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Metodologia da pesquisa e adequação do questionário

No documento MESTRADO EM ECONOMIA POLÍTICA SÃO PAULO 2009 (páginas 109-113)

CAPÍTULO 3 CIETEC: A INSTITUIÇÃO, AS EMPRESAS E A AMOSTRA

3.2 Metodologia da pesquisa e adequação do questionário

Esta seção apresenta a metodologia da pesquisa de campo, realizada por meio de questionário aplicado em entrevistas presenciais. Para garantir a consistência das respostas, as informações foram confrontadas com o dossiê das empresas, obtidos, quando possível, por meio de fontes como o lattes dos fundadores da empresa e endereços eletrônicos do jornal Valor Econômico, agência FAPESP, empresas, incubadoras, Inovação Unicamp, assessoria de imprensa do CIETEC -- tramaweb, FINEP, CNPq, e o Diário Oficial da União33.

3.2.1 Metodologia da pesquisa de campo

A pesquisa de campo foi realizada por via de duas técnicas metodológicas:

A) Observação assistemática em campo, que consiste em obter informações do objeto de análise mediante observação. Segundo Boni e Quaresma (2005, p. 71), ela ajuda o pesquisador a “identificar e obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos

não têm consciência, mas que orientam seu comportamento.” (LAKATOS, 1996:79 apud BONI e QUARESMA, 2005, p. 71). No CIETEC essa técnica pôde ser traduzida como o registro do ambiente e dos atores sem utilização de meios técnicos especiais. Correspondeu à avaliação perceptiva do ambiente de trabalho, do perfil dos empresários e do comportamento dos entrevistados diante de determinadas perguntas do questionário. Como ressaltam os autores supracitados, este tipo de observação é empregado em estudos exploratórios sobre o campo a ser pesquisado;

B) A entrevista. Segundo Boni e Quaresma (2005, p. 72) a entrevista como coleta de dados sobre um determinado tema científico é a técnica mais utilizada no processo de trabalho de campo.

As entrevistas realizadas foram, inicialmente, planejadas para a obtenção de dados objetivos. Contudo, foi possível perceber, ao longo do preenchimento do questionário, como variavam a reação e o comportamento dos atores, o que possibilitou também a obtenção de dados subjetivos.

A preparação da entrevista é uma das etapas mais importantes da pesquisa que requer tempo e exige alguns cuidados, entre eles destacam-se: o planejamento da entrevista, que deve ter em vista o objetivo a ser alcançado; a escolha do entrevistado, que deve ser alguém que tenha familiaridade com o tema pesquisado; a oportunidade da entrevista, ou seja, a disponibilidade do entrevistado em fornecer a entrevista que deverá ser marcada com antecedência para que o pesquisador se assegure de que será recebido; as condições favoráveis que possam garantir ao entrevistado o segredo de suas confidências e de sua identidade e, por fim, a preparação específica que consiste em organizar o roteiro ou formulário com as questões importantes. (LAKATOS, 1996, apud BONI e QUARESMA, 2005, p. 72).

A técnica utilizada foi a de entrevistas semi-estruturadas, que combinam questões fechadas (o entrevistado apenas assinala uma das opções disponíveis) e questões abertas, nas quais deve discorrer sobre sua opinião, experiência ou visão.

Por fim, para garantir as condições favoráveis citadas acima, foi elaborado um termo de confidencialidade (Non-Disclosure-Agreement) em que as partes concordaram em manter sigilo do nome da empresa para determinadas informações.

3.2.2 A Amostra e o Questionário

Dessa forma, objetivou-se realizar uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório. As entrevistas iniciais permitiram adequar o questionário e captar os aspectos mais relevantes para a realização da pesquisa com as 19 empresas. A seleção dessas empresas ocorreu da seguinte forma: i) foram selecionadas duas das empresas que constavam da relação de EBTs indicadas pelos professores que compuseram a banca para a qualificação deste trabalho; ii)

foram escolhidas empresas estabelecidas no CIETEC e uma graduada, de forma a contemplar a maior variedade de setores e estágios de incubação.

O questionário teve, inicialmente, os seguintes objetivos: i) analisar quais são as fontes de financiamento utilizadas pelas empresas do CIETEC; ii) analisar como são tomadas as decisões relativas à tomada de financiamento público, crédito bancário, autofinanciamento e/ou seed ou venture capital nas empresas; iii) como as tomadas de decisão quanto a fontes e volume de financiamento variam de acordo com o estágio de desenvolvimento e o setor em que a empresa se encontra; v) como as decisões relativas à aplicação dos recursos afetam no desenvolvimento da empresa.

