintes condições de produção:

“os dados de que dispõe o analista encontram-se já dissociados da fonte e das condições gerais em que foram produzidos; o analista coloca os dados num novo contexto que constrói com base nos objetivos e no objetivo da pesquisa; para proceder a inferências apartir dos dados, o analista recorre a um sistema de conceitos analíticos cuja articulação permite formular as regras da inferência. Ou seja, o material sujeito à análise de conteúdo é concebido como resultado de uma rede complexa de condições de produção, cabendo ao analista construir um modelo capaz de permitir inferências sobre uma ou várias dessas condições de produção.” (Vala, in Silva & Pinto, 1999, p.104)

Ao termos sido confrontados com uma realidade educativa em que a maioria das crianças da sala pertencia a grupos da comunidade cigana (tal como referido no ponto 2.3. do capítulo III deste relatório), tentou-se conseguir perceber a posição desta comunidade no contexto educativo, podendo assim realizar uma análise de dados mais consciente, tendo sempre em conta as características da situação em que o projeto foi desenvolvido e o público ao qual o mesmo se destinou, apresentando de seguida algumas considerações sobre a relação desta comunidade com o sistema educativo.