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Para Le Breton-Miller e Miller (2016), dada a importância da intervenção humana nas empresas familiares e a capacidade dos proprietários em impor os seus valores pessoais sobre a organização, tem-se verificado que as empresas familiares são especialmente aptas a serem administradas por aqueles que possuem uma orientação de forte valor, evidenciando assim a importância dos valores pessoais para o contexto deste segmento de empresas.

García‐Álvarez e López‐Sintas (2001) chamam atenção para os valores pessoais e, inferem que esta temática tem despertado a atenção dos pesquisadores ligado a gestão, empreendedorismo e negócios familiares. Este interesse está vinculado a estudos que mostram os valores como uma variável intermediária em que ambos os antecedentes (fundo pessoal) e consequências (comportamentos) merecem identificação e estudo (Hofstede, Neuijen & Sanders, 1990).

Os valores são padrões que orientam o comportamento das pessoas e as levam a assumir uma posição específica sobre questões sociais e, portanto, acabam também por influenciar outras pessoas. Para Rockeach (1973), os valores pessoais podem ser organizados num sistema de valores, onde as pessoas podem possuir até os mesmos valores, mas com diferentes graus.

Rockeach (1973) afirma ainda que os valores pessoais possuem antecedentes e consequências, em que relacionado ao primeiro pode estar a cultura, a sociedade, suas instituições, assim como a personalidade de cada indivíduo, como por exemplo, o contexto da família que possuí empresa em termos de tradição, costumes, interação e relacionamento. Relacionados com as consequências tem- se praticamente todos os fenómenos comportamentais influenciados pelos antecedentes, como por exemplo, os comportamentos dos membros familiares nas empresas familiares.

García-Álvarez e López-Sintas (2001) conseguiram validar no seu estudo esta premissa sobre valores, onde mostraram que nas empresas familiares, os valores pessoais têm como antecedente a interação familiar e social da família empresária e, como consequência, as características psicológicas e comportamentais dos fundadores.

Nessas premissas sobre valores pessoais, cada indivíduo sofre influencia no seu sistema de valores por parte do contexto ao qual se insere. Num contexto social macro, o sistema de valores pessoais acaba por ser impactado pelos valores sociais, através de diferentes momentos, pela exposição e observação da cultura da sociedade (Hynie, Lalonde, & Lee, 2006). Entretanto, é no contexto familiar ou sistema micro, que ocorre a construção de um sistema de valores de um indivíduo (Brofenbrenner, 1986), criado e mantido através das relações sociais no âmbito familiar, que normalmente são transmitidos pelas diferentes gerações familiares ao longo do tempo, gerando um sistema comportamental de acordo com as crenças, modelos e valores de todos os seus membros (Wagner & Falcke, 2001; Bengston, Biblarz, & Roberts, 2002).

Nas empresas familiares este contexto familiar pode ser formado pelas características dos membros da família, características relacionadas às tipologias de empresas familiares, ou pelos processos históricos nas vidas dos familiares e das empresas familiares, tais como a sucessão, socialização ou outros processos de transmissão de valor (Simon et al., 2012), podendo estes contribuir e determinar a formação dos valores pessoais. Assim, famílias detentoras de empresas conseguem ter fortes valores, devido aos vínculos emocionais enraizados pelos seus membros, por meio dos seus laços de sangue e afetivos, assim como pelas histórias compartilhadas (Carlock & Ward, 2001). Este contexto remete a identidade da empresa familiar no meio social a qual esta inserida. O envolvimento dos membros familiares, principalmente dos proprietários e/ou fundadores contribuem para a disseminação da cultura familiar e de seus valores e crenças na gestão da empresa da família, e, portanto, construindo a imagem e a identidade da empresa no mercado e perante as partes interessadas (Deephouse & Jaskiewicz 2013, Zellweger et al., 2012). Neste sentido, a identidade da empresa também acaba por representar os valores e crenças dos membros que compõe a empresa, no caso da empresa familiar, provavelmente pelos membros familiares (Albert & Whetten, 1985; Chen et al., 2008; Deephouse & Jaskiewicz, 2013).

Além disso, os padrões morais podem variar muito entre os membros de uma família, assim, valores como a generosidade, compromisso social, responsabilidade, entre outros, podem variar de acordo com a personalidade de cada pessoa. Assim, não há dúvida de que os valores encontrados em casa por uma criança podem moldar o seu comportamento como adultos e, portanto, também como agentes de uma empresa familiar (Binz, Astrachan & Pieper, 2015).

Pelo contexto descrito, não há como desvincular os valores pessoais da gestão das empresas familiares. Percebe-se que existe a identificação dos membros da família como se a empresa fosse uma extensão destes (Deephouse, & Jaskiewicz, 2013; Dyer, & Whetten, 2006), além de que,

os valores da família são transmitidos por gerações (Parada et al., 2010; Cruz, Hamilton, & Jack, 2012; Blombäck, & Brunninge, 2013) e determinam a forma como os membros da família atuam em relação às partes interessadas (Byrom, & Lehman, 2009; Fernando, & Almeida, 2012; Kirkwood, & Gray, 2009; Sorenson et al., 2009), moldando a imagem, a identidade (Duh, Belak, & Milferner, 2010; Presas, Guia, & Muñoz, 2014) e a reputação da empresa familiar (Uhlaner et al., 2004).

Oliveira e Tamayo (2004) inferem que a origem dos valores de uma organização é influenciada pelos valores pessoais que os gestores levam para a empresa. Os valores dos proprietários familiares de uma organização tornam a essência de uma cultura organizacional, onde surge uma sinergia vital na empresa. Na verdade, o compromisso duradouro com os valores é a força maior que uma família pode trazer aos seus negócios (Tàpies & Fernández, 2012). Assim, em empresas familiares, os valores são geralmente vistos como conceções explícitas ou implícitas de que é desejável para a família e para a empresa da família (Hall, Melin, & Nordqvist, 2001).