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2 MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO: UM PERCURSO HISTÓRICO

2.2 MÉTODO ANALÍTICO OU GLOBAL

2.2.4 Metodologia de base lingüística: Proposta ABL (Alfabetização com Base

A ABL é uma proposta de alfabetização elaborada por Corrêa (1995) e tem como fundamentação teórica os estudos realizados por Frank Smith (1991), Miriam Lemle (1987), Emilia Ferreiro e Ana Teberosky (1987), Ângela Pinheiro (1994) e Myriam Barbosa da Silva (1991) e tem como objetivo, conforme expressa Corrêa (2000, p. 18):

• apresentar novas estratégias de ensino-aprendizagem na alfabetização; • realizar uma ação efetiva na erradicação do analfabetismo;

• fazer com que o cursista seja o seu próprio mestre; • dar embasamento lingüístico ao alfabetizador.

O projeto ABL já fez parte de um Curso de Extensão, na modalidade a distância, como parte do Programa de Capacitação de Alfabetizadores, para professores de Educação Infantil e Ensino Fundamental em dois municípios do Mato Grosso: Vila Bela da Santíssima Trindade e Guarantã do Norte, assim como já foi aplicado em alguns interiores do estado do Pará, pois

Alfabetizar com base lingüística significa ir além das preocupações gráficas. Exige do professor um esforço para não priorizar o conjunto das imagens visuais e atentar para a fala que ouve. As diferenças entre os dois códigos, o falado e o escrito, quando postas em evidência, permitem sempre provocar a reflexão do instrutor, e, muitas vezes, a observação do aluno. Aprender a escrever não é simplesmente significar o nome do objeto, de ações ou de pessoas. Essa preocupação única com a matéria da língua leva ao exercício isolado da memória, sem que desenvolva a verdadeira natureza da língua. Aprender a escrever não é só dar forma ao som articulado, mas além disso, é elevá-lo à expressão das idéias e expressamos nossas idéias em textos, não em sons isolados, sílabas ou palavras soltas. Nossa comunicação é textual e isso implica trabalharmos com sons e melodias. Por isso, a alfabetização com base lingüística se desenvolve em texto, para mostrar ao estudante a representação da língua que se usa, mas chega até a unidade mínima da fala, ao fonema, para num processo inicialmente analítico demonstrar que a representação da fala se faz através de estruturas que se juntam e que se separam.

Não se quer dizer que aprender a ler seja somente aprender um código de transcrição da fala ou estabelecer associações entre fonemas e grafemas, pois, sabe-se, aprendizagem não é um processo meramente perceptivo, mas construtivo (PRONERA, 2002).

O projeto ABL desenvolve, de fato, um trabalho exaustivo com o texto. Após explorar o conteúdo do texto que é reproduzido no quadro ou em um cartaz, o docente chama a atenção do aluno para a forma do texto, por meio de cinco tipos de leitura: “A primeira é feita de maneira natural, como se estivesse falando, mostrando a direção que as palavras tomam na escrita”, “A segunda leitura é feita mais devagar, observando-se o limite de cada frase, explicando-se os sinais de pontuação”, “Faz-se uma terceira leitura, lenta e artificial, mostrando-se o limite de palavras”, “A quarta leitura é feita para mostrar os limites de sílabas”, “Finalmente, faz-se uma quinta leitura, rítmica, escandida, onde se salienta a sílaba tônica das palavras do texto“ (CORRÊA, 1995, p. 71-4). Isso é trabalhado com o intuito de desenvolver no aluno a fase da percepção, para que, em seguida, ele possa ser capaz de chegar à fase de transferência5, processo iniciado pelas vogais.

Percorrendo com o alfabetizando a fase da percepção, chega-se com ele à sílaba. No padrão silábico da língua portuguesa, a vogal é obrigatória. Mostrando-se ao alfabetizando que as palavras se compõem e decompõem, precisa-se, a todo instante, desse elemento obrigatório, da vogal, que é indispensável na formação de toda sílaba, sendo, portanto, de maior produtividade na palavra (PRONERA, 2002).

