• Nenhum resultado encontrado

Para atingir os objetivos definidos para esta investigação, optou-se pelo método de estudo de caso, visto tratar-se de uma metodologia qualitativa muito utilizada em pesquisas nas empresas familiares (De Massis, Sharma, Chua, Chrisman, & Kotlar, 2012). Esta metodologia pode ser utilizada de forma rigorosa, criativa e abrangente, de forma a trazer avanços significativos nas pesquisas que envolve este tipo de empresa (De Massis & Kotlar, 2014). Para Yin (2015), os estudos qualitativos privilegiam

ainda a interpretação das informações, a construção de um diálogo entre o entrevistado e o pesquisador, tendo ainda como pressuposto a inclusão do investigador no cenário a ser investigado.

5.2 Seleção dos casos e participantes

Um aspeto relevante que deve ser levado em consideração no método de estudo de caso refere-se à decisão crítica para a seleção de casos. Neste sentido, procurou-se “insights” no estudo de Kotlar & De Massis (2013), onde se estabeleceram vários critérios para a seleção dos casos: empresas familiares. O primeiro critério foi estas empresas já terem passado pelo processo sucessório ou que tenham sucessores trabalhando na empresa ou com interesse em suceder o negócio familiar. Este aspeto é importante porque os envolvidos com a gestão da empresa têm a experiência de ter passado pelo processo de sucessão, ou de estarem a trabalhar com outras gerações em conjunto, enfrentando os desafios com as particularidades de propensos sucessores. O segundo critério utilizado foi a adoção de sistemas e ferramentas para a gestão. Este critério facilita a obtenção de informações sobre aspetos importantes da profissionalização da gestão, além de poder verificar como a empresa passou de uma gestão informal no seu período inicial para uma gestão com processos formalizados. O terceiro critério foi dar prioridade a empresas que fornecessem um acesso profundo no seu ambiente empresarial, possibilitando assim a realização do estudo com maior profundidade de informações e a cedência de materiais complementares, que permitissem enriquecer a presente investigação. Tendo por base os critérios estabelecidos, conseguiu-se reunir uma amostra inicial de 20 empresas portuguesas, que fazem parte de uma base de dados de empresas familiares. Como primeiro passo, entrou-se em contato com estas empresas no mês de setembro de 2017, inicialmente por email e posteriormente por telefone. Devido a dificuldade nas negociações com as empresas quanto à adequação da sua agenda de compromissos, a amostra final para este estudo resultou em quatro casos (empresas familiares) e onze participantes. Este número de casos está de acordo com Eisenhardt (1989), o qual recomenda que os pesquisadores selecionem entre 4 e 10 casos, pois pode ser difícil gerar teoria complexa com menos de quatro, enquanto mais de 10 pode resultar na asfixia dos dados. Na Tabela 1 apresenta-se uma breve caracterização dos casos selecionados para este estudo. Ressalta- se que o nome das empresas e dos participantes foram omissos (anónimos) neste estudo, a pedido dos próprios participantes e, portanto, foram elaboradas siglas para identificar cada um destes.

Observa-se os casos (empresas) deste estudo tem características variadas, revelando uma certa diversidade de informações. Quanto à dimensão e forma jurídica, percebe-se que duas empresas são de média dimensão e trata-se de SGPS (Sociedades Gestoras de Participações Sociais), com mais de um segmento de negócios, e duas de pequeno porte do ramo comercial. Todas as empresas possuem a capital social detida pela família, denotando o conceito de empresa familiar (e.g., Ussman, 2004; Miller et al., 2007; Eddleston, Kellermanns, & Sarathy, 2008; Claver et al., 2009). Os onze participantes têm idade entre 40 e 75 anos.

Tabela 1 – Caracterização da amostra de empresas participantes do estudo

Caso Fundação Forma Jurídica Propriedade Setor(es) Funcionários Dimensão Participantes Geração Idade Cargo atual Tempo de empresa

AF 1975 Holding SGPS 100% Construção Civil 109 ME

PF 2ª 50 Diretor 35 RF 2ª 41 Diretor 16 AF 1ª 75 Presidente 41 EL 1985 Sociedade por quotas 100% Construção Civil 4 PE AT 2ª 54 Gerente 17 TT 2ª 55 Gerente 24 EMB 1984 Holding SGPS 100% Construção Saúde e

Civil 250 ME AC 1ª 49 Gestora executiva 20 RM 1957 Sociedade por quotas 100% Relojoaria 10 PE MNC 2ª 49 Comercial 4 FM 3ª 40 Consultor 20 JM 2ª 67 Gestor 54 MM 2ª 75 Gestora 60 MMF 3ª 47 Gestor 31

Fonte: Elaboração própria.

5.3 Técnicas de recolha de informações

A recolha de informações deu-se por meio de entrevistas semi-estruturadas com os proprietários gestores atuais das empresas selecionadas. Esta técnica foi escolhida porque permite ao pesquisador ver e ouvir em primeira mão a perspetiva do entrevistado sobre o assunto, denotando assim informações mais fidedignas (Glover, 2014). As entrevistas permitem ainda adequar as questões previamente estabelecidas, proporcionando uma discussão com mais liberdade de expressão entre o entrevistador e o entrevistado, resultando num maior aprofundamento nos temas pertinentes, assim como na obtenção de informações complementares e relevantes para o estudo (Huberman & Miles, 2002). Neste sentido, as entrevistas foram realizadas entre outubro e novembro de 2017, utilizando- se da entrevista semi-estruturada, compreendendo um guia composto por um conjunto de perguntas abertas para cada construção teórica (Valores Pessoais; Profissionalização; Sucessão). Este guião/protocolo (ver Apêndice D) permitiu cobrir os temas específicos deste estudo, tais como: história familiar, o que já nos supri de informações sobre a origem e os aspetos culturais da família e da empresa; os valores pessoais relevantes; e, aspetos considerados importantes na sucessão e na profissionalização da gestão do negócio familiar.

