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Conforme definido anteriormente, o foco inicial da pesquisa foi a determinação de quais são e em quais classes se dividem os diversos instrumentos de políticas de apoio à eficiência energética, mais especificamente aqueles referentes aos usos finais de energia elétrica e hidrocarbonetos, já implementados no Brasil e no mundo.

Mediante consulta a fontes secundárias, foram levantados uma série de projetos, ações e iniciativas voltadas à busca da eficiência energética. Estes instrumentos foram analizados para se estabelecer quais são as características operacionais mais significativas de cada um, a fim de se estabelecer uma tábua de categorias dentro da qual classificá-los.

Após essa primeira análise, foram selecionadas quatro características operacionais, cada uma delas definindo uma família de instrumentos. As características selecionadas foram:

1) Alteração do arcabouço institucional; 2) Criação e/ou transmissão de conhecimentos; 3) Criação de assimetrias de mercado; e

4) Instrumentos Econômico-Financeiros.

Resumidamente, os instrumentos da categoria 1 contemplam adição a ou alteração do conjunto das regras que regem uma ou mais atividades ligadas ao uso de energia, tais como regras de tarifação, normas técnicas para equipamentos consumidores de energia e outros; os instrumentos da categoria 2 são responsáveis por criar e ou transmitir conhecimentos relacionados ao uso racional e eficiente de energia, incluindo atividades de pesquisa, desenvolvimento e demonstração tecnológica, educação e educação continuada em tópicos de eficiência energética, realização de congressos e campanhas de conscientização na área do uso racional e eficiente de energia; os instrumentos da categoria 3 alteram o equilíbrio do mercado em favor de equipamentos e tecnologias energeticamente eficientes, aumentando sua penetração junto aos consumidores e usuários; e os instrumentos da categoria 4 contemplam ações voltadas prioritariamente a contornar obstáculos econômicos à adoção/aquisição de equipamentos e tecnologias eficientes e a alterar convenientemente a conjuntura econômica referente a tais investimentos, tais como financiamentos, linhas de crédito e subsídios fiscais.

Esta classificação em quatro categorias foi elaborada a partir das características operacionais simultaneamente mais freqüentes e mais significativas encontradas ao longo do levantamento, atendo-se a uma quantidade pequena mas não insuficiente de categorias, para se chegar a uma tábua de categorias ao mesmo tempo concisa e funcional.

No entanto, embora essas características efetivamente permitam classificar em categorias distintas os diversos instrumentos de incentivo à busca da eficiência energética encontrados ao longo desta pesquisa, muitos deles trabalham em mais de uma frente, apresentando características de duas ou mais categorias. Este é o caso, por exemplo, de programas guarda-chuva tais como o PROCEL e o CONPET, que contemplam medidas voltadas a lidar com diferentes aspectos da questão do uso racional e eficiente de energia. Este é o caso também de alguns tipos específicos de instrumentos, que reúnem simultaneamente duas ou mais características operacionais, tais como as políticas fiscais. Estas, por exemplo, embora sejam um instrumento com capacidade de transformação de mercado quando adequadamente estruturadas e aplicadas, foram classificadas como pertencentes às categorias 1 – por alterar o arcabouço institucional, ao alterar as regras que regem o funcionamento de uma ou mais atividades econômicas – e 4 – por interferir no arcabouço econômico destas mesmas atividades.

Os demais casos de intersecção entre estas categorias foram igualmente tratados pela inclusão do instrumento em estudo em todas aquelas categorias cujas características operacionais que as definem pertencerem igualmente a tal instrumento.

Com esta tábua em mãos, foi elaborada uma lista estruturada de descrições de instrumentos representativo, com vistas a prover subsídios a futuros estudos sobre uma política nacional de eficiência energética que contemple objetivos de curto, médio e longo prazo.

Dado o alto índice de intersecção encontrado, optou-se por uma listagem dos instrumentos mais significativos de cada país pesquisado separados por país, com a indicação das categorias a que cada instrumento pertence.

O procedimento de consulta a fontes secundárias constou de pesquisa bibliográfica e consultas à internet.

A pesquisa bibliográfica inicial visou o aprendizado dos conceitos mais importantes ligados à eficiência energética. Dada a natureza do assunto enfocado, chegou-se ao estudo de várias referências das áreas de Desenvolvimento Sustentável e de Economia Ecológica.

Já as consultas à internet se constituíram na maior parte da pesquisa propriamente dita, constando basicamente de consultas às páginas de ministérios de Minas e Energia (ou equivalentes), de agências regulatórias da área de energia e de agências (governamentais ou não) específicas de combate ao desperdício de energia, mitigação do efeito-estufa antropogênico e outras questões correlatas, em cada um dos países escolhidos para estudo.

Foram selecionados para estudo alguns países da OCDE caracterizados por elevados consumos energéticos, bem como outros países da OCDE caracterizados por culturas mais próximas da brasileira, casos de Portugal e Espanha; o México e o Chile, que são economias latino-americanas de porte significativo; e o próprio Brasil, para que se possa proceder à comparação entre os demais instrumentos apresentados ao longo desta Dissertação e as medidas já em curso em nosso país.

Os instrumentos adotados de modo conjunto pelos países da União Européia (UE) são estudados em separado, igualmente divididos mediante aplicação da mesma tábua de categorias usada para a análise das demais políticas e medidas estudadas, e apresentados em capítulo próprio, dada sua natureza única. Isto por que tais projetos e programas, em sua maioria inseridos no contexto dos Programas-Quadro de pesquisa e desenvolvimento, são possíveis apenas por contarem com os antecedentes históricos e os alicerces institucionais que resultaram na atual configuração da UE.

A opção pela ênfase aos instrumentos adotados por países da OCDE tem por fundamento seu amplo histórico de implantação de políticas de incentivo à eficiência energética. Este longo histórico se deve a diversos fatores, tais como a necessidade destes países de reduzir a dependência de fontes externas de energia, e.g., importações de petróleo; problemas ambientais, pois dado que muito da geração nestes países é termoelétrica há problemas relativos a emissões de poluentes gasosos, tais como os gases de efeito-estufa e, como outra parcela significativa desta geração é nuclear, problemas com os resíduos radioativos, tais como o manejo e armazenamento de combustível nuclear gasto e materiais expostos à radiação na operação das plantas geradoras termonucleares; e a alta competitividade dos mercados globais, já que a eficientização energética de processos

produtivos é uma questão de desenvolvimento tecnológico com implicações na produtividade industrial destes países, sendo amplamente incentivada nos mesmos.

Embora nem Itália nem França tenham tido suas políticas energéticas nacionais estudadas ao longo desta pesquisa, dada a extensão da amostragem, a penetração das diretivas da Comunidade Européia nas políticas individuais de seus países-membros e o trabalho conjunto destes no âmbito de diversos programas transnacionais, marcadamente daqueles inseridos no contexto dos diversos Programas-Quadro de pesquisa e desenvolvimento, concluiu-se ser razoável supor que estas ausências não representem qualquer desfalque significativo à relevância deste levantamento.

6. INSTRUMENTOS DE POLÍTICAS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NO