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Parte II – Eixos de análise e metodologia

Capítulo 5 Metodologia

Metodologia

Vamos, nas páginas seguintes, traçar e descrever os procedimentos metodológicos que convocámos nesta investigação, essa exposição é acompanhada de uma reflexão sobre a prática metodológica desenvolvida, por meio de uma narrativa interpretada da abordagem ao terreno, apoiada num diálogo com os autores e com o que os autores recomendam.

Certos autores defenderam a importância de complementar um conjunto de “estratégias múltiplas” (Burgess, 1982), disponíveis para aqueles que se dedicam à pesquisa de terreno, que permitem ultrapassar questões como o uso exclusivo de um método único. De acordo com este ponto de vista, apesar de conferirmos maior importância ao uso de uma metodologia qualitativa, mobilizámos diferentes instrumentos de recolha de informação, ajustados aos parâmetros dos “múltiplos métodos de terreno” (Burgess, 1982).

Consequentemente, atendendo aos passos da investigação e às descobertas preliminares, equacionámos os instrumentos preferenciais para o uso de uma metodologia qualitativa, mas adicionámos um complemento quantitativo. Esta mesma combinação mostrou ser eficaz para a resolução do problema definido (cf. Becker e Geer, 1982). Por intermédio desta metodologia, pretendemos analisar em profundidade as componentes dos lugares e dos idosos residentes em ambos os bairros, mediante distintos ângulos e óticas, sendo central uma abordagem referente à intensividade da análise. Mesmo assim, utilizámos um suplemento quantitativo, formalizado na análise quantitativa de fontes estatísticas ou, mais particularmente, da informação estatística censitária de 2011. Este suplemento permitiu que conhecêssemos em extensão as características dos bairros e das suas populações, ao obtermos informações integrais, designadamente, sobre as edificações e os indivíduos idosos residentes nos mesmos bairros (cf. Almeida et al., 1995).

O trabalho etnográfico constituiu-se como um método basilar da presente investigação (cf. Malinowski, 1932). Há quem defenda que o trabalho etnográfico é próprio da Antropologia,

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no entanto, como esclareceram Burgess (1982, 1997) e Costa (1986), este método corresponde a uma ferramenta sociológica reificada no âmbito da pesquisa de terreno. Ao desenvolvermos este mesmo método, permanecemos, continuada e informalmente, nos terrenos e procedemos a conversas informais. Estes momentos foram complementados por outros momentos formais, em que usámos entrevistas semiestruturadas.

Desenvolvemos o trabalho etnográfico em redor das interrogações do Departamento de Sociologia da Escola de Chicago e do interacionismo simbólico, atribuindo, no entanto, maior importância à perspetiva dos investigados do que às relações entre investigador e investigados (ver Atkinson et al., 2001; Céfaï, 2003).

A observação participante55 constituiu uma atividade essencial do trabalho etnográfico. Para que a mesma se tornasse efetuável foi necessário aceder aos lugares, onde permanecemos próximos dos grupos sociais e das organizações, durante um intervalo de tempo – a observar as situações em que os indivíduos, frequentemente, se encontraram e como se comportaram nas mesmas, a conversar e a descobrir as suas interpretações dos acontecimentos que decorreram nessas situações e que haviam decorrido nos tempos precedentes – com os objetivos de estudar, experienciar e representar as vivências e os processos sociais que ocorreram e ocorrem dentro e fora desses lugares (cf. Atkinson et al., 2001; Becker e Geer, 1982; Céfaï, 2003). Acedemos às principais fontes de dados – palavras e ações – por meio de uma combinação entre observar, escutar e perguntar (Lofland e Lofland, 1984). O último modo de acesso nem sempre consistiu em questionar diretamente os investigados, em determinados momentos fizemos simplesmente um ou mais comentários sobre o que se conversou informalmente (as chamadas “entrevistas informais” em Lofland e Lofland, 1984), com o intuito de obter informações condicentes.

Quando do Pacific Sociological Association Meeting, decorrido em 1974, Goffman (1989, 127) aconselhou a audiência, no que respeitou aos requisitos etnográficos, com palavras como: “(…) eliminem totalmente a própria vida, tanto quando possam conseguir eliminá-la” ou “(…) despojem-se dos vossos próprios recursos”. Velho (1987) discutiu as premissas de neutralidade e imparcialidade, tomadas como apanágios de qualquer investigação, e chamou a atenção para que se as desejamos cumprir o melhor possível – segundo a objetividade relativa que decorre da impossibilidade de, completamente, relativizar, transcender o nosso papel social e entrar no mundo do outro – então, devemos colocar à margem os pré-conceitos subjacentes

55 Tal como Schwartz e Schwartz (1955, 344): “Para os nossos objetivos definimos observação participante como: um processo no qual a presença do observador numa situação social é mantida para o propósito da investigação científica.”.