Na Tabela 2 apresenta-se um resumo das características das entrevistas relacionadas aos casos de empresas selecionados para este estudo. Pode-se perceber que houve uma variação no tempo de

entrevista. Este facto talvez possa ser explicado pela disponibilidade de tempo de cada participante. Por outro lado, percebe-se que os participantes que destinaram na sua agenda de compromissos um tempo maior para as entrevistas permitiram na entrevista uma troca de impressões sobre o tema em questão, o que foi salientado por alguns.

Tabela 2 – Características das entrevistas nas empresas familiares Caso Participantes Tempo de Entrevista Data Local/Cidade

Empresa AF PF 1.25’53” 18/10/2017 Empresa - Covilhã RF 1.26’09” 11/10/2017 AF 38’47” 11/10/2017 Empresa EL AT 1.51’24” 26/10/2017 Empresa - Covilhã TT 1.11’11” 26/10/2017

Empresa EMB AC 2.37’26” 17/10/2017 Empresa - Viseu

Empresa RM MNC 21’22” 03/11/2017 Empresa - Porto FM 23’29” 03/11/2017 JM 19’24” 25/10/2017 MM 22’39” 25/10/2017 MMF 27’21 25/10/2017

Fonte: Elaboração própria.

Como forma de complementar a recolha de informações, as entrevistas foram conduzidas sempre pelo entrevistador e um especialista sobre o tema, que auxiliou com anotações complementares a parte e com observações sobre o contexto da reunião da entrevista. Procurou-se ainda outras fontes de informações secundárias, como informativos impressos e no site de cada empresa, sempre autorizados pelos gestores, corroborando com as indicações de De Massis e Kotlar (2014), os quais inferem que o uso de múltiplas fontes de dados é uma força para um estudo de caso, pois permite analisar por meio de ângulos diferentes, o mesmo fenómeno, gerando resultados mais convincentes e precisos.

5.4 Análise e organização dos dados

Os dados foram analisados por meio da técnica de análise de conteúdo (Bardin, 1977), onde, de acordo com esta autora, trata-se não somente de um instrumento, mas sim de um conjunto de ferramentas com maior rigor, que pode ser adaptável a um campo de aplicação muito vasto, seja no campo de pesquisa quantitativa, como também nas qualitativas. Esta forma sistematizada utilizada tanto na recolha quanto nas análises, permitem melhorar a confiabilidade da pesquisa (De Massis et al., 2015). O método de análise de conteúdo compreendeu as seguintes fases descritas no Figura 1.

Figura 1 – Fases da Análise de Conteúdo

Fonte: Elaborado a partir de Bardin (1977).

Relativamente a primeira fase (pré-análise) consistiu na transcrição das entrevistas, na leitura e releitura geral do todo o material recolhido, contemplando as entrevistas e dos documentos cedidos pelas empresas familiares (ver Apêndice B). A segunda fase (exploração do material) limitou-se a construção das operações de codificação para a formulação das categorias de análise, utilizando o quadro teórico previamente apresentado neste estudo. Neste sentido, foram feitos os recortes do material transcrito das entrevistas e dos documentos obtidos nas empresas, onde foram transformados em unidades de registo (palavras, frases, parágrafos) agrupados tematicamente. A terceira fase (tratamento dos resultados, inferência e interpretação) versou sobre o tratamento dos resultados, utilizando-se da síntese e seleção dos resultados, para se fazer as inferências e as interpretações, tendo como respaldo o referencial teórico previamente estabelecido.

Em termos práticos, importou-se todo o material transcrito das entrevistas assim como das outras fontes de informações para o software NVIVO (QSR International, versão 11 Pro) e, a partir dai criou- se códigos principais tidos como Dimensões iniciais ou “Nós” de cada tema (Valores Pessoais, Profissionalização e Sucessão) e como Sub-nós, elencou-se um conjunto de fatores pertinentes a cada dimensão, tendo o respaldo da teoria prévia descrita no referencial teórico deste estudo. Posteriormente, foi feito uma varredura em todo o material importado buscando encontrar evidências (trechos textuais) que se enquadrassem em determinado fator previamente estabelecido ou que gerasse algum insight para um novo fator (sub-nó), revelando assim um novo código que contribuísse para a teoria existente.

Por fim, com a finalidade de conferir maior rigor na operacionalização do estudo, para a análise de conteúdo dos nós e sub-nós, utilizou-se uma das ferramentas do software NVivo 11 Pro, para a construção de um dendrograma, possibilitando assim uma maior facilidade para o controlo e a

visualização de relações entre conjuntos de dados, aumentando a velocidade de resposta por meio das análises e a transparência dos trabalhos, pois registram as informações pertinentes às análises realizadas (Evers, 2011). O software faz/calcula na similaridade/distância de palavras, o que permite a criação de clusters de dados não estruturados ou semiestruturados (Huang, 2008). Para este cálculo, optou-se pelo coeficiente de correlação de Pearson (ρ de Pearson), uma vez que o software NVivo 11Pro fornece o seu cálculo.