• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III: DESCRIÇÃO DA PESQUISA-AÇÃO

3.1. DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA UTILIZADA PARA A PESQUISA-AÇÃO

3.1.2 Metodologia apresentada por Thiollent

Para Thiollent a pesquisa-ação, independentemente de outros nomes que possam lhe dar, além da participação do pesquisador, supõe uma forma de ação planejada de caráter social, e, portanto política. Muito se discute sobre o risco de “abandono de ideal científico” com tais pesquisas. O desafio de Thiollent e, sob sua orientação, nosso, é demonstrar que tais riscos, que não deixam de existir em outros tipos de pesquisas, podem ser superados “mediante um adequado embasamento metodológico”70.

Assim, a pesquisa-ação foi organizada como proposto pelo autor citado.

Também o processo de avaliação dos resultados seguiu sua proposta, acrescida das considerações de Pedro Demo quanto à avaliação qualitativa.

Para avaliar os resultados da pesquisa optamos pela conjugação de três métodos de avaliação por entender que cada um deles daria conta de explicar uma parte da realidade.

Embora predominantemente argumentativa a pesquisa- ação não prescinde de coleta exaustiva de dados para melhor conhecimento da realidade. Assim foi utilizada a forma quantitativa para a apuração dos dados colhidos em questionários da fase exploratória. Para a análise da realidade levantada quantitativamente quanto à efetivação ou não de direitos de educação foi utilizado o método comparativo, utilizando- se como parâmetro a legislação existente. Já a conscientização alcançada pelo grupo foi avaliada qualitativamente.

70

THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: Cortez Editora, 2000. p. 8.

Como será dito no item 3.1.3. do presente Capítulo, da Fase Exploratória, constou à aplicação de um questionário, onde cada um dos participantes foi ouvido individualmente. Diz Thiollent:

Na pesquisa-ação o questionário não é suficiente em si mesmo. Ele traz informações sobre o universo considerado que serão analisadas e discutidas em reuniões e seminários com a participação de pessoas representativas.71

Retomando as três estratégias aplicadas à apuração dos dados, tem-se:

a) QUANTITATIVA, os dados foram levantados, de forma quantificada, como

ponto de partida para o trabalho de investigação e de ação que se seguiria (e não um produto final a ser burocraticamente arquivado como dito por THIOLLENT72).

Sabe-se que a relação que se estabelece entre conhecimento da realidade e ação coletiva transformadora está no centro da problemática metodológica da pesquisa social. Essa relação se constitui em tema filosófico por si só.

Thiollent afirma que:

A relação entre pesquisa social e ação consiste em obter informações e conhecimentos selecionados em função de uma determinada ação de caráter social. A passagem do conhecer ao agir se reflete na estrutura

71 THIOLLET, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez: Autores

Associados, 2000, p. 65.

72THIOLLET, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez: Autores

do raciocínio, em particular em matéria de transformação de proposições indicativas ou descritivas (por exemplo: “a situação está assim...”) em proposições normativas ou imperativas (“temos que fazer isto ou aquilo para alterar a situação”).73

Foi com base nos dados levantados na fase exploratória, que revelaram a realidade de efetivação de direitos de educação de crianças e de adolescentes das comunidades pesquisadas, bem como o nível de consciência dessas comunidades sobre seus direitos e de seu dever de exigência, que se montou o restante da pesquisa-ação. Como forma de continuidade do processo de mobilização social iniciado meses atrás a realidade levantada foi apresentada para análise nos seminários que se seguiram (VER); serviram de conteúdo para a reflexão sobre a mesma (JULGAR) e, conseqüentemente, balizaram as decisões tomadas (AGIR).

b) COMPARATIVA, que checa um modelo “ideal” com o efetivamente encontrado.

O objetivo de nossa pesquisa foi o de estabelecer a relação entre a ação pedagógica do Ministério Público e o processo de conscientização de cidadãos de comunidades de periferia e de distritos do Município de Ilhéus, no que diz respeito ao reconhecimento e defesa daquilo que têm como direito e observância de seus deveres (que incluem, também o de velar pelo seu direito).