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ao fenómeno em causa e reavaliar, constantemente, os dados de observação do exótico ou, até, os dados de observação do familiar.

O debate centrado nas diferenças entre os graus de exotismo e familiaridade, de acordo com Burgess (1997), parece assumir em alguma literatura que as situações são absolutamente exóticas ou absolutamente familiares, contudo, no interior de um mesmo contexto social, estas podem ser simultaneamente exóticas e familiares. Portanto, as conceções de exótico e familiar devem ser relativizadas e particularizadas, uma vez que, tal como Costa (1986) recomendou, em primeiro plano, existem distintos graus de exotismo e familiaridade, em segundo plano, o exotismo que um objeto detém para o investigador não é por si o garante de um correspondente conhecimento objetivo, e em terceiro plano, capturar um contexto social como sendo familiar não é equivalente a conhecê-lo bem. Velho (1987) pôs em causa, igualmente, os sinónimos e as designações que são, geralmente, atribuídos às observações do familiar e do exótico, pois o exótico não tem que ser obrigatoriamente o desconhecido e o alheio, bem como o familiar não é forçosamente o conhecido e o próximo. Porquê? Porque o exótico pode encerrar questões que não são estranhas e, por contraponto, os meandros do familiar podem revelar-se desconhecidos ao investigador.

Apenas para motivar um mais fácil entendimento dos formatos, enquanto tipos abstratos e suscetíveis de entrecruzamentos, que compuseram os trabalhos de campo, utilizámos aqui um conjunto de denominações que tem sido, devidamente, criticado. A definição destes formatos englobou, assim, uma ancoragem circunscrita ao grau de intensidade com que frequentámos os espaços urbanos e interagimos com os seus residentes idosos antes de darmos início aos mesmos trabalhos. Os formatos constituíram-se em torno da “observação do familiar”, concretamente, na Rua dos Arneiros, situada no Bairro de Benfica, onde residimos há tempo; da “observação do semifamiliar”, em espaços do Bairro de Benfica que não eram familiares em termos dos seus residentes (e/ou utentes) idosos, sendo-o, contudo, espacialmente; e da “observação do exótico” no Bairro de São José, onde desconhecíamos o espaço urbano e os residentes idosos.

Os moldes do trabalho de “observação do familiar”, que começou no final de Dezembro de 2011, plasmaram-se pelas consequências de residirmos na Rua dos Arneiros há muito tempo, o que nos tornou, espontaneamente, integrantes de redes de vizinhança desta mesma rua, assim como clientes e frequentadores de lugares, onde tivemos sociabilidades, principalmente, com os idosos e onde estes tiveram mais sociabilidades uns com os outros. Os lugares com maior afluência de investigados e sociabilidades foram, em traços largos: os espaços urbanos públicos da Rua dos Arneiros e um segmento da restauração da Rua dos Arneiros, mais particularmente,

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a Primeira Praceta Cafetaria, o Restaurante Os Piodenses, bem como a Cervejaria Caniço. A frequentação da maioria destes lugares cobriu-se de uma periodicidade irregular, pois, durante o estudo etnográfico, concedemos maior destaque a certos lugares em determinados momentos ou a lugares distintos desses em outros momentos, no entanto, a Primeira Praceta Cafetaria compreendeu uma posição marcante constituída, habitualmente, por três encontros diários com os residentes idosos da praceta. Conquanto importe sublinhar os lugares que estão, diretamente, relacionados com a “observação do familiar” e onde aconteceram os encontros mais profícuos com os idosos residentes na rua, alguns outros lugares foram frequentados com maior ou menor regularidade, como a Pastelaria Nilo, situada próximo da Rua dos Arneiros e algo frequentada por residentes idosos desta rua, os centros comerciais (o Centro Comercial Colombo, o Centro Comercial Fonte Nova, etc.) e outras pastelarias (a Pastelaria Evian, a Pastelaria Califa, etc.), estes mesmos lugares integram menos o quotidiano dos idosos residentes na Rua dos Arneiros, mas em alguns dos mesmos pudemos encontrar um ou outro dos mesmos idosos.

