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METODOLOGIA DE PESQUISA 1 Coleta de Material

A metodologia da pesquisa é qualitativa pois ela se propõe a reconhecer e analisar diferentes perspectivas, a refletir a partir dessa pesquisa como parte da produção de conhecimento, e também na variedade de abordagens e métodos (FLICK, 2008). Foram apontados possíveis caminhos a partir dos depoimentos e levantamentos de material, definindo aspectos de relevância que possam ser aprimorados em outras edições do evento. Segundo Flick:

A pesquisa qualitativa é de particular relevância ao estudo das relações sociais devido à pluralização das esferas de vida. As expressões-chave para essa pluralização são a “nova obscuridade” (Habermas, 1996), a crescente “individualização das formas de vida e dos padrões biográficos” (Beck, 1992) e a dissolução de “velhas” desigualdades sociais dentro da nova diversidade de ambientes, subculturas, estilos e formas de vida. Essa pluralização exige uma nova sensibilidade para o estudo empírico das questões. (2008, p. 20).

A pesquisa tem um caráter narrativo, para tal, foram usados os métodos descritos abaixo.

O levantamento de dados é o primeiro método a ser usado na pesquisa. Ele vem da necessidade de se verificar se existe material suficiente para a elaboração da pesquisa. Para coletar os dados de pesquisa, entrei em contato com o IPAR, Instituto Paranaense de Arte, Instituição responsável pela Bienal de Curitiba, e eles me cederam o material de forma integral. Com ele nas mãos, pude ter uma prévia dos assuntos que poderiam ser abordados na pesquisa. Os dados levantados incluem: flyers com a programação do Curso de formação de Mediadores; um caderno com depoimentos diários de mediadores(as) do Museu Oscar Niemeyer escritos à mão; Registros fotográficos do Curso de Formação de Mediadores; Registros fotográficos de ações educativas que aconteceram no MON; Relatórios enviados por e-mail por mediadores de outros espaços; Site da Bienal de Curitiba de 2015; Reportagens on-line sobre o evento; publicações de divulgação do evento que foram encontradas online.

De acordo com as propostas de casos definidas por Flick, o projeto se propõe a analisar “(...) subjetividade desenvolvida enquanto resultado da obtenção de certas reservas de conhecimento e da evolução de modos de atuar e de perceber. ” (2008, p. 127). Essa afirmação de Flick se encaixa na pesquisa de diversas formas. A primeira delas é que os depoimentos que os(as) mediadores(as) registraram diariamente no caderno de mediadores revela de várias formas essas subjetividades. Percebe-se qual é o maior interesse em escrever aquele relatório, como foi o dia de trabalho (estressante, alegre, tranquilo etc.) e diversas emoções que estão escritas ali. Nas entrevistas essas subjetividades foram analisadas também no tom de voz e ritmo da narrativa. Assim, por meio das subjetividades descritas, pôde-se reconhecer o amadurecimento de questões cotidianas, e, no caso das entrevistas, uma análise sobre o ocorrido durante o período da Bienal de Curitiba de 2015.

A subjetividade citada por Flick “enquanto resultado das reservas de conhecimento” (2008, p. 127) também é característica relevante na literatura escolhida para apoiar a discussão. Isso porque dois dos livros escolhidos são

compilados de arte-educadores(as). Portanto, vários dos textos presentes nas publicações tem as questões subjetivas de um aprendizado oral presentes. É uma característica da área de arte-educação, minha área de pesquisa, ter as subjetividades explícitas como uma característica marcante em suas publicações. Entendendo como subjetividades um conjunto de características pessoais e não objetivas, percepções, que ocorrem dentro dos processos de arte-educação. Os relatórios enviados por e-mail não foram usados como apoio nessa pesquisa por não serem em número insuficiente para comparar as situações ocorridas no mesmo espaço ou em espaços com características semelhantes.

1.3.2 Caderno de Mediadores

O Caderno de Mediadores é um caderno capa dura preta enumerado, com 61 folhas preenchidas frente e verso, que ficava disponível para os(as) mediadores(as) do MON relatarem diariamente suas atividades no fim do expediente. A ideia de relatório também foi solicitada para os outros espaços, mas como os(as) mediadores(as) acabavam trabalhando sozinhos(as) em outros espaços, as anotações tornavam-se um relatório por e-mail semanal, ou mensal e alguns não foram entregues. No MON por fatores diversos tais como: o caderno estar na sala destinada à ação educativa do museu; o caderno ser uma forma dos(as) mediadores(as) dialogarem com a coordenação; existir um tempo destinado a esse relatório no fim do expediente, etc.; o caderno tornou- se uma ferramenta importante do registro das experiências individuais e coletivas que ocorreram no MON durante a Bienal.