Após o trabalho com as vogais, dá-se início à introdução das consoantes. É válido, porém, lembrar que não é qualquer consoante que deve ser apresentada ao aluno. Corrêa (1995) recomenda que primeiro sejam apresentadas as consoantes que mantêm uma relação biunívoca, isto é, as consoantes p/b; t/d; f/v. Só depois de concluída essa etapa é que se passa a trabalhar com as consoantes que, dependendo da posição na qual se encontram, representam sons distintos (m, n, l, r, c). E, finalmente, trabalha-se com o grupo g, j, x, s, z, cujo uso é justificado, principalmente, pela origem etimológica das palavras que os empregam. É importante relembrar que todo esse trabalho é desenvolvido dentro de um texto e este servirá de base para a introdução de elementos referentes a outras áreas de estudo, tais como: matemática, história, geografia, ciências naturais e educação ambiental.

Defensores dessa proposta afirmam que, em termos qualitativos, as avaliações realizadas ao longo do processo de aplicação da ABL retratam que resultados importantes já podem ser apresentados, a saber:

1. uma vez alfabetizadas, nesse processo, as pessoas adquirem o gosto pela leitura, pois passam a compreender o que lêem;

5 Fase em que o aluno transporá o conhecimento da modalidade oral para a modalidade escrita. Segundo Corrêa (1994), nessa etapa o

educando não só será estimulado a observar que, embora de maneira imprecisa, os sinais sonoros têm equivalência gráfica, mas também será capacitado a ler.

2. ao seu término, os alunos escrevem a língua com maior correção do que aqueles que foram alfabetizados em outras metodologias;

3. o interesse pela leitura e a compreensão da mesma (o que é uma dificuldade advinda de outros métodos de alfabetização) tem ajudado a melhorar o rendimento das outras disciplinas como matemática, ciências, história, etc. e daí a necessidade de um trabalho integrado com os professores dessas outras disciplinas;

4. os alunos tornam-se mais criativos e críticos, adquirindo maior desembaraço na exposição de suas idéias;

5. o tempo de alfabetização acompanha o ritmo do aluno e, portanto, assim como há alunos que são alfabetizados em 6 meses há aqueles, de ritmo mais lento, que prosseguem no processo nas séries subseqüentes. Isto é, este não estanca com a formalidade do final de um ano letivo. Porém, os indicadores revelam que aqueles que são totalmente analfabetos, têm sido alfabetizados em 1 ano (CORRÊA,

1995).

Por mais bizarro que possam parecer, Smith (1999) afirma que os métodos sempre dão certo com determinadas crianças e falham com outras, isso demonstra a sua fragilidade, ou melhor, falibilidade. Sendo um defensor da leitura sob uma perspectiva psicolingüística, o autor lista duas condições básicas para aprender a ler: “1) a disponibilidade de material interessante que faça sentido para o aluno; 2) a orientação de um leitor mais experiente e compreensivo como um guia” (SMITH, 1999, p. 12).

Se apesar de todas as falhas e incoerências que os métodos apresentam o professor optar pela escolha de um deles, Carvalho (2004, p. 83) sugere que antes considerem alguns aspectos:

— Os fundamentos teóricos — em que se baseia o autor (ou os críticos) para justificar o método? Os argumentos — baseados em geral na psicologia e na lingüística — são convincentes?

— As etapas de aplicação — são bem definidas, compreensíveis, articuladas? São adequadas aos interesses e às necessidades dos alunos? Por exemplo, um método que pressupõe que as letras sejam chamadas pelos nomes dos personagens das histórias infantis provavelmente não será bem-aceito por uma turma de pré- adolescentes.

— O material necessário — está disponível ou pode ser preparado pelo professor? Caso contrário, a escola (ou o aluno) pagará as despesas com o material?

— Os resultados previsíveis — o método já foi suficientemente experimentado, em várias escolas, por muitos professores? Que resultados são descritos pelo autor ou por quem o aplicou?

Pois, quanto maior for o número de informações sobre os métodos de alfabetização, maiores serão as possibilidades de o professor fazer uma escolha consciente e saber como aplicá-lo na prática escolar.

Durante o processo de alfabetização o docente pode lançar mão de inúmeros métodos de alfabetização, podendo, assim, extrair o que há de melhor em cada um desses métodos, sem precisar, necessariamente, se deter em um único método, pois estaria, com isso, negando ao aluno a possibilidade de dominar com mais eficácia a técnica da escrita tão almejada nesse período de aquisição da escrita, ou seja, nas turmas de alfabetização.