Ao tomarmos em consideração os resultados das observações exploratórias, em termos de obtenção de investigados, sobressaiu a importância de montar um complexo de estratégias de acesso a outros lugares, frequentados pelos residentes idosos do Bairro de São José e das contiguidades da Rua dos Arneiros, sendo que, nesse mesmo contexto, tivemos encontros com entidades importantes de ambas as freguesias de Benfica e São José56.

Postos estes encontros, demos início aos estudos etnográficos nas aulas de Português e Expressão Plástica (para idosos) do Centro Social Laura Alves, incluído na (antiga) Junta de Freguesia de São José, e nas aulas de Ginástica e Arraiolos (para idosos) do Centro de Dia do Charquinho. Os mesmos estudos etnográficos foram segmentados em três períodos distintos57. No primeiro período, os trabalhos de “observação do exótico” e “observação do semifamiliar” caracterizaram-se por uma regularidade (semanal) na frequentação de cada atividade, mesmo ao envolverem curtas interrupções quando se mostrou pertinente para a investigação. Quisemos que houvesse um processo gradual de obtenção de confiança, por intermédio das proximidades e semelhanças inerentes à observação participante, e de alcance de um entrosamento, decorrido das conversas informais e das piadas em tom de brincadeira sobre os assuntos prediletos dos

56 De uma parte, em novembro de 2011, reunimo-nos com a Presidente da Junta de Freguesia de Benfica e, depois, sucederam-se outros encontros com a assessoria e o Presidente da Associação de Reformados de Benfica, até ser marcada a observação participante. De uma outra parte, em dezembro de 2011, reunimo-nos com o Presidente da (antiga) Junta de Freguesia de São José que propôs a primeira observação participante.

57 O primeiro período aconteceu entre dezembro de 2011 e julho de 2012. O segundo período decorreu de setembro de 2012 a dezembro de 2014. Finalmente, o terceiro período aconteceu de janeiro de 2015 a janeiro de 2016. Em 2018, obtivemos informações de utentes e entrevistados que não reportaram alterações significativas, desde a nossa última visita, entre os outros idosos que conhecemos.

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investigados idosos. Ambas as conquistas permitiram chegar às pessoas e aos testemunhos, por exemplo, uma vez que suscitaram abertura durante as conversas que os investigados tiveram em conjunto na nossa presença e durante as conversas connosco. Daqui resultou, gradualmente, a naturalização do modo de perguntar e a obtenção de respostas, por intermédio da formulação de perguntas (cf. Costa, 1986), que alimentaram, deram continuidade às conversas informais e possibilitaram, simultaneamente, ter acesso a informação bastante interessante. Por outro lado, ambas as conquistas permitiram usufruir de testemunhos mais pormenorizados, oriundos das entrevistas semiestruturadas e conversas informais que realizámos ao longo dos anos seguintes.

A frequentação de alguma restauração do Bairro de São José compôs todos os períodos do trabalho de campo, mas dedicámos maior atenção à Leitaria Francesa e à Esplanada do Torel ou ao Jardim do Torel, pois continham uma proximidade espacial considerável da junta de freguesia. É de notar que às atividades que desenvolvemos no Centro Social Laura Alves acresceram outros eventos menos quotidianos, encabeçados pela (antiga) Junta de Freguesia de São José e organizados anualmente, como o Arraial Solidário e a Feira do Bem-Estar, para os quais fomos convidados a participar no primeiro período do trabalho etnográfico.

Durante o mesmo período do trabalho etnográfico, os investigados que conhecemos no Bairro de São José constituíram os nossos “informantes privilegiados” (Costa, 1986; Lofland e Lofland, 1984), sendo que, de um modo mais rico e ativo, nos mostraram o bairro, nos contaram as suas experiências e nos apresentaram elementos das suas redes amicais de vizinhança.