É importante dizer que quando o caderno foi disponibilizado pelo orientador do MON para os(as) mediadores(as) preencherem não houve nenhuma conversa sobre orientações de preenchimento. Os nomes completos, datas e assinaturas nos fins dos relatos foi uma característica interessante, pois reforçou a autoria de cada mediador(as). Alguns(mas) também preencheram os horários de entrada, saída e intervalo, mas havia uma folha de ponto para cada um preencher que ficava em uma pasta ao lado do caderno. Pelos depoimentos é possível saber um pouco sobre o que cada mediador(a)

considerava mais importante de ser relatado, e quais eram alguns de seus entendimentos sobre o trabalho.

Figura 2 - Página do Caderno de Mediadores - depoimentos dos mediadores Diego Marcell, Alana Mendes e Leonardo Matuchaki.

Figura 3 - Página do Caderno de Mediadores - depoimentos dos mediadores Diego Marcell, Leonardo Matuchaki, Maria Mendes e Mariluce Zepter (Luce Scettro).

Fonte: Caderno de Mediadores do MON, 2015.

Para analisar os depoimentos presentes no caderno, foi necessário estabelecer alguns critérios. Primeiro foi realizada a leitura de todos os depoimentos. Depois foram criados três temas fundamentais para a pergunta de pesquisa: Curso de Formação de Mediadores, Abordagem (mediação cultural), Questões do MON (visitação, museologia e interação com equipe de segurança, de limpeza ou de Educadores do MON). Dentro desses três critérios que abarcam todos os depoimentos, dividi por espaço expositivo: Sala 1, Sala 3, torre e Olho. Assim, os relatos foram usados de forma literal para dialogar com os autores e autoras escolhidos.

1.3.4 Entrevistas

Após a fase inicial, percebi a necessidade de fazer entrevistas (FLICK, 2008, p. 143) com os(as) mediadores(as) para haver um maior aprofundamento nas descrições do processo de formação, de forma que fosse possível, observar diversos pontos de vista sobre o evento. Também é interessante perceber como os estímulos criados, impactam de diferentes formas cada um(a) criando percepções únicas. Para isso, foi feita a entrevista focalizada (FLICK, 2008, p. 145) realizada individualmente, na qual procuramos recriar alguns episódios da formação e trazer a avaliação e crítica sobre o processo de Formação de Mediadores. Optamos por gravar os depoimentos pois queríamos conhecer as diferentes experiências de cada mediador, e perceber o quanto as diferenças dos espaços e das obras de arte presentes em cada lugar tornaram a vivência deles única. Buscamos nos alinhar com os quatro elementos desse tipo de pesquisa que são: O não-direcionamento, quando optamos por usar perguntas semi-estruturadas; Especificidades, quando utilizamos a técnica da

inspeção retrospectiva, que foi o uso do apoio do flyer da programação do

evento para recapitular o acontecido com os(as) entrevistados(as); O espectro

e a profundidade e o contexto pessoal. Iremos contextualizar cada um deles

conforme o roteiro proposto. Também usamos a entrevista narrativa como um método auxiliar quando percebemos que a primeira pessoa que entrevistamos, Luce Scettro78, tinha necessidade de falar sobre o processo da mediação como um todo e isso não cabia em perguntas. Todos os(as) mediadores(as) serão apresentados(as) ainda nesse capítulo. A mediadora Luce Scettro fez isso naturalmente falando bem mais do que o perguntado, o que deu a entender que seria interessante ter um tempo para uma narrativa do(a) mediador(a) e isso foi proposto nas entrevistas de Ana Claudia de Araújo79 e de Rodrigo Enoque.80 A entrevista com o Leonardo Felipe Matuchaki, que foi mediador, orientador e hoje é educador do MON, também seguiu o método da focalizada

78 Mediadora da Bienal de Curitiba. 79 Mediadora da Bienal de Curitiba. 80 Mediador da Bienal de Curitiba.

e partiu de outra lista de perguntas. A entrevista com Leonardo partiu de um desconhecimento dos processos de arte educação que aconteceram e acontecem na equipe do Educativo do Museu Oscar Niemeyer. Por ele ter sido estagiário de mediação do Museu Oscar Niemeyer, depois mediador da Bienal (já formado), ter trabalhado também como orientador na Bienal, cargo que se diferencia pela responsabilidade, e ainda ser educador do MON atualmente, que ele poderia trazer colocações necessárias para o processo reflexivo.

Após a realização das entrevistas em março de 2018 passei ao processo de transcrição que teve duração até junho. Junto às transcrições, passei a organizar todo o material que foi coletado conforme os temas mais relevantes das entrevistas (TABELA 2).