O questionário aplicado foi construído com base em outros estudos empíricos realizados por instituições relevantes e por questões que remetiam aos objetivos da pesquisa. Como forma de testar a consistência das respostas, algumas questões fundamentais foram aplicadas mais de uma vez, permitindo avaliar se a questão foi respondida com veracidade e se houve a correta interpretação da mesma. Depois de iniciadas as entrevistas, foi percebido que algumas questões eram repetidas desnecessariamente e outras eram sem propósito, o que levou à adequação do questionário.

3.2.3 Adequação do questionário

Depois de aplicar os questionários em entrevistas presenciais nas empresas, surgiram as seguintes dificuldades:

i) Alguns empresários não se recordavam com precisão de datas e valores; outras questões não foram respondidas porque os empresários simplesmente não sabiam a resposta, principalmente no caso das informações contábeis da empresa.

ii) A exigência das empresas para a não-divulgação explícita de algumas informações constituiu um obstáculo à apresentação dos resultados, uma vez que impede uma avaliação e comparação explicitada. Neste caso, as informações estão disponíveis apenas no agregado ou através de um método alternativo que apresenta as informações, mas não identifica as empresas.

iii) Ainda deve ser mencionado que algumas entrevistas foram mais proveitosas do que outras, dadas as características pessoais dos entrevistados.

Apesar dos problemas levantados o resultado da pesquisa de campo foi satisfatório, sendo possível manter os objetivos iniciais, quais sejam: i) analisar os mecanismos públicos e privados de financiamento; ii) relacionar as fontes de financiamento e a aplicação dos recursos; iii) analisar a diversidade e a existência ou inexistência de padrões de financiamento

de acordo com os estágios de desenvolvimento e setores, tempo de fundação, porte (número de empregados); iv) entender como a empresa se sustenta financeiramente antes de apresentar receita de vendas e v) identificar os maiores obstáculos financeiros que impõem restrições ao desenvolvimento das empresas.

Como foi descrito na seção sobre a metodologia, a entrevista presencial, realizada em

todas as empresas, também permitiu avaliar as respostas de maneira perceptiva. Algumas questões simples, por exemplo, sobre a taxa de juros adequada para um

financiamento de longo prazo, evidenciaram um momento de dúvida entre os entrevistados. Isso pode ser traduzido como a falta de conhecimento sobre qual seria a taxa adequada para um financiamento de longo prazo. Houve a mesma percepção na questão sobre os itens que constituem problemas reais para a empresa na atualidade. O item sobre instabilidade financeira demonstrou que a maioria dos entrevistados não tem uma noção clara ou não entende de que forma a instabilidade financeira poderia prejudicar a empresa.

Adicionalmente a pesquisa pretendeu avaliar a empresa de forma ampla, para possível identificação de fatores que possam impactar o desempenho financeiro e a obtenção de financiamento. Esses fatores também podem ser analisados a partir do recorte realizado por Carvalho et al. (1998, p. 465) e que permitem estruturar a análise com base em sete pontos: a) motivação para a criação da empresa; b) origem da tecnologia/experiência; c) apoio utilizado pelas empresas; d) perfil da empresa; e) perfil do empreendedor; f) fatores de sucesso; e g) dificuldades.

Como objetivo final da pesquisa de campo espera-se que a avaliação dos resultados contribua para o desenvolvimento das empresas instaladas no CIETEC.

3.2.4 Limites da pesquisa de campo

Uma das preocupações da pesquisa é compreender em que medida os resultados obtidos na análise podem ser representativos para a população de EBTs do CIETEC. É possível que a amostra, com dezenove empresas, não seja grande o suficiente para assegurar que os resultados se estendem para as demais empresas.

Também existe a preocupação relativa a comparação das EBTs do CIETEC com outras EBTs. Considerando que tais empresas encontram-se em uma incubadora próxima a uma Universidade faz sentido estender a análise para outras EBTs estabelecidas em incubadoras de grandes universidades, como a Incamp da Unicamp de Campinas ou a Supera da USP de Ribeirão Preto. Dessa forma é preciso considerar as diferenças dessas EBTs

quando comparadas a EBTs que não estão presentes em incubadoras. Um elemento é a idade dessas empresas, qual seja, EBTs em incubadoras tendem a ser mais jovens. Outro elemento é o perfil dos empreendedores que em incubadoras de universidades tendem a ser mais “acadêmicos”, ou seja, saem da universidade para a incubadora, enquanto quem em EBTs fora de incubadoras pode haver uma maior porcentagem de spin-offs de outras EBTs ou de multinacionais.

Sendo assim a pesquisa serve, também, para avaliar as semelhanças e as diferenças entre essas empresas. Em outras palavras, pode avaliar em que medida as EBTs do CIETEC apresentam comportamento semelhante a outras EBTs e em que medida apresentam comportamento diferente.

No documento MESTRADO EM ECONOMIA POLÍTICA SÃO PAULO 2009 (páginas 109-113)