No ano letivo seguinte, o grupo de idosos com quem mantivemos contactos frequentes, durante o ano precedente, deixou de assistir às aulas e passámos a conversar com uma fração do mesmo nos bancos (de jardim) da Avenida da Liberdade. Mesmo assim, rodeou-se da maior importância conhecer mais indivíduos e mais redes do bairro. No início de Setembro de 201258, começámos a participar nas aulas de Ginástica (para idosos) do Centro Social Laura Alves e no Vassouras & Companhia, formado por equipas da (antiga) Junta de Freguesia de São José, que faziam, sobretudo, visitas domiciliárias aos idosos residentes na Freguesia de São José. Esta importância de alargar o leque de investigados idosos, residentes no Bairro de São José, voltou a colocar-se mais tarde e foi necessário reunirmo-nos com entidades importantes da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para iniciarmos o trabalho de observação participante, no contexto das festas, das sessões de Movimento e dos ateliers de Culinária, decorridos no Centro de Dia

58 De acordo com uma reunião precedente com a Técnica de Ação Social (da antiga) Junta de Freguesia de São José.

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e Serviço de Apoio Domiciliário Coração de Jesus e São José59. Porém, a observação no Centro

de Dia do Charquinho não envolveu modificações no tipo de atividades em que participámos. No âmbito do segundo período do trabalho etnográfico incluímos mudanças nos ritmos de frequentação da “observação do exótico” e da “observação do semifamiliar”. Neste período, o trabalho etnográfico, em torno da “observação do exótico” e da “observação do semifamiliar”, pautou-se por ritmos de frequentação idênticos, em algumas atividades, e mais espaçados, em outras atividades, porque nem sempre a presença no terreno mostrou ser mais produtiva do que os desempenhos científicos (mais essencialmente, a realização de comunicações em encontros científicos) e os outros desenvolvimentos desta investigação. Ainda assim, introduzimos, muito resumidamente em termos de frequentação, diferentes observações, tão participantes quanto possível, no encadeamento de missas decorridas em igrejas de ambos os bairros. Os encontros e as conversas informais com utentes do Centro de Dia do Charquinho, que aconteceram nas ruas e estradas do Bairro de Benfica, também incorporaram o trabalho etnográfico deste período em diante. Este mesmo período compreendeu, em simultâneo, o desenvolvimento de uma parte considerável do registo fotográfico e das entrevistas semiestruturadas.

Posteriormente, adveio o terceiro período, ao longo do qual completámos, sobretudo, o uso das anteriores técnicas de recolha de informação e realizámos curtas entrevistas estruturadas a (dez) indivíduos no sentido de construir as linhas-da-vida, as genealogias e os mapas das redes amicais e de conhecimento com maiores níveis de pormenorização60.

Ainda assim, se o trabalho de observação acompanhou os parâmetros do “investigador conhecido”, abarcou, identicamente, uma fração de “pesquisa escondida” no espaço público (e aberto) da Avenida da Liberdade, onde qualquer indivíduo tem o direito de estar, mesmo com o objetivo de fazer investigação (Lofland e Lofland, 1984; consulte também Lofland, 1998).

59 Para este fim, depois de uma reunião com a Diretora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que aconteceu no princípio de 2014, seguiram-se reuniões com a assessoria, bem como com a Direção do Centro de Dia e Apoio

Domiciliário Coração de Jesus e São José.

60 Fulcral, nesta investigação, mostrou ser a dupla tarefa, proposta por Roberto DaMatta (2010), de transformar o exótico em familiar e, igualmente, transformar o familiar em exótico. Por um lado, à medida que a familiarização aumentou na “observação do exótico” e na “observação do semifamiliar” diminuiu a importância das organizações, enquanto formas de possuir a confiança dos investigados, e as relações expandiram-se para fora das organizações, como aconteceu com as sociabilidades nos bancos (de jardim) da Avenida da Liberdade e as sociabilidades de rua com utentes do Centro de Dia do Charquinho. O espargimento para fora das organizações e as suas consequências relacionais aproximaram a “observação do exótico” e a “observação do semifamiliar” da “observação do familiar” e criaram semelhanças de entrosamento entre as mesmas. Por outro lado, emergiram outras semelhanças, entre os diferentes tipos de observação, relacionadas com o espaço urbano dos bairros, porque a inclinação acentuada das ruas do Bairro de São José deixou de nos ocupar, constantemente, o pensamento quando as subíamos, mas também os barulhos e o vaivém de carros na Avenida da Liberdade deixaram de nos incomodar (cf. Goffman, 1989). Para além disso, conseguimos apreender os aspetos estranhos dos quadros empíricos da “observação do familiar” e banalizar os aspetos estranhos dos quadros empíricos dos outros tipos de observação.

