Capítulo II – Ensaio investigativo: interação da criança com o livro
2. Metodologia
Segundo uma metodologia qualitativa, este estudo “centra-se na compreensão dos
problemas, analisando os comportamentos, as atitudes ou os valores” (Sousa & Baptista,
2011, p. 56) procurando desenvolver conceitos, ideias e entendimentos a partir dos dados
recolhidos. Realizando uma exploração profunda e exaustiva de um fenómeno,
recolheram-se informações de uma forma ampla e detalhada (Canastra, Haanstra &
Vilanculos, 2015; Silva & Meneses, 2005; Sousa & Baptista, 2011).
Como afirma Canastra, Haanstra e Vilanculos (2015), o estudo de caso é um método
privilegiado para fenómenos ou acontecimentos sociais e o contexto natural onde está
inserido é o cenário para a recolha de dados.
2.1.
Contexto/ questão de investigação/objetivos
Este ensaio investigativo surgiu no âmbito da unidade curricular Prática Pedagógica em
Educação de Infância – Creche, do Mestrado em Educação Pré-Escolar, no Instituto
Politécnico de Leiria, numa Instituição Particular de Solidariedade Social na região de
Leiria. Ao longo do 1.º semestre do ano letivo 2015/2016, tive oportunidade de estar em
interação com 11 crianças com idades compreendidas entre 1 e 2 anos e de observar a
resposta das crianças perante objetos pertencentes à sala ou advindos do exterior. Durante
dois meses observei as interações deste grupo de crianças e, de facto, cada criança
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explorava os objetos à sua maneira, conforme as suas capacidades e interesses. Um dos
objetos que suscitava grande interesse a este grupo de crianças eram os livros que se
encontravam guardados numa gaveta de fácil acesso.
Verifiquei que B., uma menina de 22 meses (em novembro de 2015), revelava muito
entusiasmo com os livros. Face a esta observação pensei: “Se colocar um livro novo na
sala de atividades, quais serão as interações que B. estabelecerá com este objeto?”
Definida esta curiosidade, selecionei B. como participante deste ensaio investigativo e,
após anuência dos pais e da educadora de infância cooperante, dei início a este estudo
qualitativo que visou apresentar e descrever o tipo de interações que uma criança de 22
meses estabeleceu com um livro novo, introduzido na sala de atividades da creche.
2.2.
Participante
Participou neste estudo uma criança, do género feminino (B.) com 22 meses (em
novembro de 2015) que vivia com os pais e com a irmã de 7 anos de idade.
Em termos de desenvolvimento, B. dominava totalmente a marcha e deslocava-se com
facilidade e com agilidade pelo espaço da sala. Era uma criança que percebia quais as
funções dos objetos familiares, reconhecendo-os, indicando-os e brincando com eles
(Avô, 1988). Revelava gostar de explorar livros, folheando-os sem os rasgar (Diekmeyer,
1998) e deslocando-se até ao adulto para, com ele, partilhar as suas leituras. B. dizia
palavras relacionadas com pessoas ou objetos ausentes (Young, 2010), nomeadamente o
nome das outras crianças que frequentavam a mesma sala de atividades e também alguns
animais.
.
2.3.
Instrumentos de recolha e análise de dados
Para a realização deste ensaio investigativo, optou-se pela observação direta e participante
realizada através do registo audiovisual. A observação direta é definida por Quivy e
Campenhoudt (1995, p.164) como, “aquela que o próprio investigador procede
directamente à recolha das informações”. A observação participante, segundo Sousa e
Baptista (2011, p.89), é quando “o investigador vive as situações e fará depois os seus
registos dos acontecimentos, de acordo com a sua perspetiva/leitura”. Os dados recolhidos
por esta via foram corroborados por uma entrevista semi-estruturada (à educadora de
infância cooperante) e pela resposta a um questionário enviado aos pais da participante
em estudo. Para Quivy e Campenhoudt (1995, p.70), a entrevista serve “para encontrar
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pistas de reflexão, ideias e hipóteses de trabalho”, ou seja, para descobrir aspetos a ter em
consideração na investigação. A entrevista semi-estruturada é composta por um guião,
com perguntas a abordar na entrevista, podendo dar liberdade ao entrevistado de
comunicar sem fugir muito do tema (Sousa & Baptista , 2011). Já o questionário é visto,
pelos mesmos autores, como um instrumento de investigação, composto por várias
questões, que procuram recolher informações sobre um determinado tema.