Trabalhou-se como modelo “ideal” de direitos a educação o conjunto de direitos já positivados pelo ordenamento jurídico brasileiro (Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente e Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB) e para se conhecer a grau de

73 THIOLLET, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez: Autores

efetividade desses direitos na vida dos grupos pesquisados realizou-se a pesquisa exploratória (conforme relatado no Capítulo II).

Realizada a “comparação” entre os direitos de educação existentes no ordenamento jurídicos brasileiro e os direitos de educação postos à disposição das populações pesquisadas, pode-se verificar o grau de não efetividade de direitos e o grau de conscientização dessas comunidades a respeito da necessidade de exigência.

c) QUALITATIVA, centrou-se, especificamente no tratamento metodológico da dimensão qualitativa da realidade social74;

Moacir Gadotti75 ao prefaciar a obra Avaliação Qualitativa

de Pedro Demo diz que a participação aparece como elemento central de uma avaliação qualitativa, onde avaliador e avaliando buscam e sofrem uma mudança qualitativa, e por essa razão, o quanto dessa mudança, não pode ser medido quantitativamente, como não se pode medir a intensidade da felicidade.

Eu diria que Pedro Demo se aproxima da filosofia educacional de Rubem Alves que, ao invés de avaliar suas aulas em termos de rendimento escolar, se pergunta, ao final delas, se seus alunos conseguiram viver mais felizes, se o conhecimento aprendido lhes trouxe alguma nova alegria de viver, se eles sentiram sabor em saber mais.

74DEM0, Pedro. Metodologia Científica em Ciências Sociais. São Paulo: editora Atlas,

1995. P. 241

75 DEMO, Pedro. Avaliação Qualitativa. 3ª ed. –São Paulo: Cortez: Autores Associados,

Como muito bem diz Pedro Demo76 não há como fabricar

uma taxa, um coeficiente, um índice de participação, e nós acrescentaríamos, de conscientização, porque não existe um metro, um quilo, um litro dela.

Se conscientização da necessidade de exigência de direitos implica em ação transformadora, estamos falando em ação política.

A ação política é ambivalente, como o é todo fenômeno dialético. Podemos nos aperfeiçoar negativamente (na tortura humana, por exemplo) ou positivamente com o fenômeno participativo que é o cerne da criação política.

Para a realização da avaliação qualitativa do processo educacional e político desencadeado nas comunidades referidas nesta pesquisa-ação, será utilizada a metodologia proposta por Pedro Demo no seu livro Avaliação Qualitativa77.

Primeiramente, diz ele, para que se possa realizar uma avaliação de processos participativos, é necessário participar. A observação apenas é insuficiente. Como se trabalhou com a pesquisa-ação, a participação da pesquisadora, desde o início, foi planejada e querida. Assim a auto-avaliação faz parte do processo avaliativo, vez que a pesquisadora foi participante do processo.

A avaliação se realizará em três níveis:

1. Auto-avaliação da pesquisadora.

2. Avaliação que a pesquisadora faz do processo e;

3. Autodiagnóstico feito pela comunidade como exercício de participação e de autopromoção.

76 DEMO, Pedro. Avaliação Qualitativa. 3ª ed. –São Paulo: Cortez: Autores Associados,

1991.(Coleção Polêmicas do nosso tempo; v.25) p. 13.

77 DEMO, Pedro. Avaliação Qualitativa. 3ª ed. –São Paulo: Cortez: Autores Associados,

Serão consideradas como dimensões relevantes da avaliação:

1. Representatividade das lideranças

2. Legitimidade do processo

3. Participação de base

4. Planejamento participativo

Adotamos como procedimentos possíveis para a realização da avaliação a conversa, o estar junto, a convivência, a participação em eventos importantes da vida comunitária e o assumir do projeto político da comunidade, conforme previstos por Pedro Demo.78