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Figura 1 – Descrição esquemática dos últimos formatos observacionais relativos aos trabalhos etnográficos com os residentes idosos dos bairros de São José e Benfica

A observação participante implicou não apenas ganharmos acesso a e inserirmo-nos em determinados mundos sociais, mas também compormos pensamentos escritos e descrições que trazem representações desses mundos aos outros (Atkinson et al., 2001). No que respeita ao uso de notas de campo, existem variações entre os etnógrafos que têm fundamento em diferentes entendimentos dos seus benefícios, em um extremo, os etnógrafos fazem um uso alargado e detalhado de notas de campo, em outro extremo, os etnógrafos consideram as notas de campo como integrantes de uma atividade relativamente marginal (Atkinson et al., 2001). Nos nossos diários de campo optámos pelo meio-termo entre estas duas abordagens. Deste modo, durante o trabalho etnográfico, construímos diários de campo, que incluíram notas de diversos tipos61, contudo, estas notas só foram tomadas ao surgirem questões, testemunhos e observações com importância para a pesquisa, por via da seleção das anotações e da eliminação de assuntos que não foram significantes (Atkinson et al., 2001), com o intento de não sobrecarregar os diários.

Após o primeiro período de trabalho etnográfico, iniciámos o registo fotográfico, onde incluímos (quase) duzentas e cinquenta fotografias em condições de serem apresentadas e onde pretendemos registar os espaços urbanos em estudo e as suas contiguidades, as relações (inter e intra) geracionais que mais se destacaram e outras realidades sociais pertinentes, como certos

61 As mesmas notas de campo foram fragmentadas em três diferentes tipos (Burgess, 1982): (a) notas substantivas, que encerraram pormenores conectados com a descrição de certos investigados; (b) notas metodológicas, que particularizaram o modo de chegar aos lugares, como decorreram os encontros com os agentes organizacionais que permitiram o primeiro acesso aos lugares, as mudanças nos papéis de investigadores; (c) notas analíticas, que discutiram, raramente com base em teorizações anteriormente formuladas, tópicos passíveis de desenvolvimento, temas com interesse para uma análise com maior detalhe empírico. Por vezes, estes tipos de notas entrecruzaram- se no mesmo texto. No desenvolvimento dos diários de campo, as denominadas “notas mentais” foram mantidas até um determinado momento e, automaticamente, transformadas em “notas completas” ou foram, gradualmente, acumuladas até serem transformadas em “notas anotadas rapidamente” (cf., ainda, Atkinson et al., 2001; Lofland e Lofland, 1984).

Espaços

públicos semipúblicos Espaços spaces

Espaços

privados públicos Espaços semipúblicos Espaços spaces Espaços privados “Avenida” Igrejas Restauração Restauração Centro de Dia Centro Social Domicílios Domicílios Igrejas Centro de Dia Ruas de Benfica Observação

do familiar, que mostrou encerrar questões

exóticas Observação do semifamiliar,

já com uma certa familiaridade Observação do

exótico, já com uma certa familiaridade

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eventos decorridos nas imediações do Bairro de São José e no Bairro de Benfica. Esta técnica constituiu um suplemento observacional, durante a captura e a posteriori, com maior pormenor, conjuntamente com o aspeto ilustrativo dos momentos e circunstâncias em questão.

Os distintos tipos de entrevistas formais podem ser descritos num continuum: em uma extremidade, onde encontramos as entrevistas em profundidade, o entrevistador beneficia da componente livre do entrevistado e intercede muito pouco; em uma outra extremidade, onde se posicionam as entrevistas estruturadas ou diretivas, é este quem estrutura a conversa através de conjuntos de questões definidos com precisão. As entrevistas semiestruturadas encontram-se entre as entrevistas em profundidade e as entrevistas estruturadas, porque o entrevistado conduz o pensamento em torno de certos assuntos que entende abordar, de acordo com os quadros de referência do próprio, e daqui surge o formato “não diretivo”; mas a delimitação de um conjunto de questões circunscreve certas reflexões do entrevistado, facilmente impelido pela corrente do pensamento, e reclama o desenvolvimento de itens, resultando daqui o formato “diretivo” (cf. Albarello et al., 2005; Almeida et al., 1995; Quivy e Campenhoudt, 1992).

Igualmente depois do primeiro período de trabalho etnográfico, a informação originária do mesmo trabalho foi, ainda, complementada com (vinte e nove) entrevistas semiestruturadas

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