Assim selecionei pontos importantes das entrevistas que precisam ser abordados na pesquisa, como também, percebi uma dificuldade de ter publicações da área que sejam plurais e abrangentes como as questões que são tocadas nos depoimentos. Nessa etapa me dispus a ler todo o material produzido pelos(as) mediadores(as) e percebi potencial em fomentar discussões a partir das práticas relatadas.

Para entrevistar os mediadores, foi definida uma amostra a partir do critério de atuação e representatividade. Foi escolhido um representante de cada espaço que a Mostra principal ocupou em que houve contratação de mediadores que foram: Museu Oscar Niemeyer (MON), Palacete dos Leões BRDE, MusA - Museu de Arte da UFPR, Catedral Basílica de Curitiba, Centro Cultural Sistema FIEP, Museu Municipal de Arte (MuMA). Os mediadores(as) e os espaços representados foram:

Tabela 2 - Mediadores(as) entrevistados(as) e espaços ocupados(as).

Nome do(a) Mediador(a) Espaço Ocupado

Luce Scettro - Mariluce Zepter Museu Oscar Niemeyer

Rodrigo Leite de Souza Enoque Palacete dos Leões BRDE

Renan Archer MusA - Museu de Arte da UFPR

Fabiana Caldart* Centro Cultural Sistema FIEP *

Ana Claudia de Araújo MuMA - Museu Municipal de Arte

Fonte: Criação da autora.

* O espaço Centro Cultural Sistema FIEP infelizmente não foi contemplado pois a mediadora Fabiana Caldart que permaneceu trabalhando todo o período da Bienal no espaço, não respondeu os contatos solicitando a entrevista. Os(as) cinco mediadores(as) que responderam ao contato realizado estão nessa pesquisa.

Figura 4 - Da esquerda para direita, Luce Scettro (Mariluce Zepter), Renan Archer, Rodrigo Enoque, Gécia Garcia Carlin, Ana Claudia de Araújo.

Fonte: Rede social Facebook, imagens públicas de perfil, 2018.

Há uma amostra de cinco mediadores, entre os mais de vinte e três que foram contratados (o número é variável entre desistências e contratações) no período em que a Bienal de Curitiba ocorreu. A mostra de cinco mediadores é mais de um quarto dos participantes que atuaram em diferentes momentos entre os dias 3 de outubro até 6 de dezembro, com prorrogação até fevereiro no Museu Oscar Niemeyer, MuMA e MusA. E com término antecipado, no início de dezembro, no Centro Cultural BRDE.

O roteiro das perguntas foi elaborado conforme as informações presentes no flyer eletrônico de divulgação do curso como base para a elaboração das perguntas, e, também como material de apoio no momento da entrevista. O flyer contém a programação quase completa das atividades na ordem em que aconteceram. As perguntas foram organizadas tal como a ordem dos acontecimentos. Começando pela experiência prévia, até a seleção de mediadores(as), depois da primeira e da segunda semanas de curso até abordar sobre a relação entre o curso e o próprio trabalho em si. Foram levados em consideração alguns itens da programação tal como “atividade com Carolina Loch” faz parte do tema laboratórios de mediação e o workshop faz parte do tema “conversas com os artistas”.

Os temas foram definidos com intenção de fazer uma avaliação de cada uma pelos depoimentos dos mediadores(as). Por meio dessas perguntas

buscou-se saber dos fatos mais marcantes e, portanto, mais relevantes para cada indivíduo. A partir do que foi mencionado foi possível refletir a respeito do todo.

As entrevistas aconteceram no seguinte formato:

- Pessoalmente (eu e o(a) entrevistado(a) apenas);

- Seguiram um roteiro de aproximadamente dez perguntas, na forma oral, sobre o Curso de Formação de Mediadores e a mediação cultural;

- Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas na norma culta observando entonações e pausas;

O método das entrevistas focalizadas com perguntas semiestruturadas foi produtivo, pois, trouxe respostas objetivas e depoimentos sobre o curso e sobre as mediações marcantes que aconteceram no período em que os(as) mediadores trabalhavam nas exposições. Essas respostas auxiliaram muito na descrição do Curso, complementando com informações sobre os conteúdos, as mudanças na programação e as atividades realizadas.

A partir das avaliações do Curso de Formação que os(as) mediadores(as) fizeram nas entrevistas, foi possível compreender melhor as qualidades e possíveis falhas do curso a partir das sugestões, observações e relatos das atividades que ocorreram. Por meio dos relatos das experiências de campo, surgiram várias questões que foram trazidas para discussão, levando em conta principalmente, a esfera local, a cidade de Curitiba.