Os dados recolhidos foram sujeitos a uma análise de conteúdo que contemplou duas
categorias (interação verbal e interação não verbal). Como subcategoria da interação
verbal encontrou-se a interação através da produção de sons (emissão de sons definidos
e indefinidos) e como subcategorias da interação não verbal as subcategorias: i) interação
através do toque (interação com qualquer parte do corpo, mãos, braços, pernas, barriga,
costas,…), ii) interação através do olhar (interação através do contato visual), iii)
interação através de movimentos corporais (interação através de movimentos corporais
como, apontar, abrir a boca, colocar a língua de fora, colocar as mãos na cara, movimentar
as mãos e os braços e movimentar outras partes do corpo).
2.4.
Procedimento
A realização deste ensaio investigativo passou por várias etapas. Inicialmente, observou-
se, em contexto de Prática Pedagógica em Educação de Infância, na valência de creche,
o interesse de B. (22 meses) por livros (por exemplo, durante os momentos de brincadeira
livre deslocava-se para a gaveta dos livros, com a intenção de os retirar e explorar). Este
interesse de B. pelos livros despertou uma curiosidade em querer aprofundar o estudo de
interação da criança/objeto em contexto de creche, situando-a no campo da literacia
emergente na 1.ª infância. Após a definição do âmbito de investigação, da questão/
objetivos e do participante em estudo, definiram-se os instrumentos de recolha de dados,
o local e o período de recolha dos dados (30/11/2015, 1/12/2015, 2/12/2015, 9/12/2015,
14/12/2105, 15/12/2015 e 16/12/2015, aproximadamente entre as 17h e as 17h30, à
exceção do dia 15/12/2015, das 10h às 10h15 e do dia 16/12/2015, das 16h às 16h15).
Com a anuência dos encarregados de educação
1da criança em estudo e da educadora de
infância cooperante, a etapa seguinte foi a recolha de dados sobre livros infantis existentes
na sala e sobre a opinião da educadora de infância (entrevista) e dos pais da criança em
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estudo (questionário) de forma a poder selecionar o livro a introduzir na sala para a
realização deste ensaio investigativo.
Definido o livro, estavam reunidas as condições para iniciar a observação da interação de
B. com o novo objeto da sala. Assim, durante sete momentos/dias, recolheram-se dados
através da gravação vídeo. De referir que houve dois dias em que foi necessária a
utilização de duas câmaras, visto que apenas uma não abrangia o espaço da sala por onde
B. circulava. A duração dos vídeos é variável, como é visível no quadro 1:
Quadro 1- Número de cada vídeo e sua duração
Dia
Vídeo
Duração
30 novembro 2015
Vídeo 1
Vídeo 2
0m44s
7m27s
1 dezembro 2015
Vídeo 3
16m30s
2 dezembro 2015
Vídeo 4
13m50s
9 dezembro 2015
Vídeo 5
Vídeo 6
15m36s
17m23s
14 dezembro 2015
Vídeo 7
15m47s
15 dezembro 2015
Vídeo 8
7m13s
16 dezembro 2015
Vídeo 9
17m23s
Depois de todos os dados recolhidos, transcrevi (ver anexo 14) as observações recolhidas
através do vídeo e, mais tarde, organizei os dados transcritos pelas categorias de análise
definidas (ver anexo 15).
A análise de conteúdo permitiu considerar a interação verbal (interação através da
produção de sons) e a interação não verbal (a interação através do toque, a interação
através do olhar, a interação através de movimentos corporais) e encontrar totais por
categoria, conforme o ponto seguinte.
No documento
Refletindo sobre a Prática Pedagógica em Educação de Infância – Creche e Jardim de Infância: da ação à reflexão
(páginas 32-35)